segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A VINHA DO SENHOR

Naquele tempo, Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo: 33“Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas, e construiu uma torre de guarda. Depois, arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro.
34Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. 35Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram.
36O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma.
37Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’.
38Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ 39Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram.
40Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?”
41Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”.
42Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?’
43Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”.


Já a alguns domingos, dois pelo menos a Santa Liturgia tem nos apresentado a temática da Vinha de Deus por meio de parábolas. Ontem culminamos estes ensinamentos de Jesus sobre a Vinha como sinal do Reinado de Deus entre nós, o seu povo, sua raça eleita, porção escolhida. A Santa Mãe Igreja em sua Divina Liturgia nos alimentando com o Palavra de Salvação, faz-nos conhecer a Vinha de Deus, hoje se manifesta a nós quem é esta Vinha.

A Parábola da Vinha é comum tanto ao Antigo como ao Novo Testamento, os profetas e  Jesus no-la utilizaram para falar da manifestação do amor maior de Deus pelo seu povo, a sua raça eleita e preciosa aos seus olhos. É a História de Deus com o seu povo, não uma historieta qualquer, fictícia, mas uma história de Salvação, na qual veremos duas realidades nesta história: A Fidelidade de Deus revelada em seu amor infinito e a Infidelidade do povo revelada no pecado da idolatria.

Já podemos nos perguntar: quem é esta vinha? O salmista nos diz: “A Vinha do Senhor é a casa de Israel” (Sl 79). E confirma o profeta Isaías: “a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá, sua dileta plantação”. (Is 5,7). O Povo de Israel, escolhido por Deus, objeto de sua complacência, de sua benevolência, este povo tão pequeno, mas ao mesmo tempo, tão grande. Israel por diversas vezes é chamado de Vinha do Senhor Deus. Agora, não é uma simples e qualquer vinha, não! Diz-nos o profeta Oséias: “Israel era uma vinha exuberante” (Os 10,1). Esta exuberância da Vinha é sinal do amor, do carinho, da misericórdia de Deus para com ela, escolhendo-a dentre todos os povos da terra, fez dela o seu Povo, O Povo cujo, Deus, o Dono da Vinha é o Senhor.

Deus ao escolher o povo de Israel, cuidou dele com amor e carinho, é um Deus ciumento, porque ama sem fim, esta sua caridade estupenda foi manifesta quando Deus libertou o seu povo, que estava cativo, longe de sua terra, longe de seu Templo, vivendo numa terra estrangeira, no exílio como escravos e oprimidos. Deus libertou o seu povo das mãos dos inimigos, livrou-os do poder dos egípcios, das mãos do faraó, o salmista reza belissimamente isso: “Arrancastes do Egito esta videira, e expulsastes as nações para plantá-la;  até o mar se estenderam seus sarmentos, até o rio os seus rebentos se espalharam” (Sl 79), Deus fez o seu povo atravessar o mar vermelho a pé enxuto rumo a Canaã, a terra prometida, enviou  o seu grande mensageiro, Moisés, O libertador, quando o povo murmurou com fome e sede, Deus o alimentou com maná e matou a sede com as águas de Meriba; Deus constituiu alguns de seu servos como juízes do povo, para que pudessem andar em seus caminhos de uma forma justa, fez  com O seu Povo um pacto, uma aliança de amor e fidelidade no Sinai, deu-lhes por meio de Moisés a sua Lei, sinal de sua presença no meio de seu povo, fez dele a sua “propriedade peculiar” (Ex 19,5). A Lei era a identidade do povo, surge a Lei, surge o Povo, a Lei está arraigada na vida do Povo, Deus fez isso porque “é um Deus de misericórdia: não abandonará e não destruirá o seu povo, pois nunca vai esquecer da aliança que concluiu” (Dt 4,31). Deus cercou o seu povo de carinho e compaixão, o profeta Isaías, mostra muito bem esta atitude benevolente de Deus, “cercou-a, limpou-a de pedras, plantou videiras escolhidas” (Is 5,2). Deus zelou ao máximo por sua Vinha, fiel em tudo para com ela, mas a Vinha ao invés de produzir um bom fruto, acabou por produzir uvas selvagens, pois, bem, isto o profeta usa para indicar a infidelidade do Povo de Israel que abandonou o seu Deus, indo atrás de deuses falsos, sendo infiel, rejeitando o amor que Deus o cumulou, rompeu a aliança, rejeitaram os profetas que deveriam vigiar a vida do povo, como uma “Torre no meio da vinha” (Is 5,2) a supervisionar o andar do povo, indicando-lhe o caminho da vida. O lagar da vinha, do povo de Israel era os dez mandamentos, a Torá, a Lei que podava, espremia a iniquidade do povo, podava toda infidelidade para fazer Israel, o vinho novo, uma vinha fértil. Israel deu às costas a Deus produziu o fruto silvestre da infidelidade e do pecado.

Deus castiga o seu povo, o entrega nas mãos dos inimigos, e o povo é retirado da terra querida e amada, sofre as consequências do abandono do Deus único e verdadeiro, diz-nos o profeta Isaías:  “agora vou mostrar-vos o que farei com minha vinha: vou desmanchar a cerca, e ela será devastada; vou derrubar o muro, e ela será pisoteada. Vou deixá-la inculta e selvagem: ela não será podada nem lavrada, espinhos e sarças tomarão conta dela; não deixarei as nuvens derramar a chuva sobre ela”.  Isso aconteceu, num determinado tempo, Israel foi sitiada, o templo destruído, a terra foi entrega na mão de outros povos, tudo foi saqueado, e o povo foi levado cativo para a Babilônia. O povo, Vinha de Deus sofreu o castigo de ter abandonado Deus. Para que entendamos a dinâmica da História de Israel, podemos explica-la da seguinte maneira: Deus escolhe o povo, o Povo peca, Deus castiga, o povo se arrepende, Deus perdoa.  

Deus em cada momento da história do povo voltou os olhos para a sua vinha, depois de tanto cuidar, zelar, cerca-la de carinho, de misericórdia, ternura e compaixão esperando dela bons frutos no tempo certo da colheita, enviou os profetas para guiarem-na, tornando-a fértil no caminho da aliança com O Senhor Deus, dono da Vinha. Mas o povo de serviz dura renegou, matou os profetas. Deus porque não desiste de seu povo enviou, deu juízes ao seu povo, para que julgassem a sua conduta, para que instruíssem o povo ao longo da história, mas o povo rejeitou não quis saber de obedecer aos juízes, os expulsaram e mataram.

E Deus porque é amor sem limites, não é um padrasto, mas um Pai infinitamente bom e amável, convida o povo ao arrependimento, a voltar atrás na decisão tomada e iniciar um rumo novo. Vejamos como nos ensina o salmista revelando o desejo do Povo arrependido: “Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos céus e observai. Visitai a vossa vinha e protegei-a! Foi a vossa mão direita que a plantou; protegei-a, e ao rebento que firmastes!
E nunca mais vos deixaremos, Senhor Deus! Dai-nos vida, e louvaremos vosso nome! Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo, e sobre nós iluminai a vossa face! Se voltardes para nós, seremos salvos!”.
Deus olhou para o sofrimento de sua vinha, de seu povo amado, enviou o seu Filho, o herdeiro de suas promessas, enviou-o para dar vida e salvação à sua Vinha, em Jesus “Deus visitou o seu povo” (Lc 1,68). O Evangelho revela o que fez Deus Pai, dono da Vinha, depois de ver que seu povo matou e rejeitou os profetas que tinham sido enviados ao povo para fazê-lo dar bons frutos, Deus enviou o seu Filho, mas a resposta do povo, mas uma vez, foi de rejeição, de relutância, fizeram pior do que com os servos, vejamos o que nos diz o Evangelista: 38Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ 39Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram. (Mt 21, 38-39).

O Filho do Dono da Vinha, o Herdeiro, pois possui o poder, “O herdeiro de todas as coisas” (Hb 1,2), é Jesus que na plenitude, ou melhor, na extremidade dos tempos, estando o mundo atolado na lama o pecado, estando a vinha devastada com frutos selvagens, consequência o pecado, foi enviado à Vinha. Os chefes de Israel, representantes do povo, simbolizados pelos vinhateiros, mandaram prender a Jesus,  o açoitaram e levaram para fora da Vinha, ou seja, de Jerusalém, o crucificaram e o mataram.

O povo de Israel foi mais uma vez, infiel ao Senhor Deus, e por isso, Deus pela ingratidão da sua vinha, o reino de Deus, o dom de salvação e libertação será dado a outro povo para que este produza, faça florescer os frutos para a colheita do dono da Vinha. Cabe-nos uma pergunta: Quem é este povo? Eis-nos a resposta: é a Igreja, os cristãos, o Novo Israel, a Nova Vinha de Deus, somos nós, sua raça eleita pelo dom do Espírito do Filho. Cada filho e filha de Deus, ao ser batizado se torna membro da Vinha do Senhor e deve em sua vida frutificar boas obras, frutos do Espírito. Mas é bom que lembremos e estejamos atentos, se não praticarmos e trilharmos o caminho de Deus, fazendo frutificar boas obras, teremos o mesmo destino do povo da antiga aliança. Nos adverte Jesus: “Todo ramo em mim que não produz fruto será arrancado” (Jo 15,1).

Nós não somos só um povo escolhido, pelo batismo fomos enxertados em Cristo, somos unidos a Ele que é a Videira Verdadeira, deveremos, pois, para dar frutos, permanecermos em Jesus, e o que é estar em e com Jesus? Diz-nos São Paulo:  “Quanto ao mais, irmãos, ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor.
9Praticai o que aprendestes e recebestes de mim, ou que de mim vistes e ouvistes. Assim, o Deus da paz estará convosco”. Estar em Jesus é viver a nova Lei que está não mais em tábuas, mas foi gravada no coração, pelo Espírito de Cristo.

Se assim vivermos o Deus da paz estará conosco, ou seja, permaneceremos em Cristo, como nos ensina São Paulo: “Cristo é a nossa paz”. Amados irmãos a torre foi posta em nosso meio, como vinha nova de Deus, e esta torre é a Cruz de Cristo, ela é a Videira da qual saem os ramos de salvação, ela é nossa guia, nossa escada, nossa ponte, dela jorrou o sangue espremido, derramado e nos foi dado como bebida de salvação, Jesus esmagou em seu lagar o inimigo, e deu-nos a herança de Filhos de Deus. Em cada Eucaristia, no alimentamos da uva verdadeira, do sangue salvador e redentor, que nos enriquece e fortalece, para estarmos em cada instante, unidos á Videira Verdadeira que é Cristo, portanto, “Aquele que permanece em Mim (Cristo) e eu nele, produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5)




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