sábado, 24 de novembro de 2012

O CRISTO QUE REINA DA CRUZ

Neste último domingo do ano litúrgico, celebramos a solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. Esta celebração indica que toda a história, a vida da Igreja possui um centro, que ao mesmo tempo é o princípio e o fim de tudo: Jesus; é Ele o “Alfa e o Ômega, aquele que é, que era e que vem, o Todo-poderoso” (Ap 1,8) Jesus é o Senhor do tempo e da história, para se direciona toda a nossa vida.

As leituras propostas nos mostram em todo o esplendor da verdade a realeza de Jesus. Queria começar esta homilia pelo Evangelho, que nos mostra o interrogatório de Jesus com Pilatos na proximidade de sua paixão. Vejam, Pilatos pergunta a Jesus: “Tu és o rei dos judeus?” (Jo 18,33). Pilatos é imagem do mundo de hoje, dos reis e senhores que tem dúvidas e se interrogam sobre o reinado de Jesus: será que este homem é de fato o Rei esperado pelas nações, aquele que domina toda a terra? À pergunta de Pilatos, Jesus responde com uma palavra clara e direta:  “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). Esta afirmação de Jesus revela que o reino dele não tem origem aqui na terra, não é um reino marcado pela opressão, pelo poder desmedido, pela força, pela corrupção, pela prepotência, pela ganância de poder, um reino destruidor com guerras e armas. O reino de Jesus vem do céu, vem de Deus, tem outra lógica. É por isso que Pilatos não compreende como Jesus poderia ser rei, sem agir e nem viver como um verdadeiro rei, nas prerrogativas humanas, e por isso o interroga de novo: “Então, tu és rei?”(Jo 18, 37) e daí, Jesus afirma: “Eu sou Rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37).

Sim, Jesus veio ao mundo para ser Rei, e isto revela a sua identidade e a sua missão. Antes mesmo de Jesus nascer ele foi proclamado Rei, quando o anjo disse a Maria: “Este menino que nascerá de ti, o Senhor Deus vai dar-lhe o trono de Davi, ele reinará na casa de Jacó e o seu reino não terá fim” (Lc 1,32).  Quando Jesus nasceu, os magos deram-lhe honras de Rei, e disseram: “vimos adorar o Rei dos judeus” (Mt 2,2). Jesus é em verdade o Rei das nações, aquele que veio instaurar o seu reino de paz em nossa história. Todavia, quando uma grande multidão quis aclamá-lo como Rei depois de ter feito o milagre da multiplicação os pães (Jo 6,15), diante desta multidão, cheia de fervor, de glória, com os louvores, as honrarias devidas a um rei, Jesus foge, sai, se afasta desta possibilidade, corre para a montanha, porque Ele sabe que a sua realeza não é daqui, do mundo, não é segundo a mentalidade carnal das pessoas.

Por conseguinte, quando adentra em Jerusalém, mais uma vez tendo diante de si uma grande multidão, Ele montado num jumentinho para cumprir a profecia que dizia: “Aí vem o teu rei manso e humilde, montado num jumentinho” (Zc 9,9) ele já vai mostrando que seu reino é simples, pobre e humilde, que seu poder se revelará na fraqueza.  Entretanto, agora diante de Pilatos, sozinho, quando todos os seus o abandonaram, diante de sua paixão, próximo de abraçar a cruz Ele confessa claramente que é Rei.

Amados irmãos e irmãs, sim é na cruz que se manifesta o reinado de Jesus, é por meio dela que Ele manifesta o seu Reino, a sua realeza, e o que é ser Rei, foi para esta hora que Ele veio ao mundo, Ele não podia abandoná-la; até mesmo na hora de sua paixão um dos anciãos zombou dele e disse: “Se tu és o Rei de Israel, desce da cruz, e creremos em ti” (Mt 27,42). Jesus abraçou-a com maior amor, pois é ela a sua glória, é ela o seu trono. Portanto, a realeza de Jesus manifesta na cruz é marcada pela humildade, pela pobreza, pela doação, pelo serviço, pela entrega, é por meio dela que se manifesta que o reinado de Jesus, é o Reino do Amor.  O Amor é a verdade que Ele como “testemunha fiel” (Ap 1,5) venho testemunhar a nós. Em verdade, Deus é Amor, e em toda a sua vida, e, sobretudo, em sua carne crucificada, derramando o seu sangue por amor a nós, entregando-se por inteiro, Jesus manifestou a nós essa verdade. Em sua doação como cordeiro imolado no madeiro da cruz ele se revela em toda plenitude como o verdadeiro Rei que “por seu sangue nos libertou de nossos pecados” (Ap 1,5), vencendo o inimigo.  Deveras, a cruz é o trono real de Jesus, os espinhos são sua coroa, e o seu poder é o Amor, eis a glória do Rei Jesus!

Ao morrer na cruz e ressuscitar como “o primeiro dentre os mortos” (Ap 1,5) como nos diz a segunda leitura, Ele agora não somente é Rei de Israel, mas é também, o Rei de todo o Universo, o Senhor do Tempo e da História, “o Filho do Homem que trespassado vem entre as nuvens” (Dn 7,13), recebe de Deus Pai, o Ancião, todo o poder, toda honra, glória e realeza. Já em sua Paixão o Senhor Jesus tinha manifestado esta sua investidura quando diante dos sumo sacerdotes disse: “Vereis o Filho do homem sentado à direita do poder, vindo sobre as nuvens do céu” (Mt  26,64). Olhando para Jesus, o Filho do Homem, crucificado e ressuscitado, “que vem com as nuvens” (Ap 1,7), entreguemos a ele o rumo de nossa vida, de nossa história, vivamos sob o seu Senhorio, que Ele seja o Rei de nossas vidas, de nossas famílias, e que carregando a cruz cotidiana, encontremos nela o nosso troféu, e que um dia mereçamos a coroa da glória que é a vida feliz. Assim seja!


sábado, 17 de novembro de 2012

A SEGUNDA VINDA DO SENHOR, ALEGRIA PARA NÓS.

Queridos irmãos e irmãs, já nos aproximamos do final do ano civil, mas também, e, sobretudo, do final do ano litúrgico, por isso a Santa Mãe Igreja em sua Divina Liturgia sabiamente nos convida a uma reflexão sobre o Fim da história humana, que responde a pergunta que inquieta nosso ser: Para onde iremos?  Qual é o nosso fim? Sim, nossa vida não é uma caminhada para o nada, mas para um fim que na verdade é o começo da Vida Nova e Plena.

A primeira leitura e o Evangelho estão intimamente relacionados, nos convidam a olhar para o fim dos tempos e da história, por isso se iniciam com expressões semelhantes: “naquele tempo” (Dn 12,1) e “naqueles dias” (Mc 13,24).  Estas duas expressões nos apontam para um Futuro, indicam um Tempo Novo que está para chegar. Entretanto, este Novo Tempo será antecipado por momentos de dor e sofrimento. O Evangelho e a Primeira leitura nos apontam para esta realidade quando falam de: “um tempo de angústia” (Dn 12,1) e “grande tribulação” (Mc 13,24). Assim como o povo de Israel e os cristãos daquela época viveram tempos de perseguição, tribulação, opressão por parte dos reis e imperadores que eram contrários à fé cristã. Nós, o Novo povo de Deus também, enfrentamos as dores, os sofrimentos, as angústias, as decepções, as ilusões, as opressões, as infelicidades desta vida, que nos fazem perder a esperança de experimentarmos uma vida feliz. Mas vejam, todas estas realidades sofridas devem nos fazer entender que o mundo em que vivemos é finito, limitado, marcado pela caducidade da vida; e, por conseguinte, não existe vida eterna, plena e feliz aqui na terra, por mais que o ser humano almeje, corra, lute em busca da felicidade plena aqui na terra, vai se deparar unicamente com o absurdo da própria limitação existencial, a vida vai se tornar uma verdadeira náusea, um verdadeiro assombro.

Todavia, nesta caminhada da vida para o Fim, para o Futuro, Deus vem ao nosso encontro para nos salvar, “para salvar o seu povo” (Dn 12,1). Vem para nos trazer um Tempo Novo; e que Tempo Novo é este? É o que chamamos de Parusia, a segunda Vinda de Cristo, sua chegada em nosso meio. Assim nos mostrava o Evangelho: “Então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória” (Mc 13,26). O Senhor veio uma primeira vez, assumiu a nossa humilde condição, carregou sobre si nossas enfermidades, enfrentou o drama da cruz, morreu pelos nossos pecados e ressurgiu da morte vencedor, recebeu um corpo cheio de glória, e subiu ao céu onde está cheio de esplendor à direita do Pai, foi preparar o nosso lugar, e virá uma segunda vez para “reunir os eleitos” (Mc 13,27), para trazer novos céus e nova terra. O Senhor Jesus virá para nos trazer a Vida definitiva, a vida eterna, que por sinal não deve ser entendida como uma vida cumprida, longa em dias, mas plena, completa de sentido, porque cheia do Espírito de Deus que é eterno. Portanto, a vinda do Senhor transfigurará tudo, os que estão mortos uns ressuscitarão e outros experimentarão o castigo eterno.

Deste modo, nós já entendemos que a nossa vida caminha para Cristo, nós fomos feitos por Ele e para Ele; de modo que podemos afirmar com certeza de fé:  Cristo é o princípio e o fim da nossa história. Agora, poderíamos nos perguntar: e este tempo, quando chegará? Bem, Este tempo na verdade já começou, está às portas (Mc 13,29) nós somos a geração que experimentará no hoje da vida, o fim que se aproxima, “esta geração não passará antes que tudo isso aconteça. Este Novo tempo amados irmãos e irmãs, nos foi aberto pelo dom da Ressurreição de Jesus, nele já experimentamos às primícias do futuro, todavia o dia e a hora que o Senhor voltará em sua glória nós não o sabemos. Não temamos, nem nos deixemos levar pelo medo ou pavor, como muitos adventistas e testemunhas de jeová compreendem e por isso metem medo nas pessoas, mas aguardemos com esperança e vigilância, pois como nos diz Sto. Agostinho: “que espécie de amor a Cristo é esse que tememos que ele venha”. Em cada Eucaristia o Senhor vem ao nosso encontro, de modo que por meio dela já experimentamos a plenitude antecipada, que alimentados por ela sejamos fortalecidos nesta caminhada e  assim com os cristãos do primeiro século digamos com fé e amor: Maranathá, “vem Senhor Jesus”. Amém.



sábado, 10 de novembro de 2012

O SACRIFÍCIO DA VIÚVA - O DOM DE SI PARA DEUS

A liturgia deste 32º Domingo do Tempo Comum nos faz atender ao apelo de Jesus aos seus discípulos: “olhai para aquela viúva” (Mc 12,43). Por isso ponhamos nossos olhos e corações nesta viúva; na verdade a liturgia nos mostra duas viúvas, a do Evangelho e a da 1ª Leitura, a viúva de Sarepta. Duas viúvas tão iguais, mas ao mesmo tempo diferentes, nós veremos o por que.

Na primeira leitura vemos Elias que em virtude de uma seca que tomou conta da região israelita, como castigo pelo pecado idolátrico do Rei, fugiu para o território pagão de Sidônia para a cidade de Sarepta, lá chegando encontrou às portas da cidade uma Viúva pobre e pagã, pede-lhe um pouco de água e depois um pedacinho de pão. A pobre viúva não tinha pão para alimentar Elias, por isso ela diz: “pela vida do Senhor teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. Eu estava apanhando lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperarmos a morte” (1Rs 17,12). Mas, diante do grito suplicante da viúva pobre, Elias faz-lhe uma promessa de que Deus não deixará faltar para a pobre viúva e seu filho o sustento de sua vida (1Rs 17,14). A mulher crê, obedece, dá o tudo o que ela tem, todo o sustento de sua vida, que era o resto, ou seja, o pouco que ela ainda tinha, mas que era o seu tudo, oferece ao homem de Deus, ou melhor, ao próprio Deus, o sacrifício de sua prórpia vida, toda a vida dela ela dá, mesmo sendo uma pagã confia em Deus; o milagre acontece, o pão e o azeite se multiplicam, e a viúva tem um final feliz. Na vida desta viúva se realizam as palavras do salmista que a pouco escutamos que diz: “O Senhor é fiel para sempre,/ faz justiça aos que são oprimidos;/ ele dá alimento aos famintos/Quem ampara a viúva e o órfão”.(Sl 145). Sim, amados irmãos e irmãs, Deus é fiel e não nos abandona, em meio aos nossas aflições e dificuldades, diante de nossas misérias. Vejamos, a história de uma outra viúva tão semelhante quanto esta de Sarepta.

O evangelho nos mostra Jesus no Templo de Jerusalém já se aproxima o momento de sua morte dolorosa na cruz, e na última vez que S. marcos mostra Jesus no Templo, é num encontro emocionante e edificante para seus discípulos e a comunidade de fé. Jesus está sentado diante dos cofres do Templo, os chamados gazofilácios, haviam cerca de 13 cofres espalahados pelo Templo, e Jesus olhava a multidão que ia depositando as suas moedas, de modo que os ricos lançavam muitas moedas, mas na verdade eram um nada comparado ao que possuíam, o texto sagrado nos diz: "eles deram do que tinham de sobra" (Mc 12,44). Eis que se aproxima uma pobre viúva, e ela depositou duas pequenas moedas, que moedas são essas? essas moedas eram as leptas, moedas de bronze que tinham um valor insignificante, eram as menores moedas, um nada. Nos dias de hoje elas seriam equivalentes a 5 centavos. Todavia, a beleza que está por trás deste gesto da viúva é que estas duas moedinhas que eram nada, eram na verdade o seu tudo, ela deu tudo o que tinha, todo o seu sustento, “tudo o que ela possuía para viver” (Mc 12,44), ou melhor, podemos traduzir do grego: olon ton bion auths (ela deu toda a sua vida), a viúva ofertou a si mesmo a Deus, experimentou o dom de si, num verdadeiro sacrifício de amor de sua vida a Deus, não se entregou pela metade, com regateios como os ricos fizeram, dando a Deus a sobra da própria vida, eles que são imagem do mundo auto-suficiente, que não precisa de Deus.

Vejam, esse gesto bondoso, generoso e humilde da pobre viúva revela a sua fé, que a faz se abandonar por inteiro em Deus, de entender que toda a sua confiança, de que a toda a sua vida depende de Deus, de que Deus a quer por inteiro, de que ela é toda de Deus. Há uma diferença da viúva de Sarepta para esta do Evangelho, é que esta viúva do evangelho não recebeu nenhuma promessa, nem se quer alguém se aproximou para lhe retribuir algo, nada. Ela apenas confiantemente depositou a sua vida, deu-a por inteiro. Este gesto da viúva é sinal de alguém que sabe que a maior retribuição dada a ela por seu gesto de dar inteiramente a própria vida ela irá receber no céu, a vida plena com Deus.

Agora poderíamos nos perguntar: por que Deus nos quer por inteiro, pede tudo de nós, pede a nossa vida toda? Deus não pede nada a nós, sem antes ele mesmo ter experimentado. A resposta nós encontramos na segunda leitura de hoje que nos mostra o único e definitivo sacrifício de Cristo na cruz, “Cristo oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão” (Hb 9,28). Jesus entregou-se inteiramente por amor a nós, se fez nada para nos dar o tudo que é a salvação. Cristo se deu todo, derramou todo o seu sangue, aceitou enfrentar nossas dores, sofrimentos e angústias, por amor, porque nos quer não para o pecado ams todo para ele.  Então, Deus pede toda a nossa vida, porque somos dele, nossa vida é dele, tudo o que temos e somos é dele, é Ele o nosso Senhor e Salvador.

O Senhor nos deu tudo, e nós, será que somos capazes de nos dar inteiramente a Ele, oferecendo o sacrifício da própria vida? Quantas e quantas vezes não damos o nosso tempo, nossos gestos, palavras, ações a Deus, quantas e quantas vezes damos pra Deus o tempo lixo, a nossa sobra, e para o mundo damos tudo. Amados irmãos e irmãs, daqui a pouco receberemos a vida do próprio Deus em alimento, já recebemos o alimento de sua palavra, ele já nos deu tudo, agora nos dará o tudo de sua própria vida, alimentados da vida do próprio Deus, demos a ele o tudo de nossa vida, e digamos sou todo teu Senhor, minha vida é toda tua, por ti eu me ofereço em sacrifício porque de nada vale o meu existir se não for para te ofertar, sou todo Teu Senhor. Amém!  


sábado, 3 de novembro de 2012

SERMOS SANTOS, EIS A NOSSA META!

Caros irmãos e irmãs, “alegremo-nos todos no Senhor, celebrando a festa de todos os Santos”, assim rezamos na antífona de entrada desta celebração. Em verdade nossos corações cheios de alegria aqui na terra, se voltam para o céu, para louvar a Deus que é a fonte de toda a Santidade, e que nos chama a participarmos de sua glória, assim como dela já participam uma multidão de irmãos e irmãs que já aqui na terra uniram as suas vidas a Deus.

A primeira leitura nos mostra uma multidão! Primeiro de 144.000. Quem é esta multidão? Vejam, o número de 144.000 é muito significativo, é a soma de 12x12x1000, indica o Antigo Israel (12 tribos) e o Novo Israel (12 apóstolos), raça escolhida povo santo de Deus. Existe ainda mais! "Depois disso, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro".  Esta multidão incalculável são todos os povos da terra chamados à santidade.  E nesta multidão incontável estão os santos, que agora estão no céu, de pé diante do trono e do cordeiro, trajam a veste branca da pureza e da santidade, estão revestidos da glória de Cristo, e trazem em suas mãos a palma da vitória, pois combateram o bom combate da fé. Entretanto, para alcançarem a glória da santidade eles tiveram que enfrentar a “grande tribulação”, ou seja, as dores e sofrimentos da vida, carregando as suas cruzes, unindo-se a Cristo, por isso lavaram as suas vestes no sangue redentor do cordeiro.

Olhando, para os santos que ornam como estrelas, o firmamento do céu de Deus, nós poderemos nos perguntar: como é que podemos ser santos? Primeiro, ser santo não é fazer obras extraordinárias, ou ter dons e carismas extraordinários, mas é viver a simplicidade de ser Deus, é viver a pobreza de si, sabendo que sua força é Deus. Depois, Santo não é alguém que nunca errou, mas é alguém que mesmo errando na estrada da vida, buscou se reconciliar com Deus e unir a sua vida a Ele. Ser santo é não desanimar diante da cruz e dos sofrimentos do tempo presente, mas agarrá-la como o único meio eficaz que te conduzirá à glória.

Por isso, irmãos e irmãs, a santidade não é para um grupo eleito, é para todos nós, ela revela a vocação para a qual Deus nos chamou, assim recorda-nos S. Paulo quando nos diz: “Escolheu-nos e abençoou-nos em Jesus Cristo antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, para sermos seus filhos adotivos”( Ef 1,4-5). Ou seja, Deus nos chama para participarmos de sua vida divina, é isso que nos mostra a segunda leitura: "Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!" (1Jo 3,1). No dia de nosso batismo, ao recebermos a filiação divina, nos tornamos filhos no Filho Jesus, ali Deus nos separou (Kadosh), ou seja, nos tornou santos, fomos marcados com o selo de Deus que é o Espírito Santo (2Cor 1,22), e revestidos da veste branca da pureza e da graça que é Cristo. Deste modo entendemos que a santidade consiste em vivermos como filhos de Deus.  

Todavia, a santidade é um processo no qual vamos atingindo a cada dia até se tornar pleno na glória, por isso S. João nos dizia: desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”. Para tal fim, temos um caminho, e este caminho é uma pessoa: Cristo! É Ele o caminho da vida eterna, da vida santa e feliz com Deus. É isto que nos mostra o Evangelho, que narra as Bem-Aventuranças. Na verdade estas Bem-aventuranças são um retrato da imagem do próprio Jesus, é ele o pobre, o aflito, o faminto, o manso, o puro de coração, o faminto e sedento de justiça, o misericordioso, o perseguido, aquele que promove a paz. Portanto, Ser santo é encarnar na própria vida a Vida de Jesus, é estar sempre unido a Ele, é viver a vida de Deus e com Deus aqui na terra, para que assim se torne pleno o dom da santidade que recebemos, e assim a vivamos com Deus em sua glória.  Termino esta homilia dizendo que ser santo é renunciar a si mesmo para ser todo de Deus, peçamos, pois, a intercessão da Virgem Maria, a maior dentre os santos, que como ninguém soube viver unida a Deus, para que ela nos ajude a também sermos todo de Deus. Amém!

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

"EU NÃO MORRO, MAS ENTRO NA VIDA"

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, no inicio desta celebração foram pronunciados os nomes de nossos entes queridos, certamente em nosso coração veio a suave lembrança de seus rostos, palavras, gestos, de sua pessoa, dos tempos e momentos que vivemos juntos com eles, certamente as lágrimas até saltam em nossos olhares. Todavia a maior motivação que nos reúne aqui em oração não é primeiramente a saudade, mas a Esperança de que para eles a vida não foi tirada, mas transformada, porque cremos nas palavras de Jesus que disse: “Eu sou a Ressurreição e a vida, todo aquele que crê em mim, viverá eternamente”.

Muitas pessoas trazem dentro de si o medo da morte, pelo simples fato de pensar que a nossa vida caminha para o nada, que tudo termina aqui, e que não há mais nada a esperar, nem a se viver. Mas vejam, nós não fomos feitos eternamente para esta vida, diz-nos o texto sagrado: “O Senhor tirou o homem da terra e a ela faz voltar novamente. Deu aos homens número preciso de dias e tempo determinado” (Eclo 17,1s); pois bem, fomos feitos para a vida imortal, desde o início, fomos feitos para a comunhão de amor com Deus, entretanto, por meio do pecado a morte entrou no mundo, por conseguinte, Deus não nos abandonou ao poder da morte, mas enviou o seu Filho que assumiu a nossa condição, experimentou a nossa morte, para nos dar a vida em plenitude. Deste modo, se cumpriu a profecia que escutamos na primeira leitura: “O Senhor Deus eliminará para sempre a morte, e enxugará as lágrimas de todas as faces” (Is 25,8).

 Pelo batismo nós somos sepultados na morte com Cristo, e ressurgimos com Ele para uma vida nova, nos tornamos filhos de Deus e nos é dada a semente da vida eterna, a ponto de podermos dizer que o homem é na verdade um ser-para-a-vida. A segunda leitura nos mostra isso, quando S. Paulo nos diz: “somos filhos de Deus, e co-herdeiros de Cristo, e por isso chamados a participar da glória de Deus”. Portanto, a morte não é o nosso fim, mas é o nosso nascimento, podemos até dizer que a morte é a consumação de uma longa gestação, marcada pelos sofrimentos, dores, gemidos, lágrimas e angústias, na qual libertos deste corpo corruptível, vivemos com Deus uma união de amor, e nos é dado um corpo incorruptível, podemos até dizer como santo Agostinho: “Quando eu estiver unido a vós, nunca mais haverá dor, sofrimento, pois em vós minha vida é plena”. Ou ainda como Santa Teresinha do menino Jesus: “Eu Não morro, mas entro na Vida”.

Este dia de oração pelos que já partiram, deve também fazer com que olhemos para nossa vida, para saber que destino estamos trilhando, se estamos buscando a vida eterna, ou o inferno. Esta Vida com Deus, é como “um grande banquete de ricas iguarias” (Is 25,6), é o “Reino que Deus preparou como herança” (Mt 25,34) como nosso maior tesouro, onde nos é concedida a felicidade e a vida em plenitude, mas dele só participaremos se já aqui na terra nós aprendermos a amar a Deus, e a vivermos unidos a Ele, num amor ao próximo, como nos dizia o evangelho: “tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber, estava nu e me vestiste, estava doente e cuidaste de mim, estava preso e foste me visitar” (Mt 25, 35-36). Pois não pode estar unido ao Senhor no céu, experimentando a vida de ressuscitado, quem não esteve unido com Ele aqui na terra.
Portanto, neste sacrifício eucarístico rezemos pelos nossos fiéis defuntos que já partiram para a eternidade, e supliquemos que o Senhor Deus perdoe os seus pecados, purificando-os de suas faltas e fazendo-os experimentar a vida eterna, junto com os anjos e santos, e a Virgem Maria mãe de Deus, e que os santos no céu intercedam por nós que somos peregrinos neste mundo, para que entre as tribulações do mundo e as consolações de Deus mereçamos um dia gozar do prêmio da vida eterna. amém