sexta-feira, 23 de março de 2012

A experiência pessoal da morte

            Este segundo ponto está de certa maneira unido ao primeiro, pelo simples fato de que ao olhar a morte do outro, começo a refletir sobre a minha própria experiência de morte a qual também viverei. Isto implica que o ser humano deve caminhar para esta via ciente de que a morte não deve ser um fim fugaz, mas o começo de uma vida nova, o morrer é um nascer, os umbrais do futuro que ele espera já vão sendo abertos. A morte deve estar constantemente presente na vida. O fato de o homem ser aberto ao futuro, ao mesmo tempo que finito, apto a morrer a qualquer momento, dá à morte um caráter de iminência. Não se pode responsavelmente pensar a morte somente como evento terminal, mas como uma certeza que se projeta sobre o inteiro curso da vida. Tal perspectiva leva o homem a posicionar-se diante dela: ele é chamado a conferir um sentido à sua morte, não somente a expirar passivamente.

A morte deve não somente ser um ato do homem, mas um ato humano! É o que alguns chamam de morte-ação, que totaliza e consuma a vida, conferindo seu acabamento revelando o sentido de uma existência. Em certo sentido, a morte define o homem, revela sua essência! Por isso o homem deve trilhar o seu fim, o seu caminho para morte conferindo-lhe um pleno sentido, vale sempre repetir: não se pode, ou melhor, não se deve caminhar para a morte como se tudo se findasse naquele instante, a morte é fim, no sentido de que temos um nascer e também um morrer, mas ela também, e, sobretudo, início, na verdade o caminho para a morte nos abre a via para a vida verdadeira. A morte da pessoa humana no sentido cristão faz com que a pessoa em sua morte encontre o seu pleno sentido que é dado por Deus, pois é o Deus da vida que dá sentido à morte.

A morte é também o fim do homem inteiro. O ser humano é unidade de dois princípios ontológicos: espírito e matéria que, em união substancial tornam-se alma e corpo humanos. A alma cria o corpo, necessário para sua realização humana; o corpo informado pela alma dá-lhe expressão visível e real mundaneidade e sociabilidade. O homem é, portanto, espírito materializado e matéria animada.

            Todos estes elementos constitutivos do humano (unidade substancial de espírito e matéria, mundaneidade e sociabilidade) são afetados pela morte, que dissolve a unidade do ser humano, subtraindo-o do mundano e das relações interpessoais. Ela é, portanto, o fim do homem! É o homem inteiro que sofre a “violência da morte”! Portanto, não é uma parte do homem que faz a experiência da morte, mas é o homem num todo.

O homem em sua experiência pessoal de morte deve compreender que o ato de morrer não significa o desaparecer para sempre, pois nosso Deus não quer a morte. Deus dá a vida àquilo que está morto, Ele é o Deus da vida que ressuscita os que estão mortos, a morte é a experiência da transformação na qual, experimentará o seu novo nascimento em dimensões novas que não estarão sujeitas a materialidade e a corruptibilidade próprias de sua natureza; o ser humano receberá por meio de Cristo na força de seu Espírito um corpo pneumatificado.

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