segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A Voz do Povo não é a Voz de Deus

Amados irmãos e irmãs, é muito interessante como em nosso mundo, muitas pessoas ao buscarem o sucesso pessoal, os interesses e as vantagens para a própria vida, costumam dizer: “a Voz do povo é a voz de Deus”, ou seja, quase afirmando que em determinadas atitudes tomadas na vida, Deus é favorável aos seus esquemas, pensam que o seu pensamento é o pensamento de Deus; Pensam que Deus é um compadre no qual compartilha com os meros projetos existenciais de cada indivíduo; outros até deixam Deus de lado, para trás, colocam no escanteio da vida, Ele parece ser um empecilho para o meu sucesso, a minha felicidade, tudo isso a fim de afirmar-se a si próprio, podemos resumir naquilo que identifica a pós-modernidade: “O Homem é a medida de todas as coisas”. Se retirou Deus do centro e foi colocado o homem. 
Em um mundo marcado pelo individualismo, o egoísmo, a imoralidade, a débil razão, um pragmatismo, um consumismo exacerbado, um edonismo, ou seja, um busca de uma felicidade, de um prazer, de um sucesso fácil, tirando todo caráter de sacrifício, de sofrimento, de renúncia, de dor, chegando ao ponto de no âmbito religioso se pregar um Cristo Ressuscitado, cheio de glória  e esplendor, triunfante, que não passou pela cruz do sofrimento e da paixão.
Deus em sua benditíssima Palavra proclamada na Santa Liturgia Dominical nos convida a pensar o seu pensamento, a mais do que renunciar as coisas da vida, renunciar a nós mesmos, a não nos conformarmos com a mediocridade de uma vida fácil, em um total comodismo.
Olhando o mundo hodierno é possível ver um universo hostil a Deus, um mundo de “progressos” até iminentes, mas que em muitos casos têm levado à humanidade para o abismo da existência humana, o seres humanos não sabem para onde caminham, vivem sem perspectiva de vida, apenas “curtem” o tempo presente, buscam um prazer excessivo para fugir em muitos casos da dor e do sofrimento que temos que enfrentar em nossa vida. É um mundo onde já não tem espaço para enfrentar sacrifícios por algo maior, por uma felicidade maior que não é passageira, mas eterna.  É um mundo que não busca a vontade de Deus, não buscam o que é Bom, Verdadeiro, Justo, o que de fato agrada. São Paulo na carta aos Romanos nos exorta: “não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus” (Rm 12,2).
O Cristão precisa ser diferente, não pode pensar como o mundo, precisa pensar o pensar de Deus, assim, nos exorta o papa Bento XVI: “a nobreza de sermos de Deus nos obriga a sermos diferentes”. Ser Cristão é abraçar a vida de sacrifício, é “oferecer-se a cada dia como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12,1), é fazer da própria vida um liturgia, um culto espiritual a Deus. Quando se tem a alma e o coração agarrados, edificados em Deus o sofrimento tem sentido, pois tudo suportamos por amor a Deus, assim nos dirá o salmista: “Vosso amor vale mais do que a vida” (Sl 62,4).
Para o cristão a Vida verdadeira que traz a felicidade sem fim, vem do sacrifício, vem do calvário de cada dia, vem da Cruz que o discípulo deve tomar nos ombros, como sendo a escada e a porta que levam à Felicidade, ao céu, ao Paraíso. Assim foi com Cristo, que teve que sofrer muito, ser rejeitado, ser esmagado, ser um derrotado, um fracassado, um homem sem sucesso aos olhos humanos, para que a Vida brotasse, pela Ressurreição, é a Vida que brota da paixão, do sofrimento, da dor transformada em amor ao seu Deus e Pai e a humanidade. É a renúncia da vida fácil, acomodada, medíocre, a renúncia de nós mesmos, é o perder a vida por Cristo  que nos fará encontrar a Vida sem fim.  Quando Jesus começou a revelar aos seus discípulos o mistério de sua dolorosa Paixão a qual Ele deveria enfrentar, Pedro quis desviá-lo, afastá-lo desta Hora, na sua atitude Ele quis ser mestre do Mestre, quis decidir sobre a vida de Jesus, o Evangelho usa uma palavra forte: “Pedro tomou Jesus à parte e o Repreendeu:, Deus não permita tal coisa Senhor! Que isso nunca aconteça! (Mt 16,22).  
Na vida de caminho com Jesus, o discípulo não vai à frente do Mestre, não é o discípulo que traça o caminho, o destino a ser seguido, o discípulo vai à trás do Mestre, é o Mestre quem traça o caminho, é ele quem dirige os passos do discípulo, em outra ocasião o próprio Jesus deixou claro aos discípulos qual era o lugar do seguimento quando disse: “vinde após mim” (Mt 4,19), por isso, que Jesus repreende com dureza a Pedro dizendo: “Vai para longe, satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens” (Mt 16,23).
Ó Pedro, quão rápido esqueceste o que professaste a cerca de Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mt 16,16); Jesus é de fato o Messias, Filho de Deus que veio para sofrer e entregar a sua vida em resgate por muitos. Ó Pedro vacilaste na fé, pensaste como o mundo.  
Aquele que pela bela profissão de fé , recebeu a missão de ser pedra forte, rocha cavada, na qual em sua fé todos encontram o abrigo verdadeiro, contra a falsidade, a mentira; agora passa a ser pedra de tropeço para o Senhor. Parece não ter se deixado seduzir pelo Senhor, por seu ensinamento, por suas palavras, pela sua missão, pelo seu Messianismo que é o do Servo sofredor. Quer a glória sem antes passar pelo sofrimento.
O Discípulo de Cristo deve a cada dia renunciar as suas pretensões de sucesso, renunciar a si mesmo, se deixando seduzir pelo chamado do Senhor que é mais forte do que ele: “Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). É carregar a Cruz com o Senhor, sofrer com Ele, recebendo zombarias, injúrias, calúnias, difamações, chacotas, mas tendo a certeza e a confiança na fé que tudo isso não é nada, comparado ao prêmio que o Senhor irá conceder, é trocar, perder a vida fútil, o sucesso, a felicidade momentânea, para ganhar o tesouro, o prêmio sem fim, a felicidade eterna, “quem perder a sua vida por causa de mim (Cristo) vai encontrá-la” (Mt 16,25), pois “a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). Ao Deus da Vida seja dada a honra, a glória e o poder agora e por toda a eternidade! Amém!



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