sábado, 10 de novembro de 2012

O SACRIFÍCIO DA VIÚVA - O DOM DE SI PARA DEUS

A liturgia deste 32º Domingo do Tempo Comum nos faz atender ao apelo de Jesus aos seus discípulos: “olhai para aquela viúva” (Mc 12,43). Por isso ponhamos nossos olhos e corações nesta viúva; na verdade a liturgia nos mostra duas viúvas, a do Evangelho e a da 1ª Leitura, a viúva de Sarepta. Duas viúvas tão iguais, mas ao mesmo tempo diferentes, nós veremos o por que.

Na primeira leitura vemos Elias que em virtude de uma seca que tomou conta da região israelita, como castigo pelo pecado idolátrico do Rei, fugiu para o território pagão de Sidônia para a cidade de Sarepta, lá chegando encontrou às portas da cidade uma Viúva pobre e pagã, pede-lhe um pouco de água e depois um pedacinho de pão. A pobre viúva não tinha pão para alimentar Elias, por isso ela diz: “pela vida do Senhor teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. Eu estava apanhando lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperarmos a morte” (1Rs 17,12). Mas, diante do grito suplicante da viúva pobre, Elias faz-lhe uma promessa de que Deus não deixará faltar para a pobre viúva e seu filho o sustento de sua vida (1Rs 17,14). A mulher crê, obedece, dá o tudo o que ela tem, todo o sustento de sua vida, que era o resto, ou seja, o pouco que ela ainda tinha, mas que era o seu tudo, oferece ao homem de Deus, ou melhor, ao próprio Deus, o sacrifício de sua prórpia vida, toda a vida dela ela dá, mesmo sendo uma pagã confia em Deus; o milagre acontece, o pão e o azeite se multiplicam, e a viúva tem um final feliz. Na vida desta viúva se realizam as palavras do salmista que a pouco escutamos que diz: “O Senhor é fiel para sempre,/ faz justiça aos que são oprimidos;/ ele dá alimento aos famintos/Quem ampara a viúva e o órfão”.(Sl 145). Sim, amados irmãos e irmãs, Deus é fiel e não nos abandona, em meio aos nossas aflições e dificuldades, diante de nossas misérias. Vejamos, a história de uma outra viúva tão semelhante quanto esta de Sarepta.

O evangelho nos mostra Jesus no Templo de Jerusalém já se aproxima o momento de sua morte dolorosa na cruz, e na última vez que S. marcos mostra Jesus no Templo, é num encontro emocionante e edificante para seus discípulos e a comunidade de fé. Jesus está sentado diante dos cofres do Templo, os chamados gazofilácios, haviam cerca de 13 cofres espalahados pelo Templo, e Jesus olhava a multidão que ia depositando as suas moedas, de modo que os ricos lançavam muitas moedas, mas na verdade eram um nada comparado ao que possuíam, o texto sagrado nos diz: "eles deram do que tinham de sobra" (Mc 12,44). Eis que se aproxima uma pobre viúva, e ela depositou duas pequenas moedas, que moedas são essas? essas moedas eram as leptas, moedas de bronze que tinham um valor insignificante, eram as menores moedas, um nada. Nos dias de hoje elas seriam equivalentes a 5 centavos. Todavia, a beleza que está por trás deste gesto da viúva é que estas duas moedinhas que eram nada, eram na verdade o seu tudo, ela deu tudo o que tinha, todo o seu sustento, “tudo o que ela possuía para viver” (Mc 12,44), ou melhor, podemos traduzir do grego: olon ton bion auths (ela deu toda a sua vida), a viúva ofertou a si mesmo a Deus, experimentou o dom de si, num verdadeiro sacrifício de amor de sua vida a Deus, não se entregou pela metade, com regateios como os ricos fizeram, dando a Deus a sobra da própria vida, eles que são imagem do mundo auto-suficiente, que não precisa de Deus.

Vejam, esse gesto bondoso, generoso e humilde da pobre viúva revela a sua fé, que a faz se abandonar por inteiro em Deus, de entender que toda a sua confiança, de que a toda a sua vida depende de Deus, de que Deus a quer por inteiro, de que ela é toda de Deus. Há uma diferença da viúva de Sarepta para esta do Evangelho, é que esta viúva do evangelho não recebeu nenhuma promessa, nem se quer alguém se aproximou para lhe retribuir algo, nada. Ela apenas confiantemente depositou a sua vida, deu-a por inteiro. Este gesto da viúva é sinal de alguém que sabe que a maior retribuição dada a ela por seu gesto de dar inteiramente a própria vida ela irá receber no céu, a vida plena com Deus.

Agora poderíamos nos perguntar: por que Deus nos quer por inteiro, pede tudo de nós, pede a nossa vida toda? Deus não pede nada a nós, sem antes ele mesmo ter experimentado. A resposta nós encontramos na segunda leitura de hoje que nos mostra o único e definitivo sacrifício de Cristo na cruz, “Cristo oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão” (Hb 9,28). Jesus entregou-se inteiramente por amor a nós, se fez nada para nos dar o tudo que é a salvação. Cristo se deu todo, derramou todo o seu sangue, aceitou enfrentar nossas dores, sofrimentos e angústias, por amor, porque nos quer não para o pecado ams todo para ele.  Então, Deus pede toda a nossa vida, porque somos dele, nossa vida é dele, tudo o que temos e somos é dele, é Ele o nosso Senhor e Salvador.

O Senhor nos deu tudo, e nós, será que somos capazes de nos dar inteiramente a Ele, oferecendo o sacrifício da própria vida? Quantas e quantas vezes não damos o nosso tempo, nossos gestos, palavras, ações a Deus, quantas e quantas vezes damos pra Deus o tempo lixo, a nossa sobra, e para o mundo damos tudo. Amados irmãos e irmãs, daqui a pouco receberemos a vida do próprio Deus em alimento, já recebemos o alimento de sua palavra, ele já nos deu tudo, agora nos dará o tudo de sua própria vida, alimentados da vida do próprio Deus, demos a ele o tudo de nossa vida, e digamos sou todo teu Senhor, minha vida é toda tua, por ti eu me ofereço em sacrifício porque de nada vale o meu existir se não for para te ofertar, sou todo Teu Senhor. Amém!  


Nenhum comentário:

Postar um comentário