sexta-feira, 27 de abril de 2012

Repousar nossa vida no coração de Deus

Ó Senhor quantas vezes no caminho de nossas vidas passamos por momentos duros, d...ifíceis, apertados, fatigantes que verdadeiramente nos quebram, nos cansam, nos fazem desmoronar e cair, choramos e a dor aperta e esfacela em nosso interior, queremos até desisitir; quantas e inúmeras vezes não encontramos um apoio, um porto seguro, um simples lugar no qual possamos descansar um pouco. quantas vezes esquecemos do teu doce e terno convite: "vinde a mim, vós todos que estais aflitos, e cansados, e eu vos darei descanso". acabamos por procurar outros sustentáculos e apoios que nos sustentem e nos quais ancoremos nossa vida. é só em ti Senhor Jesus que podemos repousar diante das longa e sansativas jornadas de nossas vidas, és nosso porto seguro, nosso refúgio, a água que sacia nossa sede, és nosso amparo. que sempre Senhor encontremos lugar perto de vós, que inclinemos a nossa cabeça sobre teu divino coração, para experimentarmos a suavidade de teu amor, misericórdia, bondade, compaixão; para podermos nos abrigar e revigorar nossas forças. dá-me Senhor a graça de tua amizade, para que eu possa reclinar minha cabeça, minha vida, meus sonhos, conquistas, projetos em teu coração, ser marcado pelas marcas de tua vitória e poder ser contigo um vencedor, ter os teus sentimentos, uma só vontade e um só coração unido ao teu manso e humilde coração.
 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

As Profanações na Liturgia

Queridos amigos e amigas nestas últimas décadas temos visto o desleixo de homens sem fé, que deturpam a Sagrada Liturgia, sendo desobedientes a Cristo e a Igreja, acham que devem celebrar a sua missa, fazendo do espaço sagrado, um auditório, tornam profano aquilo que temos de mais sagrado na vida de nossa Igreja, revestem o sagrado com um tampo, um véu de profanação, não quero me deter a mais comentários, desejei postar em meu blog, algumas imagens que mostram a grande profanação que estam fazendo com a Santa Missa, de drama como bem nos ensinou o Beato João Paulo II, a estão transformado em lugar de minhas criatividades, fantasias e invensões. Antes quero citar um trecho da Instrução Redemptionis sacramentum que diz:

"De forma muito especial, todos procurem, de acordo com seus meios, que o Santíssimo Sacramento da Eucaristia seja defendido de toda irreverência e deformação, e todos os abusos sejam completamente corrigidos. Isto, portanto, é uma tarefa gravíssima para todos e cada um, excluída toda acepção de pessoas, todos estão obrigados a cumprir este trabalho.Qualquer católico, seja sacerdote, seja diácono, seja fiel leigo, tem direito a expor uma queixa por um abuso litúrgico, ante ao Bispo diocesano e ao Ordinário competente que se lhe equipara em direito, ante à Sé apostólica, em virtude do primado do Romano Pontífice. Convém, sem dúvida, que, na medida do possível, a reclamação ou queixa seja exposta primeiro ao Bispo diocesano. Para isso se faça sempre com veracidade e caridade" (183 e 184).






A Eucaristia, penhor da resurreição.

Que a paz do Cristo Ressuscitado esteja em vossos corações, desejo oferecer-vos nesta quinta-feira, dia dedicado à Sagrada Eucaristia, onde nós com alma devota acorremos à Jesus que está escondido sob o Véu do sacramento do altar, nos dirigimos com o coração sedento ao Trono da graça de Deus, ao Santo tabernáculo, para adorarmos o Nosso Deus e Senhor Jesus Cristo, alimento de nossa alma, uma meditação eucarística de Santo Irineu.


Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo

(Lib. 5,2,2-3:SCh153,30-38) (Séc.I)



Se não há salvação para a carne,também o Senhor não nos redimiu com o seu sangue. Sendo assim, nem o cálice da eucaristia é a comunhão do seu sangue nem o pão que partimos é a comunhão do seu corpo. O sangue, efetivamente, procede das veias, da carne, e do que pertence à substância humana. Essa substância, o Verbo de Deus assumiu-a em toda a sua realidade e por ela nos resgatou com o seu sangue, como afirma o Apóstolo: Pelo seu sangue, nós fomos libertados. Nele, as nossas faltas são perdoadas (Ef 1,7).

Nós somos seus membros e nos alimentamos das coisas criadas que ele próprio nos dá, fazendo nascer o sol e cair a chuva segundo sua vontade. Por isso, o Senhor declara que o cálice, fruto da criação, é o seu sangue, que fortalece o nosso sangue; e o pão, fruto também da criação, é o seu corpo, que fortalece o nosso corpo. Portanto, quando o cálice de vinho misturado com água e o pão natural recebem a palavra de Deus, transformam-se na eucaristia do sangue e do corpo de Cristo. São eles que alimentam e revigoram a substância de nossa carne. Como é possível negar que a carne é capaz de receber o dom de Deus, que é a vida eterna, essa carne que se alimenta com o sangue e o corpo de Cristo e se torna membro do seu corpo?

O santo Apóstolo diz na Carta aos Efésios: Nós somos membros do seu corpo (Ef 5,30), da sua carne e de seus ossos (cf. Gn 2,23); não é de um homem espiritual e invisível que ele fala – o espírito não tem carne nem ossos (cf. Lc 24,39) – mas sim do organismo verdadeiramente humano, que consta de carne, nervos e ossos, que se nutre com o cálice do seu sangue e se robustece com o pão que é seu corpo. O ramo da videira plantado na terra, frutifica no devido tempo, e o grão de trigo, caído na terra e dissolvido, multiplica-se pelo Espírito de Deus que sustenta todas as coisas. Em seguida, pela arte da fabricação, são transformados para uso do homem. Recebendo a palavra de Deus, tornam-se a eucaristia, isto é,o corpo e o sangue de Cristo. Assim também os nossos corpos, alimentados pela eucaristia, depositados na terra e nela desintegrados, ressuscitarão a seu

tempo, quando o Verbo de Deus lhes conceder a ressurreição para a glória do Pai. É ele que reveste com sua imortalidade o corpo mortal e dá gratuitamente a incorruptibilidade à carne corruptível. Porque é na fraqueza que se manifesta o poder de Deus.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A PÉROLA DE UMA AMIZADE VERDADEIRA

Acabei de ler esta frase no livro o pequeno príncipe: "se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isto basta para que sejas feliz quando a contempla. ele pensa: Minha flor está lá em algum lugar". Cada amigo e amiga que surgem em minha vida, nas sendas de minha história, são como esta flor, única dentre inúmeros seres humanos, e mesmo que muitos estejam, basta contemplá-los na memória de meu coração para saber que em algum lugar está este meu amigo e minha amiga, é como diz a canção: "se pela força da distãncia tu te ausentas, pelo poder que há na saudade voltarás". Eis a força da saudade, poder trazer bem pertinho de nós, em nosso coração, a quem amamos, pois verdadeiramente perto estás quem mora dentro do coração. basta contemplá-los na memória de meu coração para saber que em algum lugar está este meu amigo e minha amigo, é como diz a canção: "se pela força da distãncia tu te ausentas, pelo poder que há na saudade voltarás". eis a força da saudade, poder trazer bem pertinho de nós, em nosso coração, a quem amamos, pois verdadeiramente perto estás quem mora dentro do coração.longe, basta contemplá-los na memória de meu coração para saber que em algum lugar está este meu amigo e minha amigo, é como diz a canção: "se pela força da distãncia tu te ausentas, pelo poder que há na saudade voltarás". eis a força da saudade, poder trazer bem pertinho de nós, em nosso coração, a quem amamos, pois verdadeiramente perto estás quem mora dentro do coração. Às vezes fico a me perguntar: "como o mundo de hoje fala em relacionamentos". Pena que se fala muito em encontros entre pessoas, só que estes relacionamentos não são duradouros pelo simples fato de que é fácil tecer elogios ao longe, pelas redes sociais, difícil é você poder olhar nos olhos de um amigo, chorar as suas lágrimas, compartilhar o seu sorriso, e dizer que está com ele, seja na dor e na alegria, amando até mesmo nas adversidades e nos contratempos, as amizades verdadeiras são aquelas que mesmo estando distante, se vive a certeza de estar unido num só coração, pois não é o meu nem o teu amor que nos une, mas o amor de Deus que por ser eterno rompe os limites do espaço e do tempo. Algumas pessoas passam em nossa vida e fazem nosso coração arder pelo carinho, dedicação, afeto, são de fato fascinantes, falam conosco como se nos conhecêssemos há anos, até contamos a nossa admiração para outras pessoas: "como seria bom se você a tivesse conhecido", mas num determinado momento elas seguem em frente na vida, e muitas vezes nem sabemos para onde elas foram. entretanto, existem pessoas que surgem de forma simples, até certo ponto inesperadas, eram até certo ponto um estranho, elas passam no chão de nossa vida e nós a convidamos para entrar na nossa casa interior, e ela se torna íntimo de nós, vai nos ajudando a arrumar nossa bagunça interior, e ela se torna nosso amigo".

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Salve Papa Bento XVI, escolhido para o lugar do pescador!

Hoje nossos corações se elevam a Deus e rendem graças, pelo grande dom que Ele concedeu à sua Esposa, a Igreja, em ter chamado para a cátedra petrina, o Santo Padre Bento XVI. Em cada tempo de nossa história, se cumpre e perpetua  de forma ininterrupta as palavras de Cristo a Pedro quando lhe concedeu o primado e o pastoreio de sua Igreja : “Pedro tu és Pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e  as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16, 18-19), e ainda: “Simão, Filho de João, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 16). Que beleza é ser católico! Que maravilha é ser cristão! a Igreja verdadeira e única de Cristo é aquele que é guiada pelo sucessor de Pedro a quem Cristo confiou à sua Igreja, o sucessor de Pedro é o Papa, quem está unido a Ele, está vivendo com fé na verdadeira e única Igreja de Cristo. O papa, é, pois aquele que ocupa o lugar do humilde pescador, por isso que o Papa Bento XVI traz em seu dedo, o anel do pescador.

 Eis o legítimo sucessor de Pedro, eis o guardião dos divinos tesouros, eis o guardião e anunciador da verdade, eis aquele que foi constituído pastor para pascentar a grei de Cristo. Verdadeiramente,  Deus escolheu o Homem certo para o tempo certo, com sua simplicidade, silêncio, humildade, fidelidade e amor a Jesus e a Igreja tem conduzido a Barca de Cristo, em meios as tempestades inquietantes, e revoltas deste mundo. Em meio a estes tormentos que muitas vezes assolam a Igreja, Deus está contigo Santo Padre, ele não te desampara. É bonito ver as palavras do coração do Santo Padre quando ele logo ao ser eleito e foi levado para a chamada: “sala das lágrimas” expressou mostrando a sua confiança e abandono à vontade divina, certamente seu coração estava marcada pelo questionamento de por que ter sido ele o escolhido, e assim dizia o Santo Padre: “Senhor o que estás fazendo comigo? Agora a responsabilidade é tua. Deves conduzir-me! Não sou capaz disso. Se me quiseste, agora deves também ajudar-me”.  Nestes sete anos de pontificado, quantas graças e bênçãos Deus tem concedido à sua Igreja, quantas alegrias, temos experimentado; sabemos que Deus tem vos ajudado, Ele não deixa os seus filhos desamparados, ele caminha, sofre, chora, ri, vive a nossa história. Que Deus vos ajude Santo Padre a continuar fiel em tua missão em teu ministério, como o Senhor disse uma vez expressando para que nós cristãos vivemos, e qual a missão que o Senhor exerce: “A Igreja não é uma empresa voltada para o lucro, somos uma comunidade de pessoas que vivem na fé. Nossa tarefa não é criar um produto ou conseguir êxito nas vendas. Nossa tarefa é viver exemplarmente a fé, anuncia-la, e mantermos uma relação profunda com Cristo, e assim, com o próprio Deus”.

Deus vos abençoe Santo Padre Bento XVI, que Deus vos sustente, ampare e fortaleça o seu pontificado para com todo vigor de fé, esperança e amor guiares a Grei de Cristo.

 

terça-feira, 17 de abril de 2012

A QUENOSE DO FILHO REVELADA NO MISTÉRIO PASCAL - XIII

ESTA É A ÚLTIMA DE NOSSAS REFLEXÕES SOBRE A QUENOSE DO FILHO REVELADA NO MISTÉRIO PASCAL (Abordagem teológica da Teologia dos Três dias de Hans Urs Von Balthasar),espero que todo este conteúdo que foi partilhado e refletido, tenha vos ajudado é compreender melhor todo o drama da páscoa redentora do Filho Jesus, vivido por amor a nós e para a nossa salvação, que de fato tenhamos todos compreendido o quanto e até onde o Deus Vivo e verdadeiro é capaz de amar a sua criatura. Só um Deus que é em plenitude Amor pode amar de tal forma a se fazer nada, a se esvaziar de si, de tudo o que é, para elevar a criatura decaída, para restaurar a imagem ferida pelo pecado. Será sempre e de novo retornando e meditando sobre o mistério pascal que nós descobriremos em pequenas frestas quem é Deus e quem somos nós.


3.3. O Ressuscitado é elevado aos céus.



             Vimos a pouco a íntima relação entre o crucificado e o Ressuscitado, entre cruz e ressurreição, agora a estes dois acontecimentos uniremos o mistério da ascensão, relacionaremos a ascensão com a ressurreição numa unidade de mistérios, o próprio Von Balthasar acenou para este aspecto, “o acontecimento da ressurreição e da ascensão como um único fato: exaltação do Filho humilhado”[1], ou seja, é o coroamento da missão de Jesus como aquele que ora foi humilhado e agora foi exaltado, contemplamos o mistério da sua elevação aos céus de Deus.

 Antes de tudo, ao olharmos para Jesus Ressuscitado que sobe aos céus, não devemos entender como um acontecimento de cunho geográfico, vendo o céu como um lugar acima de nós, ou simplesmente uma viagem que Ele fez em direção às estrelas, a um espaço cósmico, pelo contrário, deveremos entender como o regresso ao ponto de partida no qual ele foi enviado, ou seja, ele volta ao seio do Pai, à pátria trinitária, que não é um “lugar”, mas uma pessoa, é de certa maneira um entrar no mistério de Deus. Podemos compreender esta entronização pela imagem da nuvem que aparece na elevação do Ressuscitado, “foi elevado à vista deles, e uma nuvem o ocultou a seus olhos”(At 1,9).

A nuvem desde o Antigo Testamento é sinal da presença de Deus, por isso quando Jesus é elevado aos céus, Ele adentra na condição que tinha desde sempre, na comunhão de vida e poder com o Deus Vivo e Verdadeiro, o seu estar junto do Pai indica a honra que lhe é dada por aquele que não o abandonou, mas, o amou e por isso entregou-lhe toda soberania sobre os céus e a terra. O desaparecimento do Filho Ressuscitado na nuvem “não significa um movimento para outro lugar cósmico, mas a sua assunção no próprio ser de Deus e, deste modo, a participação no seu poder de presença no mundo”[2]. Nesta soberania que Deus Pai concede ao seu Filho unigênito entronizando-o como o Rei do Universo, se revela outro aspecto importante que toca aos homens redimidos pelo sangue do cordeiro redivivo, é a elevação da natureza humana ao mistério de Deus.

Observemos este aspecto, o Filho sendo eterno, fez-se finito ao entrar no tempo da história humana assumindo a sua condição, ele nos seus dias na carne  é visto como um ser eterno temporalizado, o Pai o enviou qual pastor para ir ao encontro da ovelha perdida que se desgarrou, neste caso a humanidade ferida pelo pecado. O Filho, como o Bom Pastor, cumpre a sua missão, e cura pelo seu sangue derramado na cruz a ferida do pecado que maltratava a ovelha, e agora, não somente Ele faz o caminho de volta, mas a ovelha também, ou seja, no Cristo que assumiu a condição humana, padeceu, foi crucificado, morreu, Ressuscitou e que agora é elevado aos céus numa humanidade glorificada e vivificante porque cheia do Espírito, leva consigo esta humanidade para junto de Deus, em outras palavras, a humanidade encontrou um lugar em Deus.

 O Verbo se fez carne, e por isso, ao subir aos céus não deixou de ser homem, ele o é para todo sempre, simplesmente ele eleva a condição humana à sua verdadeira dignidade, criada para a comunhão com Deus.  Von Balthasar expressa esta verdade assim:



Cristo... não viveu uma vida abstrata de homem, mas, vivendo, incorporou e manifestou a historicidade policrônica e áspera da humanidade real e em sua obediência recapitulou ante ao Pai toda a historicidade (humanidade) concreta da criatura do Pai, para liberar seu verdadeiro sentido e honrar e justificar assim, ao Pai e Criador do mundo[3].





 Verdadeiramente na história pascal do Filho, como revelação do Deus Uno e Trino, a história humana encontrou de novo o seu lugar, a glorificação do Filho é a glorificação da humanidade, o Filho estabelece a nova aliança entre Deus e o Homem, porque Ele mesmo é a personificação desta aliança, e por isso ela é eterna, dura para sempre e conduz todos os homens para a eternidade, é o Novo Êxodo do povo rumo à Jerusalém Celeste.

Neste caminho que o Filho fez descendo do céu e assumindo a conditio humanae numa atitude quenótica, e palmilhando a história humana passando pela cruz, indo ao encontro dos mortos, vemos seu término numa elevação esplêndida até o seio da Trindade. O Crucificado e Ressuscitado ao reconciliar o mundo revela que Deus é Amor, e somente voltando sempre de novo o olhar para o Santo Tríduo Pascal é que poderemos contemplar este Deus que é Uno e Trino, Vivo e Verdadeiro, e nele encontramos o sentido pleno de nosso existir, porque a existência cristã é uma unidade entre cruz e ressurreição, por conseguinte, a Páscoa é o evento que nos revela a história profunda do amor eterno entre Deus e o homem, nela descobrimos quem é Deus e quem somos nós.



[1] BALTHASAR, Hans Urs Von. Mysterium Paschale in Mysterium Salutis III/6. p. 173.
[2] RATZINGER, Joseph ( BENTO XVI). Jesus de Nazaré – da entrada em Jerusalém até a Ressurreição. p. 232.
[3] BALTHASAR, Hans Urs Von. Teologia da História. p. 58.

sábado, 14 de abril de 2012

REFLEXÃO DO EVANGELHO - 2º DOMINGO DE PÁSCOA

Caros amigos em Cristo que a paz do ressuscitado esteja convosco! A Liturgia deste 2º domingo de Páscoa nos convida a compreendermos que nós somos a comunidade que se reúne ao redor do Cristo Ressuscitado, para viver de sua vida, de sua palavra, de seu Corpo e sangue, de sua história. Ele é o centro de nossa vida de fé.

Pois bem, hoje concluímos a oitava da páscoa, somos conduzidos ao ponto inicial do domingo passado, quando celebramos a Ressurreição de Cristo, dia em que o Senhor destruiu a morte e ressurgiu dando-nos vida em plenitude, dia em que o Senhor nos comunicou a sua paz, quando estávamos como os discípulos, marcados pelo medo, pela tristeza, pela solidão, dia em que o Senhor nos doou o seu Espírito de Ressurreição, dia que o Senhor fez para nós, e no qual somos chamados a nos reunirmos como Comunidade Viva e Novo Povo santo de Deus, ao redor de Jesus vivo e presente na Eucaristia, que se põe em nosso meio.

Este é o Oitavo dia, o dia que não tem fim, o dia do sol sem ocaso. Esta é a razão pela qual nos reunimos a cada domingo para celebrarmos a Eucaristia, para diante do Senhor com piedade, e de coração contrito e humilde podermos tocar em suas chagas e exclamar: “meu Senhor e meu Deus”. Assim, somos os bem-aventurados, os felizes porque cremos no Senhor Ressuscitado sem o ter visto, e por isso o amamos.

Por conseguinte, podemos nos perguntar: Como nós somos inseridos nesta comunidade? A resposta é: pela fé. Por meio dela somos inseridos no seio desta comunidade, e esta fé é adesão, entrega, abandono, confiança em Jesus, o Filho de Deus, o Ressuscitado. No dia de nosso batismo fomos inseridos nesta comunidade onde mergulhados nas sagradas águas cheias do Espírito do Ressuscitado nos tornamos novas criaturas. Fomos transfigurados em Cristo, e por isso recebemos o digno nome de cristãos, agora temos a força para podermos vencer o pecado, as dores, as tristezas e angústias da vida, “Quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?”.

Jesus é o fundamento de nossa fé, Ele é a Pedra Angular que sustenta nosso edifício existencial? Mas, será que de fato sabemos quem é aquele que Cremos? Ele é aquele que veio pela água e pelo sangue. “Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo. Não veio somente com a água, mas com a água e o sangue. E o Espírito é que dá testemunho, porque o Espírito é a Verdade”. Jesus foi Batizado nas águas do Rio Jordão, e tornou pleno e levou a cumprimento este seu batismo na cruz quando derramou o seu sangue por amor e para a salvação da humanidade. E foi justamente na cruz que Ele, verdadeiro Deus e verdadeiro homem se entregou inteiramente a nós, tendo o seu lado aberto pela lança, nos abriu o novo espaço onde nós podemos encontrar Deus. De seu lado nasceu a sua Comunidade, a sua Igreja, do seu seio jorrou o rio de água viva, o sangue e água sinais dos sacramentos do batismo e da eucaristia, cheios do Espírito Santo. É na força do Espírito Santo que nós recebemos a vida nova de Deus, e por isso, em cada sacramento Deus habita em nós pelo seu Espírito.

O Espírito Santo é o grande dom pascal que Jesus ressuscitado doou à sua Igreja, é a vida da graça, da força e do vigor, nos recordemos que no dia de Páscoa Jesus soprou sobre os seus discípulos, sobre a sua Igreja, este dom, e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”. É importante notar que o verbo: soprou, que aparece aqui no Evangelho é o mesmo utilizado no relato da criação, quando Deus soprou sobre as narinas do homem, o seu hálito de vida. Isto revela um precioso mistério, Jesus ao soprar sobre os seus o Espírito, comunica-lhes a sua vida, a vida de Ressuscitado, por isso que a comunidade primitiva viverá cheia do Espírito Santo, reunida no amor fraterno, na unidade, na partilha, na comunhão, na alegria, na esperança. É a partir destes frutos, e, praticando-os que iremos viver como comunidade dos redimidos.

É também por este mesmo Espírito que nos reconciliamos com Deus, quando em virtude de nossos pecados rompemos nossa união com Ele, pelo sacramento da confissão esta aliança é reatada, são os sacerdotes que receberam esta grande missão de continuarem os passos de Cristo e serem dispensadores da graça multiforme de Deus que nos reconciliam com Deus e nos inserem na vida eclesial.

Peçamos a Deus a graça de vivermos a cada dia segundo a graça que recebemos desde o dia de nosso batismo, segundo a nossa vocação, e que “Deus reascenda em nós a fé, para compreendermos melhor o batismo que nos lavou, o espírito que nos deu vida nova, e o sangue que nos redimiu”. Que assim seja!


A QUENOSE DO FILHO REVELADA NO MISTÉRIO PASCAL - XII

3.2. Relação crucificado e ressuscitado



            No drama do mistério pascal surge a pergunta: Quem é este Homem Novo que aparece na madrugada do domingo de páscoa? Encontramos a resposta para esta pergunta enigmática quando nos reportamos mais uma vez ao ponto inicial do mistério da páscoa, ou seja, à Cruz erguida no gólgota, porque não é possível falar de ressurreição sem uni-la à cruz, anunciar a Ressurreição de Jesus é anunciar a ressurreição daquele que foi crucificado, pois o crucificado da sexta é o ressuscitado do domingo.

Portanto, este Homem Novo que agora aparece aos olhos da humanidade é Jesus de Nazaré aquele que foi crucificado; vejamos que no próprio momento no qual as mulheres na manhã do domingo chegam ao túmulo para ungir com aromas o corpo de Jesus morto, e o encontram aberto e vazio, logo ficam espantadas, e de repente o anjo anuncia: “procurais Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou, não está aqui”(Mc 16,6). Esta resposta evidencia que o crucificado e o ressuscitado são a mesma pessoa, ou seja, Jesus.

            Outro elemento pertinente na unidade da mesma pessoa (crucificado/ressuscitado) é a sua condição corporal, primeiro se deve apontar para o fato de que nas suas aparições aos onze discípulos, a Maria Madalena e aos discípulos de Emaús, eles não o reconhecerem (Jo 21,4; 20,14; Lc 24,16), certamente se poderia pensar que não era Jesus, mas um desconhecido. Todavia, é o Senhor mesmo, ele aparece como Homem entre os homens, não é um fantasma, mas um ser corpóreo, possuidor de carne e ossos, a ponto de fazer refeição com os seus (Jo 21,1-14).

O problema de não reconhecê-lo em um primeiro momento, é que ele agora possui uma existência nova, é bem verdade que ele possui uma corporeidade, entretanto, ela não está presa às leis espaço-temporais, a tal ponto dele ser capaz de entrar em ambientes estando às portas fechadas, aparecer subitamente no meio dos seus e também desaparecer subitamente como no caminho de Emaús (Lc 24,13-35;  24,36, Jo 20,19). Esta realidade existencial nova que Jesus agora possui, não como um morto que retornou à vida, pode ser entendida a partir do termo no qual é utilizado para expressar as suas aparições.

Observemos que a palavra grega utilizada para falar das aparições de Jesus é ofqh (ophthe), o sentido aqui é de que ele deixou-se ver, ou melhor, Fez-se ver, indicando que não é qualquer um que pode compreendê-lo, ou vê-lo simplesmente, não se precisa da fé e é o Senhor mesmo que permite ser visto; uma vez que ele não pertence mais a esta esfera de nossa realidade, capaz de ser reconhecido pelos sentidos, depois de sua Ressurreição ele pertence à esfera de Deus, só pode vê-lo quem ele concede.

O que aconteceu então? Vejamos, “Jesus é verdadeiramente homem: como homem, ele sofreu e morreu; agora vive de modo novo na dimensão do Deus vivo; aparece como verdadeiro homem, mas a partir de Deus; e Ele mesmo é Deus”[1].  Ele não voltou à existência de antes sujeita à morte, pelo contrário, ele agora vive a vida de comunhão com Deus, a vida imortal e eterna.

Agora, embora ele seja O Novo pela condição existencial que possui, continuamos afirmando que Ele é o mesmo, porque, quando aparece aos seus como Ressuscitado, o seu corpo traz as marcas da paixão, de seu aniquilamento de amor, vemos o seu coração transpassado pela lança, qual porta aberta para contemplar o mistério de Deus, vemos suas mãos e seus pés trazendo as chagas, as feridas dos pregos, isto fica claro em sua aparição a Tomé, quando o discípulo não somente pode ver e crer no Ressuscitado, mas também tocar as chagas de sua paixão, crendo que é verdadeiramente o seu Mestre que morreu e agora está vivo (Jo 20,24ss).

Portanto, não é possível separar estas duas realidades na única pessoa de Cristo, ele é o crucificado e o ressuscitado. Para que compreendamos ainda melhor esta verdade de nossa fé na única pessoa de Cristo, podemos tomar parte do ensinamento de Santo Hilário de Poitiers que afirmava:



 Jesus Cristo, assim como nasceu, padeceu, morreu e foi sepultado, também ressuscitou. Não pode, nesta diversidade de mistérios, ser dividido em si mesmo, a ponto de não ser Cristo, pois não há outro Cristo, a não ser o que existia na forma de Deus e assumiu a forma de servo. O que morreu, foi o mesmo que nasceu. Não foi um o que morreu e outro o que ressuscitou.[2]





 No Filho Ressuscitado, vemos o coroamento de sua missão, ele a cumpre em amorosa obediência à vontade do Pai, também é possível perceber seguindo a linha teológica do Evangelista João que a glória exultante do Cristo ressurreto é iniciada na cruz, ou melhor, ela já é a sua glória, sua exaltação; Von Balthasar faz a seguinte afirmação: “a exaltação na cruz e na ressurreição: ambas constituem apenas aspectos de um único ato de ir, de subir para o Pai, achando-se aí intimamente conexas”[3].

É bem verdade que desde a sua geração o Filho de Deus é revestido de glória, mas também é verdade que desde o início de sua vida terrestre ele já manifestava esta glória, basta que nos reportemos ao Milagre das bodas de Caná (Jo 2,11) lá ele manifestou a sua glória e todos os que o circundavam creram nele, todavia, o ponto culminante é naquela Hora para a qual Ele veio ao mundo, ou seja, no momento crucial de sua paixão, do amor que é levado ao extremo por meio de seu aniquilamento, todo o esplendor de graça e verdade se revela na elevação do Filho de Deus no patíbulo da cruz, lá se pode contemplar o amor pleno que Deus tem pelo mundo, é lá que refulge todo brilho, de modo que a Ressurreição outra coisa não é senão a glória que reluz da cruz.

Por isso que já na ara da cruz o Filho de Deus “como crucificado, ele pode reivindicar o famoso ‘Eu Sou’ do Senhor. ‘quando tiverdes levantado o Filho do homem, conhecereis que Eu Sou (Jo 8,28)”[4]. A isto se liga o Nome que lhe é concedido pelo Pai em virtude de sua Ressurreição como glorificação pela missão cumprida em um total amor salvífico pela humanidade, a resposta ao seu aniquilamento.

 E que nome é este? É o Nome dado somente ao Eu Sou, ou seja, a Deus, usado pelos hebreus para traduzir o tetragrama sagrado YHWH, Jesus agora é o Kyrios, o Senhor, “Deus o constituiu Senhor e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes” (At 2,36). Aqui nós percebemos este movimento de ascensão vivido pelo Filho, ele porque se rebaixou numa quenose profunda, agora é elevado à dignidade de Senhor do universo. No ponto seguinte explicitaremos mais esta elevação do Ressuscitado revelado como o Rei soberano de toda a terra.



[1] RATZINGER, Joseph ( BENTO XVI). Jesus de Nazaré – da entrada em Jerusalém até a Ressurreição. p. 218.
[2] SANTO HILÁRIO DE POITIERS. Tratado sobre a Santissíma Trindade. Liv X, 22.
[3] BALTHASAR, Hans Urs Von. Mysterium Paschale in Mysterium Salutis III/6. p. 136.
[4] BONY, Paul. A Ressurreição de Jesus. p. 145.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A QUENOSE DO FILHO REVELADA NO MISTÉRIO PASCAL - XI

3.1 A Ressurreição como manifestação Trinitária



Todos os eventos anteriores à Ressurreição como a cruz e a sepultura de Jesus encontram o seu sentido pleno nela, ela é a luz que permite compreendermos todo o mistério pascal, enquanto mistério de Redenção e Salvação, ela é o centro da fé cristã, qual pilar a sustentar todo o edifício da fé ou se tirado capaz de desmoroná-lo.

Todavia, é também o ponto preciso no qual se pode contemplar o Deus dos cristãos, ou seja, o Deus Uno e Trino, que é comunhão de amor infinito e por isso o comunica à humanidade. Por conseguinte, a Trindade se revela neste grande acontecimento da Ressurreição do Filho Jesus. Se até a cruz e sepultura se viu uma espécie de distanciamento profundo entre o Pai e o Filho, a ponto deste sentir o abandono do seu Deus e Pai, em consequência da iniquidade do pecado humano que ele carregava; agora acontece um giro no movimento do mistério da páscoa onde a suprema distância se transforma na mais estreia e intima união entre o Pai e o Filho.

Vamos observar como acontece esta reviravolta no itinerário da páscoa, primeiro é necessário destacar que para exprimir o evento da ressurreição os autores do Novo Testamento fazem uso do verbo transitivo “reavivar” = egeiro, no sentido de suscitar, levantar, neste caso indica o despertar do sono da morte, é interessante notarmos que o verbo se refere àquele que faz ressurgir, não àquele que ressurge, diz-nos o texto: “Mas Deus o ressuscitou” (At 13,30), isto indica que a iniciativa da Ressurreição é antes de tudo obra de Deus Pai.

O Pai ao ressuscitar o Filho revela que ele não o abandonou, mas tomou posição sobre o seu Filho crucificado e morto, ressuscitando-o do poder da morte, pronunciando o grande sim da vida sobre o Filho; vê-se neste exato momento o coroamento da missão d’Aquele que ao longo de toda a sua vida terrena viveu numa obediência amorosa ao seu Deus e Pai, afirmou ser o Filho único, não querendo a sua glória, mas a gloria dele, não vivendo para si, mas para aquele que o enviou, e, por conseguinte, agora recebe o abraço do Pai pelo dom da Ressurreição.

 Von Balthasar nos dirá: “desde que o Verbo de Deus se encarnou e morreu por sua fidelidade a Deus, sua ressurreição se tornou... sua glorificação em face do mundo, sua justificação perante todas as coisas”[1].

Nesta iniciativa do Pai ao ressuscitar o seu Filho se manifesta seu extraordinário poder, ele é o Deus da Vida, e por isso a comunica ao seu Filho, ele que reconciliou o mundo com Deus Pai, agora é com o Pai o Vivente que venceu a morte. A isto se une outro aspecto importante é de que na Ressurreição do seu Filho o Pai o apresenta como ressuscitado e glorificado perante o mundo, Deus Pai mostra Jesus como o seu Filho.

 É na Ressurreição que a paternidade de Deus se revela em todo o seu esplendor, podemos ver de forma resplendente a relação íntima entre o Pai e o Filho que existe no interior da Trindade, mas que se torna visível também na sua dimensão ad extra, ou seja, na história.  Não é por acaso que ao falar da Ressurreição se usa os termos de uma geração que diz respeito à investidura messiânica: “Tu és o meu Filho, hoje te gerei” (Sl 2,7), esta geração não se trata de um adocionismo, ou que Jesus só se torna Filho de Deus aí, não, Jesus é Filho por natureza desde sempre e por todo sempre,



sua vida divina no seio do Pai não depende da economia da salvação, mas ao contrário, constitui seu único fundamento. A Filiação que Jesus vive neste mundo, e manifesta-se em plenitude na Ressurreição, baseia-se no próprio ser divino, em uma relação com o Pai prévia à sua existência humana[2].





 Esta geração indica à exaltação filial do homem Jesus, é a investidura messiânica daquele que agora recebe os poderes de Cristo e Senhor, ou seja, o Pai concede ao Filho todo poder e o senhorio sobre todas as coisas, todavia, é manifestação da glória do Pai que é comunicada ao Filho, visto que o Filho é a Palavra eterna do Pai, é Deus Pai que se revela a si mesmo quando faz com que o seu Filho unigênito apareça como Aquele que foi justificado e glorificado, portanto, Cristo aparece como o Senhor da glória, pois o Pai a derramou sobre ele ao ressuscitá-lo.

O Pai ressuscita o Filho na força do Espírito Santo, no dia de Páscoa ele derrama sobre seu Unigênito morto o Sopro da vida, o Espírito vivificante, é o pneuma (Sopro) e a doxa (glória) do Pai, ele é o mediador da Ressurreição, é na sua força e na sua glória que o Filho Jesus Ressuscita, “Morto na carne foi vivificado pelo Espírito”(1Pd 3,18). O Espírito de Ressurreição é a expressão do amor profundo que Deus Pai tem pelo seu Filho, é o vínculo da unidade de amor na diversidade das pessoas divinas, e é na ressurreição que esta unidade reluz na história; a cerca desta realidade Von Balthsar afirma: "Mas essa intimidade existe desde sempre, porque a distância (abandono da cruz) é apenas o fruto do amor trinitário, da obdiência onde o Pai e o Filho não deixam de ser um no Espírito" [3].

Portanto, o Espírito doado na ressurreição é a prova que o Filho Jesus em seu esvaziamento quenótico, experimentando a morte e a sepultura não foi abandonado, pois o Espírito é a plenitude da Vida de Deus, ele é o Senhor da vida, e por isso foi derramado profusamente pelo Pai sobre o Filho morto, ele agora é pleno do Espírito de vida, é o Novo Adão que agora possui um vida cheia do Espírito vivificante, ele é a fonte deste mesmo Espírito, “se Adão foi a fonte da vida terrena, uma vida que termina  na morte. Jesus, o segundo e definitivo Adão, é a fonte do Espírito, da vida definitiva, que agora preenche sua humanidade perfeitamente divinizada”[4].

É interessante notarmos que existe uma estreita ligação entre Jesus e o Espirito, não esqueçamos que Jesus em toda a sua vida desde a sua encarnação foi guiado pelo Espírito, não como uma força que de cima o conduz, mas como uma força que o move interiormente numa obediência total em fazer à vontade do Pai, é possível também notarmos esta relação entre Jesus e o Espírito no mistério da páscoa.

 Observemos que Jesus na cruz entregou este Espírito ao seu Deus e Pai, se esvaziou inteiramente, entregando a força de amor que o une como Filho ao Pai, e por isso caiu na terra dos mortais, dos sem-Deus. Esta sua oferta na cruz como um cordeiro a ser imolado foi um sacrifício entregue ao Pai no Espírito Eterno, “Cristo que pelo Espírito Eterno, se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha” (Hb 9,14); e este mesmo Espírito é o fogo que consome este sacrifício penetrando na humanidade de Cristo para instaurar uma aliança eterna entre Deus e os homens. E este sacrifício foi aceito por Deus, e o sinal desta aceitação divina é a Ressurreição, revelada pelo dom do Espírito de Vida dado em plenitude ao Filho ressurgido.

A beleza do derramamento do Espírito na páscoa sobre o Filho ainda traz algumas verdades, vejamos, Cristo Ressuscitado é o Novo Templo que tendo sido golpeado pela lança, qual rocha ferida no deserto da cruz, a derramar água e sangue, se esvaziou para saciar à sede de salvação da humanidade, agora na ressurreição ele se enche mais uma vez da água viva, ou seja, do Espírito de amor, e por isso a derrama também sobre a humanidade redimida.

 Nesta ação vemos duas missões trinitárias reveladas: a missão do Filho e a missão do Espírito, ou seja, a exaltação do Filho na cruz implica a efusão do Espírito sobre a humanidade como dom reconciliador, que não só une o Filho ao Pai, mas também une a humanidade a Deus, pois é no Espírito do Filho ressuscitado, Novo Adão que os homens se tornam filhos de Deus por adoção, participantes da herança divina e, por conseguinte, realizam a sua vocação primeira: a comunhão com Deus. Acerca desta realidade se conclui que “o Espírito no evento pascal... constitui o duplo vínculo entre Deus e o Cristo, e entre o Ressuscitado e nós: une o Pai e o Filho, ressuscitando Jesus dos mortos, e os homens ao Ressuscitado, tornando-os vivos sob uma vida nova”[5].

É, pois Trinitário o evento da Ressurreição, o Deus Uno e Trino se revela como o Deus da Vida, na ressurreição de Cristo é possível entender como Deus é doação total e amor eterno num vínculo de unidade amorosa que se irrompe a nós, pelo oferecimento da salvação na participação da vida do Pai, do Filho e do Espírito. Portanto, “o único Deus tri-unitário opera a obra que é e permanece o dado central para toda a história da humanidade”[6].

No ponto seguinte no mistério da ressurreição do Filho mostraremos a relação entre o crucificado e o ressuscitado como a única e mesma pessoa que agora possui uma condição existencial nova, Nele se revela o único movimento de abaixamento e elevação.



[1] BALTHASAR, Hans Urs Von. Mysterium Paschale in Mysterium Salutis III/6. p. 131.
[2] LADARIA, Luís F. O Deus Vivo e Verdadeiro - O mistério da Trindade. p. 100.
[3] BALTHASAR, Hans Urs Von. Teodramática 4. La Accion. p. 337. ahora bien, dicha intimidad existia ya desde siempre, porque la distancia no es más que el fruto de la obdiencia em el amor trinitário, em donde el Padre y el Hijo no cesan de ser uno em el Espiritu”.
[4] LADARIA, Luís F. O Deus Vivo e Verdadeiro - O mistério da Trindade. p. 102.
[5] FORTE, Bruno. A Trindade como História. p.32.
[6] BALTHASAR, Hans Urs Von. Credo - meditações sobre o símbolo dos apóstolos. p. 60.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A QUENOSE DO FILHO REVELADA NO MISTÉRIO PASCAL - X



A VOLTA AO PAI

(Domingo de Páscoa)





3. O despertar do Filho na noite da redenção



            No mistério da quenose redentora do Filho de Deus muito amado, revelada no Tridum Mortis até agora tendo refletido sobre dois dias (Sexta Feira santa e o Sábado Santo) vemos o seu descensus, a sua descida, num aniquilamento desmedido, Deus vai ao extremo da condição humana e mortal, todavia, agora no último dia do Tríduo Pascal (Domingo) vemos que este mistério de abaixamento, implica também um movimento de subida, de ascensão.

Reportemo-nos mais uma vez ao Hino Cristológico de Paulo na carta aos cristãos de Filipos que é o pano de fundo desta reflexão teológica, para assim compreendermos melhor este único movimento de abaixamento e exaltação do Filho de Deus, diz-nos Paulo: “Ele (Cristo)... abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, à morte sobre uma cruz. Por isso Deus (Pai) soberanamente o elevou e lhe conferiu o nome que está acima de todo nome”(Fl 2,8-9).

            Desta forma, em obediência amorosa o Filho de Deus se aniquilou inteiramente na cruz, foi transpassado pela iniquidade da humanidade, carregou sobre seu corpo todo o pecado, tornou-se maldição, desprezado e abandonado por todos; se aniquilou ainda mais na ida à mansão dos mortos, foi posto na terra da escuridão, dos fracos, adormeceu no sono da morte, numa solidariedade total com os filhos de Adão. Porém, o que parecia fim e derrota, numa espécie de hiato silencioso pela morte do Filho, logo resplandeceu como sendo a vitória daquele que se fez vítima.

 A pergunta crucial que é feita perante o mistério do aniquilamento do Filho é: O que aconteceu depois da ida do Filho ao encontro dos mortos, depois do três dias de sepultura? A resposta é curta, mas de um rico significado, ei-la: “Deus o Ressuscitou”, ou seja, Deus Pai não deixou o seu Unigênito abandonado no Hades, na terra e na condição de morto com os mortos, não permitiu que o seu Filho conhecesse a corrupção, mas, despertou-o e arrancou-o do poder da morte, que era o último inimigo a ser vencido, de modo que, em sua morte Deus a aniquilou de uma vez por todas. Portanto, “a Ressurreição de Cristo é o grito com que Deus, após se haver contido e violentado por longo tempo, rompe finalmente seu silêncio”[1].

Por conseguinte, a Ressurreição de Jesus é o ponto principal do domingo de páscoa, é o que dá sentido aos acontecimentos anteriores da Cruz e da Sepultura, é a vitória daquele que possuindo a vida em si mesmo, derrotou a morte; tendo completado o terceiro dia de sua morte, Jesus, o Filho de Deus Ressuscitou como havia prometido, “eis que o Filho do Homem será entregue... eles o condenarão à morte... para ser escarnecido e crucificado. Mas ao terceiro dia ressuscitará”(Mt 20,18-19). Agora no terceiro dia, após seu aniquilamento, ele é elevado, sobe da mansão dos mortos como o primogênito dentre uma multidão de irmãos.

Na ressurreição do Filho como acontecimento histórico, mas que transcende a própria história, por ter um caráter divino, um fato interessante é que mais uma vez, Deus revela a sua ação redentora como manifestação de seu admirável poder em meio à noite, isto porque, “as grandes obras de Deus se realizam no silêncio”[2]; na noite se percebe o silêncio não só da terra, mas também o silêncio do próprio Deus.

Foi assim na criação, “as trevas cobriam a terra”(Gn 1,2), no êxodo, “no meio da noite o Senhor feriu todos os primogênitos na terra do Egito”(Ex 12,29), no Nascimento de seu Filho, “na mesma região haviam pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho. O anjo do Senhor apareceu-lhes... e disse-lhes: nasceu-vos hoje um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc 2,8.10.11); na cruz houve treva em toda a terra”(Mt 27,45). É na escuridão da mansão dos mortos, na tumba dos que jaziam há séculos, que uma luz brilha para os justos e pecadores, é a noite da redenção dos cativos, da nova criação, das núpcias do cordeiro redivivo, é o Sol da Justiça que agora brilha refulgente  sobre o cosmo, a noite como sinal do pecado, se transforma em Dia que não tem ocaso, o Filho é liberto da prisão dos mortais, é o seu êxodo, a sua volta para o seio do Pai.

 Podemos nos reportar a uma imagem que a Liturgia canta na solene vigília pascal: “ó Noite em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor: de que nos valeria ter nascido se não nos resgataste em seu amor?”[3]. Lembremo-nos, pois que este despertar salvífico do Filho unigênito de Deus se deu quando ainda estava escuro, assim os relatos evangélicos nos mostram: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro, e vê que a pedra fora retirada do sepulcro”(Jo 20,1).

Isto permite pensar seguindo os padres da Igreja que nenhum ser humano contemplou a Ressurreição somente à noite foi quem viu, assim canta a Liturgia da Mãe Igreja: “Só tu noite feliz soubeste a hora em que Cristo da morte ressurgia; por isso de ti foi escrito: A noite será luz para o meu dia”[4].

 Aqui se entra também numa questão importante: o túmulo vazio. É fato verdadeiro que ele não é prova da ressurreição, entretanto, o sepulcro se estivesse com o cadáver era a prova de que não houve ressurreição, pois o corpo estava lá sujeito à corrupção, e a corrupção era o que tornava definitiva a morte, o corpo começava a não existir mais, porém se o morto não mais estava lá é porque ele não conheceu a corrupção, deveras, Ele Ressuscitou.

 O Filho Jesus, divinamente sabia que seu Pai, não o abandonaria no sono da morte, nele se realizam as palavras do salmista que manifestam também o cumprimento da profecia escriturística: “pois não abandonarás minha vida no Sheol, nem deixarás que teu fiel (Filho), veja a cova”(Sl16,10); seguindo a tradição dos setenta (LXX), este texto pode ser traduzido também, desta forma: “não abandonarás a minha vida no sepulcro, nem deixarás que o teu santo veja a corrupção”.

É fato verdadeiro na tradição veterotestamentária do judaísmo que um corpo adentrava no estado de corrupção depois do terceiro dia, Jesus foi ressuscitado antes de começar a corrupção corporal,

a morte de Jesus leva ao túmulo, mas não à decomposição. Ele é a morte da morte, morte que está na palavra de Deus, e, por conseguinte, na relação com a vida, que retira da morte o poder de quando da destruição do corpo, desfazer o homem da terra”[5].  



Ele dormiu sim em sua carne, mas vigou na divindade que não podia em si mesma morrer, “eu durmo, mas meu coração vigia” (Ct 5,2), é o mistério da única pessoa de Cristo, homem e Deus, porque Ele era Deus e homem, ele podia morrer e viver, dormir e vigiar, sofrer a morte como homem e dar a vida como Deus. Cristo, “rompeu singularmente todo o universo do nosso viver e morrer, a fim de abrir-nos, certamente com esta ruptura, um novo caminho para a vida eterna”[6]. Em outras palavras, o Filho de Deus em sua paixão cruenta, se submeteu por nós ao sono da morte, porém, este seu sono se transformou na vigília de toda a humanidade, uma vez que, a morte de Cristo afastou de nós o sono da morte eterna, abrindo-nos o caminho para a vida eterna.

 Von Balthasar nos explica da seguinte maneira:



que um morto retorne à vida é um fato não de todo singular, no âmbito bíblico; não é isto, porém, o que deve ser expresso na ressurreição de Jesus, é sim a sua passagem para uma forma de existência que deixou a morte para trás, de uma vez por todas”.[7]





Neste despertar da morte pela ressurreição, o Filho é elevado à condição de Vivente, ele já não morre mais, a morte não tem poder algum sobre Ele, ele agora vive para Deus e para toda a eternidade, a morte foi devorada pela vida, esta ação fica expressa na entrega amorosa que ele fez de si, pois, o amor é mais forte que a morte, ou seja, foi no amor que o Filho se sujeitou ao poder da morte, e na força deste amor trinitário revelado no próprio Deus, a morte é derrotada pelo Pai que não deixou seu Filho conhecer a corrupção.

 Por isso, ele agora é o Ressuscitado, aquele que foi despertado, elevado da tumba dos mortos, e, por conseguinte, o Pai devolve ao seu Filho até então morto, a condição que ele deixou disponível em suas mãos para a redenção de toda a humanidade, o fato inaudito é que Ele continua sendo homem, mas agora possui uma humanidade gloriosa, portanto, a natureza humana adentrou na natureza de Deus.

Em outras palavras, Jesus possui uma humanidade gloriosa, aqui se deve evitar o pensamento de que Jesus agora como Ressuscitado apareça como um homem que foi divinizado, não, Jesus não é um homem que foi divinizado, até porque Jesus é uma pessoa divina, ele é Deus de Deus, ao assumir a condição humana ele não deixou de forma nenhuma de ser quem ele era, é o contrário, Ele assumiu aquilo que não era, ou seja, a condição humana, se fez homem para que o homem se fizesse Deus, e recuperasse a sua condição existencial na qual foi criado.

Portanto, se conclui que “a Ressurreição de Jesus foi a evasão para um gênero de vida totalmente novo.... uma vida que inaugurou uma nova dimensão de ser homem”[8]. Na Ressurreição de Jesus qual Novo Adão, se dá a verdadeira passagem do homem velho para o homem novo, se por Adão todos foram encerrados na morte, agora pelo Novo Adão todos recebem a Vida, aquela imagem do homem que fora dilacerada em duas partes pelo pecado, e que necessitava ser restaurada e conduzida ao estado inicial, é agora recriada pelo dom do Filho Ressuscitado.

Jesus como O Ressuscitado, é o arquétipo e ao mesmo tempo a síntese de toda a humanidade, se até a páscoa ele foi solidário com a humanidade, porque se fez pecado, agora na Ressurreição ele ingressa na condição definitiva e que é a verdadeira condição do homem. Com a sua Ressurreição ele revela o destino de toda a humanidade, ou seja, a comunhão com Deus, “Jesus não entra na vida definitiva a título individual, e sim como primogênito”[9]. Então, todos os homens foram predestinados a serem conforme a imagem do Filho Unigênito de Deus, sendo ele o primogênito dentre uma multidão de irmãos, é nele que todos são recriados.

Veremos a seguir que a Ressurreição do Filho Jesus é um acontecimento trinitário, é a Trindade toda que se manifesta nesta condição totalmente nova que o Filho se encontra, vale a pena recordar o que estamos afirmando desde o início de nossa reflexão: “é na páscoa que a Trindade se revela”, assim como ela agiu na criação, também na nova criação ela manifesta todo o seu poder.



[1] CANTALAMESSA, Raniero. Contemplando a Trindade. p. 93.
[2] FERLAY, Philippe. Jesus Nossa Páscoa, teologia do mistério pascal. p. 102.
[3] Missal Romano. Trecho do Precônio Pascal na noite santa da vigília de páscoa. p. 275.
[4] ibid. p. 276.
[5] RATZINGER, Joseph. O Caminho pascal. p. 106.
[6] BALTHASAR, Hans Urs Von. Mysterium Paschale in Mysterium Salutis III/6. p. 131
[7] ibid. p. 131.
[8] RATZINGER, Joseph ( BENTO XVI). Jesus de Nazaré – da entrada em Jerusalém até a Ressurreição. p. 199.
[9] FERLAY, Philippe. Jesus Nossa Páscoa, teologia do mistério pascal. p. 114.