terça-feira, 27 de setembro de 2011

"PODEIS BEBER O CÁLICE QUE EU VOU BEBER?"


Hoje lendo um livro do Pe. Henry Nowen intitulado: “Podeis beber o cálice?”. No qual ele faz uma reflexão baseada no diálogo de Jesus com a mãe dos Filhos de Zebedeu, quando ela pede se seus filhos sentem um à direita e o outro à esquerda de Jesus, mas a este pedido Jesus responde: “Podeis Beber o cálice que eu vou beber?”. Fiquei atraído pelo mistério que se revela neste cálice a ser bebido. De início ao nos basearmos no texto evangélico podemos perguntar: que cálice era aquele que Jesus iria tomar? Era de per si a sua própria vida, ofertada como doação de amor pela salvação da humanidade, a sua paixão redentora, o sofrimento a ser enfrentado numa via-sacra até o calvário, a dor de ser vítima do pecado, ter que se esvaziar inteiramente de sua condição divina para humilhar-se em extremo na ara da cruz, ser abandonado, ser repudiado.
Jesus antecipou a entrega deste cálice, quando ofertou a sua vida de forma incruenta na última ceia, impregnou a sua paixão no cálice com vinho, oferecido como o seu próprio sangue, penhor de salvação. Já ali dava a sua vida o seu sim numa entrega de amor. Jesus se ofertava sem medo, era um exemplo a ser seguido, como eu vos fiz, também vós o façais.
Este cálice trazia em si o passar e o suportar todo o sofrimento do pecado humano, lembremo-nos que no Getsêmani Jesus experimentou uma angústia mortal fruto do pecado a ser aceito, a ponto de pedir ao Pai que afastasse dele aquele cálice de amargura, de ira, dor e sofrimento, mas depois em íntima união com a vontade de seu Deus e Pai, aceitou bebê-lo até à borda.
Lá no Getsêmani estavam os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, lá eles viram que beber o cálice não era algo tão fácil ou deleitável.
Certamente, Jesus sabia que aqueles discípulos não suportariam beber este cálice até o fim, será que estavam prontos para oferecerem à própria vida até o fim? Certamente que não, pois era preciso que o Mestre fizesse a oferta de si, pois o discípulo é chamado a imitá-lo, ele deixou um exemplo a ser seguido, sigamos, portanto, seus passos; em outra ocasião dissemos que seguir Jesus é imitá-lo, primeiro o Mestre deixaria o testemunho, que consequentemente seria imitado pelos discípulos. Não foi a toa que Jesus deu uma resposta positiva aos dois discípulos: “Meu cálice bebereis”. Em outras palavras, Jesus estava dizendo: o que eu vou suportar, vós também ireis, só que primeiro eu. No beber o cálice está a disposição de perder a própria vida para ganhá-la, suportando as tristezas e alegrias. É preciso sofrer para entrar na glória, e o sofrimento, a angústia, a morte são o conteúdo do cálice.
Outro questionamento poderia ser levantado: por que beber este cálice de dor? Não seria mais fácil viver uma vida normal com o mínimo de dor e o máximo de prazer? O cristão não pode ter medo de beber este cálice, pois, se teme, não é um discípulo fiel de Cristo. A identidade de ser cristão passa pela cruz, passa pelo sofrimento, não numa espécie de masoquismo, mas na confiança de que é por meio do sofrimento que chegaremos ao céu.
Antes de beber o cálice é preciso segurá-lo, isto implica em saber o que estamos vivendo, de que modo estamos vivendo e para quem estamos vivendo, é refletir sobre a própria condição existencial, contemplá-la. Dizia o Pe. Henry: “metade da experiência do viver é refletir sobre o que se vive...a maior alegria bem como a maior dor do viver, não vem apenas do que vivemos, mas ainda de como pensamos e sentimos o que estamos vivendo” .
É preciso olhar a nossa própria vida com um olhar crítico, conhecer-se a si mesmo, para descobrirmos quem somos, não podemos viver apenas a vida, temos que saber e compreender os motivos e razões pelas quais vivemos, ou seja, dar sentido à própria vida.
Amados, em cada celebração o sacerdote qual Cristo segura em suas mãos o cálice, é a vida de Deus Filho a ser entregue, doada, derramada, transbordada na nossa vida. Somos chamados a oferecer a nossa vida em sacrifício, somos os ramos da videira que dá vida ao mundo.
Em nossos momentos de dificuldade, dor, sofrimento, angústia, solidão, não rejeitemos beber o cálice, tenhamos a coragem de com fé toma-lo, sabendo que Deus nos ajudará a suportar toda e qualquer tribulação, como diz a canção: “ele não permitirá que um amado seu, sofra mais do que possa suportar”. Sei que muitas vezes queremos dizer não, afastar o cálice, mas sigamos o exemplo de nosso divino mestre, quando a amargura do vinho da vida nos sufocar e nos afogar, Deus envia o seu anjo confortador, para consolar-nos. Não pensemos que ter uma vida de facilidades que nos faz relaxar é o tudo, a felicidade, se assim pensamos nos enganamos; nunca nos esqueçamos que o cálice da tristeza é transformado em cálice de alegria.

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário