quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A MISSA CELEBRAÇÃO DO MEMORIAL DA PÁSCOA DE CRISTO

CAROS AMIGOS, AQUI POSTO O MATERIAL DE NOSSO SEGUNDO ENCONTRO DA ESCOLA DA FÉ QUE ESTAMOS REALIZANDO AQUI EM NOSSA PARÓQUIA, ESPERO QUE VOS AJUDE NO CONHECIMENTO DOS DIVINOS MISTÉRIOS


 A MISSA



“O que acontece sobre o altar, é principalmente a memória da paixão do Senhor, representada na fração da espécie do pão, na distribuição aos fiéis, na entrega do cálice na qual o sangue do Senhor é derramado...A Missa é uma celebração dedicada a memória de Cristo, não se trata simplesmente da lembrança de sua pessoa, mas da memória de sua obra” (Livro Missarum Sollemnia p. 192-193)




A celebração da santa Missa adentrou no mundo na noite da traição de Judas na Véspera de sua Paixão, na Última Ceia. Mas antes de nos debruçarmos sobre este mistério, é Importante observarmos que a última ceia se deu no quadro de uma ceia pascal judaica (Ex 12), na qual o povo santo de Israel celebrava o memorial de sua Libertação do cativeiro do Egito, da terra do pecado e da idolatria, e sua caminhada rumo à terra prometida, nesta ceia pascal judaica se comia os pães ázimos (pão sem fermento) e, sobretudo, o Cordeiro Pascal que era sacrificado, este rito deveria ser perpetuado de geração em geração, deveras como instituição perpétua, sinal da aliança de Deus com o seu Povo.  De modo que é recordando este precioso evento que Israel renasce sempre de novo e encontra a sua identidade de Povo de Deus. Vale lembrar que a páscoa dos judeus engloba três realidades: passado (libertação do Egito), presente (renovação ritual do evento antigo: toma-se consciência de seu o Povo de Deus) e futuro (futura libertação de todo o povo no fim último da vida).

Foi justamente neste quadro da Páscoa antiga que o Senhor Jesus sabendo que iria morrer e não mais poderia comer a Páscoa, convidou os seus discípulos para a Última ceia, nela doou algo novo, isto é, deu-se a si mesmo como verdadeiro Cordeiro Pascal, instituindo a Nova Páscoa, ou melhor, a sua páscoa. Veja como se deu esta oferta de si: ele (Jesus) tomou o Pão deu graças e o partiu e o deu aos seus discípulos dizendo: Tomai todos e comei, isto é o meu Corpo que será entregue por vós; depois tomou o cálice e o deu aos seus discípulos dizendo: Tomai todos e bebei, este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós.

Nesta hora, o Senhor Jesus instituiu o sacramento admirável da Eucaristia, Mistério excelso da fé, a sombra deu lugar a realidade, como cantamos num antigo cântico eucarístico: o Antigo Testamento deu ao Novo o seu Lugar, pois bem, Cristo antes de padecer o sofrimento da cruz, ele ofertou como testamento de amor e salvação, o seu sacrifício, impregnou a sua paixão redentora nas espécies do pão e do vinho, como memorial de sua paixão sanguinolenta, ou seja, de seu sacrifício na ara da cruz. Ele antecipou este sacrifício, estabelecendo um novo Rito, de modo que será na Cruz que o veremos como o Verdadeiro e Definitivo Cordeiro Pascal Imolado, é pelo seu sacrifício na Cruz, ofertando o seu corpo como vítima imaculada, derramando todo o seu sangue pela salvação do mundo, que Ele liberta toda a humanidade do cativeiro do pecado; Ele é o cordeiro que dá vida ao mundo, que não teve “nenhum dos ossos quebrados” ( Ex 12,46); também este novo rito é de instituição perpétua, pois assim o Senhor ordenou: “fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). Seu sacrifício “foi oferecido uma vez por todas” (Hb 9,26), não precisando ser repetido anualmente como o sacrifício antigo. No sacrifício de Cristo na cruz está estabelecida a nova e eterna aliança, de modo que sempre que os filhos de Deus, o Novo Povo de Deus se reunir para celebrar este divino mistério, é o momento onde ele renasce sempre de novo.

O Senhor Jesus encerrou a instituição da eucaristia com o mandamento: “Fazei isto em memória de mim”, Ele confiou aos seus a ordem de tornar presente em todos os séculos este mesmo rito, de modo que, este sacramento, será para todos os tempos o sacrifício da Igreja, Esposa de Cristo. Mas podemos nos perguntar: Como é que os apóstolos, e como é que a Igreja primitiva realizou este mandato? Vamos ver de forma breve como este mandato foi cumprido fielmente e de forma ininterrupta pela Tradição da Igreja desde a era apostólica:

-    vejamos, que   no início a Eucaristia era celebrada pelas casas e chamava-se «fração do pão». Primeiro fazia-se uma refeição em comum chamada «ágape». Rezava-se e lia-se um texto do AT; o presidente fazia uma homilia. No final, o presidente da celebração pronunciava a bênção de ação de graças (eucaristia) sobre o pão e o vinho em memorial do que o Senhor fez. Tal modo de celebrar desapareceu cedo devido aos abusos: uns iam só para comer, enquanto outros passavam fome (cf. 1Cor 11,17-34). 

-é bom destacar que não era uma refeição qualquer, mas uma refeição na qual a assembleia se reunia em oração, para proclamar a morte de Cristo e fazer memória, não como mera recordação, mas como tornar presente o evento.

-   Ainda no final da época apostólica já aparecia claramente na celebração eucarística as duas parte essenciais: a Liturgia da Palavra, na qual se recordava as maravilhas de Deus, cumpridas na missão e na Páscoa de Cristo e a Liturgia Eucarística, na qual tudo quanto foi anunciado tornava-se presente ao tornar-se presente a Páscoa do Senhor no pão e no vinho. Lc 24,13-35 é um exemplo disso: esta passagem é uma catequese sobre a Eucaristia: os discípulos tristes no caminho escutam a Palavra do Senhor que lhes explica as Escrituras a seu respeito; depois partem o pão. E na Palavra e no Pão partido reconhecem o Senhor

-   Devido a esse gesto de «dar graças» a celebração vai cada vez mais sendo chamada Eucaristia. No fim da era apostólica, com o início das perseguições e o aumento do número de cristãos, celebrava-se a Eucaristia na madrugada do Domingo (dies Domini = dia do Senhor). Na noite do sábado para o domingo os cristãos se reuniam. Cantava-se, liam-se textos da Escritura (AT) e as memórias dos Apóstolos (NT). Entre uma leitura e outra, aquele que presidia explicava os textos sagrados, relacionando tudo com Cristo. Quando o sol começava a despontar, aquele que presidia pronunciava a eucaristia (=a ação de graças) sobre o pão e o vinho. Depois todos comungavam e os diáconos levavam as espécies consagradas aos que não puderam participar. As pessoas traziam também donativos para os pobres; estes donativos eram recebidos pelo que presidia e entregue aos diáconos, que os distribuíam.

Em Roma, a Eucaristia era celebrada nas catacumbas, pois os pagãos tinham medo de entrar aí pela noite. Em geral celebrava-se sobre o túmulo de um mártir, pois este, derramando seu sangue, uniu-se ao sacrifício de Cristo, tornando-se uma eucaristia viva. Daí vem o costume de colocar sempre dentro do altar relíquias de mártires ou de outros santos. 

-  Com a liberdade da Igreja, a Eucaristia começou a ser celebrada nos templos e passou a ter uma maior solenidade: o presidente agora usava paramentos e as palavras a serem pronunciadas passaram a ser fixadas no missal. Na Idade Média começou-se a chamar a Eucaristia de Missa. Esta palavra vem do latim missio, que significa missão; ou seja, celebrar a Eucaristia é cumprir a missão que o Senhor nos confiou até que ele volte e, ao mesmo tempo, anunciá-lo ao mundo. 

Portanto, de forma conclusiva podemos definir a missa como celebração do Mistério Pascal de Cristo, a partir de duas características: Sacrifício e banquete, ela é a Continuação daquilo que Cristo fez na última ceia e perpetuação, no sentido de tornar presente o mesmíssimo sacrifício de Cristo na Cruz, agora de forma incruenta, deste modo deveremos entender que a Missa é Ceia e Cruz ao mesmo tempo.




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Viver para Adorar


Meu amado Deus, Santíssimo Sacramento de amor, aproximo-me de vós desejoso de respirar a cada instante de minha pobre vida, os ares da adoração, em cada novo dia, em cada amanhecer, em todo tempo e lugar.Que o respiro de minha alma seja o desejo de te amar e de em cada missa e em cada adoração, reconhecer que sem ti eu não sou nada, que sem ti nada posso, reconhecer o meu nada e o teu Tudo, Reconhecer que antes  mesmo de me prostrar aos teus pés, Vós vos prostrastes num aniquilamento de amor, seja em tua Divina Encarnação, seja ao lavares os pés de teus discípulos, e,ainda mais profundamente  vieste ao nosso interior, fazer de nosso coração a tua morada, o Teu Santuário, nosso coração, templo Vivo do Espírito, no simples pedaço de páo consagrado, cheio, pleno do Espírito, nos dás a tua vida, enches nosso ser, preenches nosso vazio de amor, felicidade, paz. Por isso, eu vos suplique ó Deus de Amor, infundi sempre de novo em meu coração e no coração de cada Filho e Filha teu, a força do Teu Santo Espírito, pois só nele, saberemos vos adorar e amar como convém, só Nele nós poderemos proclamar que tu és Santo, só nele nós poderemos mergulhar no mistério de tua grandeza, da tua misericórdia, só nele nós poderemos renovar o nosso amor por ti, saber quem tu és e quem nós somos, pois é Ele o amor que foi derramado em nossos corações, e é nele que poderemos vos amar e adorar de verdade, pois o Pai procura adoradores em Espírito e em Verdade.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

MESTRE ONDE MORAS?

Santo dia queridos amigos e amigas, sei que durante estes dias de carnaval muitos de vocês irão particicpar dos retiros espirituais, queria somente iluminar os vossos corações com uma simples explicação do que é um retiro espiritual, para que assim juntos saibamos que não vamos passar um feiradão longe de casa, mas vamos mergulhar na procura de onde o Senhor Jesus mora.

  O QUE É UM RETIRO?

“Mestre onde moras?” (Jo 1,25-39)

Diante deste período de carnaval, no qual muitos cristãos estarão em Retiro espiritual, como um meio de sair da balbúrdia destes dias de festa e folia, dias de muito barulho, para viver um encontro pessoal com Cristo, urge fazermos uma pergunta que nos leva a tomar consciência do que iremos fazer em nossos retiros espirituais, assim poderíamos nos perguntar: o que viemos fazer aqui? Por que estamos aqui? Viemos somente passar um final de semana diferente?

- Frente a estas perguntas pertinentes, uma coisa é certa, de uma forma ou de outra, iremos aos retiros espirituais porque fomos chamados por Deus, a sempre e de novo podermos experimentar seu amor, sua misericórdia, a sua paz, se fomos chamados por alguém, ou se viemos por nós mesmos, há nisto tudo uma ação misteriosa do próprio Deus. Pois bem, participar de um retiro espiritual nos faz sair do corre, corre da vida, buscando um lugar mais reservado  para conhecermos e saciarmos um pouco mais o desejo de Deus que há em nós. Foi para isso que nos retiramos, é isto que deveremos fazer num retiro.

- se é verdade que iremos fazer algum retiro espiritual, é verdade também que nós muitas vezes não sabemos o que é um retiro, e aqui urge fazer esta pergunta: O que é um RETIRO? Gosto de definir um retiro, como uma saída, um êxodo, onde somos chamados a deixar o exílio que nos aprisiona, a sair das ocupações cotidianas para um lugar solitário, de solidão, de silêncio, para sairmos para o deserto, como lugar onde podemos experimentar, Deus, a partir não do que já sabemos dele, mas permitindo que Ele mesmo nos revele quem Ele é.

- que lugar deserto é este? –vejam amados irmãos, o deserto no qual estamos falando, parece difícil em alguns retiros por causa dos momentos de louvor, animação, mas mesmo nestes retiros, busquem ter momentos de profundo silêncio, de paz interior para que assim possais adentrar na Morada de Deus.

- para entrar na morada de Deus, temos uma chave preciosa que abre as portas, janelas deste habitat, esta chave é o Silêncio, a partir dele podemos abrir as portas da casa de Deus. Mas nós não vamos a esta casa, somente por ir, ou não deve ser uma mera curiosidade, não! Em nossa constituição antropológica, como acenei no início, existe um desejo de conhecer Deus, de vê-lo, contemplá-lo face a face, como um amigo que fala ao amigo; deste modo podemos viver aquela experiência dos discípulos de João batista que aprenderam sempre de novo a esperar o Messias, desejar o esperado das nações, de poder encontra-lo, e quando lhes é apontado, eles o seguem na estrada de suas vidas, querendo conhece-lo, ansiando estar com Ele, se nós queremos saber onde o Senhor mora, Ele mesmo nos convida: “Vinde e Vede “. Mas onde é que Deus mora? Não sabemos, mas o salmista nos diz: “Deus está perto de ti, ele habita em teu coração”. Isto indica que os discípulos queriam estar com Jesus, numa relação familiar, até então externa, só que diante destas palavras do salmista, percebemos que a morada de Deus é em nosso interior, e é o próprio Cristo que nos revela isso, ao longo da caminhada dos discípulos com Ele, o mesmo dirá: “permanecei em mim, e eu em vós”, ou seja, o Senhor nos chama a um convívio interior, mais profundo, íntimo, nós nele e ele em nós.

- No retiro Espiritual nós sairemos do exterior para adentrarmos espiritualmente em nosso interior, é lá que encontraremos Deus; assim nos dizia Sto. Agostinho: “Buscava fora, aquele que estava dentro de mim”.

- sairemos  de nossas casas exteriores, de nossas ocupações, da correria do dia-a-dia, de nossas agitações, deixarmos muitas coisas, quem sabe até literalmente, Pai, Mãe e irmãos, parentes e amigos, para fazermos um peregrinação até a nossa morada interior, e nos encontramos com o Nosso Senhor e Salvador, com nosso Deus, o Divino Amigo que anseia nos contar as confidências de seu coração.

- Estes dias de retiro que nós passaremos nos diversos locais nos farão viver um itinerário, percorreremos um caminho espiritual com Jesus até a sua casa, agora na medida que vamos nos entregando à ação de Deus podemos FICARMOS COM ELE, ou ser só curiosos, passantes, turistas, tudo depende de nós, o Senhor quer que fiquemos com Ele, agora ele nos deixa livres para aceitarmos ou não.

- Este FICAR COM ELE indica entrar num contato íntimo de amizade, dialogar com ele e escutá-lo,para ouvir a sua voz suave, para contemplá-lo e assim conhecê-lo, saber quem de fato ele é e quem nós somos, pois esta é dinâmica de Deus, ao passo que experimentarmos e descobrirmos QUEM É JESUS, aí descobriremos QUEM NÓS SOMOS. Assim nos diz S. Paulo: “Vossa vida está escondida em Deus com Cristo” (Cl 3,3).

- os pregadores dos retiros serão apenas ser setas, precursores, outros Joãos Batistas a preparar o caminho de vossas vidas e histórias e indicar  QUEM É JESUS. mas seremos nós a viver a experiência com Ele

- que no final de cada dia de Retiro espiritual, ao declinar a noite quando o silêncio tocar os quatro cantos da terra e envolver todo o nosso ser, que pela fé possamos contemplar Jesus,  O CORDEIRO DE DEUS” (Jo 1,36). O Nosso Senhor que nos cura, nos renova, nos liberta, e que venhamos a proclamar: “Encontrei o Cristo” (Jo 1, 41).


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A DIVINA LITURGIA

A Liturgia é o lugar da manifestação de Deus, nos gestos, nas palavras, nos ritos é Jesus que se revela, Deus vem a nós, e revela quem Ele é, e quem nós somos, de modo que na Liturgia nós pudemos experimentar sempre de novo a vida de Deus, seu amor, sua santidade, sua onipotência.

Na Liturgia a Igreja entende que ela não vive para si mesma, mas para a glória de Deus, nada é dela em absoluto, Tudo é de Deus, nela a Igreja é uma simples serva, é uma mendiga rica, tem tudo, mas nada daquilo que tem é seu. Nós recebemos de Deus o meio eficaz de adentramos em união com Ele, é Ele que nos mostra como deve ser adorado. Poderemos entender tudo isto tomando como  exemplo o texto Escriturístico do Livro do êxodo que nos mostra o povo santo de Israel, na sua saída do exílio, no êxodo rumo à terra prometida, conduzido por Moisés. Vejamos, que a finalidade era chegar à terra de Canaã, a Terra prometida por Deus, mas será que este caminho seria vazio de sentido? Não! E é justamente neste ponto que se esconde a finalidade verdadeira do êxodo, o povo deveria caminhar até Canaã para lá prestar Culto a Deus, a terra seria oferecida por Deus como o lugar onde o povo deveria prestar culto a ele.

Pois bem, entremos na história: Deus envia Moisés e Aarão ao faraó para fazer um pedido: “Deixa partir meu povo! Para que me sirva no deserto” (Ex 7,16), a este pedido o faraó a princípio quer que eles prestem culto no Egito (Ex 8,21), depois em virtude dos flagelos, alarga esta sua oferta e os deixa ir ao deserto, só que somente os homens, as mulheres, crianças e o gado deveriam ficar. Só que Moisés não pode restringir o modo do culto a partir de questões políticas, ele deve apenas cumprir o que Deus lhe ordena, por isso que na terceira oferta do faraó, de ficar somente o gado, Moisés replica: “enquanto lá não chegarmos, não sabemos quais serão as vítimas que ofereceremos ao Senhor” (Ex 10,26). O único objetivo disto tudo é a adoração a Deus a partir da medida que o próprio Deus estabeleceu. Quando o povo chega ao Sinai, encontra Deus e como deverá adorá-lo ( Deus conclui a aliança com Moisés e proclama a sua vontade nas dez palavras santas. Cf. Ex 19, 16.20; 20,1-17; 24). Com isso Israel aprende a adorar Deus da maneira como lhe foi exigida pelo próprio Deus.

Disto nós tiramos algumas conclusões para nosso tema. Primeiro, o homem é um ser religioso, vive a procura de Deus, só que ele sozinho não consegue por si mesmo criar um culto fácil e verdadeiro, porque sem Deus se revelar, este culto será sempre insignificante, sem Deus se revelar o homem constrói altares a um “Deus desconhecido” (At 17,23), ele cria meios de alcançar a Deus, mas são todos fúteis e inúteis. Portanto, “a verdadeira Liturgia no dizer do cardeal Ratzinger: pressupõe que Deus se revele e exponha o modo de ser adorado, se assim não for ela será pura ‘criatividade’, fruto de nossa fantasia”. E consequentemente, uma liturgia que se torna obra humana, ela abandona Deus, e o disfarça em baixo de um véu de sacralidade, e por fim, ela não passa de uma frustração, de um vazio, na verdade o que acontece é uma autocelebração de si mesmo.

Basta pensarmos, de novo no Povo de Israel, recordemos o Bezerro de ouro, a princípio a intenção era de adorar a Deus, mas o que aconteceu, o povo não aguentou o esconder-se de Deus, sinal de seu mistério inacessível, fizeram uma imagem de Deus, puxaram-no de cima para baixo, e a consequência foi um culto em torno de si mesmo, representado pela dança ao redor do bezerro, Deus que se adequou ao modo humano, e a consequência foi um culto idolátrico, onde é o homem que produz o seu Deus e a forma de se entrar em contato com ele.

Por isso que na liturgia, não se há espaço para criatividade, para isso existe um rito, que não é obra humana, mas divina, são gestos de Deus, cheios do Espírito de Deus, ele comunicam e nos unem a Deus, por isso que exprimem  a maneira correta do homem glorificar a Deus. Quando, se inventa de explicar o mistério da liturgia, de fazer criatividades de nosso pensamento na liturgia, inventando e pondo acréscimos que não existem com o intuito de querer “aproximar mais o povo do mistério, para que o povo compreenda mais e melhor, acontece de afastar mais ainda este mesmo povo, do mistério tremendo e fascinante de Deus, o qual podemos experimentar com reverência e piedade na liturgia”.

Portanto, A Liturgia cristã deve nos levar a deixar-se guiar por Deus, é a liturgia do caminho, caminhamos para a Jerusalém Celeste para a terra que Deus nos prometeu, como nossa verdadeira pátria, e nesta caminhada nós deveremos estar com os olhos fixos no coração transpassado daquele que nos revelou Deus, Jesus Cristo, neste coração aberto encontramos as portas do céu abertas, qual Novo Templo no qual podemos adentrar e glorificar a Deus, celebrar a Liturgia é celebrar os mistérios de Cristo que nos unem a Deus.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Adoro te Devote - Meditações Eucarísticas

Caros amigos santa paz para vós, continuamos nossas meditações eucarísticas, a partir do hino Adoro te Devote, como temos feito em algumas quintas-feiras, hoje nos lançaremos com o coração e fé ardente sobre a 6ª estrofe, a penúltima que reza assim:


Pie pellicanae, Iesu Domine
Me imundum munda tuo sanguine
Cuiús uma stilla salvum facere
Totum mundum quita b omni scelere


Senhor Jesus, terno pelicano,
Lava-me a mim, imundo com teu sangue
Do qual uma só gota já pode
Salvar o mundo de todos os pecados


Nossa meditação de hoje, faz-nos mergulhar no valor precioso e salvífico do Sangue de Cristo numa unidade íntima com o sacrossanto Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, digo unidade, porque, embora, compreendamos que a oferta sacrifical de Jesus na véspera de sua paixão, foi dar aos seus: o Seu corpo e o seu sangue como alimentos, e isto não resta dúvidas. Muitos, não dão a devida importância ao sangue de Cristo, pensam que na Eucaristia ele é um apêndice do Corpo; muitos até se perguntam o por que dos sacerdotes não darem a comunhão sob as duas espécies em todas as missas, e por não haver um culto eucarístico do sangue fora da missa. Vejam, só para recordarmos o que já falamos em outras reflexões, esta unidade existente entre Corpo e Sangue na Eucaristia, chama-se concomitância, em palavras simples, se você recebe a comunhão sob uma única espécie, saiba que com ela está a outra, com o corpo está o sangue, e com o sangue está o corpo. Feita esta consideração inicial, vemos a importância que deve ser dada também ao sangue precioso de Cristo, pois a oferta de Jesus foi total e não separada, com regateios, basta recordarmos o discurso na sinagoga de cafarnaum: “Se não comerdes da carne do Filho do Homem, e não beberdes do seu sangue, não tereis a vida em vós, pois, a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida” (Jo 6,53. 55). Os padres da Igreja já testemunhavam a importância do Sangue de Cristo, Sto. Inácio de Antioquia dizia: “Quero como bebida o sangue que é amor incorruptível”.

Pois, bem, nesta estrofe Jesus é simbolizado pelo pelicano, uma ave que como diz a lenda, ela abria com o seu bico, uma ferida em seu próprio corpo, e dali alimentava os seus filhotes com sua própria carne, e também com seu sangue, interessante que quando os seus filhotes estavam mortos, ela ao se bicar, gotejada sangue, e este sangue despertava da morte os seus filhotes. Reparem, quanta piedade daquela ave, que amor pelos seus filhos, verdadeiramente dava de sua vida para que eles tivessem vida, por isso que lhe foi dado o adjetivo de “Pio”, o Pio Pelicano. São joão Crisóstomo já nos dizia: “Do mesmo modo que a mulher alimenta aquele que ela gerou com seu próprio leite, assim também Cristo alimenta continuamente com o seu sangue aquele que ele próprio gerou”.  Jesus é este Pio Pelicano que ofertou na ultima ceia o seu preciosíssimo sangue  para a salvação do mundo, e que no getsêmani, derramou espessas gotas ao sofrer o pavor do pecado, aquelas gotas já caídas sobre o solo do jardim do getsêmani, prenunciavam que em outro jardim, o do Calvário, o Rebento de Davi, a Videira iria derramar o vinho novo da salvação, o seu próprio sangue para redimir toda a humanidade.
Do sangue de Jesus basta uma só gota como nos diz o hino, para nos salvar e nos redimir de nossos pecados, por que? Porque este sangue não é derramado por uma pessoa qualquer, mas pelo Filho Unigênito de Deus, o Sangue ofertado na última ceia, derramado em sacrifício no calvário, é o Sangue do Deus feito homem, ele se fez vítima de expiação pelos nossos pecados.  O sangue na sagrada Escritura é sinal de vida, lembremo-nos dos ritos de aspersão de sangue quando se sacrificava alguma vítima, o sangue ao tocar a pessoa, lhe comunicava a purificação, a vida, e a participação na vida divina. Em Jesus esse sinal veterotestamentário encontra seu sentido pleno, o sangue de Jesus nos lava por inteiro, num sacrifício que não precisa ser repetido constantemente, não no seu único sacrifício já nos banhou por inteiro; depois, agora o povo santo de Deus pode beber do sangue, a vida de Deus permanece em nós. Jesus é o Verdadeiro e Definitivo Cordeiro de Deus que tira o pecado do Mundo, no ato de abrir com a lança o lado de Jesus, podemos nos reportar ao costume judaico de na hora de sacrificar o cordeiro se deveria esvaziá-lo de todo o seu sangue, Jesus na ara da cruz derramou todo o seu sangue para tirar os nossos pecados. A mãe Igreja canta esta verdade na noite santa da vigília pascal: “para apagar o antigo documento na cruz todo o seu sangue derramou”.

Pelo seu sangue derramado, Jesus nos deu a vida em plenitude, é ele o sacerdote que se faz vítima, e num único sacrifício vencendo a morte deu-nos a vida, em obediência ao seu Deus e Pai, entregou-se inteiramente à morte para expiar os nossos pecados, uma expiação e amor, e é este amor que explica o porque daquele inocente abraçar o sofrimento até a morte, se entregou derramando seu sangue porque Ama o Pai, e ama a humanidade, não há maior e profunda prova de amor do que aquele que dá a vida pelos seus. Este amor é também da parte de Deus Pai, diz-nos Sto. Tomás de Aquino: “O Pai entregou o Filho à morte enquanto lhe inspirou a vontade de sofrer por nós, infundindo-lhe o amor”.

Que mistério de amor profundo, é este do sacrifício de Cristo, ao que não era digno de amor, Deus amou sem reservas, a paixão de Cristo como nos diz Frei Raniero Cantalamessa: “é uma paixão de amor que levou Jesus à cruz”, ou ainda como assevera o grande teólogo Von Balthasar: “é o amor louco de Deus, expresso na imutável, mutabilidade do amor”. Deus se fez nada para que o homem seja tudo nele.

Neste sacrifício de Cristo o qual o tornamos presente em cada Missa somos regenerados sempre de novo, podemos dar graças a Deus por nos ter oferecido tão grande dádiva. São Bernardo nos mostra isso de forma muito simples e profunda: “Deus Pai não exigiu o sangue do Filho, apenas aceitou que lhe fosse oferecido; não tinha sede daquele sangue, mas de nossa salvação, que residia naquele sangue”. Então em cada Eucaristia ao adorarmos e comungarmos o sangue de Cristo, as chagas de nosso coração, nossos sofrimentos, dores, angústias, são curadas. Chegamos diante de Jesus imundos, sujos e ao bebermos da fonte da Vida, somos lavados, banhados, purificados pelo sangue do Cordeiro que lava as vestes sujas pelo pecado e nos torna brancos como a neve. Somos inebriados, embriagados espiritualmente por este sangue.



Termino de forma orante com um trecho de um antigo hino eucarístico entoado por P. Claudel:


Pio Pelicano, que diante de nossos olhos sofres a tua crucificação,
Servido pelos anjos em pranto que guardam cálice e patena,
Abre-nos a porta de teu flanco como o centurião,
Para que tenhamos acesso a ti e possamos unir
A nossa natureza à tua Hipóstase.



     

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A Divina liturgia - 1

Caros amigos, começamos ontem em nossa paróquia, alguns encontros para meditarmos a sagrada doutrina da fé cristã, uma vez que estamos no ano da fé que terá início em Outrubro próximo, por isso, para uma melhor vivência da fé cristã, estaremos fazendo algumas exposições teológicas, por consegujnte, decidi tambem postar a vós este nosso estudo, inicado com o Tema da Divina Liturgia.



LITURGIA[1]



Liturgia feita pela palavra e opinião do homem, baseia-se em areia, e ainda que o homem a guarneça com grandes obras artísticas, ela sempre permanecerá fútil (cardeal Joseph Ratzinger – Intr. Espírito da liturgia)





Uma pergunta inicial deverá ser feita: Por que refletirmos sobre a liturgia? Qual a sua importância para nós? A resposta é simples, porque a Liturgia é a vida da Igreja, diz-nos o Catecismo: “A Liturgia é o ápice para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde emana a sua força”[2]. Nela nós celebramos os mistérios de nossa salvação e redenção, tendo o seu ápice no Mistério da Páscoa de Cristo, “que morrendo destruiu a morte e ressurgindo deu-nos a vida”[3], o Senhor nos deu a vida em plenitude. De modo que quando a Igreja celebra a Eucaristia que é memorial do Sacrifício de Cristo, ela recebe esta  vida plena que brota do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo; nos são dadas as bênçãos espirituais vindas de Deus, é a vida que renova o mundo, que redime o pecado e transfigura a nossa vida, que faz-nos experimentar a eternidade. Com isto nós já compreendemos que a Liturgia não é algo humano, mas, é Obra da Santíssima Trindade. Por isso que a Liturgia é importante para a vida da Igreja. Sem ela não haveria Igreja, existiria uma ONG, uma associação que iria se reunir tendo como função: recordar a Pessoa de Jesus de Nazaré. Na liturgia, a Palavra de Deus é atual, Cristo está vivo em nosso meio, podemos participar de sua páscoa e comungar as delícias do céu. 

Muitos acham bobagem, se preocupar com a Liturgia, com cerimônia, com rito, com ornamentações, seria uma fuga da realidade, seria um preocupar-se com coisas externas. Pensar assim é por em jogo a essência do Cristianismo, a alma da religião cristã, da fé cristã. Aqui não se trata de gostar ou não gostar da Liturgia. Trata-se de penetrar no Mistério de nossa Salvação, pois Conhecer a Liturgia é conhecer a Cristo e tudo aquilo que ele fez e ensinou.

Por isso, para bem entendermos o que é a Liturgia, vamos defini-la: primeiro no seu caráter histórico e etimológico ela “é o serviço da parte do povo em favor do povo”. Na Tradição cristã ela quer significar que “o Povo de Deus toma parte na Obra de Deus”. Vamos entender melhor isto:

A Liturgia é o exercício do serviço sacerdotal de Jesus Cristo, no qual mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo particular a cada sinal, realizada a santificação do homem, e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, cabeça e membros[4]

Destrinchemos esta definição: primeiro, a Liturgia não é ação humana, não é produto nosso, mas é ação de Cristo, e se é ação de Cristo, ela se dá no Espírito, e é para a glória de Deus Pai, porque Cristo vive para fazer a vontade do Pai, para glorifica-lo, e como a glória de Deus é o homem vivo, assim sendo, a liturgia é para a santificação da humanidade, e ela se dá por meio de sinais sensíveis: Pão, vinho, água, fogo. Portanto, a Liturgia é ação de Cristo, Cabeça e de todo o Corpo. Pelo Batismo o Senhor derramou sobre nós o seu Espírito, “fez de nós um reino de sacerdotes”; e, por conseguinte, fomos inseridos no seu Corpo, somos um com Cristo, Ele é a cabeça, nós somos os membros, Cristo e a Igreja formam o “Cristo Total” que unidos se oferecem em sacrifício ao Pai na força do Espírito Eterno.

Por isso deveremos compreender que a Liturgia é a Vida da Igreja, é a alma da Religião Cristã é uma ação sagrada por excelência, nada a pode igualar.



[1] Para este curso fiz uso das seguintes bibliografias: Joseph Ratzinger. Introdução ao Espírito da Liturgia. Catecismo da Igreja católica. Salvatore Marsili. Sinais do Mistério de Cristo. Documentos do Concílio vaticano II. J.A Jungmann. Missarum Sollemnia.
[2] CIC 1074.
[3] Missal romano. prefácio pascal.
[4] SC 7



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Encontro de Jesus com o Surdo - A Palavra que transforma a vida

Naquele tempo, 31Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. 32Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. 33Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. 34Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!” 35Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade.
36Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém. Mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam. 37Muito impressionados, diziam: “Ele tem feito bem todas as coisas: Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”.

Quero com nesta manhã meditar convosco, este encontro fascinante de Jesus com uma pessoa, vale sempre de novo lembrar que Jesus se interessa pela pessoa humana na sua individualidade, ele quer comunicar a ela o dom do Reino de Deus, quer convidá-la a um encontro pessoa com aquele que é Senhor e Deus, um encontro que desconcerta e muda por inteiro a vida.
O Evangelho de hoje nos apresenta o encontro de Jesus com um surdo/mudo, alguém que não escuta e que tem dificuldade de se expressar, certamente vive também a experiência de estar isolado da comunhão e da vida humana, vive no anonimato; e isto não é tão difícil de entendermos, basta pensarmos o quanto é difícil viver sem nos comunicarmos com outras pessoas, e mais viver sem poder ouvir aquilo que de bom pode ser absorvido pelos nossos ouvidos.
Jesus se encontra na região dos pagãos, a pouco tinha encontrado um pagã, a mulher siro-fenícia, e curou a sua filha, se compadeceu da insistente fé desta mulher que não era filha de Israel, mas que acreditou mais do que muitos filhos de Israel. Agora Jesus se encontra com mais um pagão que é trazido por outros, assim nos diz o texto:  32Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. E daqui nós tiramos já algumas conclusões para a nossa vida espiritual, primeiro este surdo não tem nome, é alguém, por isso, somos chamados a nos colocarmos na pessoa dele, ele é cada um de nós, que muitas vezes estamos surdos pelo barulho do pecado tal grito ensurdecedor nos ouvidos de nosso coração, ficamos como que impedidos de caminhar para Deus, de escutarmos a voz de Deus, por isso necessitamos que outros nos conduzam ao encontro do Mestre e Senhor de nossas vidas. E assim foi feito com aquele surdo, outros o conduziram até Jesus pedindo que Ele o impusesse as mãos, e esta ação é reveladora, ela indica que Jesus toca, sente, se aproxima da dor e sofrimento o enfermo, Jesus se compadece de nós, sinal de sua humanidade. Jesus é assim, meus irmãos, Ele sofre conosco, ele sente a nossa dor, o nosso sofrimento, ele anseia tocar na nossa enfermidade. Entretanto, a imposição das mãos indica também, o poder dispensador dos bens divinos, a força e o poder de Deus, pois Jesus é pleno desta força que é o Espírito Santo.
Jesus ao ter o surdo diante de si, e certamente cercado por uma multidão, porque o próprio texto nos mostra isso, Ele se afasta do alvoroço com aquele surdo, o chama certamente para um lugar à parte, o tira fora da multidão, 33Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão, e num encontro pessoal mesmo, pessoa com pessoa, ele tem o surdo diante de si, é o encontro da miséria com a misericórdia, do surdo com Aquele que é a Palavra. Este afastar-se indica aqui também duas realidades, a primeira é que muitas vezes vivemos no alvoroço da vida, na correria de um mundo marcado por demais pelo ativismo, pelo barulho nem sempre agradável, mas, sobretudo, violento, devastador, ruídos do mal que adentram em nossos corações por meio de canções que denigrem a pessoa humana, pessoas que abrem suas bocas para falar e conjurar o nome santo de Deus, para amaldiçoar outros; de modo que infelizmente ficamos impedidos de escutar a voz de Deus, ficamos surdos. Certamente aquele surdo não era só fisicamente, mas também espiritualmente, pois sedo pagão, era levado pela voz de deuses falsos que o levavam para o caminho da morte. Todavia, a segunda  idéia deste afastar-se é que Jesus não está preocupado com multidão, muitos ali estavam como meros expectadores, viam em Jesus um milagreiro ou um curador, o seguia não porque encontraram nele o Deus Vivo e verdadeiro, mas viam nele um homem fazedor de milagres.

Jesus tocou os ouvidos daquele surdo, cuspiu, e tocou com a saliva a língua dele, depois olha para o céu, num gesto orante de intimidade com o seu Deus e Pai, e diz: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!”. Primeiro, nestes gestos de tocar os ouvidos e a língua do cego, vemos como que Aquele que é a Palavra eterna do Pai, transmitindo à possibilidade de falar àquele surdo/mudo. A Palavra de Deus é viva e eficaz e por isso é capaz de curar. Agora o surdo pode escutar a voz de Deus, do seu verdadeiro Senhor e Salvador, e consequentemente pode falar e anunciar a santa e bendita palavra de Deus. Naquele toque nos ouvidos, era como que Jesus estivesse a dizer aquilo que o salmista reza: Ouve, meu povo, porque eu sou o teu Deus!
Em teu meio não exista um deus estranho nem adores a um deus desconhecido! Porque eu sou o teu Deus e teu Senhor. (Sl 80).
E, Jesus pronuncia o Efatá, o abrir-se para uma vida nova, para um tempo novo, No Olhar de Jesus aos céus está expressa a graça de Deus que é invocada e que se derrama sobre aquele que outrora não podia falar e nem escutar. Eis amados irmãos que encontro transformador para a vida daquele pobre surdo/mudo, agora ele pode falar, agora ele pode proclamar as maravilhas de Deus. Nós também precisamos ser curados de nossa surdez e mudez espirituais, precisamos ter o coração aberto pela palavra de Deus, escutar a voz de Deus que nos convida a viver a alegria do Reino. O Senhor Jesus, também hoje, nos toca, nos tira do meio da multidão avassaladora de um mundo barulhento, e nos chama para a intimidade, onde nós poderemos escutar somente a voz dele, de nosso amado num encontro que nos transforma por inteiro pela força do Espírito, e nos dá a oportunidade de abandonarmos os deuses falsos e a adorarmos o Deus Vivo e verdadeiro.
Em Jesus de fato se cumpre a profecia messiânica de Isaías que nos diz: “Então se abrirão os olhos dos cegos, e os ouvidos dos surdos se desobstruirão... e a língua do mudo cantará canções alegres” (Is 35,5-6). Jesus é o Messias, servo, Senhor e Salvador, ele se compadece de nós e nos dá a vida nova, a sua Vida por meio de sua palavra que é cheia do Espírito. Que assim seja!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Uma Igreja sem Eucaristia é morta, pobres dos salões de ponta de esquina!

Relendo o precioso livro do cardeal Ratzinger (Bento XVI) intitulado: INTRODUÇÃO AO ESPÍRITO DA LITURGIA, não me canso de descobrir verdades que numa primeira leitura não percebi, a cada dia fico admirado e louvo a Deus por ter escolhido este santo homem, tão certo para o nosso tempo, num mundo onde o relativismo tem sido tão excessivo, onde os cristãos se deixam levar por verdades, Deus nos mostra por meio do Santo padre o Papa Bento XVI o caminho da verdade plena, e justamente na Liturgia nós descobrimos este caminho aberto para à pátria da Verdade, onde podemos ter a certeza de fé que depositamos nossa confiança no Deus que é vivo e verdadeiro e que estamos vivendo na Verdadeira e ùnica Igreja de Cristo; e isto é tão verdade que na releitura deste livro, vi esta expressão:

"Uma Igreja sem presença eucarística é, de certo modo, morta, ainda que convide a oração. mas uma igreja onde esteja acesa a luz eterna em frente do sacrário será sempre viva, será sempre mais do que pedra: nela, o Senhor está sempre à minha espera, chama-me, quer fazer-me eucarístico a mim próprio".

reparem que verdade nos é dita e contida nesta afirmação, felizes somos nós por sermos católicos, Bendita és, ó santa Igreja católica, dais aos teus filhos e filhas o tesouro do céu, és tu a dispensadora dos bens eternos, só tu podes nos dar pelas mãos dos sacerdotes teus filhos, o Alimento de salvação, o pão vivo descido do céu, em teus átrios, Deus habita, podemos sempre nos encontrar com nosso amado Deus a nos esperar, para diante dele dobrarmos nossos joelhos e adorá-lo e derramar diante dele nosso coração. és a Igreja viva do Deus vivo, a Igreja Vive da Eucaristia, e viverá eternamente.

Pobres são aquelas igrejolas e casas comerciais de ponta de esquina, meros salões, construções de pedras, até bonitinhas, bem arquitetadas (rsrsrsr), mas que são vazias de tudo, inclusive de Deus, muitos destes irmãozinhos frequentadores destes salões, destas seitas, falam que nós católicos adoramos um Deus morto na cruz, para que ter um crucificado, tolice, besteira? Em parte os danadinhos dizem bem, quando falam que nós adoramos um Deus morto que morreu na cruz, e de fato nós adoramos e adoraremos, pois para que Ele nos desse a vida plena, foi preciso que morresse na cruz, que transformasse a árvore de maldição em árvore da vida, precisou ser cravado no madeiro para nos dar a vida plena com sua ressurreição. ó que mistério inefável! tremendo! fascinante! mas a beleza não pára por aí. vejamos, antes de se entregar na cruz, ele numa  ceia pascal entregou, impregnou a sua paixão no pão e no vinho, instituindo o admirável sacramento da Eucaristia, e ordenou que este memorial fosse perpetuado pelos seus discípulos chefiados por Pedro, até o fim dos tempos; e nós católicos chefiados por Pedro (Papa), que é auxiliado pelos bispos e pelos sacerdotes, temos a graça de a cada dia podermos reviver com fé este mesmíssimo sacrifício,  temos a oportunidade de olhar para aquele que está transpassado por amor a nós, podermos experimentar a graça da salvação e de nossa redenção, podermos receber a vida de Deus, a vida do ressuscitado, Deus morreu na cruz em seu Filho Jesus Cristo, mas, Ressuscitou e está vivo em nosso meio, e é na Eucaristia que podemos experimentar a presença viva de Deus, Ele Vive em nosso meio,a morte foi vencida pela morte de Cristo, Deus morreu para que o homem encontrasse a vida, Deus vive! vinde e vede! olhai no sacrário aquela simples luzinha, a iluminar muitos corações, a iluminar a Igreja, ela é sinal de que Deus está presente, aquele que é a Luz e a Vida do mundo. em cada dia, em todo tempo e lugar, nos altares das Igrejas do mundo inteiro podemos nos alimentar de seu Corpo e do seu sangue oferecidos a nós, não é um teatrinho, não é uma ceinha qualquer, não é um pão e um vinho num copinho, uma refeição farterna; é o Memorial da páscoa do cordeiro como que imolado, é o Pão da Vida eterna e o cálice da Salvação. é a Vida de Deus que nos é concedida pela sua paixão, morte e ressurreição, por isso vale a pena ser católico, bem aventurados somos nós.  E mais, bem sabemos que eles criticam ferrenhamente a Virgem Maria, óh que pobreza, que pouca fé, tolos! felizes somos nós, porque por meio dela Deus assumiu a nossa humanidade, para nos dar vida nova, por meio dela veio a nós o Verdadeiro alimento, descido do céu, o Maná imperecível, o Pão da vida eterna. Creio que não somos nós católicos que adoramos um Deus morto, não somos nós católicos que adoramos um pedaço de pão, são eles que fazem de homens mortais verdadeiros deuses mortos: Edir macedo, Valdomiro, RR soares, e tantos e tantos. são eles que comem pãozinho e vinhozinho no copinho de servir cafezinhoe dizem estar realizando a ceia do Senhor.
"Igrejas" mortas são estas sem a presença eucarística, certo dia passei na frente de uma delas que inclusive está bem situada como uma casa de negócios, ao lado do Shopping de nossa capital alagoana, parei e fiquei olhando e a imaginar: meu Deus não há sacrário, não há cruz, não há imagens, que salãozão vazio, nem podemos nos persignar com o sinal da cruz, nem dobrar os nossos joelhos diante do sacrário, não podemos rezar e pedir a intercessão de Mraia e dos Santos diante de uma imagem, nada. Que pobreza! que fé vazia! que deus morto!.
Obrigado meu Deus por ser católico, obrigado e eterna gratidão Senhor a ti, dá-me viver de tal modo a manter-me no vosso santo serviço, a ser menos indigno e poder  a cada dia me aproximar humilde e piedosamente do teu santo altar para te receber, teu corpo e sangue, alma e divindade na Eucaristia.
                                                  O espaço vazio, do deus morto!

O Espaço Vivo, Deus habita, Deus está vivo em nosso meio

ADORO TE DEVOTE - Meditações Eucarísticas

Retomando depois de algum tempo as nossas reflexões sobre o precioso hino eucarístico: ADORO TE DEVOTE, iremos nos deter hoje na quinta estrofe do nosso hino, que nos mostra a dimensão da Eucaristia, enquanto presença da Encarnação e memorial da Páscoa.

O memoriale mortis Dómini
Panis vivus vitam praestans hómini
Praesta meae menti de te vivere,
Et te illi semper Dulce sapere.

Ó memorial da morte do Senhor
Pão vivo que dás vida ao homem
Faz meu pensamento viva sempre de ti
E que sempre lhe seja doce este saber.


SACRIFÍCIO E BANQUETE
Lembremo-nos que o hino começa com uma afirmação teológica sobre a Eucaristia, e em seguida vem uma resposta de fé. A afirmação teológica desta quinta estrofe nos remete para a visão eucarística de S. Paulo e de João. Vejam que para Paulo em sua teologia eucarística, ele apresenta a idéia de Sacrifício, enquanto memorial da paixão e morte do Senhor, “todas as vezes que comemos este pão e bebemos este sangue, anunciamos a morte do Senhor” (1Cor 11,26) ou ainda, “Cristo, nossa páscoa, foi imolado” (1Cor 5,7). A visão eucarística de João acentua o aspecto do banquete e, por conseguinte, a comunhão: “A minha carne é verdadeiro alimento e o meu sangue verdadeira bebida” (Jo 6,55). Como afirmamos no início, uma vertente explica a Eucaristia, a partir do mistério pascal; a outra explica a partir da Encarnação. E estas duas realidades estão intimamente unidas, e não podem ser de forma alguma separadas, como muitas teologias de nosso tempo e de tempos pretéritos quiseram fazer, ver só uma dimensão, sobretudo, a dimensão de banquete, como se a Eucaristia fosse uma refeição qualquer, somente para estar em evidência, à comunhão na partilha sem divisão de classes, um encontro fraterno ao redor da mesa, isto é um pensar débil, medíocre, mesquinho; a Eucaristia traz em si estas duas dimensões: sacrifício e banquete,  porque, se a Carne de Cristo dá vida ao mundo quando ele se entregou na ara cruenta da cruz, é porque o “Verbo se fez carne” (Jo 1,14).
Esta união não pode ser rompida, até porque na missa nós as encontramos de forma clara, ou melhor, elas apresentam a síntese da Missa, pois pela consagração das sagradas espécies o Senhor vai se oferecendo num sacrifício vivo, e deste modo o sacrifício se realiza, e depois, na comunhão quando nos é oferecido o alimento vivo descido do céu, qual pão da vida eterna, podemos ver explícita o aspecto do banquete, da comunhão.
Na Encarnação, o Verbo Eterno, pleno de vida, desce do céu, e assumiu a nossa carne, de modo que Ele é o Novo e definitivo Maná, que alimenta e sacia a nossa fome, não como alimento material, perecível, mas como alimento eterno, pois dando-se a nós, qual Pão Vivo e verdadeiro descido do céu, dá-nos a vida imortal, por isso que o dom que a Eucaristia nos concede é a Vida Eterna, e já ante gozamos esta vida, porque pelo alimento eucarístico nos unimos à Deus, no mistério da inabitação divina, nos tornamos concorpóreos a Cristo, “Como eu Vivo pelo Pai, assim quem se alimenta de mim viverá por mim” (Jo 6,58) nos tornamos cristóforos, ou seja, portadores de Cristo, “Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele” (Jo 6,56). É um admirável mistério poder nos unir a Cristo, o Corpo de Deus nos é dado para sermos santos, para vivermos longe do pecado, para exalarmos o bom odor da santidade em muitas vidas e muitos corações.
Visto, a Encarnação, com a dimensão de banquete, passemos para a visão de sacrifício, contemplando a Eucaristia como memorial pascal, onde o real cordeiro foi imolado. Na eucaristia, nos é concedida a graça de vivermos aquele santo e salvífico evento da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na missa nós celebramos com fé o mesmíssimo sacrifício de Cristo na cruz, sua entrega dolorosa pela salvação do mundo, só que agora nós celebramos não de forma cruenta, mas incruenta. O drama da paixão se torna visível a nós, o Senhor se entrega, como cordeiro imolado, é trespassado pela lança, é pregado no madeiro e se consome de amor qual sacrifício de suave odor por meio do seu Espírito que é o fogo que consome este sacrifício, por isso que antes da consagração o sacerdote roga ao Pai que envia sobre as espécies do pão e do vinho o seu Espírito, para que ele pneumatifique, espiritue, os dons. Como na ressurreição o Espírito veio sobre o Filho e o vivificou, agora ele vem sobre o pão e o vinho, e os transubstancia no Corpo e Sangue de Cristo, dando-nos a Vida imortal, portanto, o Espírito não somente nos é dado pela Eucaristia, mas, sobretudo, é Ele quem nos dá a Eucaristia. Há, pois, uma unidade, somos incorporados no corpo do Ressuscitado, e assim nos oferecemos em sacrifício num único corpo: cabeça e membros.  
Eis, amados irmãos e irmãs as maravilhas que nos são concedidas na Eucaristia, podemos verdadeiramente saborear as doçuras do céu, nos unimos profundamente a Cristo devendo viver dele, ou seja, viver em vista dele, e é a isto que nos remete a resposta orante de nossa quinta estrofe do Adoro te devote, podemos entendê-la, a partir, do que Jesus disse no grande discurso do Pão da Vida: “aquele que comer de mim, viverá por mim” (Jo 6,57). Entendamos, o que se está dizendo aqui é que ao comungarmos o Corpo e Sangue de Jesus, nos tornarmos um com Ele, e a consequência vital para nós é que deveremos viver de Jesus e para Jesus; dizia-nos Sto. Agostinho: “Não serás tu que me assimilarás a ti, mas eu é que te assimilarei a mim”, somos chamados é seu Um com Cristo num só Espírito. É uma união que existe entre nós e Cristo, nossa alma é desposada pelo divino esposo, há como que um matrimônio espiritual, recebemos a carne incorruptível do Senhor, a sua divindade, a sua imortalidade, mas também o Senhor recebe a nossa carne, nossa humanidade. Santo Hilário diz: “Jesus assume a carne daquele que assume a sua”. Ele nos diz: ‘Tomai, isto é o meu corpo’, mas também podemos dizer a Ele: ‘Tomai, isto é o meu corpo’. Nos tornamos pequenos eucaristizados com o Grande Eucaristizado.
É um verdadeiro intercâmbio de amor entre o humano e o divino, deveremos, pois, viver segundo o que nos alimentamos, ter em nós os mesmos sentimentos de Cristo, tudo é dele e por ele; nesta maravilhosa troca, onde o humano e o divino se unem, vemos que na missa, damos a Cristo nossos esforços, dores, sofrimentos, decepções, angústias, lágrimas, nosso cansaço, derrotas, rasgamos nossos corações com nossas misérias, e vejam o que acontece, nós, mesmo que de forma indevida, sem merecermos, recebemos gratuitamente dele a sua justiça, a sua santidade, a sua história, nossa santificação e redenção. Somos recompensados por estes bens infinitos, e, Deus só espera de nós uma comovida gratidão, de forma sincera e piedosa; e isto implica em viver somente para Ele, em abraçar a Cruz, doar-se aos irmãos, lutar contra o pecado, viver um contínuo arrependimento de nossos pecados.
Se assim vivermos podemos como disse a cima, experimentaremos a doçura do céu, de forma mística e real, e é isso que pedimos a Deus no último verso de nosso canto Eucarístico: “et illi semper Dulce sapere”. Em verdade, na Eucaristia podemos provar a suavidade do amor, da alegria, da bondade, da mansidão, da ternura de Deus; podemos experimentar o doce céu, esta doçura vem a nós, em nossa alma, em nosso coração para suavizar as nossas dores e sofreres, mas também para podermos sentir já aqui na terra o rico banquete que Deus nos reservou no céu, esta doçura são os bens que o Senhor nos cumula e nos enche, nós que somos como mendigos eternamente sentados, ajoelhados diante da mesa do Rei Servidor que doa a sua vida para que tenhamos vida e vida em abundância. Quero terminar esta reflexão rezando a antífona do Magnificat das vésperas da Solenidade de Corpus Christi: “Como é suave ó Senhor, o vosso Espírito, para demostrar aos teus filhos a tua doçura, com um pão suavíssimo descido do céu, enches de bens os famintos, enquanto despedes de mãos vazias os ricos soberbos” .

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A ARTE DO PERDÃO

Ao olharmos para a realidade na qual estamos inseridos, vemos o quanto nossa sociedade está sendo marcada por um individualismo exacerbado, os resquícios do iluminismo e do racionalismo da idade moderna, que trouxeram o culto da centralidade do homem, onde o Homem é a medida de tudo e de todos, num individualismo extremo, estão presentes em nossos dias, falo isto, pelo simples fato de que as pessoas tem perdido o sentido pleno e verdadeiro de viver a comunhão, o respeito, o cuidado pelo próximo; o que ressoa no coração de muitos é que o outro se tornou um inferno para mim, que eu cresça e que ele desapareça, o egoísmo, a auto-afrimação de si como desvalorização do outro tem deixado maracs violentas, feridas incicatrizáveis na vida de muitos seres humanos. Frente a este Individualismo Humano doentio, vemos que esta nuvem sombria tem perpassado o coração de muitos filhos e filhas da Igreja, e neste aspecto uma das coisas que me chamam a atenção, é como hoje se há uma impossibilidade de perdoar, parace que o perdão tão querido e experimentado por Deus virou uma utopia, se é verdade que muitas vezes somos traídos, machucados, desvalorizados, e acabamos por nos sentir um lixo, e por isso se torna tão difícil o ato de perdoar alguém que não nos amou, é mais verdade ainda que o perdão ele não vêm pronto, preparado da noite para o dia, nunca esqueci de uma expressão que li num livro que falava sobre a falta de perdão, dizia assim: "perdoar é uma arte que sempre e de novo temos que aprender”; temos que aprender de verdade o ato de perdoar a todos, aos que nos amam e que nos machucam em determinado tempo da vida, e sobretudo, aqueles que nos odeiam. Repito, é uma atitude difícil, dói, machuca, fere, nos irrita, mas deveremos entender que para aprendermos a arte de perdoar, Deus que é bom para conosco, nos mostra um modelo perfeito para aprendermos a perdoar, e este modelo é o próprio Deus.
Certamente, em nossa pobre inteligência podemos nos questionar: Deus pode tudo, ele tem poder, ele é amor sem fim, eu sou um misero ser humano como poderei perdoar alguém como Deus faz? Vejamos, quando Deus se coloca como modelo não é para dificultar as coisas ou para dizer que é uma utopia viver e praticar o perdão, não! O próprio Deus ao ser entregue à morte num sofirmento desmedido, inocente, sem culpa nenhuma foi condenado a tão grande algoz, mas o admirável é que Jesus soube perdoar a tudo e a todos do início ao fim de sua dramática paixão sanguinolenta, Deus foi capaz de se rebaixar, de se humilhar para conceder o perdão, e vejam que coisa admirável, Ele também morreu para salvar os seus algozes: “Pai perdoa-lhes eles não sabem o que fazem”. Daí podemos ver, se Deus que não tinha culpa alguma foi capaz de perdoar os que o odiavam, imaginemos nós, que no itinerário de nossa vida se somos machucados, machucamos também, que somos feridos, ferimos também, somos meramente limitados e sempre sujeitos à queda, nós devermos sempre de novo aprender a perdoar, e perdoar é morrer para si, para o orgulho, para a vaidade, para o individualismo, para nosso rancor, raiva, e dar ao outro e a si mesmo a oportunidade de recomeçar uma vida nova marcada pelo amor feliz, e corações e de vidas que já não são mais inferno um para o outro, mas são um paraíso, onde a felicidade pertence a  ambos. Nunca esqueci de uma expressão do precioso livro Imitaçãod e Cristo: “lembra-te que deves suportar com amor e docilidade aqueles que te incomodam, porque outros também têm que suportar muitos de teus deslizes e fraquezas”. Aqui não se deve entender o “suportar”, como tapar os olhos fingindo que nãos e está vendo nada, suportar aqui tem o sentido de se ajudar mutuamente, de perceber que sou tão fraco quanto o próximo que me cerca, e assim, se vai eidificando o edifício da vida numa harmonia de vidas que se unem para viver o amor de Deus.
Muitas pessoas em nosso mundo, não querem aprender a arte de perdoar, e, por isso acham utópico o desejo pedido por nosso Amado Deus, pelo simples fato de que não aprenderem a perdoarem a si mesmas, ainda não aprenderam a aceitar suas fraquezas e buscar uma ajuda, um novo começo, de deixar para trás a vida velha e começar uma vida nova em Cristo, como eu posso perdoar a alguém se eu não me perdôo, se erramos na vida, tenhamos a coragem de não nos acomodarmos, mas de auxiliados pela graça de Deus dar um passo a frente na vida, de caminhar seguindo as pegadas do próprio Deus; essa é a chave que abre nosso coração para o perdão e consequentemente para uma vida feliz com Deus.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

As vindas de Deus na nossa vida

A cada dia Deus revela a sua ação em nossa historia, Ele vai passando na estrada de nossa vida, escrevendo uma história de amor conosco; fico a me perguntar: Deus caminha sempre conosco, está ao nosso lado, frente as alegrias e dificuldades da vida, só que corremos o grande risco de não percebermos estas vindas constantes de Deus no nosso cotidiano, pelo simples fato de que sempre temos a tentação de esperar um Deus grandioso, milagreiro, curador, um astro. E Deus não é assim, ou para se expressar melhor, Deus não se revela nas grandes coisas, e não basta irmos tão longe para entendermos de forma simples este mistério da vida divina, se formos ver, como Deus se encarnou, onde se nasceu em sua humanidade, o que ele fez durante toda a sua vida, e como ele terminou os seus dias na carne, logo compreendemos que Deus se fez simples, pobre, humilde, unicamente para nos enriquecer da vida feliz e bem-aventurada, para nos enriquecer com a sua divindade. Ontem, num encontro com crismandos de toda a paróquia, enquanto meditava com eles o ENCONTRO DE JESUS COM O CEGO BARTIMEU, enfocando que "O Senhor os chamava, e que eles deveriam levantarem-se e pôr-se a caminho", dizia que aquele cego era cada um de nós, que em muitas ocasiões de nossa vida temos uma cegueira dentro de nós, todavia, muitas vezes diferentemente daquele cego, não conseguimos ver as vindas constantes de Deus em nosso itinerário existencial. É interessante que o cego não via, mas alguém lhe disse que quem estava a passar naquela multidão era Jesus, o Deus Salvador, e o pobre cego não quis deixar com que aquele momento passasse despercebido em sua vida, e logo, clama o nome que Salva.
E olhando para aqueles jovens dizia-lhes: nós, eu e vocês precisamos abrir mais os nossos olhos interiores, para com humildade percebermos Jesus que passa de forma simples, nas coisas comezinhas de nossa vida, devemos aprender a ver Deus próximo de nós, se Ele muitas vezes parece se calar é porque Ele está ainda mais perto de nós, mas o sofrimento, enfraquece nosso interior e não conseguimos enxergar  a sua presença em nosso meio.
Peçamos a Deus a graça da cura de nossa cegueira interior, a graça de uma fé mais firme, de uma esperança renovada, abramos as portas de nossa história para que Deus em seu Filho Jesus arme a cada dia a sua tenda na tenda de nosso coração, que em nossa vida Ele tenha espaço, que permitamos ao Senhor que Ele seja o nosso verdadeiro Senhor, e nós sua propriedade exclusiva, território santo no qual Deus faz sua morada.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A LITURGIA É O CULTO DO CÉU ABERTO

É sempre bom retomarmos algumas reflexões sobre a importância que a Liturgia possui na nossa vida de cristãos, é dela que haurimos os bens celestes que nos são concedidos pelo sacrifício do Filho que por nós se entrega ao Pai na força do Espírito Santo. A liturgia no dizer do papa Bento XVI: “é o culto do céu aberto”. Por meio dela nos podemos adentrar no santuário celestial, os nossos corações e todo o nosso ser são elevados ao coração aberto do Filho trespassado na cruz, qual véu do santuário que está rasgado, e pelo qual todos nós podemos entrar. Na liturgia nós podemos viver o antegozo da Jerusalém do Céu, onde estaremos todos juntos diante do trono do cordeiro como que imolado, unido aos anjos e santos que dia e noite sem cessar glorificam e louva o santo nome de Deus.
 Que riqueza a nossa mãe Igreja concede como dom precioso a nós seus filhos! Que dádiva Deus nos oferece! Ele entra em nosso tempo, em nossa história para nos conduzir até Ele, o humano toca o divino, num admirável intercâmbio, entre Deus e o Homem, entre o céu e a terra; na santa liturgia podemos ver, tocar, sentir e experimentar Deus perto de nós, tomamos parte nas coisas divinas, as recebemos como dom de Deus.
Todavia, é de estremecer o coração quando me deparo, com liturgias onde se inventa muitas coisas, onde se mexe em muitas partes da missa, modificando todo um rito que não é de forma alguma humano, mas que nos foi concedido por Deus, como um meio eficaz de podermos nos unir de maneira íntima ao nosso Deus. É de partir o coração quando vemos em alguns lugares na liturgia, o padre, querendo aparecer mais do que Cristo, que fica inventando as suas modinhas para levantar a “galera”, digo galera, porque o espaço sagrado infelizmente fica reduzido a um mero auditório, ou a um espaço de show, onde  é o padre quem traça como deve ser o perfil da celebração.
 Cristo deixa de ser o centro da Divina Liturgia para ser o sacerdote. Muitos podem até perguntar; mas o padre não age na pessoa de Cristo? Ele não é o próprio Cristo? Sim! Porém ele é dispensador dos mistérios de Cristo, ele deve ser o mediador entre Deus e os homens, deve trazer Deus aos homens e os homens a Deus. Ele não pode de forma nenhuma querer aparecer e Cristo desaparecer, basta lembrar a missão de João Batista, viveu toda a sua vida em função de outro, ou seja, de Cristo, a ponto de dizer: “que Ele cresça, e que eu diminua”. Assim deve ser o padre na sua vida, e na liturgia que está unida intimamente á sua vida sacerdotal. O sacerdote só é importante porque ele vive em função do totalmente Outro, Cristo Jesus, Sumo e Eterno sacerdote.
Infelizmente temos perdido na liturgia, por causa deste protagonismo do sacerdote, a verdadeira direção da oração litúrgica, todos estão voltados para o Sacerdote num eterno trocadilho de olhares, eu olho para o Padre e o padre olha para mim, num círculo fechado em si, onde muitos terão a triste sorte de dizer: nesta troca de olhares vemos a imagem de Deus refletida no homem. Entretanto, ver Deus no homem, não é tão fácil assim, Deus não é um personagem, ou uma fantasia. Para ver Deus no homem, não é um toque mágico, temos um meio eficaz, a Cruz, nela podemos ver o Deus tão forte e tão fraco, vemos a verdadeira imagem do Homem e a verdadeira imagem de Deus, Ele é Amor ao extremo, o Filho do Homem está transpassado na cruz e é justamente na Eucaristia qual memorial vivo desta único e eterno sacrifício que podemos ver qual a verdadeira imagem de Deus e do Homem. A Eucaristia nos ensina e nos mostra a face verdadeira num único movimento teândrico.
Aquela celebração do céu aberto, do voltar-se para Deus, fica como que diminuída, é preciso recuperarmos esta preciosidade da liturgia, voltemos nosso olhar e nosso coração para a Cruz de Cristo, para o Oriente, para o Sol nascente que nos veio visitar, a liturgia é um espaço aberto, não para fazermos o que quisermos, para nela colocarmos as nossas idéias, é um espaço aberto para adentrarmos no mistério de Deus pelo coração do Filho, e para suspirarmos pelo retorno do Senhor, olhamos para o Oriente e rogamos: vem Senhor Jesus, nós anunciamos a morte e a ressurreição de Cristo e clamamos: vem Senhor Jesus!
Por isso que o santo padre o papa Bento XVI tem nos ensinado a recuperar a centralidade da Liturgia, da importância de estarmos com os olhos fixos em Jesus trespassado, quando nos aconselha a pôr uma CRUZ no centro do altar, onde tanto o sacerdote e o povo estarão voltados para o único Centro: Cristo. Todos estariam voltados para Deus, o circulo não estaria fechado, mas aberto, o céu se abre e nós contemplamos Deus, a liturgia se abre para o alto e para frente, todos partem em caminhada para a Jerusalém celeste. Voltai-vos para o Senhor! Para o Oriente que cravado na cruz, tendo o lado direito ferido correndo o manancial da salvação, podemos ver o Pai amoroso a nos abraçar, e a nos acolher em seu sagrado coração.
Repito: o Senhor é que deve ser o CENTRO, e não o padre, não é o que o padre pensa em fazer, mas é o que Cristo quer que ele faça: “fazei isto em memória de mim”. Não podemos pensar e o papa nos adverte que a Cruz no centro atrapalha a visão do sacerdote, a isso nos diz o papa ainda quando cardeal no seu Livro Introdução ao Espírito da Liturgia: “considero as inovações mais absurdas das últimas décadas aquelas que põem  de lado a cruz, a fim de libertar a vista dos fiéis para o sacerdote. Será que a cruz incomoda a eucaristia? Será que o sacerdote é mais importante que o Senhor?” (Introdução ao Espírito da Liturgia. p.62). O Senhor Jesus é o ponto de referência, é a Ele que devemos volver nosso olhar de adoração e contemplação piedosa. A Liturgia não é oração entre o sacerdote e o povo, é oração do sacerdote ao Pai, por meio do Filho no Espírito. Ao Deus Uno e Trino seja dada a honra pelos séculos sem fim.