sábado, 17 de março de 2012

DEUS É RICO EM MISERICÓRDIA (Reflexão do IV Domingo da Quaresma - por Sem. Danilo Santos)

Caros amigos em Cristo aproximam-se cada vez mais às solenidades pascais, já podemos vislumbrar o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, nossa salvação se aproxima, nossos corações devem se encher de profunda alegria, por isso que neste 4° Domingo da Quaresma é denominado de laetarae = “domingo do alegra-te”; assim nos mostra a antífona de Entrada da missa: “alegra-te, Jerusalém, Reuni-vos, vós todos que a amais, vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com abundância de suas consolações”. A Jerusalém somos nós a Igreja, o Novo Povo Santo de Deus, que somos chamados a viver a alegria que o Senhor tem preparado para cada um de nós, mesmo em meio às tristezas, dores e aflições da vida, pois somos chamados a crer que Deus tem preparado para cada um de nós um tempo novo.



Neste domingo somos chamados a contemplar o amor e a Misericórdia como dons gratuitos de Deus para cada um de nós; Ele nos revela esse divino amor em nossa história, ela é o lugar verdadeiro de nós encontrarmos e saborearmos Deus e a suavidade de seu amor. Só que este amor com o qual Deus nos amou e nos ama, muitas vezes é rejeitado por nós, somos infiéis para com Ele.

A história do povo santo de Israel que nos é descrita na 1ª leitura, é também a nossa história. vejamos, Deus fez aliança com seu povo: “Não terás outro deus além de mim” (Ex 20,3), Ele deveria ser o centro da vida do povo, só que o povo não responde com amor ao amor de Deus, foi infiel e começou a praticar a idolatria, começou a viver um paganismo total: “todos os chefes dos sacerdotes e o povo multiplicaram suas infidelidades, imitando as práticas abomináveis das nações pagãs, e profanaram o templo que o Senhor tinha santificado em Jerusalém” (2Cr 36,14).  Assim somos nós muitas vezes, abandonamos o amor de Deus e sua pessoa, para vivermos na idolatria, deixamo-nos seduzir pelo pecado, profanamos a casa de Deus que é cada um de nós. O interessante é que em meio a nossa infidelidade, Deus não nos trata como exige a nossa ação, assim como ele se compadeceu do povo, teve compaixão pelo erro cometido, e enviou seus mensageiros para reconduzir o povo ao caminho da vida e da aliança, só que o povo fez pouco caso, continuou a rejeitar o amor de Deus: “Mas eles zombavam dos enviados de Deus, desprezavam as suas palavras” (2Cr 36,16).

Aqui se revela o drama da vida do povo, toda angústia e sofrimento que ele enfrentará, a rejeição de Deus e a idolatria, ou seja, o pecado, fez com que o povo experimentasse o exílio no cativeiro da Babilônia, longe da terra, longe do Templo, tudo destruído, o seu tesouro foi enterrado pelo próprio povo. Nós quando pecamos experimentamos este mesmo exílio, o pecado fecha o nosso coração para Deus e para o seu amor, e quando a dor estraçalha a nossa alma, começamos a sentir saudades de estar junto de Deus, sentimos saudades de estar no aconchego de sua casa, onde podemos sempre de novo experimentar o seu amor, e esta a consequência que o pecado provoca no coração e na vida humana, passamos a ter saudades de Deus, este foi também o sentimento vivido pelo povo que nos é descrito pelo salmista: Junto aos rios da Babilônia/ nos sentávamos chorando,/ com saudades de Sião. Como havemos de cantar/ os cantares do Senhor/ numa terra estrangeira?/ (Sl 136). Podemos até nos perguntar: será que Deus fez pouco caso com o seu povo? A resposta nos é imediata: não! Pelo contrário, embora o povo lhe tenha sido infiel, Deus permaneceu fiel ao povo, Ele não esquece o seu povo: “jamais me esquecerei de ti Jerusalém, és minha grande alegria”. Deus é misericórdia e amor sem limites, Ele ama o seu povo. Assim somos nós, quantas vezes em meio ao sofrimento, a dor, às tristezas da vida, pensamos que Deus faz pouco caso de nós, ele nos esquece. O pecado nos afasta de Deus, e faz com que não percebamos o Deus que está próximo de nós. O pecado que fere a nossa alma, nos machuca, nos aprisiona, nos faz viver um verdadeiro exílio, provoca a ira de Deus, sinal de seu amor e de sua misericórdia para conosco. Foi assim com o povo de Israel, Deus manifestou o seu amor ao enviar o rei Ciro para libertar o povo, para reconduzi-lo ao caminho da vida.

No Novo Testamento, Deus continua a mostrar seu amor e sua misericórdia para com o seu povo, para conosco. São Paulo revela esse amor que Deus tem por cada um de nós, quando pelo pecado rejeitamos o dom de amor de Deus, e passamos a viver longe de seu caminho, Deus por puro dom e graça nos concede a salvação, diz-nos o apóstolo das gentes: “Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos!” (Ef 2,4).  A mesma coisa diz Jesus a Nicodemos no Evangelho de hoje, mostrando para que Ele foi enviado: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna.
De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.(Jo 1,16-17).

Foi por amor e para revelar o amor de Deus que Jesus se deixou entregar à morte para a nossa salvação, Ele ama o seu Deus e Pai e ama cada um de nós, não porque tenhamos algum mérito, mas por pura graça, por dom infinito de Deus a nós, já nos ensina o Teólogo Von Balthasar: “ao que não era digno de amor, Deus manifestou seu amor de forma gratuita”. E é no Filho elevado na cruz, tal serpente de bronze erguida no deserto do calvário que contemplamos e experimentamos sempre de novo o amor de Deus por nós, quando eu for elevado da terra saberão que Eu Sou, e quem é Deus: “Deus é amor” (1Jo 4,7).

Queridos amigos já estamos no fim deste período quaresmal, nesta caminhada de penitência, de chamado à conversão, e já deveremos ter presentes em nosso interior que somos míseros pecadores, estamos no lamaçal da vida de pecado, na fossa da iniquidade, e nós sabemos que somos fracos, ilimitados, que por nossas próprias forças não conseguimos sair de lá, mas Deus não nos abandona neste “charco de lodo e de lama”, não esquece de nós, Ele envia o seu Filho Unigênito para nos salvar, para nos tomar pela mão e nos erguer, nos arrancar deste lamaçal iníquo, seu amor por nós é sem fim. O problema é que muitas vezes nós não queremos sair deste lamaçal, as trevas do pecado já tomaram conta de nós, que acabamos rejeitando o amor de Deus para vivermos nas trevas, “a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz” (Jo 3,19-20).

Por isso, a resposta nossa ao amor que Deus nos revelou em seu Filho Jesus, nos é dita no Evangelho de hoje e não nos é difícil de ser praticada em nossa vida: “Quem nele (Filho) crê, não é condenado, mas, quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito” (Jo 3,18). Sejamos capazes de crer em Jesus, ou seja, aderir à sua pessoa, a viver nele unidos numa vida de graça, e de obras segundo o Espírito de Cristo. Que Ele nos ajude a viver segundo à sua vontade e a respondermos com amor ao amor que Deus tem para conosco. Assim seja!

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