sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O MUNDO DAS RELAÇÕES ILUSÓRIAS

Caros amigos e amigas, há alguns dias tenho meditado e vejo que o mundo hodierno a cada dia que passa está em volto numa crise existencial, é óbvio que esta crise não é de agora, mas já vem se arrastando a anos e anos, fruto da auto afirmação do homem como medida de todas as coisas. O homem está posto no centro de tudo. A esta centralidade do homem vemos em nossos dias um culto da exterioridade, podendo ser traduzido também como o culto das aparências.

O ser humano quer ser visto, precisa ser reconhecido ao máximo, é uma auto apresentação de si mesmo. Isto se dá por meio de um esteticismo desmedido, ou seja, você nasceu de uma forma, Deus lhe fez de um jeito, de repente a um cisma de não se aceitar como é, daí começa a grande batalha por mudar  as aparências até então inaceitáveis. O problema não é o que vai mudar ou o que se deixou de mudar, até porque neste processo de mudança, a essência humana continua finita, limitada. O grande problema é a não aceitação de si mesmo que faz com que as pessoas vivam de máscaras plásticas que escondem os “defeitos” exteriores, mas que não escondem o nosso interior. Mas isto é reflexo da crise do mundo, hoje pela debilidade da razão humana o mundo, as pessoas se tornaram superficiais, não conseguem perceber que o essencial que é o importante só é visto, por aqueles que saem da superficialidade medíocre da vida e se lançam no horizonte da interioridade, é aí que esta a grande beleza das pessoas.

Este culto das aparências faz dos seres humanos, obras do amor infinito de Deus, meros objetos, se objetam, se coisificam para dizer melhor. Uma pessoa só é valorizada se ela for externamente a mais bonita, tolice! De que adianta trazer uma beleza quem sabe até sem precisar de tantas transformações, se é bela exteriormente, enquanto isso no interior se é um poço vazio pela secura de um esvaziamento existencial, de alguém que não se conhece a si mesmo.

Infelizmente esta crise de identidade, ocasionada pelo culto da exterioridade, qual epidemia existencial, afeta até mesmo as relações humanas, até porque se se quer ser visto é preciso que ter alguém que veja; então, na amizade, no namoro, enfim, nas relações humanas vamos pobremente valorizando as pessoas pelo exterior e sobretudo, pelo que elas têm para nos dar. Por isso que muitos relacionamentos se destroem, justamente porque se faz do outro um mero objeto coisificado, inerte onde só apreciamos a beleza exterior, e até nos extasiamos, depois aquilo que era belo até um determinado momento, não é mais, porque surge outra pessoa de beleza fascinante.

O relacionamento acaba pelo simples fato de que o deleite acabou, e se deixou de perceber o interior da pessoa, é verdade que não é todo perfeito, pois se carrega os sofrimentos da própria vida, os fracassos da própria existência, porque todo ser humano é limitado. Quando descubro a beleza interior da pessoa, sei que ela carrega também fraquezas como eu, tão frágil quanto eu, mas é aí que está a beleza de tudo, porque, somos tão iguais, e mais ainda tão diferentes, por isso que Deus nos criou diferentes uns dos outros, para que pudéssemos nos completar, numa doação verdadeira de si para o outro, para que juntos sejamos felizes, não somos uma ilha, nos realizamos na comunhão de vidas.

É no interior existencial que se escondem as coisas mais belas das pessoas, é no interior que está o tesouro da vida, porque é no interior que Deus habita e isto faz com que ele seja, mais íntimo de nós do que nós mesmos, ele nos conhece, sabe de nossas fraquezas, de nossos choros, de nossas alegrias, enfim, nos sonda por inteiro. Sto. Agostinho já dizia; “no interior do homem habita a verdade”. Que é esta verdade? É Deus e nele nós descobrimos também que esta verdade toca-nos profundamente, uma vez que somos criaturas daquele que é o Criador, Deus.

Numa amizade verdadeira edificada em Deus, podemos fazer a doce experiência de permitir que o amigo entre em nossa cela existencial e vá também nos conhecendo e arrumando o nosso interior, retirando as bagunças que fazem com que sejamos belos por fora, mas por dentro um terror só. Nunca esqueçamos, muitas vezes exteriorizamos o que está no nosso interior. Deste modo é importante, aprendermos a viver na dinâmica de Deus, os homens veem as aparências, Deus vê o coração. Temos que aprender a ver além,  com olhos de águia, ver com o coração, só desta maneira conseguiremos construir amizades sólidas e verdadeiras, onde valorizamos não o TER, mas o SER, pois o ser humano tem valor pelo simples fato de ser quem é e não porque tem algo, este algo é finito, se acaba, se destrói, o vento da finitude da vida leva. O ser não, embora ele seja finito, mas nasceu para o Eterno. Então termino com as palavras do livro o pequeno príncipe: “O Essencial é invisível aos olhos”. Quem ama vê além, porque o amor que é Deus e que foi derramado em nós é ETERNO.



   

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