sábado, 27 de outubro de 2012

"FILHO DE DAVI, JESUS, TEM COMPAIXÃO DE MIM, CONCEDE-ME QUE EU VEJA!"

Queridos irmãos e irmãs, a liturgia deste 30º domingo comum, nos chama a vivermos com Jesus um encontro entre a nossa pobreza e a sua riqueza, a nossa miséria e a sua misericórdia.

A primeira leitura (Jr 31,7-9) desta liturgia é um pequenino trecho do livro das consolações de Jeremias ao povo. Vejam, o povo de Deus é um povo pobre, “nele se encontram: cegos, aleijados, mulheres grávidas” (Jr 31,8), sua história é marcada pela dor, pelo sofrimento, pela escravidão. Quanta angústia! Quanta tristeza este povo não enfrentou! A ponto de seu coração brotar o grito suplicante: “Salva Senhor o teu povo” (Jr 31,7). Este povo, o Israel de Deus, somos nós, gente fraca, humilde que na estrada da vida derrama os prantos e as suas lágrimas. Todavia, somos encorajados pelo Senhor Deus que não nos abandona, que vem em nosso auxílio, nos tira da terra de nossos sofrimentos, e nos reúne junto dele, para nos conduzir às torrentes da felicidade, pelos caminhos retos da vida. Ele olha para a nossa miséria e nos enche com sua misericórdia.

O Evangelho (Mc 10, 46-52) de uma maneira toda especial nos revela este encontro de pobreza e riqueza, de miséria e misericórdia. É o encontro de Jesus com o cego Bartimeu.  Vejam, Jesus está se dirigindo para Jerusalém, rumo à sua paixão na cruz, vem caminhando com seus discípulos e uma numerosa multidão, e eis que passando por Jericó, às portas da cidade estava um cego, não sabemos o seu nome, somente que ele é filho de Timeu (Bartimeu), estava sentado à beira do caminho, mendigando.

Atenção! aos seguintes detalhes da vida deste cego, primeiro ele é um mendigo, um pedinte, um pobre, não somente de algo material, mas sobretudo, de uma vida feliz, de amor, de uma vida nova; a isso se refere também uma outra sua condição, ele está sentado à beira do caminho, típico de alguém que está à margem da vida, rejeitado, cansado, derrotado pelas dores, angústias e sofrimentos da vida. Este cego sem nome, indigente, é a imagem de cada um de nós, cegos pelas trevas de um mundo hostil a Deus, que pelas amarguras da vida, já não temos mais forças para caminhar, estagnamos na vida, vivemos mendigando uma vida maior, e feliz. Eis que quando, o cego ouve o alvoroço da grande multidão que passa, ele pergunta o que estava acontecendo, e dizem: “É Jesus o Nazareno que passa” (Mc 10,47). Ao escutar esta resposta do povo, logo vemos uma atitude surpreendente daquele cego, ele começa a gritar: “Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim”! (Mc 10,48).

Reparem que coisa bela está por trás deste grito suplicante do cego, primeiro ele é um homem de fé, reconhece que aquele homem que passa na sua vida não é um qualquer, é o Filho de Davi, o Messias, o Ungido de Deus, o esperado das nações que viria para trazer a salvação aos homens, assim o chama de Jesus: O Deus salvador, só Ele poderia dar-lhe a vida nova. Por isso não perderia  a chance de encontrar-se com Ele. O grito do cego é um grito que parte da miséria de sua alma, de seu coração, o cego pede que ele tenha compaixão, tenha misericórdia dele. Quando a multidão ouve este grito de fé do cego, ela começa a repreendê-lo, pedindo-o que se calasse. Sim, a multidão, não crê que Jesus é Deus, é o Salvador, é aquele que vem curar as nossas feridas. É imagem do mundo pagão, e incrédulo em que vivemos que tenta calar o nosso grito de fé para com Jesus. Na verdade aquele cego vê mais do que a multidão, enquanto aquela via Jesus como um homem, o cego o vê como Deus, o Filho de Davi, o Messias.

O grito suplicante daquele cego não passou despercebido, adentraram pelos ouvidos e o coração de Jesus, de modo que Jesus para e manda chama-lo. Queridos irmãos, essa atitude de Jesus revela que ele não nos abandona, ele tem cuidado de nós, diante do alvoroço de nossa vida, do barulho de nosso mundo,  ele ouve nosso grito de clamor, cheio de dor e sofrimento, como ouviu o grito do cego. Portanto, os discípulos chamam aquele cego dizendo: “Coragem! Ele te chama. Levanta-te!” (Mc 10,49). Hoje estas palavras se tornam presentes na vida de cada um de nós,  vocês são estes cego, e o sacerdote é o discípulo que neste dia vem até você enviado por Jesus, para te conduzir até Ele, como um mediador, é esta a missão do sacerdote, que nos é revelada na segunda leitura (Hb 5,1-6): “Todo sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus” (Hb 5,1). Sim, nós recebemos de Jesus à missão de tomarmos a vida sofrida de vocês e a levarmos a Cristo. Pois bem, ao escutar o convite dos discípulos, aquele cego deixa o manto, dá um pulo e vai até Jesus (Mc 10, 50). Que atitude surpreendente de Bartimeu, primeiro ele deixa o manto, era uma capa pesada feita de couro, na qual ele se protegia, era também o instrumento de sua vida, nele estava seu sustento, a sua segurança, era o seu tesouro, era tudo o que l tinha. Entretanto, ela também é sinal da vida antiga e velha, que ele agora deixa para trás, por isso dá um pulo, e vai até Jesus. Que coisa bonita! Quem de nós já viu um cego dando um salto, aqui é a atitude de um homem que de fato tem fé, que sabe em quem depositou a sua confiança, que reconhece que aquele que o chama é o próprio Deus.

Podemos nos perguntar: qual é o nosso manto pesado, sinal de nossa ínfima segurança ou tesouro, a riqueza que temos e nela encontramos como nosso maior bem, no qual temos que deixar porque ela ainda nos impede de ir ao encontro de Jesus? Reconhece que tu és pobre, fraco, e que tua força e riqueza é Jesus, deixa o que tens e vai ao encontro dele.

Tendo-o diante de si, Jesus lhe pergunta: que queres que eu te faça?. E o cego com toda fé diz: Meu mestre que eu veja! É como se aquele cego tivesse dito: que eu encontre a luz que ilumina a minha vida, que eu possa ver o caminho que me conduz à vida verdadeira. Jesus reconhece a humildade e a fé daquele homem, por isso o diz: Vai, a tua fé te salvou! Eis que a cura aconteceu, a vida nova foi dada aquele cego mendigo, sua miséria se encontrou com a misericórdia de Deus. E vejam que coisa interessante, depois de ter sido curado, aquele homem agora, deixa o seu caminho, o seu lugar, e segue Jesus no caminho, Ele quer agora trilhar os passos de Jesus, tornar-se seu discípulo. Que caminho é esse? É o dá cruz, nele encontramos a Luz verdadeira, nele encontramos nossa maior riqueza, pois é passando pelo coração aberto de Cristo na cruz, que adentraremos no céu, dá-nos força Senhor de caminharmos iluminados pela luz que vem de tua cruz. Assim Seja!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Fé na Ressurreição dos mortos segundo o Novo Testamento


            No Novo Testamento, sobretudo, pelos evangelhos sabemos havia uma certa divisão a cerca da crença na Ressurreição dos mortos, os saduceus negavam a ressurreição; os fariseus, ao invés a defendiam (Mc 12,18; At 23,6-8). Ao lado destas posições colocava-se Jesus que, com a sua ressurreição deu sentido a toda a realidade:
“Os túmulos se abriram e muitos corpos de santos ressuscitaram. Eles saíram dos túmulos, depois da ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitos” (Mt 27,52s). É mister, observarmos que a realidade da morte e da ressurreição envolvem o Homem como um todo, por isso,  se formos partir de uma antropologia teológica bem fundamentada, vemos que o Homem encontra a sua razão de ser em Cristo, é Ele o Homem perfeito, de modo que, a salvação que o ser humano espera, não é outra senão a configuração com Cristo, ou seja, somos chamados a trazer em nós a imagem do homem celeste e espiritual. Todavia, isto só é possível ao homem, participando da ressurreição de Cristo, que uma vez ressuscitado como primícias, com seu corpo cheio do Espírito vivificador, pode doá-lo aos homens, e assim plenos do Espírito do Ressuscitado, teremos esta vida plena com Cristo.
            Então aqui já nos fica claro uma coisa: olhar a ressurreição a partir de Cristo e de modo individual. Isto já nos faz dar um salto na visão veterotestamentária que era coletiva. Cristo será a primícias do Mundo Novo, inaugurado pela sua gloriosa ressurreição. Portanto, é interessante  fazer uma distinção sobre a terminologia do Novo Testamento. Há dois modos de usar o termo “ressurreição”:

·      Em sentido neutro: como passo prévio ao juízo. Este não é o sentido teologicamente mais profundo;
·      Em sentido teologicamente positivo: como plena participação e configuração à vida de Cristo ressuscitado. Tal ressurreição é reservada somente aos bons. Este último sentido é o que realmente tem importância e faz parte essencial do kerygma; antes, é o seu próprio centro!

Por isso que a pregação de Jesus, ou para sermos mais precisos a sua presença no meio da história, já é a certeza de que o Reino não virá somente no fim de tudo, mas já agora na vida presente, então começa agora no hoje da vida para desembocar em plenitude total na Glória de Deus, no coração da Trindade.
            Em Cristo o ser humano já experimenta a vida eterna agora, basta que olhemos as palavras do próprio Jesus apresentadas pelo Quarto Evangelho: Na verdade eu vos digo: quem escuta minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não é condenado, mas passou da morte para a vida.  Na verdade eu vos digo: vem a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” (Jo 5,24s).
Estes mortos que São João fala em seu Evangelho, são os que estão no pecado e, por conseguinte, encontrarão a vida crendo em Jesus e escutando sua palavra. Entretanto, podemos entender também o caráter da ressurreição dos mortos, no final de tudo, naquilo que biblicamente conhecemos como o Último dia, diz o texto escriturístico: “Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. Porque minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim também quem comer de minha carne viverá por mim. Este é o pão descido do céu. Não é como o pão que vossos pais comeram e, ainda assim, morreram. Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6,54-58).
A ressurreição no Último Dia (também chamado Terceiro Dia) é, em certo sentido, antecipada e mudada em seu sentido, com Jesus: ele mesmo é a vida, é a ressurreição que ilumina a ressurreição final - esta última recebe de Cristo o seu sentido e normatividade! Portanto, aparece claramente em João uma perspectiva de presente ligada àquela de futuro.
Indo mais adiante na visão neotestamentária de ressurreição, a mesma perspectiva está presente também em Paulo: para ele, o Batismo é já uma verdadeira participação, um verdadeiro mergulho (= batismo) na morte e ressurreição do Senhor.
Na carta aos tessalonicenses aparece uma ideia de Ressurreição enquanto participação na parusia. Vejamos que os tessalônicos confusos pela morte de vários membros da Comunidade antes da Parusia, e crentes numa parusia iminente começam a se questionar sobre o que irá acontecer com aqueles que morrerem antes da vinda do Senhor. Portanto, Paulo explica que os vivos não precederão os mortos. Note-se o quanto é marcante a primazia da ressurreição de todos e numa perspectiva de Parusia: ressuscitar é participar da Glória do Ressuscitado quando da sua Manifestação! Observemos o texto da carta aos tessalonicenses:
“Irmãos, não queremos que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para não vos entristecerdes, como os outros homens, que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus os que nele morrerem. Eis o que vos declaramos conforme a palavra do Senhor: nós, que ficamos ainda vivos, não precederemos os mortos na vinda do Senhor.  Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os vivos, que estamos ainda na terra, seremos arrebatados juntamente com eles para as nuvens, ao encontro do Senhor nos ares. Assim estaremos sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros, com estas palavras”. (1Ts 4,13-18).
Na carta aos coríntios São Paulo nos apresenta a questão da ressurreição corporal, acompanhemos o texto:  “Ora, se pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é então que dizem alguns de vós que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos também Cristo não ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, é vã nossa pregação e vã vossa fé. Seremos também falsas testemunhas de Deus, porque contra Deus afirmamos que ele ressuscitou Cristo dos mortos, a quem não teria ressuscitado, visto que os mortos não ressuscitam. Pois, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, vã é vossa fé, e ainda estais em pecado. E até os que em Cristo morreram, pereceram. Se só temos esperança em Cristo para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas na verdade Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morrem. Com efeito, assim como por um homem veio a morte, assim também por um homem vem a ressurreição dos mortos. Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo, em seguida os que forem de Cristo por ocasião de sua vinda. Depois será o fim, quando entregar o reino a Deus Pai, após haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação. Porque é necessário que ele reine até pôr todos os inimigos debaixo de seus pés. O último inimigo reduzido a nada será a morte, pois ele pôs todas as coisas debaixo dos pés”. (1Cor 15, 12-27).
Façamos algumas observações a cerca desta concepção paulina em oposição aos coríntios: os coríntios pensam que a ressurreição já aconteceu numa dimensão apenas espiritual. Por isso, vivem no entusiasmo... Paulo, fundado na ressurreição de Cristo, insiste muito fortemente na importância do kerygma, que é a ressurreição de Jesus, à qual se une a ressurreição dos mortos.
Diante deste kerygma, põe-se a questão: como podem os coríntios dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou! Parece que o Apóstolo coloca a ressurreição de Cristo como um caso num contexto geral. Mas não é assim: ele se coloca na posição do adversário. Não se pode pensar numa ressurreição geral prévia à ressurreição de Jesus. O raciocínio dos coríntios possui dupla contradição:

1.    negando a ressurreição, negam a de Cristo: se não há ressurreição, Cristo não ressuscitou e a fé cristã é vã.
2.    se não há ressurreição, nega-se qualquer esperança para os que morreram e o cristão é o mais miserável dos homens.
A vida, portanto, não procede de um princípio antropológico, mas vem do próprio Deus. Para Paulo o que interessa é o homem inserido no mistério da salvação, mistério de Cristo, o homem chamado à plenitude de Cristo! Note-se também que Paulo não quer identificar Cristo com o Espírito Santo, mas sublinhar que Cristo, pela sua ressurreição, está plenamente “espirituado” e torna-se doador e fonte do Espírito! Como há um corpo terreno, também há um corpo celeste. O primeiro Adão vem da terra, é psíquico, possuidor de uma vida biológica e racional (dotado, portando de uma alma incorruptível, porque imaterial), o segundo Adão vem do céu, é “espirituado” (seu princípio vital é o Espírito de Deus, que reveste de vida divina seu corpo e sua alma, dotando-os da imortalidade que é característica do próprio Deus). Assim como agora levamos a imagem do homem terreno, levaremos na ressurreição a imagem do celeste, Jesus ressuscitado! Assim, à questão fenomenológica, Paulo responde teológica e cristologicamente!
Um último ponto a ser destacado é: Há ainda uma explicação que o Apóstolo apresenta à questão “como ressuscitam os mortos?”
A resposta somente pode ser uma: os mortos ressuscitam como Jesus! O problema tratado aqui é relacionado com a espera de uma Parusia eminente: como os vivos por ocasião da chegada do Senhor revestiriam um corpo de glória? Paulo afirma que ainda que todos não morram, todos serão transformados, de modo que haverá uma ruptura entre a nossa situação presente e a nossa situação futura! É a mesma idéia de 2Cor 5,1-5, onde o Apóstolo insiste na necessidade de revestir o corpo celeste. Não se trata, portanto, de libertar-se do corpo, mas de vê-lo transformado segundo Cristo! A ressurreição dos mortos é participação na vida do Cristo ressuscitado, doador do Espírito, “Senhor que dá Vida”!

sábado, 20 de outubro de 2012

PARA ENTRAR NA GLÓRIA, É PRECISO BEBER DO CÁLICE.

Caros irmãos e irmãs, esta liturgia do 29º Domingo do tempo comum, lança nossos corações para o sacrifício redentor de Cristo, pois sempre deveremos nos recordar que é ele o penhor de nossa salvação, fomos salvos pela sua morte redentora.

A primeira leitura retirada do livro do profeta Isaías (Is 53,10-11), nos apresenta o Servo de Deus, que é submetido ao sofrimento, oferecendo a sua vida em expiação pelas misérias de inúmeros homens, carregando sobre si todas as suas culpas, dores, sofrimentos e angústias, a fim de, cumprir a vontade do Senhor Deus e justificar inúmeros homens. É interessante notarmos que expiar significa assumir sobre si a culpa de outro para repará-la, numa espécie de redenção vicária, onde se paga a dívida que era de outro. Pois bem, Quem é este servo que aceitou sofrer e pagar pelo que não era seu? É Cristo! Sim amados irmãos, Jesus é este Servo, é o Filho do homem que assumiu a nossa condição, nossas dores, nossos sofrimentos, para nos salvar, e o preço deste sofrimento foi a sua morte, por isso diz-nos S. Paulo: “Pagou-nos um alto preço por meio de seu sangue” (Rm 3,25). Isto nos faz ver que Deus não nos amou de brincadeira, mas com amor eterno e profundo, ele veio para servir e dar a sua vida em resgate (Litron em grego = era o preço para salvar um escravo ou um prisioneiro) por muitos, somos nós que estávamos como presos aos nossos pecados, e o Senhor em sua morte nos libertou desta sombria escravidão.

O Evangelho (Mc 10, 35-45), nos mostra Jesus fazendo o terceiro anúncio de sua paixão, preparando seus discípulos para a Cruz. Para entendermos melhor o contexto quero voltar alguns versículos, mais precisamente os v. 32 e 33. Vejam, Jesus vai subindo com seus discípulos para Jerusalém, indo à frente deles (Mc 10,32), o Ir a frente de Jesus, revela que é Ele quem deve oferecer a sua vida em sacrifício pelos seus, e nesta caminhada para a paixão, os discípulos seguem Jesus assustados e com medo (Mc 10,3). Parecem querer fugir do caminho de sofrimento e de dor, certamente querem a glória, mas sem enfrentar a cruz, é aqui que se encontra a motivação da pergunta que os dois discípulos, Tiago e João fazem a Jesus: “Mestre... Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!”. Em palavras nossas, aqueles discípulos estavam a dizer: Senhor, concede-me entrar na glória, na vida feliz , concede-me o céu, todavia, sem sofrimento e nem dor!. Este pedido um tanto que prepotente e cheio de orgulho feito pelos dois discípulos revela a atitude de alguém que quer fugir da dor, do sofrimento, quer a felicidade, mas sem carregar a cruz. Ah queridos irmãos esta também é a nossa tentação, quantas vezes seguimos Jesus, ansiamos pela vida feliz, mas quando vemos que é preciso enfrentar as dores e angústias, quando nos é apresentado o caminho de cruz, logo o abandonamos.

Jesus ouve o pedido dos discípulos e diz: “Vós não sabeis o que pedis. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?”. Observemos queridos irmãos, o que está por trás destas palavras de Jesus. Esta resposta de Jesus revela o que é preciso para entrar na glória, para alcançar a vida feliz. Primeiro, este Batismo que Jesus fala é a sua morte, é ser imerso (batismo) no sofrimento, na humilhação, é ser esmagado na paixão e morte de cruz por nós. E o cálice que Jesus apresenta é “o cálice da Ira de Deus” (Is 51,17), ou seja, a agonia, toda dor a ser enfrentada na cruz, por conseguinte,  este cálice está cheio do “vinho do furor” (Ap 14,8) que é o nosso pecado, as nossas misérias que ele carregou sobre si. É interessante que até mesmo Jesus temeu beber este cálice, por ser tão angustiante, por isso sentiu medo, sua alma ficou aflita, a ponto de suar sangue, lembremo-nos de suas palavras no horto das oliveiras: “Pai, afasta de mim, este cálice” (Mc 14,36), entretanto, Jesus aceitou toma-lo por inteiro, não abandonou a cruz, nem fugiu do sofrimento, por isso disse: “porém não seja feito como eu quero, mas como tu queres” (Mc 14,36). À resposta dos discípulos a Jesus é positiva: Podemos! (Mc 10, 39). Só que em verdade eles nem sabiam o que estavam pedindo, não compreendiam ainda o mistério da cruz, é tão verdade que no horto das oliveiras estes mesmos discípulos no momento da agonia de Jesus, da aceitação de beber o cálice, eles estavam dormindo, “disse-lhes Jesus: estais dormindo, não fostes capazes de vigiar uma hora comigo” (Mc 14,37).

O Senhor não nos engana, amados irmãos, ele mostra aos discípulos e hoje a nós que se quisermos experimentar a glória, à vida feliz, é preciso que estejamos dispostos a abraçar o caminho da cruz, a enfrentar os sofrimentos de cada dia. Existe um lugar no céu para cada um de nós, todavia, só chegaremos lá, à direita de Deus, primeiro se levarmos a cruz cotidiana, e segundo, tudo isso será por graça, se Deus Pai nos achar dignos de si.

Nós, amados irmãos, também temos um cálice a ser tomado cotidianamente, onde nele se encontra o vinho amargo de nossas dores, sofrimentos, tristezas, decepções, preocupações, inquietações, ilusões. Quantas vezes nesta caminhada da vida queremos jogá-lo fora, abandoná-lo, quantas vezes nos entregamos aos nossos sofrimentos e acabamos por cair no fundo do abismo da depressão, chegamos até a pensar em nos suicidar, perdendo assim a alegria de viver.  Não temamos amados de Deus, creiamos que mesmo em meio a dor e ao pranto, há sempre alegrias que estão escondidas em nossas tristezas. Não enfrentemos as dores da vida sozinhos, compartilhemos com nossos irmãos de caminhada, porque a cruz se torna mais fácil de ser carregada,  se tu vives feliz não queiras estar a cima dos que sofrem, antes, põe a tua vida a serviço, pois, “quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos” (Mc 10,43).

Em meio aos sofrimentos da vida, não nos desesperemos, temos uma razão maior que nos alegra a carregar a cruz,  que nos enche de fé e de esperança, é o que nos mostra a segunda leitura (Hb 4,14-16), lembremo-nos que no céu, temos Jesus, o Sumo e eterno sacerdote que intercede ao Pai por nós, que se compadece de nossas fraquezas, e nos encoraja a suportar as dores da vida com fé firme. Em meio as dores, vem diante do altar do cordeiro imolado, aproxima teu coração do trono da graça, onde Jesus se entrega a nós por amor, dando a sua vida como alimento pleno que te dará força para prosseguires teu caminho, e no ofertório de cada missa oferece ao Senhor teus choros, lágrimas e prantos, e lembra que naquela pequena gota d’água unida ao vinho a ser consagrado está a tua vida, e quando o sacerdote elevar o cálice ao Pai, oferece a tua vida em sacrifício a Deus, ali é o cálice da tua salvação é a tua vida sofrida, unida à vida bendita de Deus, para que assim recebas dele o auxílio de sua graça para carregares a tua cruz até à glória.  Que assim seja, amém!

sábado, 13 de outubro de 2012

SER SÁBIO, É TER CRISTO COMO RIQUEZA MAIOR.

Amados irmãos e irmãs, celebrando este 28º domingo do tempo comum, a liturgia da santa mãe Igreja convida a nós seus filhos, a vivermos com verdadeira sabedoria, abraçando a grande riqueza que é Cristo.

A primeira leitura, retirada do livro da Sabedoria, nos mostra um grande elogio que Salomão fez à Sabedoria; primeiro ele a pediu a Deus em oração, e ele à concedeu. E nesta divina sabedoria ele encontrou o seu bem, o seu tesouro, a ponto de preferi-la a todas às posses de seu reino, a todo ouro e prata, e a julgá-los sem valor. Por tudo isso, ele compreendeu que nela estava, toda uma “riqueza incalculável” (Sb 7,11). Agora podemos nos perguntar: Que sabedoria é esta, que ultrapassa toda e qualquer riqueza e bem material, a ponto de se abandonar tudo e tê-la como posse? Esta sabedoria, já nos é revelada no próprio livro da sabedoria que diz: “contigo está a sabedoria, que conhece tuas obras, estava presente quando criaste o mundo” (Sb  9,9). Esta sabedoria é uma pessoa, a qual já nos dizia S. Paulo: “Cristo, é a sabedoria de Deus” (1Cor 1,24), que de maneira ímpar nos é revelada no Evangelho: Jesus, amados irmãos é esta sabedoria, que vale mais do que tudo, é ele nossa verdadeira riqueza.

Vejamos esta verdade, o Evangelho nos mostra o encontro de Jesus com um homem rico, um anônimo, que apressadamente, com muita piedade se aproxima de Jesus, se ajoelha e dirigi-lhe uma pergunta central sobre o destino de sua vida, ei-la: Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,17). Esta pergunta é também aquela que inquieta nosso coração em cada instante de nossa vida, em outras palavras ela pode ser traduzida assim: Meu Bom Deus o que eu deverei fazer para encontrar a felicidade plena, que eu tanto anseio? Que caminho seguir para ser feliz? Diz-me ó meu bom mestre!. Esta pergunta do homem rico, revela que ele vê em Jesus, não um homem qualquer, mas um homem bom, um homem de Deus que pode direcionar como um Mestre o caminho de sua vida. Jesus o responde com estas palavras:  “Por que me chamas de bom? Só Deus é o Bom!”. Primeiro que tudo, Jesus o mostra que a fonte de toda bondade, é Deus, o Pai. Todavia, Jesus porque é um com Deus, participa desta bondade, de modo que, Jesus,  de per si, o faz ver que só em Deus, está o verdadeiro bem, o bem maior, e estando com Deus se pode viver bem, e ser feliz e rico de verdade. E, mais, Jesus vai mostrar-lhe o caminho da vida feliz, por isso o pergunta: “tu conheces os mandamentos!” Por conseguinte, apresenta a segunda tábua da lei, aquela que se refere ao amor ao próximo. E sábia e piedosamente, a resposta do homem rico foi positiva, ele os praticava, porque sabia que observar a lei, era ter a garantia da vida feliz e imortal: “andareis em todo caminho que Deus vos ordenou, para que vivas, sendo felizes e prolongueis os vossos dias na terra” (Dt 5,33). Certamente o homem achou que já tinha atingido a meta para a vida feliz. Todavia, existia algo mais a ser feito.

Então, Jesus acolhe esta resposta, cheia de alegria do homem rico, e fita-lhe o olhar, o ama e o convida a uma nova etapa, a um salto maior no rumo da própria vida, e diz-lhe: “uma só coisa de falta, vai vende tudo o que tens, dá aos pobres, depois, vem e segue-me”. Que proposta desafiadora de Jesus para com aquele homem, Ele o chama, a viver o desapego do que é material, de suas posses e riquezas, dos ínfimos bens, a tomar o que lhe pertencia e a praticar a caridade. Vejam, queridos irmãos e irmãs, na verdade Jesus estava chamando-o ao desapego de si, a deixar-se, para dar-se inteiramente a Jesus, era como se Jesus tivesse dito assim: “vai, vende tudo o que és, e segue-me”, ou seja, renuncia aos teus ínfimos ideais, aos teus sonhos tolos, Tu não me chamaste de Bom, vem pois me seguir, vem provar de minha bondade, deixa eu ser o teu bem maior, para assim encontrares o verdadeiro tesouro, a verdadeira felicidade, a verdadeira vida, deixa com que eu seja a tua Riqueza verdadeira. Diante da proposta de Jesus, aquele homem, “ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico”. Certamente ele se questionou, como pode ser que Deus tenha concedido uma vida feliz, com todas as posses e riquezas e agora eu tenho que abrir mão delas! Ter que renunciar a todos os meus planos e conquistas, não é possível! É a pergunta que pode estar a envolver nossos corações, toda a nossa vida, será que vale a pena deixar minhas riquezas, bens, fortunas, meus sonhos, ideais, conquistas terrenas e considera-los como um nada, para viver o despojamento de si, seguindo o Homem de Nazaré? Vejam, se é verdade que os bens vem de Deus, é mais verdade ainda que o próprio Deus já nos advertia: “quando a vossa riqueza prosperar, a ela não se prenda o vosso coração” (Sl 62, 9).  Aquele  Homem não foi capaz de ir em busca da verdadeira riqueza, seguia os mandamentos, mas seu coração ainda não estava inclinado para a primeira tábua que lhe pedia o amor a Deus a cima de tudo, estava pois, apegado às suas riquezas. Desta maneira se a gente se apega ao que é material, encontrando neles o fim, a razão maior de nossa vida, nossa felicidade plena, logo vamos perdendo a verdadeira riqueza que não perece jamais, porque é eterna, que é o próprio Cristo.

Jesus faz-nos ver esta verdade quando olhando para seus discípulos, os mostra o perigo do apego às riquezas: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!”. Quando alguém está tão apegado aos bens e posses, é duro para ele desapegar-se e renunciá-los, pois muitos acham que já encontraram a felicidade verdadeira, que já se bastam a si mesmos, que não precisam de Deus, que dar a vida a ele é tolice, só há perdas. Por conseguinte, o Senhor nos convida hoje, a nos desapegarmos de nós mesmos, destas ínfimas riquezas, as quais pensamos que é o nosso tudo, e a pormos a nossa vida nos caminhos dele. Portanto, Quem quiser experimentar, o dom da vida feliz tem que aprender a deixar tudo, considerar tudo como um lixo, a fim de ganhar a Cristo, de segui-lo, pois quem o segue não fica de mãos vazias, mas de coração. Agora,  não é possível querer seguir a Cristo só para ganhar lucros e riquezas materiais, ou buscar a felicidade de forma fácil, como se prega por aí nos meios protestantes, na chamada teologia da prosperidade; cuidado você pode ganhar tudo o que é material, mas pode perder o tesouro imperecível que é a vida eterna com Cristo. Não tenhamos medo, pois quem vive o desapego de si, já nos diz Cristo: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna”. É  esta a nossa recompensa se o seguirmos, que palavras belas e encorajadoras de Jesus, quem se dá a Ele na renúncia de si mesmo, ganhará a vida feliz, agora não de forma fácil como muitos pregam, mas com perseguições, pois é enfrentando as dificuldades, as dores, os vales de lágrimas da vida, ou seja, o caminho de cruz que encontraremos e conquistaremos nossa maior riqueza. Deixemos, portanto, que esta palavra viva e eficaz (Hb 4, 12) que é o próprio Cristo que escutamos, seja como uma espada afiada que rasgue nosso interior, esvaziando-o de nossas pretensões ambiciosas de apego ao que é material, e nos faça ter um coração sábio, voltado para Cristo nossa riqueza maior. Assim seja!

sábado, 6 de outubro de 2012

NINGUÉM PODE SEPARAR, O QUE DEUS UNIU EM SEU AMOR.

Caros irmãos e irmãs, estamos nós reunidos como assembleia santa, celebrando o XXVII Domingo do Tempo Comum; e a sagrada Liturgia nos chama a reavivarmos a beleza divinal que envolve o Matrimônio, como dom e obra de Deus e seu caráter indissolúvel.

Vejamos, a primeira leitura nos mostra como o matrimônio faz parte dos desígnios de Deus presente na obra da criação. Deus cria o homem como obra máxima de seu amor, por isso ele é imagem  semelhança de Deus, ou seja, traz a marca do amor, pois Deus é amor, e, por conseguinte, não foi criado para a solidão, mas para a comunhão de vidas. Portanto, quando Deus o criou viu que ele estava sozinho, não tinha ninguém no qual ele pudesse amar e comunicar, partilhar a própria vida. Por isso, Deus viu que não era bom que ele estivesse sozinho, daí concede ao homem uma companheira, um auxiliar, mas veja aqui vale a pena fazer referência ao texto original e dizer que não é uma auxiliar qualquer, mas diz-nos o texto: “uma auxiliar adequada”, e isso é belo, Deus vê que o homem necessita não de um homem ou de um animal, mas de uma mulher, pois ela é a auxiliar adequada. E ser auxiliar no AT indica apoio, aquela que dá força, que irá ser o sustento do homem.

Pois bem; E Deus a concede ao homem da seguinte maneira: faz o homem cair num sono profundo; o que nos revela este sono? Revela que o mistério de Deus se dá no silêncio, o homem não pode compreender, não pode testemunhar. Depois o homem tira um das costelas do homem, esta é sinal de vida, mas também indica o estar ao lado, sinal de companheirismo, de entrega, de doação, de alguém que deve ser a força, o amparo do homem, deve caminhar ao lado dele para a vida toda. Desta costela, Deus cria a mulher, eis a companheira verdadeira do homem, eis aquela que foi preparada para ele, eis aquela que é igual a ele, tecida para uma vida de comunhão. Tendo Deus criado à mulher, ele agora vai apresenta-la ao homem, tal como aquele pai que vai conduzindo a sua filha ao esposo que se encontra aos pés do altar, e ao apresenta-la ao homem, este se enche de alegria, cheio de admiração, solta um grito cheio de felicidade: “desta vez sim, esta é osso dos meus ossos, carne de minha carne” (Gn 2,23). Aqui é a primeira vez que o homem fala na sagrada Escritura, e este seu grito admirador e cheio de alegria, é na verdade uma declaração de amor de alguém que agora encontrou a sua companheira, a parte que completa a sua vida, em nosso dizer popular: a sua cara metade. E isto é identificado  com o nome que é dado a sua companheira: “ela será chamada mulher” (Gn 2,23).

Veja, creio que o hebraico fala mais, deixa transparecer a riqueza que existe entre homem e mulher. Em hebraico homem é Ish, e Mulher é Isha; reparem que a semelhança dos nomes, revelam a proximidade, a igual dignidade, a complementariedade existente entre ambos. Como é triste em nossos dias nós vermos casais que durante o tempo de paquera, namoro noivado, vivem e andam um ao lado do outro, e depois que casam está o esposo na frente na estrada da vida, e a mulher vai andando solitária, atrás com os filhos. Toma consciência ó casais que vocês devem viver eternamente um ao lado do outro. Por conseguinte, creio que o grito alegre do homem, deveria ser a atitude constante dos esposos, de olhar um para o outro e dizer, esta sim é a mulher, este sim é o homem que Deus escolheu para mim, aquele que Deus já havia preparado e sonhado. O relato, termina com o preceito divino que aponta para a necessidade de serem uma só carne, uma só alma, um só coração. Assim outorga Deus: “o homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher,  eles serão uma só carne” (Gn 2,24). São ricas de significado estas palavras, primeiro elas revelam, o deixar a parentela, para se entregar aquela e àquele que Deus  concedeu, para com ele (a) construir uma família, e isso implica em não mais serem dois, mas um só, ou seja, um sonho, uma vontade, uma liberdade, um desejo, um só espírito, um só coração, um só destino, uma só vida. Homem e mulher são chamados a viver esta comunhão de vidas e de amor.

Todavia, queridos irmãos e irmãs em nossos dias não é fácil viver esta comunhão de vidas no amor, existem muitos e muitos males, chagas que ferem a vida matrimonial,  e o evangelho de hoje aponta para uma destas: o Divórcio. Os fariseus perguntam a Jesus se é permitido o homem divorciar-se de sua mulher (Mc 10,2) por ventura, pode o homem repudiar a sua mulher. Jesus responde a pergunta astuta deles, e  não diz nada novo, apenas os faz ver o plano de seu Deus e Pai na origem de tudo, assim ele diz: “no princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu”. 

Jesus mostra primeiro que a união deverá ser sempre entre homem e mulher, e não de outra forma, ou seja, não podemos reduzir o matrimônio a outras uniões que ferem o projeto de Deus, com isso não renegamos, ou não discriminamos os homossexuais, os respeitamos como filhos de Deus, e o seu direito de optar por outra forma de vida, mas repito não podemos equiparar a vida matrimonial com estas uniões. Depois, Deus os fez para serem uma só carne, para sendo dois, serem um no amor partilhando e doando-se mutuamente a própria vida. E isto comporta que mesmo nas dificuldades, das dores, nas possíveis desavenças, os esposos devem perseverar na união de amor, pois é na dor que deve crescer o amor, pois esse amor é divino, vem de Deus. E, portanto, nada e ninguém tem poder para destruir esta união, por isso o matrimônio é indissolúvel. O doloroso hoje é ver muitas e muitas famílias esfaceladas, destruídas, a união foi rompida, pela traição, pelo ciúme, pela falta de amor e fidelidade, muitos esposos embora não tenham se divorciado no papel, vivem um divórcio do coração, vivem no mesmo teto, mas os corações se encontram divididos. Acreditemos que o casamento é  deve ser indissolúvel, por que assim Deus o quis, e Isso não é uma utopia, é uma realidade que precisa ser reavivada a cada dia na vida dos esposos, pois é este amor que une os esposos e faz com que o matrimônio seja indissolúvel, amor este que vem de Deus, e nos foi revelado em Cristo como nos dizia a segunda leitura; e ele só poderá ser vivido se entre os esposos, houver perdão, amor, compreensão, carinho, respeito, mútua entrega, conversa, partilha, se a cada dia eles viverem um para o outro, se nas adversidades eles forem capazes de morrer para si, e se dar ao outro. Peçamos a Deus que ajude as famílias a viverem este amor, a união, e socorra aquelas que estão desunidas, ou que romperam o vínculo, para que a graça e amor de Deus se derrame sobre elas e as encoraje nos momentos de sofrimento. Amém.