sábado, 3 de dezembro de 2011

Reflexão do Evangelho do II Domingo do Advento: "Preparai os caminhos do Senhor" (por Sem. Danilo Santos)

Caros irmãos em Cristo já desponta para nós a segunda semana do advento como tempo de preparação espiritual para a Vinda do Senhor que vem em nossa história, os textos sagrados têm nos orientado para esta vinda de Deus a nós; neste Domingo a Santa Liturgia Católica nos convida a preparar os caminhos de nossa vida, porque o Senhor que vem não entra em outro lugar senão no caminho de nossas histórias, na nossa lida, porque Ele mesmo é o Senhor da História, entra em nosso tempo para nos conduzir à eternidade. Existe, pois um caminho a ser preparado.
É verdade que nós vivemos ansiosos por esta Vinda do Senhor, “esperamos novos céus e nova terra” (2Pd 3,13), o nosso coração se aperreia, logo nos vem à impaciência, achamos que o Senhor está demorando, tardando a vir ao nosso encontro, a renovar a nossa vida, pensamos que ele se esqueceu de nós, e acabamos por direcionar o nosso coração para outros caminhos, vamos nos agarrando ao que é meramente material e ficamos como que aprisionados, exilados pelas atividades e bens temporais, por isso a súplica da oração de coleta da missa deste domingo:  “que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho”.  Vivemos na ociosidade, nos acomodamos pela demora do Senhor, e hoje São Pedro na segunda leitura nos faz uma advertência: “qual não deve ser o vosso empenho numa vida santa e piedosa, enquanto esperais com anseio a vinda do Dia de Deus” (2Pd 3,11-12). Devemos nos empenhar preparando bem os caminhos de nossa vida, somos chamados a converter o nosso coração, ter uma maneira nova de pensar e de agir, devemos nos esforçar para buscarmos uma vida santa, humilde e piedosa, ou seja, viver com fé e esperança aguardando o Senhor que Vem porque Ele é fiel.
Vejam amados irmãos e irmãs, esta demora de Deus não é porque ele está sendo infiel a nós, não, pelo contrário é revelação da sua misericórdia para conosco, Deus usa de sua paciência e de nossa paciência, unicamente para uma coisa: ele nos dá o tempo para nos convertermos, para mudarmos de vida e de mentalidade, para prepararmos os caminhos de nossa vida, pois  “ele não deseja que alguém se perca. Ao contrário quer que todos venham a converter-se” (2Pd 3,9). Deus de fato é um pastor misericordioso e amoroso, é uma misericórdia que prolonga os tempos, “para o Senhor, um dia é como mil anos e mil anos como um dia” (2Pd 3,8), Ele espera por nós, porém não devemos nos acomodar, é preciso sair do exílio, do deserto de nossas ilusões e preparar um caminho novo para o Senhor.
Seguindo esta mesma ideia espiritual de preparação dos caminhos de nossa existência, é belo também o ensinamento que o segundo Isaías nos dá, tendo como exemplo o povo exilado na Babilônia, e já sem esperança, amargurado, longe da pátria, longe da casa de Deus, quantas vezes nós também vivemos como que exilados, nossa vida parece um deserto, falta-nos a alegria, a fé, a esperança, a coragem de caminharmos rumo ao Senhor, mais uma vez somos tomados pela angústia das demoras de Deus; amados e amadas precisamos recordar que Deus é Fiel, sua promessa  tarda, mas não falha, ele vem para nos libertar, “vem Mostrar a sua face e nos conceder a sua salvação” (Sl 84), por isso que o profeta anuncia aos exilados esta tão esperada libertação e que vale para nós: “Consolai o meu povo, consolai-o... sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida; ela recebeu das mãos do Senhor o dobro por todos os seus pecados” (Is 40,1-2). Eis que o tempo, o Dia do Senhor, o tempo favorável já se aproxima, eis que nosso Deus vem a nós; repito: ele não vem em outro lugar senão na nossa história, o caminho de nossa vida é o lugar onde Deus quer realizar a sua história de salvação, dar-nos a alegria sem fim, mas para isso deveremos preparar sempre de novo este caminho. É na nossa vida muitas vezes semelhante a um deserto que Deus quer fazer florir tudo o que é bom, na terra de nossos corações Deus quer plantar o gérmen da vida nova, para que colhamos frutos de eternidade. Mas para isso uma nos convida a no deserto de nossas vidas preparamos bem este caminho: “Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada de nosso Deus. Nivelem-se todos os vales, rebaixem-se todos os montes e colinas; endireite-se o que é torto e alisem-se as asperezas” (Is 40,3-4); portanto, é preciso que nivelemos os vales do abismo do pecado, da falta de fé e esperança que existe em nós, que rebaixemos os altos montes, os pedestais do orgulho, da presunção, que endireitemos o rumo da nossa vida que muitas vezes anda torto, transviados pelo mal, que alisemos a estrada de nosso coração que possui raiva, rancor que a trona áspera. Só assim nós poderemos ver a glória do Senhor manifestada na nossa vida, o que a voz do falou se cumprirá, a Boa-nova virá não só a Sião e a Jerusalém, mas também a todos nós (Is 40, 5-9).
Duas perguntas pairam em nosso coração. Primeiro: quem é esta voz  a clamar no deserto? Depois que Glória é esta que será manifestada no caminho de nossa vida, que Boa-Nova é esta que virá a nós? Comecemos, pela segunda pergunta, vejamos, o Evangelho de Marcos nos mostra quem é esta Gloria e esta Boa-Nova:  “Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1). Aí está a Boa-nova, ela não é um conjunto de palavras, mas uma pessoa, é Jesus o Deus salvador, o Messias, o ungido de Deus que vem para nos libertar de nossa escravidão, é Ele o Filho unigênito de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, é ele o pastor que vem apascentar, reunir as ovelhas dispersas pelo pecado, pela falta de fé e esperança. É ele que vem a nós na nossa história; o Advento nos prepara para esta vinda que ao mesmo tempo já é a chegada de Deus, é ele que vem manifestar a sua glória, ou seja, revelar quem é Deus a nós, “O Verbo feito carne que vem habitar em nós, vem nos mostrar a sua glória, glória que ele tem junto do Pai” (Jo 1,14).
Porém, relembro-vos, ele ao vir quer armar a sua tenda em nossa história, em nosso coração, por isso que devemos prepara-lo, assim como aquela Voz que clamava no deserto. Aqui respondemos a primeira pergunta, esta voz os padres da Igreja e os evangelistas interpretaram, ou melhor, identificaram como sendo o João batizador, ou seja, o Batista, justamente aquele que foi escolhido por Deus para ser seu servidor, o seu mensageiro como bem nos diz o relato evangélico (Mc 1,2) ele foi enviado para ser o pré-curso, ou seja, aquele que veio preparar os caminhos para o Senhor que vem, e anunciar a nós que deveríamos preparar o caminho de nossa vida para acolhermos o Messias. O interessante é que João mesmo foi o primeiro a preparar o caminho de sua vida, quando viveu uma vida austera de penitência, de renúncia, de humildade, de jejum e oração; “João Batista apareceu no deserto... se vestia com uma pele de camelo e comia gafanhotos e mel do campo” (Mc 1,4.6).
Não é por acaso que no tempo do Advento a Santa Mãe Igreja nos põe como imagem modelo de preparação para a chegada do Senhor, João Batista. O que é Preparar os caminhos de nossa vida? Diz-nos Santo Agostinho: “ter pensamentos humildes” (Sermões, Liturgia das Horas, Terceiro Domingo do Advento, p. 225). Somos chamados irmãos e irmãos a viver a humildade de coração, de ser nada nas mãos do Senhor, de reconhecer que não somos nós que deveremos crescer, mas Deus em nós e por nós, é preciso sair do deserto do mundo e desertar o nosso coração de tantas coisas imundas, é ter a pobreza de coração. Isto João viveu, ele foi humilde, sabia desde sempre que não viveria para si mas para Outro, que só tinha importância porque estava em função de Outro, ou seja, de Cristo, por isso que Ele fez tão belo e humilde anúncio: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo” (Mc 1,7-8).
Preparar o caminho de nossa vida para o Senhor consiste em saber que Ele é o centro de nossas vidas, é ele quem nos da o rumo para onde deveremos andar, é ter a humildade de dizer toma Senhor a minha vida, ela é tua, toma meu coração, minha história, tudo o que tenho e o que sou, faço de minha vida a tua manjedoura para que nela possas repousar, para que nela possas nascer, é ela Senhor a tua hospedaria, és tu o doce hóspede de minha pobre alma. Assim seja, amém!


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