sábado, 31 de dezembro de 2011

O VERBO DESCIDO DO CÉU, ESTÁ ENTRE NÓS!

1No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. 2No princípio, estava ela com Deus. 3Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. 4Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. 5E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la.
6Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João. 7Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. 8Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz: 9daquele que era a luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano.
10A Palavra estava no mundo — e o mundo foi feito por meio dela — mas o mundo não quis conhecê-la. 11Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram. 12Mas, a todos os que a receberam, deu-lhes capacidade de se tornar filhos de Deus, isto é, aos que acreditam em seu nome, 13pois estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus mesmo.
14E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade. 15Dele, João dá testemunho, clamando: “Este é aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim passou à minha frente, porque ele existia antes de mim”. 16De sua plenitude todos nós recebemos graça por graça. 17Pois por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo.
18A Deus, ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus, que está na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer.


Estamos celebrando o natal do Senhor, sua vinda em nossa carne, Ele desceu do céu e assumiu a condição humana, para nos resgatar do poder da morte, para nos arrancar das trevas e nos por diante de sua Luz admirável. O texto a cima, o conhecidíssimo prólogo de S. João nos apresenta quem é aquele que veio ao nosso encontro.

Primeiro se deve observar que o início do texto joanino nos remete para a criação: No princípio” (Jo 1,1). O que havia no princípio de tudo, Nada, o mundo ainda estava informe, estava marcado pelas trevas, sem vida nenhuma, num caos total. Diante desta realidade tenebrosa uma esperança já despontava na História, já existia no seio de Deus a sua Palavra, o Logos, ou seja, o Verbo, aquele que vem da Boca do Altíssimo, a expressão de seu ser; não que ele fosse já uma criatura de Deus, não! Não podemos cair na heresia de pensar que a Palavra foi a primeira e mais perfeita criatura de Deus, pelo contrário, esta Palavra era o próprio Deus mesmo, pois, o texto nos remete a isso quando nos diz: “Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus” (Jo 1,1). Logo, percebemos que esta Palavra estava e vivia voltado para Deus, no interior do mistério de Deus, numa comunhão de amor e unidade indizível, professamos este mistério no Credo Niceno Constantinopolitano: “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro, Consubstancial ao Pai”. Esta Palavra de Deus é, pois, eterna e onipotente.

A Novidade na história acontece, quando Deus Pai envia de certa maneira a sua Palavra sobre o caos da escuridão.  E foi por meio desta Palavra, que Deus criou tudo, deu vida ao que não existia, “Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la” (Jo 1,3-5). A Palavra de Deus possui esta força criadora, ela é cheia de vida, ou melhor, ela é a Vida e por isso pode ser doada, Deus soprou a sua Palavra sobre o que não era ser, e tudo passou a existir, nos reportemos ao texto do Gênesis: “Deus disse” (Gn 1,3) = Barah = Palavra Criadora; as trevas que rodeavam o caos imenso, numa escuridão sem medidas, foram dissipadas pelo Esplendor da glória daquele que é a Luz de Deus, o fulgor onipotente da Luz venceu as trevas, abrindo um horizonte de vida nova na História da Humanidade.

Quando o Universo foi criado, tudo bem ordenado, como Deus Pai, o artífice de Tudo havia sonhado, Deus criou o universo para se encarnar, para vir ser um de nós, por isso criou o ser humano, Adão e Eva, justamente para criar comunhão com eles, mas, eis que diante do projeto de Deus, acontece como que um corte a dilacerar este projeto de Deus, pelo pecado de Adão e Eva, o caos volta a reinar, agora sobre o orbe já existente. Não que isto tenha acabado com o projeto de Deus de vir ao nosso encontro, não foi o pecado que acarretou a vinda de Deus, com ou sem o pecado de nossos primeiros pais, Deus viria ao nosso encontro, porque repito, Deus desde sempre quis se encarnar, desejou viver em nossa carne, todavia, O pecado de Adão e Eva, apenas apressou a chegada de Deus a nós, é a “Feliz Culpa que nos trouxe Tão Grande Redentor” como cantamos na noite santa da Vigília de Páscoa. A plenitude, a extremidade do Tempo chegou, e a Palavra de Deus pela qual o universo foi criado, veio do Pai, desceu dos céus para estar mais próximo da humanidade, quis fazer história conosco, eis à novidade inaudita:E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).  

Deus assume a nossa condição, não outro, mas Deus mesmo, se fez homem, assumiu o nosso destino, a nossa vida mortal. Certamente para Deus foi um aniquilamento desmedido, Ele sendo rico, onipotente, eterno, cheio de glória, se compadece de nós, se faz pobre, fraco, humilde, simples para nos enriquecer de sua glória, armou a sua tenda em nossa meio, veio ser ator no drama da história humana. A sua glória refulge em nossa condição, por isso dizia Sto. Irineu de Lyon: “A glória de Deus é o homem vivo, e vida do homem é a glória de Deus”. Esta glória que Deus ao se fazer carne veio comunicar a nós, é a capacidade de estarmos em comunhão com Ele, de caminharmos para Ele, de vivermos com o coração não direcionado para as trevas, mas para o céu, para a Vida. O Verbo de Deus vindo ao nosso encontro quis nos tornar divinos, veio restaurar a imagem ferida, para que o esplendor da divindade refulgisse em nós, de fato, como rezamos numa das Orações Eucarísticas: “Jesus Cristo deu-nos vida por sua morte”. sim! A encarnação já foi para Deus uma morte, pois se fomos criados para a Vida, antes temos que passar pela morte, próprio de nossa condição, frágil, limitada, perecível, e por isso, mortal.

Esta verdade nos é explicitada pelo grande teólogo Von Balthasar: Para o Verbo Eterno de Deus, “tornar-se homem já significa, para Ele, num sentido muito velado, mas bastante real, rebaixamento, e na verdade, como dizem muitos, rebaixamento muito mais profundo do que o próprio caminho da cruz... Assumir o homem significa precisamente: tomar sobre si seu destino concreto, juntamente com o sofrimento, a morte e o inferno na solidariedade com todos os homens”.

É bem verdade que a Encarnação caminha para a cruz, o Verbo as experimentou para nos comunicar a salvação que é a Vida imperecível. O Dom maior que o Verbo nos concedeu na sua encarnação foi nos tornarmos filhos de Deus, participantes da vida divina, “a todos os que a receberam, deu-lhes capacidade de se tornar filhos de Deus, isto é, aos que acreditam em seu nome, 1pois estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus mesmo” (Jo 1,12-13); deu-nos o dom da filiação divina, somos herdeiros da graça, que grande Dom de amor o Pai pelo Filho nos concedeu, somos chamados filhos de Deus!

Outro dom que nos foi dado pela Encarnação do Verbo, foi o de podermos contemplar o Deus invisível, o Deus jamais visto, o nosso anseio de ver a Deus foi saciado, assim nos mostra o final do texto do prólogo joanino:A Deus, ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus, que está na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer” (Jo1,18). A imagem pela qual fomos feitos, e que pelo pecado ferimos, é o Filho, “Ele é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), isso implica em que fomos feitos para a eternidade, nele (Filho) nós experimentamos a graça de ver o Pai, de tocar a eternidade, de saborear as delícias do céu. Ao Verbo de Deus que se encarnou por nós e para a nossa salvação, seja dada a honra, a glória e o poder, pelos séculos sem fim!


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