segunda-feira, 24 de outubro de 2011

UM AMOR QUE NÃO É UTOPIA

Amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo saúdo-vos com a paz de Deus. O Senhor Jesus ao adentrar na história humana, veio anunciar uma mensagem de salvação, a Boa-Nova do Reino de Deus, e assim ele o fez, suas palavras, obras e sinais revelam o advento deste Reino, que não é um conjunto de ideias, mas se identifica com a sua pessoa, ou seja, Jesus é o Reino, é o Evangelho de Salvação, a Palavra de Vida Plena encarnada no tempo da história nesta história, Jesus revela o Deus que é amor. Na liturgia de ontem, pudemos mergulhar no mistério deste Deus que é amor e que nos convida a amá-lo e a amarmos os nossos irmãos.

Os textos escriturísticos da liturgia de ontem nos apontavam para a realidade do Amor, não como uma realidade utópica, mas no seu sentido pleno e verdadeiro. Vejamos, o Evangelho de ontem nos situava Jesus na cidade santa de Jerusalém, era lá que ele deveria consumar a sua vida, em obediência ao seu Deus e Pai, é na terra dos israelitas que Jesus daria a prova de amor maior, dando a sua própria vida em resgate de muitos, manifestando todo amor e predileção que Deus tem pela humanidade e seria na cruz edificada fora dos muros de Jerusalém que o mundo poderia contemplar o Deus-Amor. Jesus já havia adentrado triunfalmente em Jerusalém e expulsado os vendilhões do Templo e isso já tinha causado uma reviravolta nos chefes do povo, eles viam Jesus como um subversor da lei judaica, e por isso, não deveria ser digno de credibilidade pelo povo judeu, desta forma, eles queriam prendê-lo.

No evangelho de ontem estando Jesus em Jerusalém, ele se depara com mais um grupo que busca pô-lo à prova, assim como no Evangelho da semana passada, também no evangelho de ontem, os fariseus lançam uma pergunta a Jesus, para experimentá-lo, uma pergunta de certa maneira mal intencionada, ei-la: “Mestre, qual é o maior mandamento da lei?” (Mt 22,36). A esta pergunta mal intencionada dos fariseus, Jesus a usa para nos dar um ensinamento de coração, com reta intenção, ele responde mostrando não só um mandamento, mas dois mandamentos. Vejamos a resposta de Jesus: amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e com todo o teu entendimento! esse é o maior e o primeiro mandamento” (Mt 22,37-38).  ele acrescenta outro, quase como que resumindo as duas tábuas da sagrada lei, diz Jesus: “O segundo é semelhante a esse: ‘amarás ao teu próximo como a ti mesmo’” (Mt 22,39.

 Em nosso coração podemos nos perguntar: de onde Jesus retira estes dois mandamentos? Logo podemos imaginar  que Jesus tenha os retirado da lista dos dez mandamentos. E logo nos enganamos, pois estes dois mandamentos não figuram entre os doze mandamentos dados por Deus à Moisés na aliança no monte Sinai, quando ele concedeu um sinal para que o povo caminhasse nos caminhos planos e retos do próprio Deus.  Na lista dos dez mandamentos o primeiro é: “não terás outros deuses diante de minha face” (Ex 20,3). É interessante notarmos que não figura entre os doze mandamentos o pedido: amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Isso de certa forma nos deixa intrigados, por que não figuram aqueles dois mandamentos? Vamos observar:

Na história do povo santo de Deus, o Povo de Israel, quando Deus concedeu as tábuas da lei à Moisés, ele pede que o povo não tenha outros deuses, somente isso, chama a atenção para que o povo não pratique a idolatria, ele não pede que o povo o ame; por que? Porque Deus percebe que o povo ainda não estava em condições de o amar,  nós iremos perceber que Deus não pede logo que o povo o ame com a totalidade de sua vida, e isto porque o povo ainda não conhecia totalmente quem era o Deus Verdadeiro. Deus antes de pedir o amor do povo, ele mostrou o seu amor ao povo em palavras e atos. Depois que o povo passou e travou uma luta contra a idolatria, no período do exílio, ele foi compreendendo o amor de Deus e que deveria amá-lo, pois como bem sabemos, amor se paga com amor. Só que o povo ainda tinha deuses em seus corações, seu interior ainda estava marcado pela idolatria, por isso que Deus envia os seus profetas, para orientar o povo, para que ele abrisse o coração e adorasse e amasse ao único Deus, tão rápido o povo esqueceu o amor que Deus lhes havia demonstrado, sobretudo, quando retirou o povo do cativeiro do Egito. Quando o povo estava em condições de amar a Deus é que ele irá pedir ao povo que ele o ame, e isto se deu na volta do exílio babilônico, é neste exato momento que Deus pede o amor do povo, eis o que ele diz: “amarás o senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6,5). É daqui que Jesus retira o maior mandamento ao responder à pergunta dos fariseus.

Ao pedido de Deus o povo vive de certa maneira uma incógnita existencial que se revela na atitude de incapacidade de amar a Deus. E sejamos sinceros, esta experiência vivida pelo povo em gerações passadas é hoje vivida por nós, nos achamos incapazes de amar a Deus, parece um absurdo, uma utopia, umavez que estamos propensos a cair, a ser infiel por causa do pecado. Amados irmãos e irmãs, como não amar em nossa pequenez, mas que é o nosso tudo, a Deus que nos amou desde sempre, e nunca deixa de nos amar? Algo também nos espanta e causa admiração, é o fato de que: quem neste mundo haveria de pensar que Deus quisesse ser amado? é esta a grande revelação de Deus, ele quer ser amado. Não de qualquer maneira, não de uma forma fugaz, mas de uma forma verdadeira e total, com a totalidade de nossa ínfima existência, não um amor com regateios, mas com doação sem reservas.

Como amados nós poderemos amar a Deus? Será que Deus não está pedindo algo muito difícil a nós? Não, nós podemos sim amá-lo. Primeiro, nós podemos amar a Deus porque o amor que cremos não é um ideal, ele é real, se encarnou, veio a nós, é JESUS, o amor está em nosso meio, nós o podemos tocar, podemos experimentá-lo, ele nos mostrou a forma de como deveremos amar a Deus, “Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho” (1Jo 4,10); nós amamos a Deus, primeiro porque ele nos amou por primeiro, e por isso, o amamos servindo-o de todo o coração, rompendo com  todos os pequenos deuses desta vida que nós cultuamos, o deus do sexo, do dinheiro, da ganância, do egoísmo, do individualismo, da moda, do prazer exacerbado, da vaidade. Deveremos inclinar nosso coração somente para o Deus que é maior do que todos estes deuses, que é capaz de nos dar a sua vida, o céu, a eternidade.

O amor a Deus acontece quando buscamos ter momentos de intimidade com Ele, a partir da oração, da leitura sagrada, da confissão, da vida sacramental, quando vivemos verdadeiramente segundo o dom batismal recebido, é aquilo que nos dizia São Paulo na sua carta aos Tessalonicesses: “vos tornastes imitadores do Senhor, acolhendo a Palavra” (1Ts 1,6). Deveremos entender que viver segundo a Palavra (Cristo) é amar a Deus, é encarnar na própria vida a vida do Filho de Deus; Bento XVI ao falar sobre quem são os santos como amantes de Deus, disse ele: “os santos foram aqueles que encarnaram a Palavra de Deus”.  eles viveram uma aliança de amor com Deus, e isto implica doação de tudo o que se é e o que se tem, é assim que se ama a Deus. Deus não tem necessidade de nosso amor, porque ele é infinito, mas deseja nosso amor para que nós vivamos a felicidade verdadeira, e ele anseia em nos conceder esta Vida Plena, por isso chama-nos para amá-lo, isto implica em estar com ele. Repito: podemos amar a Deus sim! E Ele nos concede a graça de o amarmos a partir do outro.

Eis a segunda forma de amar a Deus e que ao mesmo tempo permite com que entendamos o segundo mandamento dito por Jesus, é amando o nosso próximo, nossos irmãos, aqueles que nos rodeiam, assim nos ensinou São João: “Se alguém disser: amo a Deus, mas odeia o seu irmão, é mentiroso; aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê”. (1Jo 4,19-20).

Somos chamados a contemplar Deus na face de nossos irmãos, pois são imagens de Deus, fomos todos criados pelo amor de Deus, feitos para amare ser amado, Deus fez-se um de nós, e nos concedeu a capacidade de o vermos, amando aos nossos irmãos, estamos amando a Deus. No mistério de Deus o que mais me faça é que Deus é simples, Ele, o Onipotente fez-se nada, esvaziou-se de si, numa ação quenótica de amor a nós e ao seu Deus e Pai; nunca esqueçamos: “Deus é Amor” e isto implica em doação, renúncia, entrega, e Deus renunciou, a si mesmo, a sua condição, para assumir a nossa (Fl2). Assim, é Deus, pobre, simples, recordemos as palavras do livro do êxodo: “não oprimas nem maltrates o estrangeiro, não façais mal algum a viúva nem ao órfão” (Ex 22,20-21). Tem uma bela canção que diz ressalta a importância de que o amor precisa ser amado, e é dito assim: “O amor não é amado nos becos e nas ruas, o amor não é amado no leito de um hospital, não é visitado nos asilos, vive no presídio encarcerado, o amor tem fome e sede de amor, o amor precisa ser amado... renascerá a nova humanidade, desperta e vê, é tempo de entender, proeza maior não foi pisar na lua, nem grandes feitos, nem poder algum, maior é quem descobre o amor em cada um”

Todos nós somos seres de relação, e consequentemente, deveremos estar sempre abertos a amar o outro, Deus já saciou a nossa sede de amor, pois ele nos amou em excesso, transbordou o seu amor em nossos corações, o problema é que tão rápido nos esquecemos disso e começamos a mendigar outros amores, que não pobres, fracos, não saciam pois não são eternos. O amor que deveremos amar a nossos irmãos é o amor que nos banhou na cruz, que foi derramado no mais profundo de nosso interior. Essa é a nossa missão!

Amados irmãos quando o mundo com a sua avalanche de tragédias, de terrorismos existenciais, de imediatismo, quiser vendar os nossos olhos e nosso coração para Deus, roubando e sugando as nossas forças, e perdermos de vista o amor, estejamos sempre prontos a irmos ao encontro dele, assim nos exortava a antífona de entrada da missa de ontem: “Sim, buscai o Senhor e sua força, procurai sem cessar a sua face”. Onde poderemos encontrar o amor? Onde ele está? Amados, o amor está no sacrário, escondido, é lá que o encontramos, é lá que ele está velado sob o véu sacramental, é o admirável sacramento do Amor, corramos ao seu encontro e o amemos e sejamos amados por ele. Ao Eterno amor seja dada a honra e a glória, agora e por toda a eternidade.




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