sábado, 29 de outubro de 2011

O FUTURO DA IGREJA

“O futuro da Igreja pode vir e virá também hoje só da força dos que tenham raízes profundas e vivam da plenitude pura de sua fé” (Cardeal Ratzinger)


Ao tomar em mãos para uma leitura, o livro Fé e Futuro do cardeal Joseph Ratzinger (Bento XVI) na última segunda-feira li algumas páginas, entre as quais me causou um impacto esta afirmação acima transcrita. No livro foram publicadas algumas conferências sobre o futuro da Igreja e a importância da fé no limiar do século XX.

Vejamos, tendo perpassado o século XX trazendo em si seus emaranhados de progressos débeis, crises existenciais, marcadas pelo racionalismo, subjetivismo, individualismo, um positivismo, abre-se o século XXI, as problemáticas que tocam a existência humana persistem de forma cada vez mais gritante, é o mundo pós-moderno onde vemos uma rejeição ao sagrado, negação de Deus, é um mundo indiferente ao divino em sua realidade verdadeira.

Estas crises perpassam também a realidade da fé, o mundo só acredita naquilo que é experimentável, palpável, ou seja, o que pode ser comprovado pela ciência, são os rastros deixados pelo positivismo de Augusto Comte, para muitos a fé precisa ver verificável pelos argumentos racionais, então toda a realidade transcendental deve ser banida, desacreditada. Urge então despertar no coração dos fiéis cristãos a importância da fé em aspecto verdadeiro e real, vale dizer para o cristão a fé não é lançar a própria vida numa realidade incerta, ilusória, pelo contrário, é entregar-se confiantemente a uma pessoa, fé é adesão, é confiança em uma pessoa, Jesus.

A fé ele se funda num conhecimento, e por isso é relacional, ou seja, nasce de um encontro, repito, não com uma realidade desconhecida, estranha, não nasce do encontro pessoal com Deus revelado em Jesus Cristo, usando a expressão do teólogo Ratzinger no mesmo livro, dizia ele: “a forma cristã da fé não é crer em um algo, mas em um Tu”. Aqui é a beleza da fé cristã, cremos em uma pessoa que adentrou em nossa história, Deus se fez um de nós, se comunicou a nós usando a linguagem humana, cremos em um Deus que é pessoa e por isso estabelece uma relação conosco. Não há oposição entre fé e conhecimento, a fé é conhecer, cremos para compreender e compreendemos para crer, nossa fé é racional porque nasce e está fundada no Logos, na Sabedoria Eterna de Deus, desta forma não se tem fundamento aquilo que o mundo descrente  afirma: a fé cristã é irracional.

Por isso que Crer é aderir com vontade e inteligência, é edificar as raízes da própria existência numa realidade maior e eterna, cremos em um Deus desconhecido, não porque é ilusório, mas porque ele nos transcende, é Imante, nos ultrapassa, é silêncio, mas ao mesmo tempo se fez ver, conhecer. Por isso quem deposita sua fé em Deus não se decepciona, pois ele não é um Deus entre outros, mas O único Deus, Vivo e verdadeiro, o Salvador.

Hoje somos chamados a como cristãos estar prontos para dar as razões de nossa fé aos que nos pedem, e para dar precisamos conhecer, pois como falaremos de alguém que não conhecemos, que não compartilhamos uma experiência relacional. Crer só por crer não tem sentido, é depositar a fé numa realidade vazia e fugaz, muitos cristãos católicos pensam assim em nossos dias, baseiam a sua fé em sentimento, e como todo prazer, todo sentimento é passageiro, logo abandonam a fé, pois já não sentem mais o que sentiam quando deram a sua adesão, largam a fé, abandonam o Deus Verdadeiro para adorarem a outros deuses.

Cristão que resume sua fé sem ideais que perpassem a própria vida não tem fundamento algum, é preciso viver uma fé pura, íntegra sem regateios, uma fé que vive a experiência de oração, da vida sacramental, da leitura orante da Santa Palavra de Deus, uma fé que busca compreender os mistérios em que se crê.

Não podemos viver iludidos com multidões que enchem as nossas assembleias litúrgicas, multidões eufóricas que se contentam em viver uma fé sentimental, é hora de despertar, abrir o espírito ao Espírito de Deus, devemos edificar a nossa existência não na areia, mas na rocha que é Cristo, é compreender que a adesão à pessoa de Cristo implica em viver a um aventura na qual ele nos leva a lugares desconhecidos que nos faz conhecer os insondáveis mistérios divinos.

O cristão e a igreja do futuro frente a este mundo hostil a Deus e a tudo o que é sagrado, que exalta o profano, o pagão, deve estar edificado em Cristo, ter raízes existenciais profundas, é estar unido à videira verdadeira que nos comunica a salvação. O Cristão verdadeiro é aquele que encontrou o sentido pleno de sua existência em Deus, que decidiu entregar o rumo da própria vida a ele.

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