sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A LITURGIA É O CULTO DO CÉU ABERTO

É sempre bom retomarmos algumas reflexões sobre a importância que a Liturgia possui na nossa vida de cristãos, é dela que haurimos os bens celestes que nos são concedidos pelo sacrifício do Filho que por nós se entrega ao Pai na força do Espírito Santo. A liturgia no dizer do papa Bento XVI: “é o culto do céu aberto”. Por meio dela nos podemos adentrar no santuário celestial, os nossos corações e todo o nosso ser são elevados ao coração aberto do Filho trespassado na cruz, qual véu do santuário que está rasgado, e pelo qual todos nós podemos entrar. Na liturgia nós podemos viver o antegozo da Jerusalém do Céu, onde estaremos todos juntos diante do trono do cordeiro como que imolado, unido aos anjos e santos que dia e noite sem cessar glorificam e louva o santo nome de Deus.
 Que riqueza a nossa mãe Igreja concede como dom precioso a nós seus filhos! Que dádiva Deus nos oferece! Ele entra em nosso tempo, em nossa história para nos conduzir até Ele, o humano toca o divino, num admirável intercâmbio, entre Deus e o Homem, entre o céu e a terra; na santa liturgia podemos ver, tocar, sentir e experimentar Deus perto de nós, tomamos parte nas coisas divinas, as recebemos como dom de Deus.
Todavia, é de estremecer o coração quando me deparo, com liturgias onde se inventa muitas coisas, onde se mexe em muitas partes da missa, modificando todo um rito que não é de forma alguma humano, mas que nos foi concedido por Deus, como um meio eficaz de podermos nos unir de maneira íntima ao nosso Deus. É de partir o coração quando vemos em alguns lugares na liturgia, o padre, querendo aparecer mais do que Cristo, que fica inventando as suas modinhas para levantar a “galera”, digo galera, porque o espaço sagrado infelizmente fica reduzido a um mero auditório, ou a um espaço de show, onde  é o padre quem traça como deve ser o perfil da celebração.
 Cristo deixa de ser o centro da Divina Liturgia para ser o sacerdote. Muitos podem até perguntar; mas o padre não age na pessoa de Cristo? Ele não é o próprio Cristo? Sim! Porém ele é dispensador dos mistérios de Cristo, ele deve ser o mediador entre Deus e os homens, deve trazer Deus aos homens e os homens a Deus. Ele não pode de forma nenhuma querer aparecer e Cristo desaparecer, basta lembrar a missão de João Batista, viveu toda a sua vida em função de outro, ou seja, de Cristo, a ponto de dizer: “que Ele cresça, e que eu diminua”. Assim deve ser o padre na sua vida, e na liturgia que está unida intimamente á sua vida sacerdotal. O sacerdote só é importante porque ele vive em função do totalmente Outro, Cristo Jesus, Sumo e Eterno sacerdote.
Infelizmente temos perdido na liturgia, por causa deste protagonismo do sacerdote, a verdadeira direção da oração litúrgica, todos estão voltados para o Sacerdote num eterno trocadilho de olhares, eu olho para o Padre e o padre olha para mim, num círculo fechado em si, onde muitos terão a triste sorte de dizer: nesta troca de olhares vemos a imagem de Deus refletida no homem. Entretanto, ver Deus no homem, não é tão fácil assim, Deus não é um personagem, ou uma fantasia. Para ver Deus no homem, não é um toque mágico, temos um meio eficaz, a Cruz, nela podemos ver o Deus tão forte e tão fraco, vemos a verdadeira imagem do Homem e a verdadeira imagem de Deus, Ele é Amor ao extremo, o Filho do Homem está transpassado na cruz e é justamente na Eucaristia qual memorial vivo desta único e eterno sacrifício que podemos ver qual a verdadeira imagem de Deus e do Homem. A Eucaristia nos ensina e nos mostra a face verdadeira num único movimento teândrico.
Aquela celebração do céu aberto, do voltar-se para Deus, fica como que diminuída, é preciso recuperarmos esta preciosidade da liturgia, voltemos nosso olhar e nosso coração para a Cruz de Cristo, para o Oriente, para o Sol nascente que nos veio visitar, a liturgia é um espaço aberto, não para fazermos o que quisermos, para nela colocarmos as nossas idéias, é um espaço aberto para adentrarmos no mistério de Deus pelo coração do Filho, e para suspirarmos pelo retorno do Senhor, olhamos para o Oriente e rogamos: vem Senhor Jesus, nós anunciamos a morte e a ressurreição de Cristo e clamamos: vem Senhor Jesus!
Por isso que o santo padre o papa Bento XVI tem nos ensinado a recuperar a centralidade da Liturgia, da importância de estarmos com os olhos fixos em Jesus trespassado, quando nos aconselha a pôr uma CRUZ no centro do altar, onde tanto o sacerdote e o povo estarão voltados para o único Centro: Cristo. Todos estariam voltados para Deus, o circulo não estaria fechado, mas aberto, o céu se abre e nós contemplamos Deus, a liturgia se abre para o alto e para frente, todos partem em caminhada para a Jerusalém celeste. Voltai-vos para o Senhor! Para o Oriente que cravado na cruz, tendo o lado direito ferido correndo o manancial da salvação, podemos ver o Pai amoroso a nos abraçar, e a nos acolher em seu sagrado coração.
Repito: o Senhor é que deve ser o CENTRO, e não o padre, não é o que o padre pensa em fazer, mas é o que Cristo quer que ele faça: “fazei isto em memória de mim”. Não podemos pensar e o papa nos adverte que a Cruz no centro atrapalha a visão do sacerdote, a isso nos diz o papa ainda quando cardeal no seu Livro Introdução ao Espírito da Liturgia: “considero as inovações mais absurdas das últimas décadas aquelas que põem  de lado a cruz, a fim de libertar a vista dos fiéis para o sacerdote. Será que a cruz incomoda a eucaristia? Será que o sacerdote é mais importante que o Senhor?” (Introdução ao Espírito da Liturgia. p.62). O Senhor Jesus é o ponto de referência, é a Ele que devemos volver nosso olhar de adoração e contemplação piedosa. A Liturgia não é oração entre o sacerdote e o povo, é oração do sacerdote ao Pai, por meio do Filho no Espírito. Ao Deus Uno e Trino seja dada a honra pelos séculos sem fim.

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