quarta-feira, 31 de agosto de 2011

UM ANO SEM MEU AMADO PAI - REPOUSO ETERNO DAI-LHE SENHOR!

"Para os que crêem a morte não é tirada, mas transformada" (prefácio dos fiéis defuntos), de fato, consola-me estas santas e perfeitas palavras rezadas na missa pro defuntos, pois hoje completando um ano do falecimento de meu amado pai, Luiz, meu coração ainda lagrimeja pela não presença física daquele que foi instrumento de Deus para me gerar, que com muito amor, simplicidade pode promover a minha vida, e sou grato a Deus, pelo sim que meu pai me deu, para que eu vivesse, mas ao mesmo tempo me alegro porque pela fé no Autor e Consumador de nossa existência, sei que meu amado e querido pai, não teve sua vida tirada, mas transformada, cessou o sofrimento terreno, e agora ele vive a alegria sem fim, goza do amor do Pai, que o acolheu na sua casa paterna.
a morte para o cristão não pode ser motivo de desespero, de angústia, de sofrimento, pelo contrário deve ser causa de alegria, pois aquele que amamos e que partiu tem goza da Vida Verdadeira, da Vida imperecível, da Vida eterna. Existe, e isto é inegável, uma separação profunda entre os que peregrinam na terra e os entes que partiram, mas existe uma união espiritual profunda, pois todos aqueles que são de Cristo estão unidos entre si; este é um laço que ninguém pode romper, nem mesmo a morte, pois até ela já não tem mais poder algum, pela páscoa redentora de Cristo, pela sua Ressurreição, pela sua passagem deste mundo para o Pai, a morte foi vencida por Ele que é o Senhor da Vida. Ele ressuscitou como primícia dos que morreram, é Ele o primogênito dentre os mortos; em sua Ressurreição ele nos abriu as portas do céu, da Vida que não tem fim.
Todo aquele que crê em Cristo, não morre, não caminha para o nada, a vida não termina, apenas dorme o sono da morte, para acordar na eternidade de Deus, nos braços do Deus que é Amor. O próprio Jesus disse: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá" (Jo 11,25-26). Morrer é Viver, é celebrar a sua páscoa com Cristo, é celebrar a Vida que no duelo, no duro combate venceu a morte. a morte não é a destruição do homem, mas o seu trânsito para estar com Deus, é a saída da habitação terrena (corpo), para a habitação de Deus, o corpo se dissolve, para Ressuscitado no Espírito Santo, ressurgirem para uma vida nova. a morte é o dia do nascimento para a Vida Nova.
é esta união com  Jesus Ressuscitado que me faz estar unido a meu amado pai; e o que mais me alegra é a certeza de que no fim de tudo estaremos juntos na glória de Deus, na Morada de Deus.
Celebrar um ano do falecimento de meu pai, de sua passagem para Deus, me faz ter saudade, e como dizia o grande poeta Fernando Pessoa: " Saudade não é o que passou, mas o que ficou em nós daquilo que passou". Deveras, fica eternizado em minha vida, cada momento que ao longo de minha vida passei com meu pai, os passeios a cavalo, rumo a fazenda em que trabalhava,  leite de vaca que tirava logo cedinho e me dava para tomar, as visitas a minha casa em Arapiraca, sempre levando a simples contribuição para pagar a escolinha quando eu era criança, os brinquedos que me dava a sua alegria por ter um filho que se peparava para ser padre, a sua timidez transformada em pueril "vergonha" por não poder ajudar a seu filho, o seu silêncio era uma característica de expressar o seu sentimento, marca de homem sábio, pensativo, de disposição em ajudar e servir as pessoas; por esta sua disponibilidade em servir, ganhou um apelido que na verdade se transformou em seu nome, em sua identidade: "Chefe". aqui quero recordar as últimas palavras que disse como homenagem diante de seu túmulo: "por muitos meu pai era conhecido e chamado de Chefe, e chefe não é aquele que manda, mas o que serve, a muitos meu pai pode ajudar e servir". o serviço, foi a caracteristica de meu pai, trabalhava não para si, mas para dar vida a outros, sou grato a Deus pelo pai que ele me concedeu, rogo que ele esteja gozando a pátria dos Bem-aventurados, onde não a dor, nem tristeza. Amo-vos meu amado pai! que o Senhor Deus te conceda o feliz repouso e a luz perpétua te ilumine, hoje e por toda a eternidade.


A Vida para quem acredita
não é passageira ilusão
a morte se torna bendita
porque é nossa Libetação

nós cremos na vida eterna
e na Feliz Ressurreição
Quando de volta a casa Paterna
com o Pai os filhos se encontrarão


segunda-feira, 29 de agosto de 2011


Oferto esta belíssima canção sobre a amizade a todos os meus amigos(as) que estejamos juntos até o fim na amizade do Senhor.


Hoje posso perceber o valor de uma amizade
Pois, Divino amigo, com carinho me ensinaste
Se eu pudesse compreender o tamanho do teu amor por mim.
Mais nada esconderia daquilo que já sabes
Tudo te entregaria Jesus minha alegria.
Meu amigo
Hoje posso perceber que um amigo de verdade
Não sou eu a escolher vós em mim o enxertastes
Que é mais fácil te seguir ao lado de um amigo
E mesmo se ele tropeçar ou tão fraco vacilar
Queres Senhor que eu encontre a Ti a Tua vida
No coração de um grande amigo.
Amigo fiel refúgio poderoso
Quem o descobriu encontrou um tesouro
Prefiguração de Deus certeza do céu
Quero tê-lo aqui no peito meu
Meu anjo meu abrigo meu
Amigo Fiel refúgio poderoso
Quem o descobriu encontrou um tesouro
Permaneceremos até o fim na amizade do Senhor
E se me amar te causar a dor
Com o mesmo amor me cures meu amigo
Hoje posso perceber que a glória da amizade
Consiste em tudo perder na renúncia da vontade
Para ter um bem maior: A misericórdia do Senhor
E salvar quando preciso for,
Como a cada dia salvo eu sou
Quero realmente amar assim
E nunca abandonar os meus amigos
Deus meu Deus cuida de mim dá-me ser amigo
Em ti Amado Salvador,
De meus irmãos queridos,
Leva-me onde quiseres, Esposo de minh'alma
E quando longe eu estiver e Saudades levar comigo
Seja ela esperança de reencontrar
O coração de um grande amigo



Amigos(as) em Cristo, com este texto encerro as reflexões sobre a amizade, onde buscamos reencontrar e mostrar o sentido profundo e verdadeiro que esta dádiva de Deus possui. costumo sempre dizer que a amizade verdadeira em Cristo nos faz experimentar e contemplar Deus no coração e na vida do amigo(a) espero qu estas reflexões tenham ajudado a muitos que puderam ler e meditar, buscando a cada dia purificar, a amizade, permitindo que a cada dia Deus traga o amigo para o amigo, pois o amigo é um descobridor, é um tesouro, em cada Eucaristia que celebramos e comungamos, Deus nos chama a partilhar este mesmo amor que nos alimentamos, pois o Divino amigo nos deu a sua vida, para que nós pudessemos dar a vida um pelo outro.


Texto VIII

Cada vez que nós comungamos o Corpo do Senhor nós somos chamados a se colocar como trigo a ser sacrificado é a vida colocada a serviço. Então não resta dúvidas de que a amizade verdadeira se fundamenta em Cristo, pois ele foi e é um verdadeiro amigo Que nos acompanha na caminhada da vida, e o alimento que nos sustenta na lida é o seu Corpo e Sangue, dado, triturado e esmagado; que a cada dia se entrega e faz-se transbordar nos altares do mundo inteiro derramando-se de amor como uma fonte torrencial a se derramar, e ele mesmo nos chama: “vinde a mim e vossa alma reviverá, quero concluir convosco, um eterna aliança” (Is 55,3), e ainda: “vinde a mim todos que me desejais com ardor” (Eclo 24,36) e por último nos diz: “vinde a mim todos vós que estais aflitos, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Quando nós acorremos a Cristo com nossas almas sedentas de amor ele as preenche para podermos assim amar cada vez mais aos nossos irmãos, temos que celebrar e viver em nossas vidas aquilo que cremos e celebramos, ou seja, celebrar a vida de Cristo na vida dos irmãos.
            Por fim, termino com algumas palavras de Grün que diz: “na amizade, Deus nos abre os olhos para a beleza do amigo. E assim também lançamos um olhar novo sobre o mundo inteiro. Pela amizade o mundo se transforma em lar”. Pela amizade verdadeira alicerçada em Cristo, que é o modelo de amor para amarmos os irmãos, temos a missão de mudar o mundo, de revolucioná-lo por meio do amor de Deus semeado em muitos corações. O mundo precisa compreender que existe um Deus que é Amor e que ama a cada um de seus filhos, e que deseja fazer com eles uma aliança eterna de amor, onde “ele será tudo em todos” (1Cor 15, 28), pois todos serão consumados no um; Cristo diz: “Pai! Eu rogo por eles, guarda-os em teu nome, para que sejam um como nós” (Jo 17,9-11).        O poeta Goethe tem um poema em que ele diz: “o mundo é tão vazio quando pensamos apenas nas montanhas, rios, cidades; mas saber que cá e lá existe alguém que comunga conosco, com o qual também nós convivemos tacitamente, isto faz deste globo terrestre para nós um jardim habitado”.
O mundo precisa ser mais feliz e alegre, nós cristãos somos responsáveis em mudá-lo com o nosso modo de viver porque muito nos foi dado: “se observais meus mandamentos permanecereis em meu amor. Eu vos digo para que a minha alegria esteja em vós e seja plena. Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos. Vós sois meus amigos se praticais o que vos mando. Já não vos chamo de servos, mas vos chamo de amigos, pois vos dei a conhecer o que o pai me revelou. Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu quem vos escolhi para irdes e produzirdes frutos” (Jo 15, 10-17). Somos ramos da videira, o vinho santo que dela brota se transubstancia em sangue que é amor, bebemos desse sangue, logo nossa vida deve ser de propagadores e vivenciadores desse amor, os frutos que devem brotar de nossa amizade devem ser de amor, afinal de contas fomos criados no, com e pelo amor, e nossa vida está encerrada no amor, na lógica de Deus todos nós temos que ser servos por amor. “A Nobreza de sermos de Deus nos obriga a sermos diferentes”. (Bento XVI).

Na verdade o amor é lindo. Os jovens, afinal, buscam sempre a beleza no amor, desejando que o seu amor seja lindo. Cedem-se às fraquezas, seguindo modelos de comportamento que bem poderiam ser classificados como um ‘escândalo do mundo contemporâneo’, e são modelos lamentavelmente muito difundidos, no fundo do coração desejam um amor lindo e puro. Sabem, afinal, que ninguém pode conceder-lhes um amor assim, a não ser Deus. E, portanto, estão dispostos a seguir a Cristo, sem olhar para os sacrifícios que isso pode implicar” (Beato Papa João Paulo II em seu livro Cruzando o limiar da esperança).  

Obrigado meu Deus por todos os amigos(as) que vós depositaste em minha vida, que me deste a graça de adentrarem em minha história, para me ajudarem a ir ao teu encontro! que nossa amizade cresça impelida pelo vosso amor, puro, santo e eterno. E que mesmo separados pela distância, o teu amor, o teu altar nos una, num só coração e em uma só alma e que nossa amizade cresça tendo a vós como o Centro, o sustentáculo. aos meus amigos e amigas meu amor, minha gratidão, minha oração, meu choro, minha alegria. Amo-vos em Cristo.








A Voz do Povo não é a Voz de Deus

Amados irmãos e irmãs, é muito interessante como em nosso mundo, muitas pessoas ao buscarem o sucesso pessoal, os interesses e as vantagens para a própria vida, costumam dizer: “a Voz do povo é a voz de Deus”, ou seja, quase afirmando que em determinadas atitudes tomadas na vida, Deus é favorável aos seus esquemas, pensam que o seu pensamento é o pensamento de Deus; Pensam que Deus é um compadre no qual compartilha com os meros projetos existenciais de cada indivíduo; outros até deixam Deus de lado, para trás, colocam no escanteio da vida, Ele parece ser um empecilho para o meu sucesso, a minha felicidade, tudo isso a fim de afirmar-se a si próprio, podemos resumir naquilo que identifica a pós-modernidade: “O Homem é a medida de todas as coisas”. Se retirou Deus do centro e foi colocado o homem. 
Em um mundo marcado pelo individualismo, o egoísmo, a imoralidade, a débil razão, um pragmatismo, um consumismo exacerbado, um edonismo, ou seja, um busca de uma felicidade, de um prazer, de um sucesso fácil, tirando todo caráter de sacrifício, de sofrimento, de renúncia, de dor, chegando ao ponto de no âmbito religioso se pregar um Cristo Ressuscitado, cheio de glória  e esplendor, triunfante, que não passou pela cruz do sofrimento e da paixão.
Deus em sua benditíssima Palavra proclamada na Santa Liturgia Dominical nos convida a pensar o seu pensamento, a mais do que renunciar as coisas da vida, renunciar a nós mesmos, a não nos conformarmos com a mediocridade de uma vida fácil, em um total comodismo.
Olhando o mundo hodierno é possível ver um universo hostil a Deus, um mundo de “progressos” até iminentes, mas que em muitos casos têm levado à humanidade para o abismo da existência humana, o seres humanos não sabem para onde caminham, vivem sem perspectiva de vida, apenas “curtem” o tempo presente, buscam um prazer excessivo para fugir em muitos casos da dor e do sofrimento que temos que enfrentar em nossa vida. É um mundo onde já não tem espaço para enfrentar sacrifícios por algo maior, por uma felicidade maior que não é passageira, mas eterna.  É um mundo que não busca a vontade de Deus, não buscam o que é Bom, Verdadeiro, Justo, o que de fato agrada. São Paulo na carta aos Romanos nos exorta: “não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus” (Rm 12,2).
O Cristão precisa ser diferente, não pode pensar como o mundo, precisa pensar o pensar de Deus, assim, nos exorta o papa Bento XVI: “a nobreza de sermos de Deus nos obriga a sermos diferentes”. Ser Cristão é abraçar a vida de sacrifício, é “oferecer-se a cada dia como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12,1), é fazer da própria vida um liturgia, um culto espiritual a Deus. Quando se tem a alma e o coração agarrados, edificados em Deus o sofrimento tem sentido, pois tudo suportamos por amor a Deus, assim nos dirá o salmista: “Vosso amor vale mais do que a vida” (Sl 62,4).
Para o cristão a Vida verdadeira que traz a felicidade sem fim, vem do sacrifício, vem do calvário de cada dia, vem da Cruz que o discípulo deve tomar nos ombros, como sendo a escada e a porta que levam à Felicidade, ao céu, ao Paraíso. Assim foi com Cristo, que teve que sofrer muito, ser rejeitado, ser esmagado, ser um derrotado, um fracassado, um homem sem sucesso aos olhos humanos, para que a Vida brotasse, pela Ressurreição, é a Vida que brota da paixão, do sofrimento, da dor transformada em amor ao seu Deus e Pai e a humanidade. É a renúncia da vida fácil, acomodada, medíocre, a renúncia de nós mesmos, é o perder a vida por Cristo  que nos fará encontrar a Vida sem fim.  Quando Jesus começou a revelar aos seus discípulos o mistério de sua dolorosa Paixão a qual Ele deveria enfrentar, Pedro quis desviá-lo, afastá-lo desta Hora, na sua atitude Ele quis ser mestre do Mestre, quis decidir sobre a vida de Jesus, o Evangelho usa uma palavra forte: “Pedro tomou Jesus à parte e o Repreendeu:, Deus não permita tal coisa Senhor! Que isso nunca aconteça! (Mt 16,22).  
Na vida de caminho com Jesus, o discípulo não vai à frente do Mestre, não é o discípulo que traça o caminho, o destino a ser seguido, o discípulo vai à trás do Mestre, é o Mestre quem traça o caminho, é ele quem dirige os passos do discípulo, em outra ocasião o próprio Jesus deixou claro aos discípulos qual era o lugar do seguimento quando disse: “vinde após mim” (Mt 4,19), por isso, que Jesus repreende com dureza a Pedro dizendo: “Vai para longe, satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens” (Mt 16,23).
Ó Pedro, quão rápido esqueceste o que professaste a cerca de Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mt 16,16); Jesus é de fato o Messias, Filho de Deus que veio para sofrer e entregar a sua vida em resgate por muitos. Ó Pedro vacilaste na fé, pensaste como o mundo.  
Aquele que pela bela profissão de fé , recebeu a missão de ser pedra forte, rocha cavada, na qual em sua fé todos encontram o abrigo verdadeiro, contra a falsidade, a mentira; agora passa a ser pedra de tropeço para o Senhor. Parece não ter se deixado seduzir pelo Senhor, por seu ensinamento, por suas palavras, pela sua missão, pelo seu Messianismo que é o do Servo sofredor. Quer a glória sem antes passar pelo sofrimento.
O Discípulo de Cristo deve a cada dia renunciar as suas pretensões de sucesso, renunciar a si mesmo, se deixando seduzir pelo chamado do Senhor que é mais forte do que ele: “Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). É carregar a Cruz com o Senhor, sofrer com Ele, recebendo zombarias, injúrias, calúnias, difamações, chacotas, mas tendo a certeza e a confiança na fé que tudo isso não é nada, comparado ao prêmio que o Senhor irá conceder, é trocar, perder a vida fútil, o sucesso, a felicidade momentânea, para ganhar o tesouro, o prêmio sem fim, a felicidade eterna, “quem perder a sua vida por causa de mim (Cristo) vai encontrá-la” (Mt 16,25), pois “a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). Ao Deus da Vida seja dada a honra, a glória e o poder agora e por toda a eternidade! Amém!



sábado, 27 de agosto de 2011

A AMIZADE VERDADEIRA SE FUNDAMENTA EM CRISTO

Depois de alguns dias marcados pelo correria do cotidiano da vida, estou postando o 7 texto de nossa série de reflexões sobre a busca de redescobrirmos o valor da amizade cristã, fundada em Cristo, o Nosso Mestre e Divino Amigo. Aquele que nos comunicou os segredos de seu coração.

Texto VII

É Jesus que na Eucaristia entrega as suas dores, as suas alegrias, os seus sofrimentos a sua vida, o seu Corpo Santo e o seu precioso Sangue, a nós. Quando o comungamos ele penetra em  nosso corpo e em nosso sangue, somos chamados a ser outros Cristos. E uma vez o sendo nós temos que agir como ele, levando amor aos irmãos. O Papa Bento XVI diz: “A comunhão tem sempre e inseparavelmente uma conotação vertical e uma horizontal: comunhão com Deus e com os irmãos”. Em um mundo como o nosso que tem como identidade o individualismo, nós temos que transformá-lo com nossas atitudes, levando amor onde lhe falta, pois o mundo necessita deste amor que vem de Deus, e de encontrar-se com ele, e de crer nele. Dostoieviszki diz: “a beleza salvará o mundo”; portanto, a grande beleza é encontrar e comunicar Cristo a todos. O mundo não pode viver mais sem amor. Tem um filósofo que diz: “se muitos acham difícil crer em Deus, pior ainda é viver sem ele”. Nos temos que construir um mundo de unidade, onde possa haver um só rebanho e um só pastor (Jo 10, 16).
Quando participamos da Eucaristia, somos convidados a ir ao encontro dos que necessitam, pois ao participarmos da mesa do altar de Deus, temos que ir ao altar do próximo, sacrificar a nossa vida pelos irmãos, pois na Eucaristia somos pequenos sacrificados unidos ao Grande Sacrificado. Cristo se fez imolar, sacrificou a sua vida porque muito amou aos seus amigos. Devemos ser grãos de trigo a serem sacrificados pelos irmãos.
Tem uma história que diz: “era uma vez dois trigos, bonitos e dourados. Um era egoísta, só pensava em si mesmo; o outro era generoso, sempre pensava nos demais. Um dia foram à cidade e viram muitas crianças famintas em busca de pão. O grão egoísta pensou: “estas crianças são um perigo; se me descobrirem, me comerão”. E disse ao amigo: “vou procurar um lugar escuro onde ninguém me encontre”. O grão generoso pensou: “estas crianças passam fome, mas com apenas um grão seu problema não será resolvido”. E disse ao amigo: “eu vou ao campo me enterrarei e, no próximo ano, sairão de mim muitas espigas”. O grão egoísta encontrou um esconderijo, se deitou feliz, pensando que seu amigo era bobo, e dormiu. O grão generoso procurou um bom terreno e aí se enterrou. Quando chegaram as chuvas e o frio, lembrou do amigo e teve vontade de fugir, mas pensou nas crianças e ficou quieto na terra. Depois de alguns meses, as crianças famintas descobriram em um lugar escuro um grão solitário, podre; e na metade do campo, bonitas e resplandecentes espigas douradas.”É o dom de si, quem ama se dá por inteiro ao outro. Cristo foi o grão de trigo que se deu a si mesmo, recordemos:” se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; mas se morre produz muitos frutos”(Jo 12,24).          
       Jesus tinha que morrer para poder nos salvar, e com isso nós também somos chamados a dar a vida pelos nossos irmãos. Algo que era mui belo, nos primórdios da Igreja, era a doação por inteiro que muitos faziam a Cristo e aos irmãos, de modo que os pagãos ficavam admirados com o modo pelo qual os cristãos viviam, sem contar aqueles que davam a vida em arenas cheias de feras por amor a Cristo e aos irmãos. Basta ver Sto Inácio de Antioquia que entregou a sua vida derramando o seu sangue por amor a Cristo e aos irmãos, ele diz: “Deixai-me ser alimento das feras por ela pode-se alcançar Deus. Sou trigo de Deus, serei triturado pelos dentes das feras para tornar-me o puro pão de Cristo”. A beleza de ser cristão é poder dar a vida pelos irmãos, pois a arte do bem viver é a arte do bem morrer; ou seja, muitas vezes nós temos que morrer para o nosso orgulho, para o nosso egoísmo, para muitas outras coisas para poder dar vida ao outro, dar vida aos irmãos. A plenitude do amor acontece na morte, a amizade só é bem sucedida se estivermos dispostos a morrer sempre de novo. Nós precisamos morrer, romper com o nosso eu, para podermos nos unir com o outro, para que venhamos a nos abrir ao outro. Deste modo, só quem passa pela morte do próprio eu pode avaliar a profundeza de uma amizade. A morte de cristo na cruz é o exemplo de uma verdadeira amizade. O filósofo Marcel diz: “amar uma pessoa significa dizer-lhe você não morrerá”. Ou seja, nem a morte, nem as tribulações podem apagar o amor (Ct 8,6).


Ó Jesus que nesta vida pela fé eu vejo
realiza eu te suplico este meu desejo
ver-te em fim face a face, ó meu Divino amigo
lá no céu eternamente, ser feliz contigo


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Celebrar um Apóstolo é celebrar a Igreja

Hoje a Santa Liturgia celebra a festa de um dos doze apóstolos de Jesus Cristo que tem como Nome, Bartolomeu-Natanael, ele era de Caná da Galiléia, o seu nome é na verdade a identificação de sua filiação, ou seja, Bartolomeu = Bar-Talmay = "Filho de Talmay", na língua judaica, O seu encontro com o Mestre foi de início marcado por um ceticismo, mas depois se transformou em uma bela e profunda profissão de fé em Jesus. Ele foi um dos primeiros discípulos de Jesus, diz uma tradição que após a ascensão de Jesus, ele pregou na ìndia, onde ali também ´derramou o seu sangue pelo Evangelho de Cristo. 

Sempre que celebramos a memória da vida e martírio de um dos doze, é momento de recordarmos aquilo que a Igreja é, aquilo que a define, ou seja, uma das notas, uma das caracteristicas da Igreja, dizemos na profissão de Fé que a Igreja é una, Santa, Católica e Apostólica, e isso nós podemos entender a partir das sagradas Escrituras quando falam: "Mostrou-me a cidade Santa, a Jerusalém Celeste... as muralhas da cidade tinha doze alicerces, e sobre eles estavam escritos os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro" (Ap  21,10.14).
a verdadeira Igreja de Cristo é aquela que tem como sustentáculo a fé dos apóstolos, daqueles homens simples que fizeram um encontro decisivo com Jesus, estiveram com Ele, deixaram tudo e o seguiram até o fim, até a morte por amor a Ele.  Bendito seja a Santa Mãe Igreja Católica! Bendita és tu ó Esposa de Cristo, és a Jerusalém Celeste, a Cidade Santa de Deus, cheia de glória e esplendor da santidade, pedra preciosíssima, banhada pelo sangue do Cordeiro Imolado!
ao olharmos para a pessoa do apóstolo Bartolomeu vemos o nosso itinerário de fé no seguimento de Jesus, o encontro decisivo que deve mudar o rumo de nossa vida, de nossa lida, de nossa existência. A fé não a damos a nós mesmos, ele nos é dada, é dom, é sinal da gratuidade amorosa de Deus, e ela nasce de um encontro pessoal e performativo com Cristo. em nossa pobre existência tão marcada muitas vezes por um ceticismo, não conseguimos conhecer quem é Jesus, é preciso que alguém nos aponte, nos guia, seja um intermediário, uma ponte que nos conduz ao autor e consumador de nossa vida.
Na vida de Bartolomeu o seu intermediário foi Filipe que anunciou a novidade da fé a Bartolomeu: "Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na lei e nos profetas: Jesus de Nazaré, o Filho de José" (Jo 1,45). Bartolomeu era um judeu, "um israelita verdadeiro, sem falsidade" (Jo 1,47). e como todo judeu, certamente esperava a vinda do Messias, o esperado das nações, aquele que viria instaurar o reino glorioso, reger o mundo com justiça, paz e ordem. Todos esperavam um Messias Poderoso, e quando Filipe falou que esse Messias era O Jesus de Nazaré, O filho de José, O carpinteiro, Bartolomeu foi tomado pelo preconceito: "De Nazaré pode sair coisa boa?" (Jo 1,46). certamente Bartolomeu já ouvira falar daquele Homem, ele sabia sua procedência, mas logo, foi surpreendido com a resposta-convite de Filipe: "Vem ver"! (Jo 1,46b). quantas vezes achamos que já conhecemos Jesus, só por contato longínquos, quantos momentos somos marcados por um ceticismo que nos faz duvidar de tudo, até mesmo de Deus e de sua presença constante em nosso meio, em nossa vida? é preciso ir e ver quem de fato é Jesus, só no encontro íntimo e pessoal com Ele, estando com Ele, é que saberemos quem de fato Ele é. No encontro com Jesus algo de surpreendente acontece na vida de Bartolomeu, Jesus o olhou, fitou o seu olhar, Ele que nos conhece profundamente, é mais íntimo de nós do que nós mesmos, também conheceu quem era Bartolomeu: "Aí vem um Israelita de verdade, um homem sem falsidade" (Jo 1,47). As palavras de Jesus desmontam Bartolomeu que num primeiro encontro com Jesus, percebeu que Aquele Homem já o conhecia e descrevia quem ele era; Certamente, O filho de Talmay, em sua simplicidade logo se questionou e perguntou a Jesus: "De onde me conheces?" (Jo 1,48). aos poucos este encontro com Jesus vai desmantelando o ceticismo preconceituoso de Bartolomeu, Logo, ele vai percebendo que aquele Homem até então desconhecido, não é um homem qualquer de Nazaré, o Messias anunciado no Antigo testamento, estava agora como uma luz diante de seus olhos. O ceticismo de Bartolomeu se transforma numa fé firme, a ponto dele proclamar quem de fato é Jesus: "Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei dos Judeus" (Jo 1,49). Bartolomeu reconhece que Jesus não é só o Filho de José, mas é, sobretudo, o Filho de Deus, não é um homem qualquer, mas O Homem de Deus, verdadeiro Homem e verdadeiro Deus. E deveras, Ele é O Messias, o Ungido de Deus, aquele que veio para reinar sobre Israel. 
Deus nos surpreende sempre, escolhe os simples, para confundir os fortes, "o que é fraqueza de Deus é mais forte que todos os homens" (1Cor 1,25). São João Crisóstomo, sobre o chamado de Jesus a seus discípulos nos diz: "De incultos e ignorantes fez amigos da sabedoria". E foi isso que aconteceu na vida de Bartolomeu, ele foi amigo de Cristo, anunciou as maravilhas, o Reino glorioso, o Evangelho de Cristo, se tornou amigo da sabedoria que é Cristo, e esta sabedoria, é a da cruz, do martírio, assim Bartolomeu terminou a sua vida, recebendo a coroa do martírio, a palma da vitória, a glória do céu. 
Que o exemplo e o testemunho do apóstolo Bartolomeu nos leve a abraçar a fé, a seguir os ensinamentos de Cristo que nos foram transmitidos pelos apóstolos e hoje chega a nós pelo sagrado Magistério, e a amar a santa Igreja Católica. 
                                                           



Ó Apóstolo sincero,
Ó grande Bartolomeu:
Apontai-nos o caminho
Que leva da terra ao Céu.

Por ver a sinceridade
Que de vós irradiava,
Em Vós pôs o seu olhar
O Salvador que passava.

E logo vos quis unir
À sua missão divina
De pregar ao velho mundo
O que era nova doutrina.
Vivestes com Jesus Cristo

Em perfeita intimidade.
Jamais perdestes o rumo
Do Evangelho da Verdade.

Glória a Ele que vos chamou
Para serdes, a seu lado,
O que, junto a cada rei,
Deve ser cada soldado.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

"Sem a cruz não há caminho que leve ao céu" (Sta Rosa de Lima)


Hoje a mãe Igreja celebra jubilosa a festa de Santa Rosa de Lima, Padroeira da América Latina, santa peruana, nascida no ano de 1586, dedicou toda a sua vida à prática das virtudes cristãs, deixou a vida burguesa que levava com sua família, para se consagrar à oredem terceira dos dominicanos, vivendo uma vida austera e de doação sem reservas aos mais necessitados, aos enfermos; tinha uma vida de experiência mística de contemplação e de união a Cristo Crucificado. morreu no dia 24 de Agosto de 1617. quero ofertar-vos esta reflexão baseada na vida de Santa Rosa de Lima, que viveu e compreendeu a dinâmica do ser Cristão.



"Saibam todos que depois da tribulação se seguirá a graça; reconheçam que sem o peso das aflições não se pode chegar ao cimo da graça... é esta a única e verdadeira escada do paraíso e sem a cruz não há caminho que leve ao céu... não podemos obter a graça, e não sofrermos aflições...quem dera que os mortais conhecessem o valor da graça divina, como é bela, nobre e preciosa; quantas riquezas esconde em si, quantos tesouros, quanto júbilo! sem dúvida, eles empregariam todo o empenho e cuidado para encontrar penas e aflições" (Dos escritos de Santa Rosa de Lima, virgem).


A vida do cristão desde o instante do Batismo é de configuração total à Cristo, a ponto de nas sagradas fontes surgir uma nova pessoa, numa mudança de identidade, o fiel deixa de ser pagão e passa a ser Cristão, ou seja, outro Cristo. "Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim", isso implica numa vida de união íntima com o Senhor Crucificado e Resuscitado, é "viver para o amado, desposando-o aqui na terra" (Hino de Laudes da festa de Sta. Rosa de Lima). A vida do Cristão é ser para Cristo, e ser de Cristo, como esta expresso nas Palavras de São Paulo: "viver para mim é Cristo". ser outro Cristo, ser discípulo Dele nos dias de hoje não é fácil, nunca foi e nem será; O Senhor e Mestre nos disse:" No mundo haverei de sofrer tribulações, mas tende coragem, eu venci o mundo"; e ainda assevera: "Quem quiser me seguir tome sua cruz e me siga". quantos sofrimentos, quanta dor, quanta tribulação enfrentamos em nosso dia-a-dia, as vezes nos bate o despero, a desesperança, a tristeza, queremos desistir, queremos cortar um pedaço de nossa cruz, ou, até mesmo abandoná-la, pensando que seremos felizes desta maneira.
Nos tempos hodiernos, quantos buscam a felicidade, mas a querem com facilidade, muitos buscam o prazer e fogem da dor, quantos anunciam um Cristo só ressuscitado, esquecendo de que Ele, Deus e Homem, teve que sofrer a ignomínia da Cruz, deixando-nos um exemplo a seguir, devendo, pois, seguir os seus passos. "Ó Deus concedei-nos, seguir na terra os vossos caminhos e gozar no céu as vossas delícias" (Oração de Coleta). Ser Cristão não é ser um masoquista, mas é perceber que os sofrimentos presentes nem se comparam com a glória, com a graça que nos espera, é compreeder que a cruz cotidiana que temos que carregar, é a escada que nos leva à Terra Prometida, à Jerusalém Celeste, ao Céu, à nossa pátria verdadeira, pois o Cristão é cidadão do céu, e é pelo sofrimento que encontraremos a graça divina. É a loucura da Cruz que aos olhos de nosso mundo parece insensatez. Deus não nos promete qualquer coisa, Ele é fiel, e nos dará a Vida em Abundância, a vida Bem-aventurada, nos dará o Reino dos céus, o seu Reino, mas para a obtermos deveremos experimentar os espinhos tortuosos da vida, o vale de lágrimas.
O Reino de Deus é a Felicidade Verdadeira que procuramos, palmilhando ardorosamente a estrada de nossa história. O Reinado de Deus é o Reinado da Cruz, nela e por ela Deus é o Senhor do Mundo, É Ele quem dá vida à nossa vida. Este Reino é o tesouro de grande valor, a pérola preciosa e valiosíssima, mas que sendo grande é pequena a ponto de estar escondida, velada; para a encontrarmos temos que abrir mão de nossos interesses mesquinhos, daquilo que temos como grande, como "o tudo" de nossa vida; ser capaz de considerar tudo como lixo, para agararmos com fé e confiança a nossa Cruz, a fim de ganhar a Cristo. Diria santa Rosa:  "se os mortais conhecessem o valor desta graça todos ririam pela terra a procurar, em vez de forunas, os embaraços, moléstias e tormentos, a fim de possuir o inestimável tesouro da graça" .
Santa Rosa de Lima, viveu desta forma, foi capaz de abandonar todas as riquezas de sua nobre família, para levar uma vida de união profunda com Cristo, abraçou a cruz que foi para ela: escudo, escada e coroa; como Rosa de Deus não teve medo de enfrentar os espinheirois da vida, mas soude vencê-los, exalando o suave perfume da santidade, da caridade, da penitência e da doação ao Reino de Deus.  
Dai-nos ó Deus a Graça de seguir os passos de teu Filho na via-crucis de nossa lida, para que carregando as nossas cruzes, entre as tribulações do mundo e as divinas consolações que vêm de ti, possamos chegar um dia no céu, que a cruz seja a nossa escada e o nosso troféu. e que a exemplo de santa Rosa de Lima, nos inflamamemos de amor por ti, Nosso Amado, ao Deus Uno e Trino, ao qual, seja dada toda honra, toda a glória e todo o poder, desde agora e para sempre e por toda a eternidade. Amém!  
   








ó anjos do céu
cantai esta Rosa
brotada na terra
tão bela e formosa

foi ela que a América
ao céu ofertou
mas que todo o mundo
de amor perfumou

as rosas da terra
aplaudam esta Rosa
o sol e as estrelas
a chamam formosa

Ó Rosa Vermelha,
Ó Rosa de Lima
chorar nossas faltas
a todos ensinas

Com Rosa a Trindade
na terra, louvemos
com ela no céu
um dia cantemos

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A AMIZADE VERDADEIRA SE FUNDAMENTA EM CRISTO


TEXTO VI


A realidade a ser apresentada sobre a amizade, é que mais do que amigos nós deveremos ser irmãos, nascidos e alicerçados na fé, irmãos porque é o amor de Deus que nos une, e mais, porque fazemos a vontade daquele que nos ama profundamente (Lc 8,21). A amizade verdadeira é aquela que nasce e esta unida em Cristo, à caridade em excessos brotou do lado de Cristo na cruz, pois foi um amor louco, que a lógica do mundo não consegue compreender, amor louco que decide carregar nos ombros algo que era para ser nosso, e que morre na cruz em nosso lugar, só um amor louco como esse é capaz de mudar a lógica puramente humana, pois o oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença, e o mundo hoje arraigado na solidão vive esta indiferença de não olhar para aquele que reina da cruz, e que é o “centro do cosmos e da vida humana” (RH, I, 1).
            Nós cristãos temos que viver como irmãos, vivendo a unidade, a fraternidade, a caridade e o amor, devemos ser amigos de Jesus, ter uma intimidade profunda com Ele, de modo que “sem ele nada podemos fazer” (Jo 15,5). Os cristãos das comunidades primitivas souberam viver este ideal, pois ao amarem a Cristo eles amavam-se mutuamente, viviam perfeitamente unidos; este é deveras o caminho que leva a vida. Repito, temos que ser amigos íntimos de Jesus. E esta amizade se torna mais firme e mais profunda na Santa e Sagrada Eucaristia. Isto é tão verdadeiro que era na Fração do Pão que a comunidade cristã primitiva, estreitava mais os laços de amizade, viviam como verdadeiros irmãos, tinham tudo em comum.
            O maior presente que nós cristãos podemos ganhar todos os dias é a presença de Jesus no meio de nós Cristo desce para nos elevar as sumas alturas; “O sacramento da caridade, a Eucaristia é a doação que Jesus faz de si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem. Nesse admirável e santíssimo sacramento, manifesta-se o amor ‘maior’: o amor que leva a ‘dar a vida pelos amigos’” ( Enc. Sacramento da Caridade 1). Entende estas ultimas frases? elas são as mesmas que fundamentam a nossa reflexão. Na Eucaristia o Verbo Encarnado vem morar em nós, ele bate em nossos corações, a fim de celebrar conosco e em nós um banquete de amor. Jesus disse: “desejei comer convosco esta páscoa”. Jesus quer ficar em nossa casa, assim como ele disse a Zaqueu, ele quer curar as nossas feridas, as nossas dores. Sto. Agostinho diz: “via as pessoas que saiam curadas após participarem do Sacro Banquete, pois ao receber a Eucaristia, elas recebiam a pessoa que os curava”. Entendamos que no mundo de egoísmo, de morte e de violência em que vivemos tão facilmente nos entregamos a estes males, e com isso o nosso coração vai se enchendo de coisas más, e Cristo na Eucaristia quer trazer a salvação para a nossa casa (Lc 19, 9-10). Santa Margarida de Sena dizia; “Eu vou a missa ver Cristo morrer por mim”. Quando nós celebremos A Eucaristia, nós celebramos e somos lançados no Mistério do Calvário, no qual Cristo deu a vida por nós na Cruz, se entregando inteiramente e não com regateios. Grün diz: “Na cruz, Ele se entregou por nós, sem jamais contar com alguma retribuição nossa. Ele nos amou, sem que nós houvéssemos feito nada para merecê-lo. Ele sabia neste seu amor que nós muitas vezes iríamos passar ao largo e fazer pouco caso dele”. Mas na cruz ele revela o amor profundo por nós sem nenhuma restrição, os braços abertos falam muito, é Cristo que nos acolhe, nos abraça, que nos acolhe em nossas cruzes, e que espera por nós para que corramos ao seu encontro e o abracemos. Só Jesus nos ama assim tão profundamente. “A missa é o calvário” dizia Pe. Pio. É na Eucaristia que nós compreendemos quem somos, pois o mistério do homem se revela no mistério do Verbo Encarnado, ao olhar para o corpo santo de Cristo elevado pelas mãos do sacerdote, transparece a nossa vida, pois ela está escondida em Cristo (Fl 3,3).

Celebrar Maria Assunta aos céus é celebrar o nosso destino


Ontem a Nossa Mãe Igreja celebrava a solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria aos céus de Deus.  Não podia deixar de expressar meu sentimento de fé, de piedade, de amor, e de humildade  para com a Virgem da Assunção que perpassa a minha história, me acompanha desde os meus primeiros passos na caminhada vocacional, para abraçar a vida sacerdotal. Em minha amada paróquia de São José, num  altar-mor se encontra uma belíssima imagem de Maria Assunta aos céus, ó que imagem bela! Esplendor da beleza de Deus! Foi a primeira imagem da Assunção que vi e contemplei a pureza e ternura daquela que viveu para Deus do início ao fim de sua vida. No Seminário de Maceió, onde fui formado  encontrei uma das mais belas imagens da Assunção da Virgem Mãe de Deus, padroeira daquele grandioso solo de heróis, onde gerações e gerações passaram e se colocaram sob a proteção materna da Sempre Virgem, como diz o hino do Seminário: “Fostes vós a estrela a iluminar”. Deveras, Maria sendo a estrela da aurora matutina, com os raios claros do Sol da Justiça na qual ela revestida, iluminou os caminhos de nossa existência, as noites escuras e turvas de nossa jornada, nos conduzindo a Cristo Sumo e Eterno sacerdote. Confesso que ao olhar para aquela imagem do altar principal da capela do seminário me sentia movido a buscar as coisas do alto, a querer me unir a Deus, a subir com meu coração, minha existência e minha vida para o altar do Deus que alegra a minha Juventude. Pude descrever isso num cântico que com um amigo compus para um Cd do Seminário, ali dizia a canção: “Fico a te olhar Maria, a tua beleza a contemplar, de braços abertos erguidos ao céu, divina morada onde estás nos leva ao teu Filho”. Quando cantava esta canção olhando para a Virgem da Assunção meu coração se alegrava, exultava, saltava de felicidade, me comovia no íntimo, as lágrimas saltavam em meu pobre olhar. Na canção expressava todo o meu desejo de lutar para ser um sacerdote fiel, obediente à Palavra de Deus. Quantos momentos de oração diante daquela imagem, quantas lágrimas derramei! Quantas alegrias vivi! Lembro-me de uma expressão de meu diretor espiritual, um padre santo, que hoje contempla a glória de Deus, dizia ele: “meu filho quando não nos apaixonamos por Nossa Senhora, outras senhoras entram na nossa vida”. E ao olhar para a Virgem da Assunção pedia a ela a graça de ser um apaixonado, um amante, de deixar-me conduzir por ela a seu Filho Jesus, como muitos santos o foram, poder me encantar pela  Rainha que foi vestida com o belo manto da santidade, da pureza, da virgindade, da incorruptibilidade,  da luz fulgurante do Espírito de Deus, a mais bela entre todas as mulheres da terra, toda santa, toda pura, toda bela, porque escolhida desde toda a eternidade, preservada de toda a mancha do pecado, para ser o receptáculo, a terra fértil, o tabernáculo, a Nova arca da Aliança, na qual Deus Pai na Força de seu Espírito Eterno, enviou o seu Filho Bem-amado, seu Verbo Eterno que entrou no tempo de nossa história, assumiu a nossa condição humana pelo seio virgem de Maria, para nos conduzir ao caminho da Vida, para levar o homem  a contemplar a Glória de Deus; e porque soube em toda a sua vida ser serva obediente de Deus, soube escutar e praticar a Palavra de seu Deus, soube ser pequena, pois os pequenos é que herdarão o Reino dos Céus,  ela foi coroada com o prêmio da Glória, deveria estar unido ao seu Filho também no céu, assim como esteve na terra, assim como o seu Filho passou pela morte como vencedor, Maria terminado o seu curso terreno, ela foi preservada da corruptibilidade da morte, dormiu para a terra, para acordar na Eternidade (Dormitio Mariae); foi elevada de Corpo e alma aos céus.  Ela foi coroada como Rainha dos céus, do Novo povo de Deus, e por isso ingressou no palácio real do Divino Rei, nos céus de Deus,  que não é um lugar espaço temporal, mas uma pessoa, Deus ;agora ela está junto com Deus a interceder por nós seus filhos. Olhar para Maria elevada aos céus, devemos nos encher de alegria, pois esse deve ser também o nosso rumo, o nosso destino, fomos feitos para a Eternidade. Por Maria o céu veio a nós, é ela a Porta do Céu, Deus visitou o seu povo, para conduzi-lo à verdadeira Pátria. Bendita és tu ó Virgem Maria! Como não te amar minha mãe? Ó Senhora da assunção, se me acolhes de mãos abertas, se abraças e me alentas, se me fazes olhar para o céu, e aos braços do teu Filho me conduzes!


sábado, 20 de agosto de 2011

SANTA MISSA COM OS SEMINARISTAS

Bendito e Louvado seja Deus, o Pai de Jesus Cristo, Senhor Nosso, que do alto céu, nos abençoou em Jesus Cristo, com benção espiritual de toda sorte. Caros Amigos(as) quero ofertarvos a bela e profunda Homilia que o Santo Padre, fez hoje em Madrid na Missa com os seminaristas, aos irmãos seminaristas, que estas sábias palavras, nos estimulem a querer abraçar o Sacerdócio de Cristo com fervor, amor, entrega, dedicação, e com o desejo de desde já ir amadurecendo na imitação de Cristo, conformando a nossa vida à Dele



Catedral de Santa Maria la Real de la Almudena di Madrid
Sábado, 20 de Agosto de 2011
  
HOMILIA DA SANTA MISSA
Senhor Cardeal Arcebispo de Madrid,
Queridos Irmãos no Episcopado,
Queridos sacerdotes e religiosos,
Queridos reitores e formadores,
Queridos seminaristas,
Meus amigos!

Sinto uma profunda alegria ao celebrar a Santa Missa para todos vós, que aspirais a ser sacerdotes de Cristo para o serviço da Igreja e dos homens, e agradeço as amáveis palavras de saudação com que me acolhestes. Hoje esta Catedral de Santa Maria a Real da Almudena lembra um imenso cenáculo onde o Senhor desejou ardentemente celebrar a Sua Pascoa com todos vós que um dia desejais presidir em seu nome os mistérios da salvação. Vendo-vos, comprovo de novo como Cristo continua chamando jovens discípulos para fazer deles seus apóstolos, permanecendo assim viva a missão da Igreja e a oferta do evangelho ao mundo. Como seminaristas, estais a caminho para uma meta santa: ser continuadores da missão que Cristo recebeu do Pai. Chamados por Ele, seguistes a sua voz; e, atraídos pelo seu olhar amoroso, avançais para o ministério sagrado. Ponde os vossos olhos n’Ele, que, pela sua encarnação, é o revelador supremo de Deus ao mundo e, pela sua ressurreição, é a fiel realização da sua promessa. Dai-Lhe graças por este sinal de predilecção que reserva para cada um de vós.
A primeira leitura que escutámos mostra-nos Cristo como o novo e definitivo sacerdote, que fez uma oferta total da sua existência. A antífona do salmo aplica-se perfeitamente a Ele, quando, ao entrar no mundo, Se dirigiu a seu Pai dizendo: «Eis-me aqui para fazer a tua vontade» (cf. Sal 39, 8-9). Procurava agradar-Lhe em tudo: ao falar e ao agir, percorrendo os caminhos ou acolhendo os pecadores. A sua vida foi um serviço, e a sua dedicação abnegada uma intercessão perene, colocando-Se em nome de todos diante do Pai com Primogénito de muitos irmãos. O autor da Carta aos Hebreus afirma que, através desta entrega, nos tornou perfeitos para sempre, a nós que estávamos chamados a participar da sua filiação (cf. Heb 10, 14).
A Eucaristia, de cuja instituição nos fala o evangelho proclamado (cf. Lc 22, 14-20), é a expressão real dessa entrega incondicional de Jesus por todos, incluindo aqueles que O entregavam: entrega do seu corpo e sangue para a vida dos homens e para a remissão dos pecados. O sangue, sinal da vida, foi-nos dado por Deus como aliança, a fim de podermos inserir a força da sua vida onde reina a morte por causa do nosso pecado, e assim destruí-lo. O corpo rasgado e o sangue derramado de Cristo, isto é, a sua liberdade sacrificada, converteram-se, através dos sinais eucarísticos, na nova fonte da liberdade redimida dos homens. N’Ele temos a promessa duma redenção definitiva e a esperança segura dos bens futuros. Por Cristo, sabemos que não estamos caminhando para o abismo, para o silêncio do nada ou da morte, mas seguindo para a terra prometida, para Ele que é nossa meta e também nosso princípio.
Queridos amigos, vos preparais para ser apóstolos com Cristo e como Cristo, para ser companheiros de viagem e servidores dos homens.
Como haveis de viver estes anos de preparação? Em primeiro lugar, devem ser anos de silêncio interior, de oração permanente, de estudo constante e de progressiva inserção nas actividades e estruturas pastorais da Igreja. Igreja, que é comunidade e instituição, família e missão, criação de Cristo pelo seu Espírito Santo e simultaneamente resultado de quanto a configuramos com a nossa santidade e com os nossos pecados. Assim o quis Deus, que não se incomoda de tomar pobres e pecadores para fazer deles seus amigos e instrumentos para redenção do género humano. A santidade da Igreja é, antes de mais nada, a santidade objectiva da própria pessoa de Cristo, do seu evangelho e dos seus sacramentos, a santidade daquela força do alto que a anima e impele. Nós devemos ser santos para não gerar uma contradição entre o sinal que somos e a realidade que queremos significar.
Meditai bem este mistério da Igreja, vivendo os anos da vossa formação com profunda alegria, em atitude de docilidade, de lucidez e de radical fidelidade evangélica, bem como numa amorosa relação com o tempo e as pessoas no meio de quem viveis. É que ninguém escolhe o contexto nem os destinatários da sua missão. Cada época tem os seus problemas, mas Deus dá em cada tempo a graça oportuna para os assumir e superar com amor e realismo. Por isso, em toda e qualquer circunstância em que se encontre e por mais dura que esta seja, o sacerdote tem de frutificar em toda a espécie de boas obras, conservando sempre vivas no seu íntimo aquelas palavras do dia da sua Ordenação com que se lhe exortava a configurar a sua vida com o mistério da cruz do Senhor.
Configurar-se com Cristo comporta, queridos seminaristas, identificar-se sempre mais com Aquele que por nós Se fez servo, sacerdote e vítima. Na realidade, configurar-se com Ele é a tarefa em que o sacerdote há-de gastar toda a sua vida. Já sabemos que nos ultrapassa e não a conseguiremos cumprir plenamente, mas, como diz São Paulo, corremos para a meta esperando alcançá-la (cf. Flp 3, 12-14).
Mas Cristo, Sumo Sacerdote, é igualmente o Bom Pastor, que cuida das suas ovelhas até ao ponto de dar a vida por elas (cf. Jo 10, 11). Para imitar nisto também o Senhor, o vosso corações tem de ir amadurecendo no Seminário, colocando-se totalmente à disposição do Mestre. Dom do Espírito Santo, esta disponibilidade é que inspira a decisão de viver o celibato pelo Reino dos céus, o desprendimento dos bens da terra, a austeridade de vida e a obediência sincera e sem dissimulação.
Pedi-Lhe, pois, que vos conceda imitá-Lo na sua caridade até ao fim para com todos, sem excluir os afastados e pecadores, de tal forma que, com a vossa ajuda, se convertam e voltem ao bom caminho. Pedi-Lhe que vos ensine a aproximar-vos dos enfermos e dos pobres, com simplicidade e generosidade. Afrontai este desafio sem complexos nem mediocridade, mas antes como uma forma estupenda de realizar a vida humana na gratuidade e no serviço, sendo testemunhas de Deus feito homem, mensageiros da dignidade altíssima da pessoa humana e, consequentemente, seus defensores incondicionais. Apoiados no seu amor, não vos deixeis amedrontar por um ambiente onde se pretende excluir Deus e no qual os principais critérios por que se rege a existência são, frequentemente, o poder, o ter ou o prazer. Pode acontecer que vos desprezem, como se costuma fazer com quem aponta metas mais altas ou desmascara os ídolos diante dos quais muito se prostram hoje. Será então que uma vida profundamente radicada em Cristo se revele realmente como uma novidade, atraindo com vigor a quantos verdadeiramente procuram Deus, a verdade e a justiça.
Animados pelos vossos formadores, abri a vossa alma à luz do Senhor para ver se este caminho, que requer coragem e autenticidade, é o vosso, avançando para o sacerdócio só se estiverdes firmemente persuadidos de que Deus vos chama para ser seus ministros e plenamente decididos a exercê-lo obedecendo às disposições da Igreja.
Com esta confiança, aprendei d’Aquele que Se definiu a Si mesmo como manso e humilde de coração, despojando-vos para isso de todo o desejo mundano, de modo que não busqueis o vosso próprio interesse, mas edifiqueis, com a vossa conduta, aos vossos irmãos, como fez o santo padroeiro do clero secular espanhol São João de Ávila. Animados pelo seu exemplo, olhai sobretudo para a Virgem Maria, Mãe dos sacerdotes. Ela saberá forjar a vossa alma segundo o modelo de Cristo, seu divino Filho, e vos ensinará incessantemente a guardar os bens que Ele adquiriu no Calvário para a salvação do mundo. Amen.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Santa Noite a todos, esta é a quinta reflexão sobre a amizade, espero que estas meditações despertem na vida de muitos o desejo de criarem laços de amizade verdadeiros.

Texto V

Outro ponto a ser citado no que se refere à amizade é que muitos se gabam de ter vários amigos, dez, vinte, cinqüenta etc... Deste modo a amizade se torna status, e este não é o sentido dela; muitas vezes as pessoas pensam que os conhecidos das “patotas” são amigos, pelo contrário amigo é algo raro de se encontrar, quem o descobriu encontrou um tesouro. (Eclo. 6,14), é bem verdade que nós não achamos um tesouro a toda hora, a cada minuto, a cada segundo. A sabedoria divina ainda nos diz: “o homem cercado de muitos amigos tem neles sua desgraça” (Pr 18,24) e ainda “há amigos que é só para a mesa” (Eclo 6,10). Contudo, é preciso ser precavidos, quem pensamos que são nossos amigos, tão facilmente nos abandona, sobretudo, nas provações. Por conseguinte, existe um único amigo que nos é fiel, o nome dele é Jesus, nele nós podemos confiar sem medo de nos decepcionar, pois seu amor não falha jamais. Devemos amar e deveras ter como amigo aquele que não nos faltará quando todos nos desampararem, Jesus. “Sem amigos não viverás ditoso, e se não for Jesus teu especialíssimo amigo, estarás mui triste e desamparado” (Imitação de Cristo Liv. II, cap. VIII). A questão não é que não tenhamos amigos, mas sim que tenhamos como primeiro e maior, Jesus.
            Jesus mostra em que consiste a essência da verdadeira amizade, ele partilhou o que ouviu de seu Pai, partilhou seus sentimentos, experiências, conhecimentos e seu amor, ele fez de seus discípulos os seus confidentes, ele lhes abriu o seu coração. Grün diz: “Jesus não oferece aos seus discípulos sua amizade, mas torna-os amigos pelas palavras de amor que lhes fala e pelo amor com que os ama até o fim”.
            O amor de Cristo Jesus é o alicerce de sua amizade, e isto se comprova quando ele diz: “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus irmãos” (Jo 15,13).  Jesus morre por seus amigos, eis diante de nós o mistério da amizade, Jesus entregou por seus amigos sua vida na cruz, eles vivem desse amor. Mas antes de nos lançarmos em uma maior compreensão desta realidade que nos foi apresentada, faz-se necessário que reflitamos alguns apontamentos, que alicerçarão este último ponto de nossa reflexão.
A vida cristã é de uma beleza profundíssima, nela tem-se meios de se fazer um encontro pessoal com aquele que nos ama verdadeiramente. Ao silenciarmos nosso coração, Deus nos fala com palavras suaves e profundas, que trazem uma paz interior, cura as feridas de nosso coração e nos fortalece na labuta do dia-a-dia. A voz de Deus nos faz repousar todo o nosso ser em seu colo de amor, nos envolvendo em um mar de felicidade. A cada instante Deus fala ao nosso coração, os nossos ouvidos são um útero, e a palavra de Deus é o Sêmen, quando ela penetra em nossos ouvidos ela deseja ser fecundada, essa deve ser a nossa tarefa, fazer com que ela fecunde e dê vida.
            Muitas vezes nós escutamos a palavra de Deus, ela penetra e revoluciona o nosso coração, mas ao nos dirigimos às pessoas com palavras, estas em muitos casos são muito diferentes daquela que escutamos; em outro lugar deste texto nós dissemos que existem palavras que ferem mais do que uma pisa que levamos. As palavras que devemos expressar aos outros, e em nossas amizades devem ser palavras que edificam o outro, que o façam compreender que o amor que vence o ódio e a dor vem de Cristo. Não deixemos com que as palavras que saem de nossos preciosos lábios dados por Deus, sejam palavras de destruição, mas pelo contrário, que elas sejam palavras de encorajamento, fazendo com que o outro sinta a presença de Deus em nós, em nosso modo de agir e em nosso modo de falar, pois o nosso coração uma vez preenchido pela palavra de Deus, deve transbordar desta mesma palavra que é amor, de modo que de nossa boca saiam palavras que revelam um coração cheio do amor de Deus, pois, “A boca fala daquilo que transborda o coração” (Mt 12,34).
            Um autor desconhecido diz: “A amizade é doçura; é um óleo benéfico que adoça, cura e fortifica; é por excelência, o remédio do coração humano”. As palavras de Cristo eram um óleo benéfico que curava os corações, muitos acorriam para escutá-lo, pois as suas palavras penetravam o mais íntimo dos corações, de modo que o “coração abrasava quando ele nos falava pelo caminho” (Lc 24,32). A nossa missão não deve ser diferente, sendo, pois discípulos de Jesus deveremos no caminho da vida fazer com que muitos corações, tristes, desamparados, sofridos sem amor, sintam o coração arder de alegria ao escutarem as ternas palavras de nós que fizemos a experiência de parar para escutar o divino amigo falar aos nossos corações.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A Verdadeira amizade tem seu fundamento em Cristo


Texto IV


Só no sofrimento se prova a verdadeira amizade, “Um amigo fiel é um poderoso refúgio; quem o descobriu, descobriu um tesouro. Um amigo fiel não tem preço, é imponderável seu valor” (Eclo. 6,14-15).  Cristo foi esse nosso amigo fiel que pagou um alto preço por nosso resgate, nos protegeu e protege contra as investiduras do maligno, ele foi e é um escudo protetor. Ao olharmos para Cristo fiel amigo, vemos que ele nos socorreu quando estávamos necessitados de uma ajuda. Uma vez que somos cristãos e a nossa verdadeira identidade é imitar o mestre, sendo outros Cristos, na amizade que brota e se alicerça em Cristo, exige e obriga-nos a apoiar e socorrer os amigos em suas necessidades. Esta atitude nós entendemos como o cuidado. Se formos olhar o exemplo de nosso fiel amigo, Jesus Cristo, veremos que ele cuidou de muitos que se sentiam desamparados, sozinhos, desprezados; basta que relembremos os coxos que retornaram a andar, os cegos, que diante dele voltaram a enxergar, os paralíticos, os doentes, que tiveram suas enfermidades curadas. E nós podemos até nos perguntar: Qual era o remédio que Cristo usava para cuidar e curar estes sofredores? O grande, precioso e vitalício remédio se chamava misericórdia-caridade-amor, este era o único remédio que os podia curar. Cristo com seu poder que é amor, ao olhar para os seus amigos e irmãos que sofriam, dava-lhes a graça de recuperar uma vida que para eles e para muitos parecia perdida, com um amor curativo que penetrava profundamente na alma, nas entranhas subterrâneas daquelas pessoas, pois ele sondava e via a sede que o coração daqueles tinha, pois eram desprezados por todos, não tinham nenhuma perspectiva de vida, logo aparece um amigo fiel e os cumula de um amor tão profundo que lhes traz uma vida nova a ser vivida. Pois este era o ideal do próprio Jesus, quando diz uma das finalidades de sua missão: “Eu vim para que as ovelhas tenham vida e a tenham em abundância”.(Jo 10,10). Recordemos que Jesus é o Bom Pastor, e veja ele quer dar vida em plenitude às suas ovelhas; volto a repetir o amigo é pastor da vida do outro.
            Não resta, dúvidas até agora que Jesus é o fundamento da verdadeira amizade, pois como vemos, ele soube ser um amigo fidelíssimo, soube ser um irmão, para acolher aos seus que se encontravam desprezados; pois bem o amigo é de fato um irmão escolhido por nós como bem disse Sto. Agostinho. O amigo necessita da amizade do outro, porque nele ele certamente encontra um abrigo para descansar. Ao nos depararmos com o mundo hodierno, vemos uma escassez de amor no sentido verdadeiro da palavra. O que vemos é uma forma de amor utilitarista, ou até mesmo pragmática, para não dizer um amor objetivado no sentido de ter o outro como um mero objeto de prazer no qual eu preciso dele em um determinado momento, horas depois não necessito mais, ou seja, vivemos em um universo onde o amor se identifica com um prazer imediato. Esta situação atinge também as amizades, pois em certos momentos tendemos a tratar o outro com desprezo, com arrogância, quando não o reduzimos a diversas situações, acabamos matando o outro não com armas de guerra: canhões, mísseis, tanques de guerra ou bombas atômicas, pelo contrário matamos o outro com palavras de desprezo, de arrogância, de ignorância, de egoísmo, de individualismo, de mentira, de falsidade, dentre outras coisas ruins de serem ouvidas e experimentadas. Deixamos de lado tudo aquilo que Cristo nosso fiel amigo nos pediu: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Mc 12,29-31). Somos tão egoístas e nos esquecemos tão facilmente de Deus e com isso não conseguimos lembrar que antes que tudo fosse feito ele já nos amava, já nos tecia no seio maternal, com o mais puro amor, de uma forma que mesmo com nossas ingratidões, ele continua a nos amar, pois “ele nos ama com amor eterno” (Jr 31,3); deveras Deus foi o primeiro a nos amar (1Jo 4,10), “o amor já não é apenas um mandamento dado por Deus, mas é resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro” (Enc. Deus Caritas est), isto significa que nossa missão é levar ao outro este amor, como sendo um ato de resposta ao grandioso dom de Deus a nós. Não podemos nos render a um pensamento ideológico do mundo de hoje, que tem por demais banalizado o sentido do amor, mas pelo contrário devemos mostrar a este mundo o verdadeiro amor que procede de Deus, o amor não pode ser abusado ou deturpado, mas sim amado.
O amor, pelo qual é expresso a amizade é o filia, este amor implica em um desinteresse, no sentido de que se ama, mas não com interesse, é uma forma de amor que implica o desapego de si, para dar-se ao outro, fazendo-o mais feliz. Nisto consiste a atitude de ser benevolente, quer dizer agir com boa vontade para com o outro, e Cristo disse: “Não façais, para com os outros, o que não queres que seja feito com você” e em outro lugar “o homem de bem tira coisas boas de seu tesouro” (Mt 12,35), e o tesouro é o coração, pois ele disse “onde está o teu tesouro, aí também está o teu coração” (Mt 6,21), na amizade o coração deve se dilatar de bondade, pois nisto consiste um amor comum, de uma verdadeira comunhão que faz com a amizade uma vez guiada para e pelo bem, tenda para algo maior. Cristo conduziu os seus amigos para algo maior, “para que todos sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade” (Jo 17,23).
            O compromisso é o amor, amar mutuamente aos irmãos, como Cristo bem fez, amar infinitamente, já dizia São Bernardo de Claraval: “a medida de amar é amar sem medidas”, o Amor de Cristo foi sem medidas e limites, a caridade é sem limites “ela jamais acabará” (1Cor 13,8), dizia o filósofo Bacon: “na caridade nunca há excessos”. Sto. Agostinho diz: “o homem bom é o que ama: o que ama o que deve amar”. Podemos ter tudo na vida, sermos milionários, termos grandes casas, uma vida mui luxuosa, mas se não tivermos  Deus no coração, não temos e não somos nada, pois com Deus nós temos tudo sem Deus não temos nada, porque Deus é amor, se o tivermos temso tudo se não o tivermos não temos nada, porque sem amor nada somos. “O amor nos leva a Deus. O nosso coração arde e nos elevamos ao alto” já dizia Sto. Agostinho. A nossa pedagogia de vida deve ser guiada pelo amor. Em um mundo onde se exalta o dinheiro, o capitalismo, o materialismo, onde o motor que move a história é a economia, como idealizava Karl Marx, todos querem comprar tudo, querem ser donos uns  dos outros, onde o homem tende a ser a “medida de todas as coisas” como disse Protágoras, nunca se sentem satisfeitos com o que tem, almejam sempre mais, vivem uma transcendência deturpada, podem comprar tudo, só não a amizade. É preciso que cativemos uns aos outros e nos deixemos cativar, pois cativar é criara laços, de modo que somos responsáveis por quem cativamos. No livro o pequeno príncipe tem um trecho que diz: “você precisa me cativar. As pessoas já não têm tempo de aprender coisa alguma. Compram tudo nas casas comerciais, as pessoas não têm mais amigos, se quiser um amigo, cative-me”. Em um mundo de imediatismo e ativismo, onde os seres humanos não tem tempo de parar para escutar um ao outro, falta de fato amor, falta esta atitude de ver o outro, de conhecer o outro de conversar, de partilhar a vida. Quando não se tem espaço para esta vivência de caridade, acontece aquilo que foi dito por Cristo: “ante o progresso da iniqüidade a caridade de muitos esfriaria” (Mt 24,12). E isto está acontecendo, onde não se tem espaço para o amor, reina sobre os seres humanos a iniqüidade. Mas cabe a nós revelarmos ao mundo o amor de Deus; precisamos ser diferentes do mundo, estamos nele, mas não somos dele, somos de Deus e o exercito de Deus é regido pelo amor, a única arma a ser usada é o amor, e a revolução a ser feita é a do amor de Deus no coração dos povos. Já dizia o filósofo Jacques Maritain: “só um dilúvio de amor pode mudar o mundo”; este dilúvio é o amor de Deus, a atingir o intimo de muitos corações que vivem amargurados e rendidos à dor, necessitando retornarem ao primeiro amor.