sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Santa Noite a todos vos amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo! vendo a necessidade de em nossos dias mostrar a essência da Verdadeira Igreja de Cristo, querida e amada por ele, frente a diversidade de "igrejas" e seitas que surgem a cada instante, buscando falsificar a mensagem do Evangelho e, por conseginte, cofundindo a fé do povo simples, busquei oferecer de forma resumida um estudo eclesiológico que fiz, baseado na ECLESIOLOGIA DE JOSEPH RATZINGER (BENTO XVI) mostrando em que consiste a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, em sua origem e identidade, como tendo origem Eterna, desde toda a eternidade no seio Trinitário. Espero que o presente texto vos ajude a amar a Santa Mãe Igreja de Cristo subsistente na Igreja católica. 



INTRODUÇÃO

É importante afirmar que a Eclesiologia desenvolvida por Ratzinger é de caráter sacramental, assim como outros grandes teólogos pensaram o mistério da Igreja dentro de uma perspectiva sacramental, ou seja, ver a Igreja a partir dos sacramentos como tesouros e meios eficazes de salvação, enquanto comunicam a graça santificante. Este é o caminho ideal para adentrar nos umbrais do mistério da Igreja. Assim dirá Ratzinger: “Igreja e Sacramento se condicionam mutuamente; sem os sacramentos, a Igreja não passaria de uma organização vazia, e sem a Igreja os sacramentos seriam ritos carentes de sentido e nexo interno”.[1]        Em relação a outros teólogos que estudam o mistério da Igreja a partir da sacramentaria geral, Ratzinger prefere estudá-lo à luz de um sacramento particular que é a Eucaristia. Esta opção feita por Ratzinger encontra o seu fundamento e ponto de partida no Novo Testamento; ele explica da seguinte maneira

“a primeira diversificação, quando a Igreja sai de Israel, consiste no fato de que ela celebra Jesus, agindo desta maneira, a Igreja se torna uma comunidade toda particular, uma comunidade que tem um contato direto com Deus, e está destinada a amar e a servir todo o gênero humano, disso procede o fato de que a Igreja é uma comunidade eucarística e esta é a sua forma específica constitucional”.[2]


A Igreja é esta comunidade eucarística que em todos os lugares celebra esta união com Cristo, e será esta união o fundamento da unidade interna e externa da própria Igreja. Com este seu pensamento teológico Ratzinger elabora uma ECLESIOLOGIA EUCARÍSTICA. Nosso estudo estará centrado na sua obra eclesiológica intitulada: “O Novo Povo de Deus” estudaremos dois capítulos da Segunda Parte, um primeiro versa sobre a origem e a natureza da Igreja, um outro aborda a definição de Igreja dada pelo autor.




I.ORIGEM E NATUREZA DA IGREJA

Igreja, sinal e mistério de fé
            Ratzinger começa mostrando a querela acontecida por volta do séc. XVI, quando Roberto Belarmino começou a publicar seus célebres e polêmicos escritos sobre alguns problemas da fé cristã, dando início a um tratado moderno sobre a Igreja. Roberto Belarmino buscou esclarecer as idéias da reforma que destacavam apenas o caráter invisível da Igreja; então, se procurou defender o aspecto visível da Igreja, só que acabou surgindo um grande perigo que era o de ver a igreja apenas como uma “instituição ou organização jurídica”. Assim o que era a Igreja: O papa, os bispos e os padres. Os fiéis cristãos não tinham consciência de que eles como batizados faziam parte do fluxo vital da Igreja.
            Com o passar do tempo surge uma nova primavera na esteira eclesiológica, isto aconteceu após a 1ª Guerra mundial, quando se começou a revalorizar a doutrina do Corpo místico de Cristo; a partir daí surge uma nova mentalidade na consciência dos cristãos que se sentem participantes da vida da Igreja, agora eles podiam afirmar: “A igreja somos nós”, os cristãos faziam parte do misterioso Corpo do Senhor.
            Após a 2ª guerra mundial um pensar cético perpassou a vida de alguns cristãos e se começou a lançar críticas à igreja, se via a igreja apenas como autoridade ou como uma organização, assim se pôs em detrimento a unidade da Igreja, houve o perigo de dividir a igreja em uma igreja jurídica e igreja do amor. Frente a estas idéias se viu a necessidade de afirmar que “existe uma só igreja indivisível que é ao mesmo tempo mistério de fé e sinal de fé, vida misteriosa e manifestação visível desta vida”.[3] A igreja é sinal de fé e mistério de fé.

  1. A origem da Igreja
a)      Jesus e a Igreja
Podemos nos perguntar a princípio, existe uma relação entre Cristo e a Igreja? A resposta é afirmativa, sim, existe uma relação estreita e profunda entre Cristo e a Igreja, esta relação está alicerçada também no conceito de Reino.
É bem verdade que na mensagem de Jesus, enquanto anúncio da Boa-Nova de Deus aos homens não se anunciou de imediato o advento da Igreja, mas primeiramente do Reino de Deus. Por conseguinte, dirá o teólogo Loisy, “Jesus anunciava o Reino e o que veio foi a Igreja”. Esta contraposição entre Reino e Igreja não existiu de forma nenhuma, pois a idéia de Reino traz em si a ação de reunir os homens; justamente se Jesus considerava que o fim estava próximo, ele devia ter tido a intenção de reunir o povo de Deus. O único sentido de toda a obra de Jesus consistia em congregar o povo escatológico de Deus.
Para iluminar a nossa compreensão Ratzinger faz referência a uma idéia exposta pelo teólogo protestante Kattenbusch, segundo ele: “a idéia de Igreja esta fundada na consciência que Jesus tinha de ser o Filho do homem”.[4] este título de filho do homem quer indicar aquele que representante de Deus que vai reunir todo o povo formando o novo e definitivo Israel. É bom recordar que este título que está expresso em Dn 7 é a designação mais verídica sobre quem é Jesus, é o título que sai da própria boca de Jesus. Ao se auto-definir como Filho do homem, Jesus revela que sua intenção é de levar a história ao seu fim e reunir o povo dos últimos tempos, formando assim o novo e definitivo Israel, ele congregará ao seu redor um novo povo.
Ratzinger faz ver que o Reino não significa uma idéia, coisa ou lugar, mas o agir de Deus que se identifica com sua própria pessoa. Em Mc 1,15 diz: “O Reino de Deus está perto” – assim se pode dizer “Deus está perto” – Jesus é a proximidade de Deus – onde ele está aí está o Reino. Por isso que Jesus disse: “se eu estou no meio de vós, então, o Reino de Deus já chegou”. Orígenes dirá que Jesus é a auto-basiléia. “O próprio Jesus é realmente em sua pessoa, o Reino de Deus”[5] .
Em toda a sua vida Jesus nunca se entendeu como um indivíduo isolado ele vive para reunir um novo povo, para congregar os que estavam dispersos, é aqui que surge um ponto de compreensão da futura Igreja, este novo povo terá como ponto central o próprio Cristo, “este povo só se tornará verdadeiramente povo enquanto for chamado por Cristo e responder à sua chamada, à sua pessoa”.[6]
             Aqui já fica claro que Jesus como sendo em sua pessoa o Reino de Deus quer reunir um novo povo, a partir de um chamado. Podemos nos perguntar: qual a idéia ou o objetivo central de Jesus ao fundar a sua Igreja?


b)      Instituição dos doze
À pergunta feita a cima é respondida justamente na intenção que Jesus tinha de formar uma nova comunidade um novo povo, esta sua atitude é clara quando nos voltamos para o evangelho de Marcos e vemos “chamou os que ele quis...designou doze dentre eles” (Mc 3,13). “Os doze” ou a “comunidade dos doze” é de suma importância na história salvífica, a primeira missão destes discípulos é antes de tudo serem “doze” (At 1,15-16). Este número 12 tem um simbolismo muito importante, se olharmos para a economia antiga veremos que “Israel era o povo das doze tribos (doze filhos de Jacó) que seriam reconstituídas nos tempos messiânicos. No círculo dos doze, Jesus surge como o patriarca de um novo povo, o Novo Israel, Jesus é o Novo Jacó”[7]. Cristo chama doze tendo sempre a intenção de instituir a Igreja. Os doze são a célula inicial da Igreja, agora se torna mais clara a idéia de Filho do homem que abordamos alhures, Jesus é o criador e Senhor deste novo povo.
Há momentos na vida de Jesus que se vê a sua intenção, seu desejo de instituir a Igreja. Ratzinger aponta dois: conferiu o poder a Pedro (Mt 16,18ss) e o momento alto, a última ceia. Eis que chegamos ao cerne da eclesiologia sacramental-eucarística de Ratzinger, a Ceia é o verdadeiro e próprio ato da instituição da Igreja, é nela que nasce a comunidade nova, e por meio dela que esta nova comunidade se distinguirá de todas as outras, porque no meio de seu povo estará sempre o próprio Senhor. Ratzinger destaca a existência de uma ligação estreita entre a última ceia e páscoa judaica, para fazer ver que a Igreja é o Novo Israel, o Novo povo de Deus.

c)      A última ceia e a páscoa judaica
Existe uma analogia entre estas duas celebrações, Cristo fez ver que sua ceia era a verdadeira páscoa; Cristo morreu na mesma hora em que no templo se imolavam os cordeiros (isto faz referência a Cristo como o novo e verdadeiro cordeiro pascal). Mas vamos adiante, Ratzinger faz ver que foi justamente na noite páscoa que Israel nasceu, foi a noite em que do Egito, Deus retirou os filhos dos hebreus das mãos dos egípcios, e concedeu a eles a liberdade. Por isso que quando o povo de Israel celebra a páscoa a cada ano eles fazem memória deste precioso evento, a noite em que o povo de Israel nasceu. Na festa da páscoa, todo o Israel se reunia no Templo, único lugar de culto, sinal de unidade do povo, era por meio do culto que o povo celebrava e revivia a redenção. No ínterim deste pensar teológico, Cristo se apresenta como o novo e verdadeiro cordeiro pascal; a ceia a qual sua carne e seu sangue são entregues como alimento convertendo aquela ceia no verdadeiro e definitivo banquete pascal, e será justamente este banquete o centro do novo povo de Israel.
O centro de sua unidade é o banquete, este banquete contará sempre com a presença do Senhor – o corpo do Senhor é o centro da ceia – e o Novo e único templo. Contudo, o sacrifício de Jesus estabelece um Novo Culto, um Novo Povo e um Novo Templo. Cristo instituiu uma Igreja como nova comunidade de salvação que tem na ceia o seu ápice. Este novo povo nasce da comunhão com o corpo e sangue do Senhor, aqui se estabelece uma Nova e eterna aliança sinal de comunhão que é expressa pela fusão de duas existências. Por conseguinte, “o povo da nova aliança ou o novo povo é um povo, em virtude do corpo de Cristo”. [8]

d)      Igreja como Corpo de Cristo
Ratzinger volve o seu olhar e faz uso da teologia paulina para mostrar esta realidade da Igreja como Corpo de Cristo, ele aponta para duas realidades primeiro a das núpcias, para dizer que a união de dois numa só carne faz ver a Igreja como esposa de Cristo. A segunda realidade é que esta união com Cristo se dá pela Eucaristia. Nesta perspectiva Ratzinger nos faz ver que é por meio da eucaristia que a Igreja é o verdadeiro Corpo de Cristo, e com isso a Igreja é “povo de Deus porque é Corpo de Cristo” [9]



[1] RATZINGER, Joseph. Introdução ao Cristianismo. p. 249.
[2] MONDIN, Battista. As Novas Eclesiologias. p.177-178
[3] RATZINGER, Joseph. O Novo povo de Deus. p. 76
[4] RATZINGER, CONGAR e SCHWEIZER. A Igreja em nossos dias. p. 9
[5] Ibid. p. 12
[6] RATZINGER, Joseph. Compreender a Igreja hoje. p. 14.
[7] RATZINGER, Joseph. O Novo povo de Deus. p. 77
[8] RATZINGER, Joseph. O Novo povo de Deus. p. 80
[9] ibid. p.84




 

“ A Igreja é Corpo de Cristo, isto indica que a Eucaristia, na qual o Senhor nos dá seu Corpo e nos transforma em seu Corpo, é o lugar em que surge permanentemente a Igreja, o lugar em que Ele a funda sempre de novo; é na Eucaristia que a Igreja se torna ela própria em sua forma mais densa, em todos os lugares e, no entanto, apenas uma, como Ele próprio
é apenas um”.
(Joseph Ratzinger. Compreender a Igreja Hoje. p. 21)



quinta-feira, 29 de setembro de 2011

OS SANTOS ANJOS DE DEUS

Caros amigos e amigas em Cristo, abaixo segue uma homilia de Papa Bento XVI sobre a festa que hoje nos celebramos, para assim compreendermos o sentido e a importância dos anjos no plano de Deus

O que é um Anjo? A Sagrada Escritura e a tradição da Igreja deixam-nos entrever dois aspectos. Por um lado, o Anjo é uma criatura que está diante de Deus, orientada, com todo o seu ser para Deus. Os três nomes dos Arcanjos terminam com a palavra "El", que significa "Deus". Deus está inscrito nos seus nomes, na sua natureza. A sua verdadeira natureza é a existência em vista d'Ele e para Ele. Explica-se precisamente assim também o segundo aspecto que caracteriza os Anjos: eles são mensageiros de Deus. Trazem Deus aos homens, abrem o céu e assim abrem a terra. Exactamente porque estão junto de Deus, podem estar também muito próximos do homem. De facto, Deus é mais íntimo a cada um de nós de quanto o somos nós próprios. Os Anjos falam ao homem do que constitui o seu verdadeiro ser, do que na sua vida com muita frequência está velado e sepultado. Eles chamam-no a reentrar em si mesmo, tocando-o da parte de Deus. Neste sentido também nós, seres humanos, deveríamos tornar-nos sempre de novo anjos uns para os outros anjos que nos afastam dos caminhos errados e nos orientam sempre de novo para Deus. Tudo isto se torna ainda mais claro se olharmos agora para as figuras dos três Arcanjos cuja festa a Igreja celebra hoje. Antes de tudo está Miguel. Encontramo-lo na Sagrada Escritura sobretudo no Livro de Daniel, na Carta do Apóstolo São Judas Tadeu e no Apocalipse. Deste Arcanjo tornam-se evidentes nestes textos duas funções. Ele defende a causa da unicidade de Deus contra a soberba do dragão, da "serpente antiga", como diz João. É a perene tentativa da serpente de fazer crer aos homens que Deus deve desaparecer, para que eles se possam tornar grandes; que Deus é um obstáculo para a nossa liberdade e que por isso devemos desfazer-nos dele. Mas o dragão não acusa só Deus. O Apocalipse chama-o também "o acusador dos nossos irmãos, que os acusava de dia e de noite diante de Deus" (12, 10). Quem põe Deus de lado, não enobrece o homem, mas priva-o da sua dignidade. Então o homem torna-se um produto defeituoso da evolução. Quem acusa Deus, acusa também o homem. A fé em Deus defende o homem em todas as suas debilidades e insuficiências: o esplendor de Deus resplandece sobre cada indivíduo. É tarefa do Bispo, como homem de Deus, fazer espaço para Deus no mundo contra as negações e defender assim a grandeza do homem. E o que se poderia dizer e pensar de maior sobre o homem a não ser que o próprio Deus se fez homem? A outra função de Miguel, segundo a Escritura, é a de protector do Povo de Deus (cf. Dn 10, 21; 12, 1).
Encontramos o Arcanjo Gabriel sobretudo na preciosa narração do anúncio a Maria da encarnação de Deus, como nos refere São Lucas (1, 26-38). Gabriel é o mensageiro da encarnação de Deus. Ele bate à porta de Maria e, através dela, o próprio Deus pede a Maria o seu "sim" para a proposta de se tornar a Mãe do Redentor: dar a sua carne humana ao Verbo eterno de Deus, ao Filho de Deus. Repetidas vezes o Senhor bate às portas do coração humano. No Apocalipse diz ao "anjo" da Igreja de Laodiceia e, através dele, aos homens de todos os tempos: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele" (3, 20). O Senhor está à porta à porta do mundo e à porta de cada um dos corações. Ele bate para que o deixemos entrar: a encarnação de Deus, o seu fazer-se carne deve continuar até ao fim dos tempos. Todos devem estar reunidos em Cristo num só corpo: dizem-nos isto os grandes hinos sobre Cristo na Carta aos Efésios e na Carta aos Colossenses. Cristo bate.
Também hoje Ele tem necessidade de pessoas que, por assim dizer, lhe põem à disposição a própria carne, que lhe doam a matéria do mundo e da sua vida, servindo assim para a unificação entre Deus e o mundo, para a reconciliação do universo. Queridos amigos, compete-vos bater à porta dos corações dos homens, em nome de Cristo. Entrando vós mesmos em união com Cristo, podereis também assumir a função de Gabriel: levar a chamada de Cristo aos homens.
São Rafael é-nos apresentado sobretudo no Livro de Tobias como o Anjo ao qual é confiada a tarefa de curar. Quando Jesus envia os seus discípulos em missão, com a tarefa do anúncio do Evangelho está sempre ligada a de curar. O bom Samaritano, acolhendo e curando a pessoa ferida que jaz à beira da estrada, torna-se silenciosamente uma testemunha do amor de Deus. Este homem ferido, com necessidade de curas, somos todos nós. Anunciar o Evangelho, já em si é curar, porque o homem precisa sobretudo da verdade e do amor. Do Arcanjo Rafael são referidas no Livro de Tobias duas tarefas emblemáticas de cura. Ele cura a comunhão importunada entre homem e mulher. Cura o seu amor. Afasta os demónios que, sempre de novo, rasgam e destroem o seu amor. Purifica a atmosfera entre os dois e confere-lhes a capacidade de se receberem reciprocamente para sempre. Na narração de Tobias esta cura é referida com imagens legendárias.
No Novo Testamento, a ordem do matrimónio, estabelecido na criação e ameaçado de muitas formas pelo pecado, é curado pelo facto de que Cristo o acolhe no seu amor redentor. Ele faz do matrimónio um sacramento: o seu amor, que por nós subiu à cruz, é a força restauradora que, em todas as confusões, dá a capacidade da reconciliação, purifica a atmosfera e cura as feridas. Ao sacerdote é confiada a tarefa de guiar os homens sempre de novo ao encontro da força reconciliadora do amor de Cristo. Deve ser o "anjo" curador que os ajuda a ancorar o seu amor no sacramento e a vivê-lo com empenho sempre renovado a partir dele. Em segundo lugar, o Livro de Tobias fala da cura dos olhos cegos. Todos sabemos quanto estamos hoje ameaçados pela cegueira para Deus. Como é grande o perigo de que, perante tudo o que sabemos sobre as coisas materiais e que somos capazes de fazer com elas, nos tornamos cegos para a luz de Deus.



quarta-feira, 28 de setembro de 2011

QUEM SEGUE JESUS NÃO OLHA PARA TRÁS, MAS SEGUE EM FRENTE

Naquele tempo, 57enquanto Jesus e seus discípulos caminhavam, alguém na estrada disse a Jesus: “Eu te seguirei para onde quer que fores”. 58Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”. 59Jesus disse a outro: “Segue-me”. Este respondeu: “Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai”. 60Jesus respondeu: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai anunciar o Reino de Deus”. 61Um outro ainda lhe disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares”. 62Jesus, porém, respondeu-lhe: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus”.

O Evangelho como Boa-Nova de Salvação nos apresenta Mais um encontro de Jesus com uma pessoa, essa é a dinâmica do Reino de Deus anunciado por Ele, Jesus nunca está preocupado com multidões, ele deseja sempre encontrar pessoas e convidá-las ao seu seguimento. Pois, bem, Jesus quando encontra estas pessoas, ele está sempre em caminhada, está andando, passando pela estrada da vida. Jesus estava caminhando com seus, para onde ele estava indo? O próprio Evangelista Lucas nos aponta para onde Jesus ia, diz-nos Ele: “Caminhava para Jerusalém” (Lc 9,53). Jesus caminhava para a sua Paixão, preparava-se para enfrentar o caminho da cruz, a sua via dolorosa. É para esta hora, é para fazer este caminho que Jesus chama a quem ele encontra, pois é a via de salvação e de felicidade sem fim. O caminho do discípulo, daquele que segue ou que deseja seguir a Cristo é o caminho da cruz, da paixão. É neste caminho, passando na estrada que ele encontra alguém, quem seria este alguém no anonimato da vida? Não o sabemos, mas somos chamados a ser esse alguém, sou eu, são vocês, somos nós que estamos na estrada, na jornada, no caminho da nossa pobre e humilde existência; é no ordinário de nossa vida que encontramos Jesus, ele passa na nossa História, porque Ele é o Senhor da História, ele veio e vem em cada momento, apenas corremos o risco de não percebermos estas vindas de Deus a nós.
Aquela pessoa faz uma pergunta até corajosa a Jesus: “Eu te seguirei para onde quer que vás”. Pela sua afirmação aquela pessoa está disposta a seguir deveras a Jesus, caminhar nos passos deixados por ele, a imitá-lo até o fim. Está disposta a entregar o rumo da própria vida a Jesus. O Divino Mestre de forma figurativa apresenta como é o caminho e as consequências de quem o segue, aquilo que se deve enfrentar. Diz Jesus: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”. Era como, se Jesus estivesse dizendo: me seguir é não ter nada , despojar-se de si, renunciar a si mesmo, é viver a pobreza de Deus, é ser um pobre de Deus. É viver como um estrangeiro, sem pátria definitiva, sem morada definitiva, todo lugar que se chega é a pátria, mas se vive como peregrino, pois a Pátria definitiva e verdadeira é o Céu, o discípulo de Cristo é cidadão do céu. E o caminho do céu, da Jerusalém Celeste, passa pela cruz, ela é a ponte e a escada da eternidade. Muitas vezes no caminho do discipulado somos assim, encontramos Jesus, e dizemos que o seguiremos. Mas queremos segui-lo pelo fascínio, pelo mero encanto e não pela sua pessoa e pela missão. Deveremos sempre entender que seguir Jesus é tomar a própria cruz, renunciar a si mesmo e segui-lo até a cruz, sendo crucificado com ele. Será que estamos dispostos a esta grande e árdua missão?
O texto não nos diz nada se  aquela pessoa seguiu Jesus, o certo é que Jesus apresentou a regra de vida, o projeto pessoal de quem quer segui-lo. E hoje Jesus apresenta esta regra de vida para o discipulado, não pensemos que segui-lo é levar uma vida cômoda, tranquila, sem maiores dificuldades ou tribulações, com sombra e água fresca. Quando tudo é bom, logo esquecemos Jesus, pois estaremos preocupados conosco, com os meros prazeres da nossa vidinha. Não é fácil ser discípulo de Cristo, não e fácil ser cristão, deveremos enfrentar em nossa carne, na própria vida, tudo aquilo que Jesus experimentou. Se queres abraçar o caminho da cruz, sofrer com esperança e fé firme para alcançares o céu, bem vindo a Igreja Católica, a carteira de identidade do Cristão é a cruz.
Retomemos o texto, Jesus foi mais adiante naquele percurso e encontrou outra pessoa, mais uma vez, na vidinha ordinária, Deus vem, para e encontra uma pessoa, e o chama para ser seu discípulo: “segue-me”. Continuamente Jesus passa em nossa estrada e nos chama. A resposta daquela pessoa, não foi a de alguém que está disposto a entregar o rumo da própria vida a outro, não foi uma resposta de um discípulo, como aquela que Abraão, de Tiago, João, André, Pedro, não perguntaram nada a Jesus, para onde ele os iria levar, nem se preocuparam com o tinham de fazer, ou o que/quem iria deixar, apenas o seguiram. Esta não foi a atitude da pessoa que Jesus encontrou, ele quis antes terminar o que deixou, fazer o que tinha de fazer. Assim somos nós, Deus nos chama e nós queremos aprontar tudo, sinal de que se não der certo este seguimento, logo é possível retornar a vida de antes. Seguir a Jesus é deixar tudo e não dizer nada, apenas caminhar olhos fixos nele, seguindo as pegadas deixadas na terra muitas vezes árida de nossa vidas, sem ter medo de viver a aventura da fé.
Jesus encontra outro nesta sua caminhada para a hora da Cruz, e este não diferente do anterior disse que seguiria Jesus, mas antes tinha que concluir o que deixou, deixar acertada a vida, pois ao tomar um caminho desconhecido, se caso fracassasse se poderia logo voltar a vida antiga. Repito seguir Jesus é não ter medo de dar a direção de nossa vida para que o Outro dirija e nos leve para onde ele quer. Seguir Jesus, não é olhar para o passado da própria vida e ver o que nos prende, o que deixamos; seguir Jesus não é pensar no que vai acontecer no futuro, até porque é algo incerto. Seguir Jesus é pensar no hoje de nossa vida, é viver cada momento como diz Sto. Agostinho: “num eterno presente”; pena que muitas vezes no mundo hodierno vivemos sem um rumo certo, sem perspectivas, sem ideais; vivemos em um mundo sem esperança, um mundo de medo, um mundo escuro, vazio.
Seguir Jesus é acreditar com fé que aquele que nos chama nos dará a felicidade que permanece, que não murcha, ele não nos engana, nem nos decepciona, pelo contrário como diz o salmista: “Ele nos dará tudo o que é Bom”. Termino com as palavras do Beato Papa João Paulo II: “quem segue a Jesus não perde nada, pelo contrário, ganha tudo” esse tudo é Jesus, é o céu, é a vida dos bem-aventurados. Seguindo Jesus encontraremos o rumo certo de nossas vidas, pois nossa vida está escondida com Cristo em Deus, Ele nos revela quem ele é e quem nós somos.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

AMIZADES LÍQUIDAS EM UM MUNDO LÍQUIDO

Lendo hoje um livro intitulado: "Amor líquido", do autor Baumam que fala sobre a fragilidade das relações humanas, fiquei encantado como ele descreve bem a situação dos relacionamentos em nossa sociedade pós-moderna que a cada instante parece caminhar para o nada; decide fazer uma breve reflexão daquilo que li.


Vivemos em uma sociedade frágil e fragmentada, como areia movediça, falta solidez, tudo é líquido, inclusive os relacionamentos humanos, entre eles, a amizade. Existem amizades de bolso, você tem amigos e só dispõe deles quando precisa, é só tirar do bolso d vida e depois guarda. Existem amizades pegajosas, fechadas em si, o amigo é objeto de posse, por isso, denominamos de amizade possessiva, é como vitamina C, em altas doses em um certo instante da vida, dá náusea e prejudicam o dinamismo da vida e por isso é preciso diluir as relações para continuar a viver. Existem amizades que não são relações, no sentido de formar parcerias, de dar as mãos e caminhar juntos, palmilhando o limiar da estrada da vida; são amizades que se tornaram "redes", em um determinado momento você está conectado à pessoa e em outro você pode desconectar, as amizades de hoje se baseiam nisso, amizades virtuais, e por isso líquidas, tão facilemente terminam, é fácil entrar e sair,  é fácil apertar a tecla da vida e deletá-la. Fico me perguntando: "por que este tipo de amizade é tão buscar o hoje?" A resposta é fácil, o mundo moderno é marcado pela superficialidade, tudo é passageiro, fugaz, efêmero, hoje nada é duradouro e eterno, é o mundo das indecisões.  Precisamos construir amizades verdadeiras que nos ajudem a dirigir a vida; o amigo verdadeiro e fiel é aquele que caminha conosco ao nosso lado, carrega conosco a cruz do dia-a-dia, é um Cirineu, outro Cristo. Numa comparação ingênua, mas importante, podemos pensar que a amizade deve ser como um automóvel, precisa passar por revisões constantes, para ver se andam bem,  não nos iludamos com certas amizades, futéis, fragéis, líquidas. Construamos amizades sólidas, edificadas na Pedra fundamental da vida que é Cristo.



"PODEIS BEBER O CÁLICE QUE EU VOU BEBER?"


Hoje lendo um livro do Pe. Henry Nowen intitulado: “Podeis beber o cálice?”. No qual ele faz uma reflexão baseada no diálogo de Jesus com a mãe dos Filhos de Zebedeu, quando ela pede se seus filhos sentem um à direita e o outro à esquerda de Jesus, mas a este pedido Jesus responde: “Podeis Beber o cálice que eu vou beber?”. Fiquei atraído pelo mistério que se revela neste cálice a ser bebido. De início ao nos basearmos no texto evangélico podemos perguntar: que cálice era aquele que Jesus iria tomar? Era de per si a sua própria vida, ofertada como doação de amor pela salvação da humanidade, a sua paixão redentora, o sofrimento a ser enfrentado numa via-sacra até o calvário, a dor de ser vítima do pecado, ter que se esvaziar inteiramente de sua condição divina para humilhar-se em extremo na ara da cruz, ser abandonado, ser repudiado.
Jesus antecipou a entrega deste cálice, quando ofertou a sua vida de forma incruenta na última ceia, impregnou a sua paixão no cálice com vinho, oferecido como o seu próprio sangue, penhor de salvação. Já ali dava a sua vida o seu sim numa entrega de amor. Jesus se ofertava sem medo, era um exemplo a ser seguido, como eu vos fiz, também vós o façais.
Este cálice trazia em si o passar e o suportar todo o sofrimento do pecado humano, lembremo-nos que no Getsêmani Jesus experimentou uma angústia mortal fruto do pecado a ser aceito, a ponto de pedir ao Pai que afastasse dele aquele cálice de amargura, de ira, dor e sofrimento, mas depois em íntima união com a vontade de seu Deus e Pai, aceitou bebê-lo até à borda.
Lá no Getsêmani estavam os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, lá eles viram que beber o cálice não era algo tão fácil ou deleitável.
Certamente, Jesus sabia que aqueles discípulos não suportariam beber este cálice até o fim, será que estavam prontos para oferecerem à própria vida até o fim? Certamente que não, pois era preciso que o Mestre fizesse a oferta de si, pois o discípulo é chamado a imitá-lo, ele deixou um exemplo a ser seguido, sigamos, portanto, seus passos; em outra ocasião dissemos que seguir Jesus é imitá-lo, primeiro o Mestre deixaria o testemunho, que consequentemente seria imitado pelos discípulos. Não foi a toa que Jesus deu uma resposta positiva aos dois discípulos: “Meu cálice bebereis”. Em outras palavras, Jesus estava dizendo: o que eu vou suportar, vós também ireis, só que primeiro eu. No beber o cálice está a disposição de perder a própria vida para ganhá-la, suportando as tristezas e alegrias. É preciso sofrer para entrar na glória, e o sofrimento, a angústia, a morte são o conteúdo do cálice.
Outro questionamento poderia ser levantado: por que beber este cálice de dor? Não seria mais fácil viver uma vida normal com o mínimo de dor e o máximo de prazer? O cristão não pode ter medo de beber este cálice, pois, se teme, não é um discípulo fiel de Cristo. A identidade de ser cristão passa pela cruz, passa pelo sofrimento, não numa espécie de masoquismo, mas na confiança de que é por meio do sofrimento que chegaremos ao céu.
Antes de beber o cálice é preciso segurá-lo, isto implica em saber o que estamos vivendo, de que modo estamos vivendo e para quem estamos vivendo, é refletir sobre a própria condição existencial, contemplá-la. Dizia o Pe. Henry: “metade da experiência do viver é refletir sobre o que se vive...a maior alegria bem como a maior dor do viver, não vem apenas do que vivemos, mas ainda de como pensamos e sentimos o que estamos vivendo” .
É preciso olhar a nossa própria vida com um olhar crítico, conhecer-se a si mesmo, para descobrirmos quem somos, não podemos viver apenas a vida, temos que saber e compreender os motivos e razões pelas quais vivemos, ou seja, dar sentido à própria vida.
Amados, em cada celebração o sacerdote qual Cristo segura em suas mãos o cálice, é a vida de Deus Filho a ser entregue, doada, derramada, transbordada na nossa vida. Somos chamados a oferecer a nossa vida em sacrifício, somos os ramos da videira que dá vida ao mundo.
Em nossos momentos de dificuldade, dor, sofrimento, angústia, solidão, não rejeitemos beber o cálice, tenhamos a coragem de com fé toma-lo, sabendo que Deus nos ajudará a suportar toda e qualquer tribulação, como diz a canção: “ele não permitirá que um amado seu, sofra mais do que possa suportar”. Sei que muitas vezes queremos dizer não, afastar o cálice, mas sigamos o exemplo de nosso divino mestre, quando a amargura do vinho da vida nos sufocar e nos afogar, Deus envia o seu anjo confortador, para consolar-nos. Não pensemos que ter uma vida de facilidades que nos faz relaxar é o tudo, a felicidade, se assim pensamos nos enganamos; nunca nos esqueçamos que o cálice da tristeza é transformado em cálice de alegria.

  

domingo, 25 de setembro de 2011

RETOMA O CAMINHO DO SENHOR

Quão belas as palavras do Salmo nesta liturgia do XXVI Domingo Comum, dizia-nos assim: “Mostrai-me ó Senhor vossos caminhos, e fazei-me conhecer a vossa estrada” (Sl 25). No longo caminhar na jornada de nossas vidas, enfrentamos caminhos  com obstáculos, com barreiras que nos impedem de caminhar com passos firmes rumo ao fim, à felicidade almejada, somos marcados por inúmeras fraquezas e debilidades, fruto do pecado, como negação da bondade, do amor, da misericórdia de Deus, ou seja, rejeitamos Deus, abandonamos as suas veredas, para andarmos por caminhos que aparentemente parecem fáceis, mas que na verdade se revelam como dificílimos.
Deus nos colocou neste mundo para peregrinarmos, lutarmos com nossas forças, com ardor incontido rumo ao ponto alto, o cume da Vida bem-aventurada. Este caminho é marcado subidas e descidas, por altos e baixos, é um caminho de cruz, e calvário, mas que é via de glória, de salvação. Quando pecamos abandonamos este caminho de felicidade verdadeira para andarmos num caminho de facilidades, mas que tão logo, se torna para nós uma condução ao abismo da morte.
O caminho que o Senhor Deus nos propôs é marcado por vitórias e derrotas, aquele que segue a Jesus deve fazer de sua vida uma via-sacra, uma via dolorosa, mas que no fim termina sempre no alto, assim como Cristo, no alto do calvário quando seus braços abertos abraçavam o mundo, céus e terra se uniam e o penhor da glória, da vitória se erguia sobre o universo inteiro, a glória de Cristo passaria pela dor, assim deve ser nossa vida, tudo suportar, qualquer adversidade, por Cristo, Ele me leva para o céu, me une a Deus, por isso, fomos feitos para o alto, quando andamos nas veredas do Senhor, vivendo no amor e na justiça, na caridade, o caminho se torna plano e reto.
No longo caminho de nossas vidas, respondemos ao chamado de Deus para o seguirmos, damos sim e muitas vezes fraquejamos ou simplesmente nos acovardamos por vermos o que teremos de enfrentar e o que é de fato o caminho de Deus, e acabamos recusando o apelo de Deus, respondemos não, negamos, rejeitamos o convite de Deus.
Sempre que pecamos, nós rejeitamos caminhar com o Senhor, seguindo as suas pegadas, imitando-o, pois este é o sentido de segui-lo, o negamos, abandonamos o bem para praticar a maldade, ou seja, tomamos e damos um novo rumo nas nossas vidas, como o filho que saiu da casa de seu pai, experimentou de tudo, esbanjou seus bens, suas posses, em felicidades passageiras, depois ao cair na realidade de seu estado existencial, percebeu que deveria dar um novo rumo e outro sentido à sua vida, decidiu, pois, voltar.
O pecado nos afasta de Deus, deveremos ter a coragem de não nos conformarmos com a vida medíocre de pecado, mas nos arrependermos e retornarmos por outro caminho, voltar ao caminho que nos leva ao aconchego paterno de Deus, no qual podemos repousar nosso coração num coração cheio de ternura e compaixão. Converter-se é mudar de caminho, é ter dito não (pecando), mas arrepender-se e dizer sim (conversão); o Senhor reconduz ao bom caminho os pecadores, desde que estes se arrependam.
Nunca é tarde para quem quer se converter, Deus está a nos esperar, com as portas de seu coração sempre abertas para nos acolher, ele espera ansiosamente o pecador, pois deseja arrancá-lo das trevas do erro.
Diz-nos o salmista: “O Senhor não nos trata como exigem nossas faltas”, ele se lembra de nós porque sua bondade é infinita seu amor nos ultrapassa, nos constrange. Isso é tão verdade que ao nosso não, Deus respondeu-nos com um sim fiel, frente a infidelidade da humanidade. Deus enviou o seu Filho que sendo Deus se fez homem, não se apegou a sua divindade, esvaziou-se por inteiro, fazendo-se um de nós foi obediente ao extremo até entregar a própria vida pela salvação do mundo.
Uma das grandes mazelas dos seres humanos é deixar-se levar pelo orgulho, nos achamos grandes de mais, edificamos pedestrais na vida, nos achamos melhores que os outros, queremos pisar e humilhar o nosso próximo, daí decorre a prepotência, por isso nos damos tão mal, porque quando caímos, pela altura, o tombo é sempre mais doloroso. O Senhor nos convida a termos os mesmos sentimentos de Cristo, ou seja, humildade, fazer-se pequeno, pobre, ínfimo, para que ele nos exalte, pois na dinâmica de Deus quem se humilha é exaltado.
Andar nos caminhos de Deus é o bem que devemos procurar e nos esforçar para viver, sem  temer as dificuldades, dizendo um sim constante e permitindo que o sim cresça e se torne sólido, se cairmos tenhamos sempre a coragem de nos erguermos e prosseguir a caminhado; e se nos desviarmos dos caminhos de Deus, que estejamos sempre com o coração aberto para nos arrependermos e retomarmos o caminho o Senhor que é plano e reto.     

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

SÃO PADRE PIO: ORAÇÃO DE AÇÃO DE GRAÇAS PÓS-COMUNHÃO

CORPO DE SÃO PADRE PIO INTACTO






Fica Senhor comigo, preciso da Tua presença para não te ofender.
Sabes quão facilmente sou fraco e te abandono preciso de Ti
para
Não cair.
Fica Senhor comigo, se queres que eu Te seja fiel. Seja-me
aquele
abrigo pois embora minh'alma, muito pobrezinha, deseja ser pra
Ti
Lugar de consolação, carinho e adoração. Um ninho de amor então
quietude e profunda oração.
Não peço o que não mereço, mas tua presença ó Deus quero ter.
Fica Senhor comigo, para que eu ouça a Tua voz...
Fica Senhor comigo, fica meu grande amigo
Tu és minha luz, sem Ti ando nas trevas...
Fica Senhor, para me dar a conhecer a Tua vontade.
Fica Senhor comigo, fica meu grande amigo.
Minh'alma é tão pobrezinha, seja meu único abrigo.
Quero sua companhia, muito preciso ouvir-te Senhor,
Tanto desejo amar-te, fica meu grande amor.

ÚLTIMA MISSA CELEBRADA POR PADRE PIO

O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA EXPLICADO POR PADRE PIO

Do sinal da cruz inicial até o Ofertório, é preciso ir encontrar Jesus no Getsemani, é preciso seguir Jesus na Sua agonia, sofrendo diante deste "mar de lama" do pecado. È preciso unir-se a Jesus em sua dor de ver que a Palavra do Pai, que Ele veio nos trazer, não é recebida pelos homens, nem bem, nem mal. E, a partir desta visão, é preciso escutar as leituras da Missa como sendo dirigidas a nós, pessoalmente .

O Ofertório: É a prisão, chegou a hora...

O Prefácio: É o canto de louvor e de agradecimento que Jesus dirige ao Pai, e que Lhe permitiu, enfim, chegar a esta "Hora".

Desde o início da oração Eucarística até a Consagração : Nós nos unimos (rapidamente!...) a Jesus em Seu aprisionamento, em Sua atroz flagelação, na Sua coroação de espinhos e Seu caminhar com a cruz nas costas, pelas ruelas de Jerusalém e, no "Memento", olhando todos os presentes e aqueles pelos quais rezamos especialmente.

A Consagração nos dá o Corpo entregue agora, o Sangue derramado agora. Misticamente, é a própria crucifixão do Senhor. E é por isso que Padre Pio sofria atrozmente neste momento da Missa.
Nós nos uníamos em seguida a Jesus na cruz, oferecendo ao Pai, desde esse instante, o Sacrifício Redentor. Este é o sentido da oração litúrgica que segue imediatamente à consagração.

"Por Cristo com Cristo e em Cristo" corresponde ao grito de Jesus: "Pai, nas Tuas Mãos entrego o Meu Espírito!" Desde então, o sacrifício é consumado pelo Cristo e aceito pelo Pai. Daqui por diante, os homens não mais estão separados de Deus e se encontram de novo unidos. É a razão pela qual, nesse instante, recita-se a oração de todos os filhos: "Pai Nosso...".

A fração da hóstia indica a Morte de Jesus...

A Intinção, instante em que o Padre, tendo partido a hóstia (símbolo da morte...), deixa cair uma parcela do Corpo de Cristo no cálice do Precioso Sangue, marca o momento da Ressurreição, pois o Corpo e o Sangue estão de novo reunidos e é ao Cristo Vivo que vamos comungar. A Benção do Padre marca os fiéis com a cruz, ao mesmo tempo como um extraordinário distintivo e como um escudo protetor contra os assaltos do Maligno...



São Padre Pio um estigmatizado por amor

Hoje celebramos com fé a memória de São Pio de Pietrelcina, o primeiro sacerdote a receber em seu corpo os estigmas, ou seja, as chagas de Cristo.  Sou devoto deste venerável santo, em sua vida ele uniu como centro existencial vivificador de sua existência: A Cruz e a Eucaristia. São dois elementos de fé que marcam o minha jornada vocacional, foi em um retiro diante da cruz que me senti chamado a abraçar a vida sacerdotal e a primeira vez que subi ao altar do Deus que alegra a minha juventude, foi no dia de Corpus Christi. Quando li alguns escritos sobre a vida deste grande santo, fiquei muito admirado pela sua espiritualidade da cruz, mística e piedade, uma extraordinária devoção à Virgem Maria, e um ardoroso zelo na cura de almas por meio do sacramento da confissão. Descrevo abaixo, um trecho de seu epistolário, os seus escritos da direção espiritual que fazia, neste trecho ele narra como se deu a recepção dos estigmas da paixão de Cristo.
Numa carta ao Padre Benedetto, datada de 22 de outubro de 1918, o Padre Pio narra a sua "crucifixão": O que posso dizer aos que me perguntam como é que aconteceu a minha crucifixão? Meu Deus! Que confusão e que humilhação eu tenho o dever de manifestar o que Tu tendes feito nessa mesquinha criatura!".
Foi na manhã do 20 do mês passado ( setembro ) no coro, depois da celebração da Santa Missa, quando fui surpreendido pelo descanso do espírito, pareceu um doce sonho. Toso os sentidos interiores e exteriores, além das mesmas faculdades da alma, se encontraram numa quietude indescritível. Em tudo isso houve um silêncio em torno de mim e dentro de mim; senti em seguida uma grande paz e um abandono na completa privação de tudo e uma disposição na mesma rotina.
Tudo aconteceu num instante. E em quanto isso se passava, eu vi na minha frente um misterioso personagem parecido com aquele que tinha visto na tarde de 5 de agosto. Este era diferente do primeiro, porque tinha as mãos, o pés e o peito emanando sangue. A visão me aterrorizava, o que senti naquele instante em mim não sabia dizê-lo. Senti-me desfalecer e morreria, se Deus não tivesse intervindo sustentar o meu coração, o qual sentia saltar-me do peito. A visão do personagem desapareceu e dei-me conta de que minhas mãos, pés e peito foram feridos e jorravam sangue. Imaginais o suplício que experimentei então e que estou experimentando continuamente todos os dias. A ferida do coração, continuamente, sangra. Começa na quinta feira pela tarde até sábado. Meu pai, eu morro de dor pelo suplício e confusão que experimento no mais íntimo da alma. Temo morre em sangue, se Deus não ouvir os gemidos do meu pobre coração, e ter piedade de retirar de mim está situação..."
Que admirável mistério na vida deste pobre capuchinho, Jesus imprimiu as suas chagas de amor em seu corpo, que identificação total com Cristo este grande santo experimentou, repetindo em sua pobre e humilde vida as mesmas palavras de S. Paulo: “trago em meu corpo as marcas da paixão”, as marcas do amor, da misericórdia, da bondade, da mansidão, da ternura.  Sua identificação e imitação de Cristo, como verdadeiro discípulo dele, o configurou ao seu Mestre, padre Pio colocou a própria vida em sacrifício pela salvação do mundo, de tantas almas ansiosas por repousar o seu coração em Deus.
A contemplação ardorosa do cruxifcado era alimento vital e diário para a alma de Padre Pio, a via-sacra de Jesus se transcorria em sua vida, ele carrega Jesus em seu coração, em sua existência, e todo o sofrimento, as perseguições, as calúnias, os afastamentos, as proibições de celebrar missa e confessar, não lhe desanimavam, nem o amedrontavam, por isso, dizia aos seus dirigidos e dirigidas: “Tenha Jesus Cristo em seu coração e todas as cruzes do mundo parecerão rosas”. Deveras desde sua terna infância, o santo do Gragano, compreendeu que sua vida seria pautada pela Cruz, resplandecia nele a virtude da Fortaleza. Tudo suportava por amor a Cristo e pela salvação dos homens.
Na vida de São Pio se encerram as palavras de São Paulo: “Quanto a mim, Deus me livre de me gloriar, a não ser da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl  6,14). Verdadeiramente já era o Pio que vivia, mas era Cristo que vivia em Pio de Pietrelcina.
Padre Pio tinha uma grande devoção eucarística, fruto de seu amor incondicional a Jesus, o crucificado que ele contemplava, que trazia em seu corpo, se dava em sacrifício no altar como Sacramento admirável do Amor Maior. Padre Pio tinha um amor e um zelo extraordinários pela Eucaristia, o ápice de sua vida era celebrar em cada manhã o santo Sacrifício da Missa para glória de Deus e  santificação dos homens. Dizia ele: “O mundo pode até viver sem o sol, mas não sem a Missa”... se as pessoas soubessem verdadeiramente o que era a missa, haveriam guardas nas portas das Igrejas, para conter e organizar a multidão que corria pressurosamente para celebrar a paixão de Nosso senhor Jesus Cristo”.
Em cada manhã uma multidão se dirigia a pequena Igreja de San Giovanni Rotondo para participar da santa celebração com o pobre capucho, que amor! Que piedade! Que santo temor e reverência Padre Pio tinha ao subir o altar e oferecer o santo sacrifício! Que humildade! Era como experimentar mais uma vez no tempo da historia o calvário, o mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Era viver profunda e verdadeiramente o drama da paixão, era subir ao altar de Deus com o coração, com alma, com toda a vida.
No filme que conta a vida de São padre Pio, logo quando ele recebeu os estigmas muitos duvidaram, e por isso, achando que era uma invenção do santo, ele passou a ser investigado de perto por outros sacerdotes, certa manhã como era de costume, pare pio celebrava a missa, naquele dia, alguns padres estavam investigando se de fato ele tinha recebido os estigmas, pois quando ele ia consagrar retirava as luvas que cobriam as doces chagas, e de suas mãos escorria sangue. Ao terminar a missa que durava cerca de duas horas, um dos padres se dirigiu a sacristia e perguntou a padre Pio: “uma missa dura 40 minutos e não 2 horas”, padre Pio com santa sabedoria e prudência respondeu: “Você quer colocar o calvário de Cristo em um relógio?”. Esta resposta, resumia, e mostrava como padre pio levava a sério a Eucaristia, para ele era preciso colocar em paralelo a cronologia da missa e a da paixão de Cristo.  O padre deveria no altar realizar o que Cristo realizou, pois no altar o padre é o próprio Cristo. É um homem suspenso no altar da cruz, o presbitério é sempre num lugar mais elevado, indicando o monte calvário e em cima do altar temos sempre uma cruz, para recordar que do alto do presbitério, qual calvário, esta encimado pelo bendito madeiro de nossa salvação.
Celebrar a missa era para padre Pio, unir a paixão de Cristo à sua paixão. Era não buscar as dores, mas a glória que vinha na união de corações com o sofrimento de Cristo unido ao seu. Imaginemos aquele pequeno crucificado, ao consagrar o preciosíssimo sangue de Cristo e ao toma-lo, o mesmo sangue, o de Cristo, se derramava em suas chagas, toda dor e sofrimento enfrentado era deveras, para a glória de Deus e a salvação dos homens.
Ao olharmos para a vida de São Pio, o seu amor ardente pela eucaristia, sua espiritualidade da cruz, devemos também colocar como eixos de nossa vida de cristãos e cristãs, a Eucaristia e a Cruz. Dois mistérios que na verdade são um só, pois antes de Jesus entregar o seu corpo na ara da Cruz, derramando todo o seu sangue, esvaziando-se por inteiro de si, num eterno movimento quenótico, para dar-se, entregar-se pela salvação da humanidade, ele antecipou o seu sacrifício, entregando o seu mesmíssimo corpo na última ceia, ofereceu o seu Corpo e Sangue, numa oblação de amor aos seus discípulos, Jesus impregnou  sacramentalmente no pão e no vinho  pela força do Espírito a sua paixão redentora. Na páscoa dos judeus, Jesus inaugurou a sua páscoa, deu-nos um novo rito, deu-nos a sua vida, deu-nos a sua história, suas dores, seus sofrimentos,  deu-nos a Eucaristia, o alimento a vida eterna, o alimento do céu.
Que em cada Santa Missa sejamos verdadeiros participantes deste drama, “missa não é festa, missa é drama” (Beato João Paulo II). Adentremos com toda a nossa vida, a coloquemos em sacrifício espiritual; muitas vezes não sabemos como deve ser a nossa participação de forma espiritual na missa, padre Pio nos ensina:  “devemos participar da santa missa como Maria, as mulheres e o discípulo amado estiveram no calvário diante da cruz”. Qual a postura deles? De fé, de confiança, de dor, mas de esperança, de piedade, olhando para aquele que estava transpassado. Adorando já ali o sagrado madeiro no qual estava suspenso o Senhor de suas vidas.
O ETERNO DEIXOU SUAS MARCAS DE AMOR EM MIM

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Deixar as riquezas terrenas e abraçar o Tesouro celeste

Ontem celebramos a festa de São Mateus Apóstolo e Evangelista, e sempre que celebramos um apóstolo, nós celebramos a Igreja, pois uma das notas, ou seja, uma das características da Igreja em sua essência é ser “APOSTÓLICA”. Isto implica em percebemos que na vida dos apóstolos no seguimento fiel a Jesus, encontramos o exemplo de como ser Igreja. Por isso, vejamos o que o grande Apóstolo nos ensina.
Quem era este apóstolo? Mateus ou Levi como chamam os Evangelhos, era um publicano, que exercia a profissão de cobrador de impostos em Cafarnaum, profissão não bem sucedida, pois se tirava enormemente do pouco que o povo tinha e isso era massacrar a vida. Os publicanos abarcavam muitas riquezas e opulências num trabalho marcado pela injustiça, eram muitos os lucros terrenos. Mateus vivia, pois no pecado, praticando a injustiça, o roubo, o engano. E é aqui que Jesus inicia a sua história fascinante na vida daquele homem, pois, “Ele não veio chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9,13)
Foi na sua vida de pecado que Mateus teve o encontro que mudou a sua vida, encontro daqueles que nos desconcertam, que nos desmantelam, é isso que Deus faz conosco, Ele nos surpreende sempre, seu encontro conosco, causa em nós uma mudança daquilo que somos, é um encontro performativo.
Vejamos, Jesus ia passando, e viu um homem, chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos. É impressionante esta passagem de Jesus, não é só um simples ir a algum lugar, mas é uma passagem que quer modificar aqueles nos quais cruzam o seu caminho, porque não dizer, é uma páscoa, a páscoa de Deus na vida do homem, a saída dos vícios para a virtude, do mundo dos homens para o mundo de Deus. Jesus passa no ordinário de nossas vidas, lá onde nós vivemos nosso cotidiano, em nossos trabalhos, afazeres, a vida comezinha, simples e humilde, com suas dores e alegrias. O problema é que esperamos encontrar Deus de uma forma grandiosa, mas Lembremo-nos Ele sendo Rico (Divindade) se fez Pobre (humanidade), Deus se revela na simplicidade. Ele sempre passa nos telônios de nossas existências, pena que corremos o risco de não percebermos estas passagens de Deus em nossas vidas.
Foi passando, em sua jornada que ele viu e encontrou Mateus, lá no seu afazer diário, sentado, esperando que lhe pagassem os impostos, foi lá que Jesus o viu e que também nos vê. É desconcertante este olhar de Jesus, não é puramente um ver com os olhos corporais, mas é um ver com os olhos da alma, um olhar que penetra no íntimo do ser, um olhar que esquadrinha o coração, perscrutando-o por inteiro, é um olhar de compaixão, de ver o outro na miséria da vida de sempre, e ser movido a arrancá-lo deste lamaçal que o atola numa vida pobre, sem esperança, sem felicidade, é um olhar desejoso de dar como dom a Vida verdadeira, da felicidade sem fim. Interessante que ali aparece o verbo “sentar”, diz-nos o texto sagrado: “ele estava sentado na coletoria de impostos” (Mt 9,9) isto não indica apenas um  estar acomodado, mas, sobretudo, um estar paralítico, sem movimento algum, a vida de pecado o paralisou, o fez parar na vidinha de sempre, é interessante que o Evangelista Marcos descreve o Chamado de Mateus, logo após, ter descrito a cura do paralítico que Jesus curou, isto indica, que Mateus sentado na coletoria de impostos, como um mísero publicano, era como um paralítico, acomodou-se naquele estado vivencial. É isso que acontece muitas vezes conosco, o pecado, a vida distante de Deus nos paralisa, e nos deixa acomodados com o pecado, paralisa o nosso coração paralisa o nosso desejo de Deus.
Por isso, Jesus ao olhar Mateus, se enche de compaixão e decide dar a ele uma vida melhor, dar a ele a riqueza imperecível. Arrancá-lo de sua paralisia, Jesus o escolhe e o chama: “Segue-me”. Este chamado de Jesus tem por trás uma beleza enorme, ou seja, é o chamado não só de andar com os pés atrás de Jesus, ir em seu seguimento, mas é de imitar o Mestre que o chama, eis a missão do discípulo, ser um com o Mestre, é caminhar sim atrás dele, seguindo as pegadas que ele deixa no caminho de nossas vidas, mas, sobretudo, o discípulo, deve realizar tudo, em ações e palavras o que o próprio Mestre realizou. Porque, “quem diz que permanece em Cristo, deve andar como ele andou” (1Jo 2,6). É árdua esta missão, mas a vida do cristão não é de facilidades, Jesus sempre deixou isso bem claro, ele não nos iludiu, se quisermos experimentar da Felicidade que permanece, teremos que suportar o peso do esforço de imitar a Jesus. Era muito fácil a vida que Mateus levava, acomodado em não fazer nada, achando que as riquezas, os lucros materiais lhe dariam tudo.
Este chamado de Jesus é também o de viver a “aventura da fé” (Bento XVI), entregar a decisão da própria vida a outro, deixando ser conduzido por Cristo sem medo, apenas confiando, fé é adesão, entrega, confiança, abandonar a própria vida na vida de Deus deixando com que Ele nos leve ao paraíso de Deus.
Ao chamado de Jesus, Mateus não vacilou, logo “se levantou” (Mt 9,9), ou seja, ao escutar a Palavra (Jesus) ele sai, levanta de sua paralisia, Jesus, a Palavra eterna do Pai é, deveras, viva e eficaz, “vossa palavra Senhor é Espírito e vida” (Sl 18). Dava início a conversão de Mateus, junto com o levantar-se vem o seguimento, diz-nos o texto: “Levantando-se ele, o seguiu” (Mt 9,9). Mateus não falou nada, nem perguntou quem era aquele homem, de onde ele era, para onde o queria levar, somente o seguiu, é a resposta silenciosa, é a fé que se manifesta em confiança, em abandono, entregou o rumo da própria vida a Cristo.
Ao chamado de Jesus deve ser esta a nossa resposta, não deveremos nos questionar, apenas sem medo, o seguir, ter a coragem de reescrever uma nova história, assim diz uma canção: “quero te dar meu coração, a luz de uma nova decisão, amar-te mais que tudo o que eu possa ver, abraçando então o que é real, provando e amando o essencial, reescrevendo  uma nova história, vivendo o teu amor. Minha vida é toda tua, os meus planos e os meus sonhos, de nada vale o existir senão for para te ofertar, em cada passo descobrir que o tempo esconde o que é eterno, que só tu és o sentido, meu tudo”.
Mateus tem a coragem de deixar os seus lucros, suas riquezas, desprezar tudo o que possuía, para adentrar no grupo daqueles que não possuíam humanamente falando riqueza alguma, mas que na verdade tinham e teriam a Riqueza maior, que é Deus em Jesus Cristo. Ao meditar sobre este texto, São Beda diz-nos:  “quem o afastava dos tesouros temporais podia lhe dar nos céus os tesouros eternos, incorruptíveis”. Mateus deixou as meras riquezas, para ser Rico, para ter o bem maior. É isso que Deus quer nos conceder, seguir a Jesus é ter a certeza que “Ele não nos tira nada, mas nos dá tudo” (Bento XVI).
O belo exemplo de Mateus de deixar a vida velha de pecado e de engano, para seguir Jesus serviu de sinal para a conversão de muitos outros publicanos e pecadores, pois, “Jesus foi a casa de Mateus para uma refeição e lá estavam muitos publicanos e pecadores” (Mt 9,10). Mateus ao seguir Jesus, certamente se arrependeu da vida mesquinha de pecado na qual ele vivia, esta sua atitude de viver com Jesus uma vida nova foi um prenúncio para tantos quanto levavam a mesma vida. Aquela refeição foi também uma daquelas passagens de Jesus para trazer e fazer uma mudança radical na vida daqueles que o encontram.
A refeição na casa de Mateus foi muito pouca, em comparação da verdadeira refeição que foi feita, aquela em seu coração, Mateus permitiu que Jesus entrasse em sua vida, na casa de seu pobre coração de pecador, e o transformasse, a fé foi o sim para que Jesus realizasse um banquete de amor na alma de Mateus, é a revolução do amor que modificou a sede das decisões de Mateus, fazendo-o abraçar a vida de Jesus e imitá-lo, “eis que estou a porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20).
O desejo de Jesus era adentrar no coração de cada um daqueles pecadores, era convidá-los à conversão, a celebrar com eles a páscoa do amor, a saída dos vícios à virtude. Foi para os pecadores que ele veio, para recuperá-los, dar a sua de suas almas. É isso que Jesus deseja fazer conosco, ele bate na porta de nossos corações, desejando celebrar a sua páscoa conosco, nos conceder a riqueza imperecível, o tesouro maior, abramos, pois, nossos corações, desapeguemos nossa vida daquilo que é perecível, e agarremos o que é eterno. E sendo os eleitos de Deus caminhemos para o alto.
Que o exemplo de São Mateus nos encoraje a deixar as riquezas terrenas e a buscarmos as riquezas eternas de Deus, ao qual seja dada toda honra e toda glória. amém