segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Correção fraterna no amor

Amados em Cristo, quero meditar sobre a belíssima expressão que aparecia na missa de ontem na segunda leitura da carta de S. paulo aos Romanos que nos dizia:  "Irmãos, não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser, o amor mútuo" (Rm 13,8).

Que expressão belíssima e muito rica de significado, vejamos, "dever algo a alguém", parece algo sem sentido, no mundo de hoje, tão marcado pelo egoísmo, individualismo. em que isto implica? que sentido tem isso? o que deveremos dever aos outros? vejamos! existiu na história da salvação uma grande dívida erigida e que precisou  ser paga; com o pecado, enquanto ato de desobedência, de afastamento de Deus, de negação, de perda de ser semelhante a Deus, o homem ofendeu o próprio Deus, Aquele que é, o Eu Sou; vejamos que não foi um homem que foi ofedido, e se o fosse já erra grave, imagine Deus; aqui não se mede nem tanto a gravidadade da ofensa, mas a pessoa que foi ofendida, e aqui se trata de Deus. Como poderia o homem quitar esta divida, reparar esta ofensa, pobre humilde, miserável como é, não conseguiria jamais pagá-la; só Deus a podia pagar, mas não foi ele que praticou tamanha ofensa, não foi Deus que ofendeu a Deus, mas o homem.
se Precisa de um mediador que una as duas partes: aquele que tinha praticado a ofensa e aquele que poderia pagá-la, eis que Deus nas extremidades do tempo enviou o seu mediador, o seu unigênito, o seu Filho bem amado, que assumindo a condição humana, unia as duas partes, revelando o amor de Deus, o amor que é o próprio Deus. na obra da redenção efetuada por Cristo Verbo de Deus Encarnado ele pagou a dívida, reparou a pena cometida pelo homem, dando a ele a dignidade que havia perdido. Cantamos estas maravilhas no grande cântico pascal, o Exultet: "ó Deus quão estupenda caridade, vemos no vosso gesto fulgurar, não hesitais em dar o próprio Filho, para a culpa, dos servos resgatar, foi Ele quem pagou do outro (homem) a culpa, quando por nós a morte se entregou".
é este amor que pagou a nossa dívida, restaurou a nossa história, deu-nos vida nova, que deveremos ser devedores aos nossos irmãos, é o amor que nao é um simples cumprimento ético, moral, mas é uma pessoa, Deus, o amor que nasce do próprio Deus, derramado em nossos corações na tarde pascal, pelo dom do Espírito Santo, este amor deve ser derrmado na vida de nossos semelhantes, é o amor ao próximo, amando como reflexo do próprio Deus, pois "a plenitude da lei é o amor" (Rm 13,10). é uma grande dívida que a cada dia, em cada gesto, ação, palavra deve ser paga; em cada novo dia no limiar de nossas vidas, deveremos ser impelidos a transmití-lo, a vivê-lo, assim nos ensinava o mesmo São Paulo: "O amor de Cristo nos impele"(2Cor 5,14), amor que será o meio e o fim pelo qual seremos julgados, como dizia o grande místico S. João da cruz: "No entardecer de nossas vidas seremos julgados pelo amor"; é um amor que deve fazer de nós, vigias, não no sentido de estar a "curiar" a vida de nosso irmão, sendo o seu acusador, olhando para a sua vida esperando que ele caia, esperando que ele erre para julgá-lo. Ser vigia aqui, tem um sentido profundo, é o de cuidar, saber cuidar, quem ama cuida, num amor que é óleo benéfico que cura as feridas que as ignomínias  do tempo abrem no coração de nosso irmão;  ser vigia é ser pastor, dizia o Filósofo alemão Heeidgger: "O homem é o pastor do ser", e isto é verdade, o pastor é aquele que cuida das suas ovelhas,sobretudo, quando estão feridas, doentes, fracas, conhece cada uma e indica o caminho do redil. era isso que o profeta Ezequiel advertia: Eu te constitui vigia da casa de Israel" ( Ez 33,7), deveremos advertir com humildade, quando os nossos irmãos estiverem caminhando para o abismo, o vale tenebroso da vida, devemos com docilidade fazer com que ele se arrependa de seus atos, chore os seus pecados e deixe a vida de morte, o seu sepulcro existêncial e saia, passe para o caminho da vida. No Batismo nos foi dado o múnus, o serviço de agirmos como profetas: o Nabi de Deus que olha,que vive de atalaia, sendo um guia da vida dos irmãos, anunciando como instrumento de Deus ao pecador o caminho da Vida. Não podemos deixar um irmão nosso perecer no pecado, deveremos estender a mão, e saber que o meu próximo é tão pecador, quanto eu, tão necessitado de ajuda, quanto eu.
quantas vezes nós queremos ser juízes da vida do outro, acusadores, olhamos sempre para a vida do próximo, para ver quando ele irá cair, errar, pecar, somente para acusá-lo, para levá-lo ao tribunal da vida, quantas vezes só enxergamos o cisco no olho de nosso irmão! quantas vezes o depreciamos, jogamos pedras, o matamos com palavras ásperas, com nosso silêncio de omissão. quantas vezes negamos o amor ao próximo, em nossas casas, no trabalho, na família, nas amizades, na Igreja, na vida de comunidade.
Um dos males do ser humano fruto de sua inclinação ao pecado é ser maior, ser grande, ou seja, ser prepotente,  eu posso cair o outro não, e quando erro, não preciso de ninguém que me ajude ou me corrija.
onde está a vivência do amor que nos foi comunicado, onde está a nossa resposta ao amor dado por Deus?. Devemos aprender a viver a correção fraterna, sabendo corrigir com docilidade, com humildade, ternura, mansidão, bondade, amor; e ao mesmo tempo, deveremos aprender a ser corrigidos, a muitas vezes suportar a dor da correção que toca a nossa ferida, mas saber que o amor que se manifesta na correção faterna é capaz de curar o meu erro, o meu pecado, a minha fraqueza.  a correção deve ser feita no silêncio, num lugar a sós, quantas vezes, vemos o erro de nossos irmãos e coremos logo a espalhá-lo;se muitas vezes é difícil corrigir a sós, chama outro irmão, dois, para assim se comprovar que não sou eu que quero ser melhor do que o outro, mas com meu outro irmão podemos numa união, reerguer aquele que caiu. mas pode ser que aquele que errou não queira nem escutar a mim, nem aos outros irmãos, deste modo, não devemos abandoná-lo, mas dizê-lo a Igreja, não para condená-lo, mas para levá-lo a conversão,a mudança de vida, a provar do amor que brota do sacramento da misericórdia, sacramento que cura a alma ferida pelo pecado. se até mesmo a conversão ele não quiser, cabe a nós a oração comunitária, corações que se unem em súplica para que Deus toque no coração da ovelha que está desgarrada e ela encontre o caminho, "não feche o seu coração, mas escute a voz do Senhor, pois Ele é nosso Deus e nosso Pastor" (Sl 94, 7.8).
quando a correção é feita com amor e acolhida com amor, não se fica mágoa, inveja, rancor, mas se ganha um irmão, um amigo, uma ovelha para o redil de Deus. eu não sou juiz da vida de meu irmão, eu sou guarda, pastor, servo, eu dou a minha vida, expessa nas minhas palavras, na minha escuta, no meu esforço de ir até o irmão, tudo para que ele viva.
esta é a missão do discípulo de Jesus, ser humilde como o Mestre, ter compaixão, ter misericórdia para com os que sofrem, pois é este o caminho da salvação e da vida, caminhemos ao encontro do Senhor cantando em seus átrios o cântico da Misericórdia, e vivamos com ele para Sempre" (Oração depois da comunhão).


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