sábado, 23 de fevereiro de 2013

O MISTÉRIO DA TRANSFIGURAÇÃO


Caríssimos irmãos e irmãs, no domingo passando estávamos espiritualmente no deserto com Jesus, quando ele foi tentado, prenúncio de seu combate com o tentador na cruz. Hoje Jesus nos convida a subir com ele para o monte, onde lá ele revelará a glória de sua divindade, em sua transfiguração, prenúncio de sua ressurreição.

No evangelho, Jesus toma três de seus discípulos: Pedro, Tiago e João, e sobe a montanha com eles para rezar. Primeiro, leva somente os três porque serão eles a conduzir a Igreja nascente, mas também, porque revelando a sua glória deseja fortalecer a fé, e o coração de cada um deles para poderem enfrentar com coragem todo o sofrimento da cruz. Jesus sobe com eles a montanha, o Monte Tabor.  E vejam, o monte é sempre o lugar do encontro íntimo e pessoal com Deus, lugar da revelação de Deus, lá se respira não somente o ar puro da criação, mas sobretudo, o ar do Espírito de Deus, por isso o monte se revela como o lugar da oração. E foi justamente enquanto Jesus rezava que Ele foi transfigurado, seu rosto mudou de aparência, “resplandeceu como o sol” (Mt 17,2), e sua roupa  ficou muito branca e brilhante, “alva como a Luz” (Mt 17,2). 

Diante deste esplendor de glória nós compreendemos que a Transfiguração de Jesus foi fruto de sua oração, de sua intimidade com o seu Deus e Pai, intimamente unido a Ele, pôde desta união tão profunda, irradiar sobre sua humanidade, a luz da glória de Deus, pôde revelar o mais profundo daquilo que ele é: Deus de Deus, Luz da luz. Ele não somente foi envolvido pela luz, mas Ele mesmo é a Luz. Seu rosto brilha porque ele é a imagem, “o esplendor da glória do Pai” (Hb 1,3). Todavia,  as vestes dele que ficaram brancas e reluzentes são imagem da veste dos eleitos, dos redimidos, daqueles que foram lavados no batismo, e que foram e serão lavados pela paixão e morte, como nos diz o apocalipse de S. João: “aqueles que lavaram suas vestes no sangue do cordeiro” (Ap 7,14).

Estando Jesus transfigurado, eis que aparecem conversando com ele, Moisés e Elias, o primeiro é imagem da Lei, que Jesus veio aperfeiçoar, o segundo é imagem dos profetas que anunciam o Cristo. Eles conversam com Jesus, sobre um assunto de grande importância, sobre o seu êxodo, a sua partida, o seu sofrimento e morte, sua partida para a terra prometida da cruz e da ressurreição. Reparem amados irmãos e irmãs, o Sacrifício de Cristo na cruz, selará a nova e eterna aliança entre Deus e a humanidade, onde o próprio Jesus se deixará ser partido, no verdadeiro sacrifício, consumido pelo fogo do Espírito (Hb 9,14). Daí nós entendemos o sentido pleno do sacrifício de aliança de Abraão na primeira leitura, onde os animais foram partidos e trespassados pelo fogo de Deus. Portanto, a presença de Moisés e Elias na transfiguração, falando sobre a morte de Jesus, indica que as Escrituras atestam que Jesus deve sofrer, carregar a cruz, morrer, ressuscitar para entrar na glória, e ela só tem um caminho, a Cruz.

Por conseguinte, Pedro, Tiago e João estavam dormindo, e quando acordam experimentam não o fato, mas o resultado do acontecimento, não viram a transfiguração, viram o transfigurado. Pois, bem, perante este esplendor, Pedro faz um apelo a Jesus: “Mestre é bom estarmos aqui, vamos fazer três tendas, uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias”. Este apelo de Pedro, na verdade revela que ele não sabia o que estava dizendo. Vejam, Pedro queria estar ali, quase como que preso a esta luz passageira; entretanto, havia uma glória maior a ser experimentada, a glória que passa pela cruz, a Ressurreição. E por meio da ressurreição, aí sim ele e nós, habitaremos numa tenda não humana, terrena, mas numa tenda celeste, onde o Senhor Jesus Ressuscitado e assunto ao céu, sobe ao Pai para preparar a nossa verdadeira Tenda, a nossa morada verdadeira e definitiva, o céu.

Esta verdade nos foi dita por São Paulo na segunda leitura: “nós porém, somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o nosso salvador, o senhor, Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso”.  Portanto, a transfiguração de Jesus, abre uma para a nossa transfiguração.

Pedro, na verdade, não se deu conta de que na terra, junto dele, já havia uma tenda, Jesus, “O Verbo se fez carne e armou a sua tenda em nosso meio” (Jo 1,14). Por isso que como a nuvem de Deus, imagem de sua presença envolveu a tenda de Deus no antigo testamento (Ex 33,10), agora a nuvem, envolve a verdadeira tenda que revela Deus aos homens, Jesus. E é justamente desta nuvem que se ouve uma voz revelando quem é Ele é: “Este é meu filho amado, escutai o que ele diz”. Jesus é o amado do Pai, aquele que foi enviado ao mundo para salvar a humanidade. No antigo testamento, Moisés na montanha recebeu a Lei, a Palavra de Deus, agora no Novo testamento, Jesus, o Novo Moisés, é a verdadeira Palavra de Deus, que guia a nossa vida, e por isso devemos escutar o que ele diz. Mas o que ele nos diz, como palavra de verdade que muda o rumo de nossa vida?: “se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. É somente seguindo Jesus no caminho da cruz, que nós experimentaremos a verdadeira glória, a ressurreição, a nossa transfiguração. Amém! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário