terça-feira, 16 de agosto de 2011

A Verdadeira amizade tem seu fundamento em Cristo


Texto IV


Só no sofrimento se prova a verdadeira amizade, “Um amigo fiel é um poderoso refúgio; quem o descobriu, descobriu um tesouro. Um amigo fiel não tem preço, é imponderável seu valor” (Eclo. 6,14-15).  Cristo foi esse nosso amigo fiel que pagou um alto preço por nosso resgate, nos protegeu e protege contra as investiduras do maligno, ele foi e é um escudo protetor. Ao olharmos para Cristo fiel amigo, vemos que ele nos socorreu quando estávamos necessitados de uma ajuda. Uma vez que somos cristãos e a nossa verdadeira identidade é imitar o mestre, sendo outros Cristos, na amizade que brota e se alicerça em Cristo, exige e obriga-nos a apoiar e socorrer os amigos em suas necessidades. Esta atitude nós entendemos como o cuidado. Se formos olhar o exemplo de nosso fiel amigo, Jesus Cristo, veremos que ele cuidou de muitos que se sentiam desamparados, sozinhos, desprezados; basta que relembremos os coxos que retornaram a andar, os cegos, que diante dele voltaram a enxergar, os paralíticos, os doentes, que tiveram suas enfermidades curadas. E nós podemos até nos perguntar: Qual era o remédio que Cristo usava para cuidar e curar estes sofredores? O grande, precioso e vitalício remédio se chamava misericórdia-caridade-amor, este era o único remédio que os podia curar. Cristo com seu poder que é amor, ao olhar para os seus amigos e irmãos que sofriam, dava-lhes a graça de recuperar uma vida que para eles e para muitos parecia perdida, com um amor curativo que penetrava profundamente na alma, nas entranhas subterrâneas daquelas pessoas, pois ele sondava e via a sede que o coração daqueles tinha, pois eram desprezados por todos, não tinham nenhuma perspectiva de vida, logo aparece um amigo fiel e os cumula de um amor tão profundo que lhes traz uma vida nova a ser vivida. Pois este era o ideal do próprio Jesus, quando diz uma das finalidades de sua missão: “Eu vim para que as ovelhas tenham vida e a tenham em abundância”.(Jo 10,10). Recordemos que Jesus é o Bom Pastor, e veja ele quer dar vida em plenitude às suas ovelhas; volto a repetir o amigo é pastor da vida do outro.
            Não resta, dúvidas até agora que Jesus é o fundamento da verdadeira amizade, pois como vemos, ele soube ser um amigo fidelíssimo, soube ser um irmão, para acolher aos seus que se encontravam desprezados; pois bem o amigo é de fato um irmão escolhido por nós como bem disse Sto. Agostinho. O amigo necessita da amizade do outro, porque nele ele certamente encontra um abrigo para descansar. Ao nos depararmos com o mundo hodierno, vemos uma escassez de amor no sentido verdadeiro da palavra. O que vemos é uma forma de amor utilitarista, ou até mesmo pragmática, para não dizer um amor objetivado no sentido de ter o outro como um mero objeto de prazer no qual eu preciso dele em um determinado momento, horas depois não necessito mais, ou seja, vivemos em um universo onde o amor se identifica com um prazer imediato. Esta situação atinge também as amizades, pois em certos momentos tendemos a tratar o outro com desprezo, com arrogância, quando não o reduzimos a diversas situações, acabamos matando o outro não com armas de guerra: canhões, mísseis, tanques de guerra ou bombas atômicas, pelo contrário matamos o outro com palavras de desprezo, de arrogância, de ignorância, de egoísmo, de individualismo, de mentira, de falsidade, dentre outras coisas ruins de serem ouvidas e experimentadas. Deixamos de lado tudo aquilo que Cristo nosso fiel amigo nos pediu: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Mc 12,29-31). Somos tão egoístas e nos esquecemos tão facilmente de Deus e com isso não conseguimos lembrar que antes que tudo fosse feito ele já nos amava, já nos tecia no seio maternal, com o mais puro amor, de uma forma que mesmo com nossas ingratidões, ele continua a nos amar, pois “ele nos ama com amor eterno” (Jr 31,3); deveras Deus foi o primeiro a nos amar (1Jo 4,10), “o amor já não é apenas um mandamento dado por Deus, mas é resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro” (Enc. Deus Caritas est), isto significa que nossa missão é levar ao outro este amor, como sendo um ato de resposta ao grandioso dom de Deus a nós. Não podemos nos render a um pensamento ideológico do mundo de hoje, que tem por demais banalizado o sentido do amor, mas pelo contrário devemos mostrar a este mundo o verdadeiro amor que procede de Deus, o amor não pode ser abusado ou deturpado, mas sim amado.
O amor, pelo qual é expresso a amizade é o filia, este amor implica em um desinteresse, no sentido de que se ama, mas não com interesse, é uma forma de amor que implica o desapego de si, para dar-se ao outro, fazendo-o mais feliz. Nisto consiste a atitude de ser benevolente, quer dizer agir com boa vontade para com o outro, e Cristo disse: “Não façais, para com os outros, o que não queres que seja feito com você” e em outro lugar “o homem de bem tira coisas boas de seu tesouro” (Mt 12,35), e o tesouro é o coração, pois ele disse “onde está o teu tesouro, aí também está o teu coração” (Mt 6,21), na amizade o coração deve se dilatar de bondade, pois nisto consiste um amor comum, de uma verdadeira comunhão que faz com a amizade uma vez guiada para e pelo bem, tenda para algo maior. Cristo conduziu os seus amigos para algo maior, “para que todos sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade” (Jo 17,23).
            O compromisso é o amor, amar mutuamente aos irmãos, como Cristo bem fez, amar infinitamente, já dizia São Bernardo de Claraval: “a medida de amar é amar sem medidas”, o Amor de Cristo foi sem medidas e limites, a caridade é sem limites “ela jamais acabará” (1Cor 13,8), dizia o filósofo Bacon: “na caridade nunca há excessos”. Sto. Agostinho diz: “o homem bom é o que ama: o que ama o que deve amar”. Podemos ter tudo na vida, sermos milionários, termos grandes casas, uma vida mui luxuosa, mas se não tivermos  Deus no coração, não temos e não somos nada, pois com Deus nós temos tudo sem Deus não temos nada, porque Deus é amor, se o tivermos temso tudo se não o tivermos não temos nada, porque sem amor nada somos. “O amor nos leva a Deus. O nosso coração arde e nos elevamos ao alto” já dizia Sto. Agostinho. A nossa pedagogia de vida deve ser guiada pelo amor. Em um mundo onde se exalta o dinheiro, o capitalismo, o materialismo, onde o motor que move a história é a economia, como idealizava Karl Marx, todos querem comprar tudo, querem ser donos uns  dos outros, onde o homem tende a ser a “medida de todas as coisas” como disse Protágoras, nunca se sentem satisfeitos com o que tem, almejam sempre mais, vivem uma transcendência deturpada, podem comprar tudo, só não a amizade. É preciso que cativemos uns aos outros e nos deixemos cativar, pois cativar é criara laços, de modo que somos responsáveis por quem cativamos. No livro o pequeno príncipe tem um trecho que diz: “você precisa me cativar. As pessoas já não têm tempo de aprender coisa alguma. Compram tudo nas casas comerciais, as pessoas não têm mais amigos, se quiser um amigo, cative-me”. Em um mundo de imediatismo e ativismo, onde os seres humanos não tem tempo de parar para escutar um ao outro, falta de fato amor, falta esta atitude de ver o outro, de conhecer o outro de conversar, de partilhar a vida. Quando não se tem espaço para esta vivência de caridade, acontece aquilo que foi dito por Cristo: “ante o progresso da iniqüidade a caridade de muitos esfriaria” (Mt 24,12). E isto está acontecendo, onde não se tem espaço para o amor, reina sobre os seres humanos a iniqüidade. Mas cabe a nós revelarmos ao mundo o amor de Deus; precisamos ser diferentes do mundo, estamos nele, mas não somos dele, somos de Deus e o exercito de Deus é regido pelo amor, a única arma a ser usada é o amor, e a revolução a ser feita é a do amor de Deus no coração dos povos. Já dizia o filósofo Jacques Maritain: “só um dilúvio de amor pode mudar o mundo”; este dilúvio é o amor de Deus, a atingir o intimo de muitos corações que vivem amargurados e rendidos à dor, necessitando retornarem ao primeiro amor.

 

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