sábado, 26 de janeiro de 2013

JESUS: A PALAVRA QUE DÁ VIDA A NOSSA VIDA.

Queridos irmãos e irmãs nesta celebração eucarística recebemos de Deus o convite de descobrirmos em profundidade toda a beleza e a riqueza de sua Palavra, que é cheia de amor e de verdade, somos impulsionados na fé pelas belas palavras do salmista: “vossas palavras Senhor, são Espírito e vida... alegria ao coração”.

A primeira leitura nos mostra o sacerdote Esdras que reúne uma comunidade de homens, mulheres e crianças em assembleia litúrgica para escutar a Palavra de Deus, manifesta na Lei; e esta comunidade de homens esta marcada pela dor, pelo sofrimento, pela falta de esperança, sem ânimo, estava na escravidão e agora regressando à sua terra, deve reconstruí-la, assim também como sua fé. O sacerdote Esdras dirigirá uma palavra de ânimo a esta comunidade; Ele se coloca de pé, num púlpito, e abre o livro da Lei,  bendiz a Deus, e o povo se coloca de pé, aclama com louvores, e presta toda reverência a Deus e à sua Palavra, esta palavra é explicada ao povo que a escuta atentamente e a compreende, a  ponto daquela santa Palavra tocar a vida, o coração e a história, às feridas que ele tinha, fazendo-o chorar de tristeza, mas ao mesmo tempo o povo era chamado a se alegrar porque Deus em sua palavra era a força para o recomeço de uma vida nova.

Vejam irmãos na fé, hoje, aquela comunidade somos nós, novo povo de Deus, derrotado pelas dores da vida sofrida, que nos reunimos na fé, para também escutar a palavra de Deus. O sacerdote na missa no lugar mais alto, abre para nós o livro sagrado, esse gesto é muito significativo, é como se ele estivesse a abrir as portas do coração de Deus, para revelar a cada um de nós os tesouros de nossa salvação, as pérolas da vida feliz e plena que Deus anseia por nos dar. É por isso que devemos sempre estar atentos à escuta da Palavra, acolhendo-a com piedade, reverência, santo temor, abrindo os ouvidos exteriores e interiores, silenciando para que o único som que ressoe em nós, seja a voz de Deus.

Deveremos sempre abrir nosso interior e deixar com que esta palavra cheia de verdade fira nosso coração, rasgando-o, arrancando de nós tudo aquilo que nos afasta de Deus, fazendo com que nós venhamos a chorar os nossos erros e pecados, para que também como o povo, experimentemos hoje, no dia consagrado por Deus a nós, a alegria e a força de com o coração e a vida transformados vivermos um tempo novo.

Todavia, esta Palavra que outrora era o centro da vida do povo, e que hoje deve ser de cada um de nós, ela é mais do que palavras escritas, tem um nome, e encontra sentido numa pessoa que se chama Jesus, de modo que toda a Escritura aponta para Ele. É isto que o evangelho deseja nos mostrar. Reparem, o evangelho de São Lucas que fora dirigido a Teófilo (amigo de Deus) e hoje é dirigido a nós que aqui estamos, e somos os amigos de Deus, nos mostra o início da missão de Jesus, ele cheio do Espírito Santo sai a anunciar a palavra de Deus por toda parte, e todos ficam fascinados por esta palavra que sai de sua boca, isto não acontece por acaso, mas porque esta palavra é viva e eficaz, transforma o coração daqueles que a ouvem.

Agora, Jesus está em sua cidade natal Nazaré e adentra na Sinagoga, e lá lhe dão o livro, ele de pé, o abre e lê a profecia de Isaías, que diz:  “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”. Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir.

Ao ler estas palavras e assumindo-as, para si, Jesus se revela como o verdadeiro Ungido de Deus, cheio do Espírito Santo, o Messias Salvador, que não somente anuncia a Boa Nova, mas Ele mesmo é a Boa Nova, é a Palavra de Deus que veio dar vida aos que sofrem.  Por isso que Ele diz: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura”. Deveras, é em Jesus que nós encontramos o sentido pleno da sagrada Escritura, por isso que só ele é digno e tem o poder de abrir, fechar, e de revelar para nós a palavra de Deus. Mas, também Jesus, porque veio anunciar esta palavra a nós, pobres, carentes, necessitados, Ele é a chave que abre as nossas vidas, dando sentido a nossa história, arrancando-nos dos nossos sofrimentos e nos concedendo a graça de uma vida feliz e santa.

Sejamos dóceis a esta Palavra, abramos nossos corações para acolhê-la e nos deixemos tocar por ela, e dela nos alimentemos no hoje de nossas vidas, para que como nos diz São Paulo na segunda leitura: cresçamos na unidade com Cristo na força de seu Espírito, formando com Ele um só corpo, nós nele e Ele em nós. Amém!


sábado, 19 de janeiro de 2013

O MISTÉRIO DAS BODAS DE CANÁ

Caros irmãos e irmãs, a liturgia deste 2º domingo do tempo Comum é um convite a cada um de nós, a experimentarmos o amor de Deus que deseja realizar conosco um matrimônio espiritual.

Deus nos escolheu, criou-nos com amor e no amor para estabelecer conosco uma aliança, desde sempre ele deseja unir-se a nós, como um esposo que se une à sua esposa, tecendo-a com amor. É bem verdade que assim como o povo de Israel foi infiel e abandonou a Deus, nós também, em virtude dos nossos pecados lhe somos infiéis. Todavia, Ele, movido por amor nos acolhe, não nos deixa abandonados, se agrada de nós, somos como uma jóia, uma pérola, uma coroa aos seus olhos, somos sua alegria, e por isso ele deseja desposar-nos eternamente, assim nos mostrava a primeira leitura: “como a noiva é a alegria do noivo, assim também tu és a alegria do teu Deus”. (Is 62,5).

No evangelho desta liturgia que é o conhecido milagre das Bodas de Caná, temos a simbologia deste amor de Deus manifestado como um matrimônio. Vejam, este relato tem como fim ser um sinal, “este foi o início dos sinais de Jesus” (Jo 2,11), quer nos revelar algo muito maior do que uma simples transformação de água em vinho. Vamos deixar com que Deus revele para nós este sinal. Reparem, o evangelho começa dizendo-nos que Jesus foi convidado para uma festa de casamento, junto com a sua mãe e seus discípulos. Entretanto, um fato interessante envolve este casamento, é que não é citado em nenhum momento nem o nome do noivo e nem da noiva, isto não é por acaso, é um primeiro sinal, isto indica que Deus é o noivo, e nós, a humanidade sofrida, eu e você somos a noiva, somos chamados a compreender que estas bodas são entre nós e Deus.  

Indo adiante, sabemos que todo casamento acontece num dia determinado, por isso nos perguntemos: em que dia este casamento aconteceu? No Evangelho foi omitido o pequeno trecho que traz esta indicação, mas traremos à luz tal fato, este casamento aconteceu “no terceiro dia” (Jo 2,1). E este dado é muito significativo para nós. Antes deste casamento já se tinham passados quatro dias em que fora anunciado que o Verbo se fez carne e habitou em nosso meio (Jo 1, 29.35.43), portanto, este casamento se deu no sétimo dia, ou seja, num dia de sábado, e como bem sabemos, o sábado foi o dia em que Deus completou a obra da criação (Gn 2,2). Agora, este casamento em dia de sábado, quer recordar para nós que pela Encarnação do Filho de Deus, o ser humano foi recriado, dá-se início a nova criação, o momento em que Deus se uniu ao homem; em Jesus, Deus, desposou a humanidade, com ela celebrou as suas núpcias que serão consumadas na cruz.

Pois bem, durante a festa algo inesperado acontece: O Vinho acabou! Era algo impossível de acontecer porque a festa de bodas durava cerca de oito dias, e o vinho era em fartura. É bom lembrarmos que o Vinho é sinal da alegria, da felicidade e do amor; agora os convivas estão carentes, a festa parece ter chegado ao fim. Nós podemos também olhar para a nossa vida e nos perguntarmos: qual é o vinho que está faltando? É a alegria? O amor? A paz? O perdão? A felicidade? Por conseguinte, este vinho que acabou é, sobretudo, o nosso amor para com Deus, que por ser limitado muitas vezes vai acabando, ao passo que vamos fechando o nosso coração, em virtude de nossos pecados e, portanto, vamos sendo infiéis a Deus, acabamos por estar com o coração endurecido, petrificado, e isto é visível no símbolo das talhas onde estava o vinho que eram de pedra.

Mas o belo de tudo é que quando nós pensamos que tudo está acabado, sem solução, e que a nossa comunhão com Deus chegou ao fim, eis que Maria vem em nosso socorro, intercede por nós, como outrora ela fez nas bodas, ela leva ao seu Filho Jesus as nossas necessidades, e suplica-lhes: “Eles não tem mais vinho”.  E Jesus, acolhe a súplica de sua mãe e lhe diz: “Mulher, porque dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”. Esta resposta de Jesus é muito reveladora,  para muitos parece um fora, uma palavra ignorante ou uma recusa a fazer o milagre, como se Jesus estivesse rejeitando o apelo de sua mãe. Na verdade, Jesus faz ver que sua mãe é a Nova Eva, por isso a chama de Mulher, pois ela traz ao mundo o autor da nossa salvação, esta Mulher é a mãe dos viventes.  E quando Ele diz:  “a minha hora não chegou”. Esta hora que ainda não chegou, é a Cruz, a sua paixão, é lá que o Senhor Jesus vai manifestar a sua glória, vai oferecer o vinho novo e verdadeiro que é o seu sangue para toda a humanidade.

Todavia, Maria crê, porque conhece o seu Filho, e por isso, diz aos serventes: “fazei tudo o que ele vos disser”. Estas palavras de Maria são um convite aos servidores e a nós a fazermos a vontade de Jesus, é um chamado à fé; e palavras nossas era como se Maria tivesse dito: acreditai em Jesus! Acreditai que Ele é o Senhor que tudo pode! E Jesus impulsionado pelas palavras suplicantes de sua mãe, se dirige aos servidores e diz: “Enchei às talhas de água” e “eles encheram até a borda”. O interessante aqui é que haviam seis talhas de pedra, estas seis talhas de pedra representam como disse o nosso coração que muitas vezes se encontra endurecido, como uma pedra, vazio do amor de Deus, revela a nossa limitação, nossa imperfeição, por isso aparece o número 6 = imperfeição.

É muito revelador, o fato de que Jesus poderia ter feito logo surgir o vinho, mas pediu que as talhas fossem enchidas de água. Na visão de Sto. Tomás estas águas são imagem de nossas lágrimas derramadas em arrependimento por nossos pecados, era como se Jesus dissesse a nós: derrame as tuas lágrimas de arrependimento por teus pecados, pois eu mudarei o teu sofrimento em alegria sem fim, eu te darei um vinho novo.  Por isso que diante daquelas 6 talhas de pedra, está na verdade uma sétima talha de Pedra (7 é o número da perfeição): Jesus, é ele que nos oferece o verdadeiro vinho, o vinho melhor e em abundância. E eis que o milagre aconteceu: a água se transformou em vinho da melhor qualidade e de grande quantidade cerca de 600 litros, em Caná a sua glória se manifestou e os seus discípulos creram nele.

Este milagre é um anúncio da grande hora de glória que virá, a Cruz e a Ressurreição, lá as bodas de Deus conosco será consumada, lá estará Maria,  como no início da missão de seu Filho; e em Cristo Crucificado, a 7 talha de pedra, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a Pedra angular, a rocha de nossa salvação, que terá o seu lado aberto na cruz,  do qual  jorrará de seu coração: sangue e água, que  Jesus concederá para nós o vinho que alegra o coração do homem, o seu sangue redentor é o vinho verdadeiro, novo e melhor é o seu amor  dado a nós em abundância.

Amados irmãos e irmãs, dentro em breve nos alimentaremos do sangue eucarístico de Jesus, o vinho novo e melhor, que pela força desta bebida de salvação, nos unamos sempre mais a Deus, e que fortalecidos por seu amor, vivamos a ele num verdadeiro e eterno matrimônio espiritual, nós nele e Ele em nós. Que assim seja!