quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Deixar as riquezas terrenas e abraçar o Tesouro celeste

Ontem celebramos a festa de São Mateus Apóstolo e Evangelista, e sempre que celebramos um apóstolo, nós celebramos a Igreja, pois uma das notas, ou seja, uma das características da Igreja em sua essência é ser “APOSTÓLICA”. Isto implica em percebemos que na vida dos apóstolos no seguimento fiel a Jesus, encontramos o exemplo de como ser Igreja. Por isso, vejamos o que o grande Apóstolo nos ensina.
Quem era este apóstolo? Mateus ou Levi como chamam os Evangelhos, era um publicano, que exercia a profissão de cobrador de impostos em Cafarnaum, profissão não bem sucedida, pois se tirava enormemente do pouco que o povo tinha e isso era massacrar a vida. Os publicanos abarcavam muitas riquezas e opulências num trabalho marcado pela injustiça, eram muitos os lucros terrenos. Mateus vivia, pois no pecado, praticando a injustiça, o roubo, o engano. E é aqui que Jesus inicia a sua história fascinante na vida daquele homem, pois, “Ele não veio chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9,13)
Foi na sua vida de pecado que Mateus teve o encontro que mudou a sua vida, encontro daqueles que nos desconcertam, que nos desmantelam, é isso que Deus faz conosco, Ele nos surpreende sempre, seu encontro conosco, causa em nós uma mudança daquilo que somos, é um encontro performativo.
Vejamos, Jesus ia passando, e viu um homem, chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos. É impressionante esta passagem de Jesus, não é só um simples ir a algum lugar, mas é uma passagem que quer modificar aqueles nos quais cruzam o seu caminho, porque não dizer, é uma páscoa, a páscoa de Deus na vida do homem, a saída dos vícios para a virtude, do mundo dos homens para o mundo de Deus. Jesus passa no ordinário de nossas vidas, lá onde nós vivemos nosso cotidiano, em nossos trabalhos, afazeres, a vida comezinha, simples e humilde, com suas dores e alegrias. O problema é que esperamos encontrar Deus de uma forma grandiosa, mas Lembremo-nos Ele sendo Rico (Divindade) se fez Pobre (humanidade), Deus se revela na simplicidade. Ele sempre passa nos telônios de nossas existências, pena que corremos o risco de não percebermos estas passagens de Deus em nossas vidas.
Foi passando, em sua jornada que ele viu e encontrou Mateus, lá no seu afazer diário, sentado, esperando que lhe pagassem os impostos, foi lá que Jesus o viu e que também nos vê. É desconcertante este olhar de Jesus, não é puramente um ver com os olhos corporais, mas é um ver com os olhos da alma, um olhar que penetra no íntimo do ser, um olhar que esquadrinha o coração, perscrutando-o por inteiro, é um olhar de compaixão, de ver o outro na miséria da vida de sempre, e ser movido a arrancá-lo deste lamaçal que o atola numa vida pobre, sem esperança, sem felicidade, é um olhar desejoso de dar como dom a Vida verdadeira, da felicidade sem fim. Interessante que ali aparece o verbo “sentar”, diz-nos o texto sagrado: “ele estava sentado na coletoria de impostos” (Mt 9,9) isto não indica apenas um  estar acomodado, mas, sobretudo, um estar paralítico, sem movimento algum, a vida de pecado o paralisou, o fez parar na vidinha de sempre, é interessante que o Evangelista Marcos descreve o Chamado de Mateus, logo após, ter descrito a cura do paralítico que Jesus curou, isto indica, que Mateus sentado na coletoria de impostos, como um mísero publicano, era como um paralítico, acomodou-se naquele estado vivencial. É isso que acontece muitas vezes conosco, o pecado, a vida distante de Deus nos paralisa, e nos deixa acomodados com o pecado, paralisa o nosso coração paralisa o nosso desejo de Deus.
Por isso, Jesus ao olhar Mateus, se enche de compaixão e decide dar a ele uma vida melhor, dar a ele a riqueza imperecível. Arrancá-lo de sua paralisia, Jesus o escolhe e o chama: “Segue-me”. Este chamado de Jesus tem por trás uma beleza enorme, ou seja, é o chamado não só de andar com os pés atrás de Jesus, ir em seu seguimento, mas é de imitar o Mestre que o chama, eis a missão do discípulo, ser um com o Mestre, é caminhar sim atrás dele, seguindo as pegadas que ele deixa no caminho de nossas vidas, mas, sobretudo, o discípulo, deve realizar tudo, em ações e palavras o que o próprio Mestre realizou. Porque, “quem diz que permanece em Cristo, deve andar como ele andou” (1Jo 2,6). É árdua esta missão, mas a vida do cristão não é de facilidades, Jesus sempre deixou isso bem claro, ele não nos iludiu, se quisermos experimentar da Felicidade que permanece, teremos que suportar o peso do esforço de imitar a Jesus. Era muito fácil a vida que Mateus levava, acomodado em não fazer nada, achando que as riquezas, os lucros materiais lhe dariam tudo.
Este chamado de Jesus é também o de viver a “aventura da fé” (Bento XVI), entregar a decisão da própria vida a outro, deixando ser conduzido por Cristo sem medo, apenas confiando, fé é adesão, entrega, confiança, abandonar a própria vida na vida de Deus deixando com que Ele nos leve ao paraíso de Deus.
Ao chamado de Jesus, Mateus não vacilou, logo “se levantou” (Mt 9,9), ou seja, ao escutar a Palavra (Jesus) ele sai, levanta de sua paralisia, Jesus, a Palavra eterna do Pai é, deveras, viva e eficaz, “vossa palavra Senhor é Espírito e vida” (Sl 18). Dava início a conversão de Mateus, junto com o levantar-se vem o seguimento, diz-nos o texto: “Levantando-se ele, o seguiu” (Mt 9,9). Mateus não falou nada, nem perguntou quem era aquele homem, de onde ele era, para onde o queria levar, somente o seguiu, é a resposta silenciosa, é a fé que se manifesta em confiança, em abandono, entregou o rumo da própria vida a Cristo.
Ao chamado de Jesus deve ser esta a nossa resposta, não deveremos nos questionar, apenas sem medo, o seguir, ter a coragem de reescrever uma nova história, assim diz uma canção: “quero te dar meu coração, a luz de uma nova decisão, amar-te mais que tudo o que eu possa ver, abraçando então o que é real, provando e amando o essencial, reescrevendo  uma nova história, vivendo o teu amor. Minha vida é toda tua, os meus planos e os meus sonhos, de nada vale o existir senão for para te ofertar, em cada passo descobrir que o tempo esconde o que é eterno, que só tu és o sentido, meu tudo”.
Mateus tem a coragem de deixar os seus lucros, suas riquezas, desprezar tudo o que possuía, para adentrar no grupo daqueles que não possuíam humanamente falando riqueza alguma, mas que na verdade tinham e teriam a Riqueza maior, que é Deus em Jesus Cristo. Ao meditar sobre este texto, São Beda diz-nos:  “quem o afastava dos tesouros temporais podia lhe dar nos céus os tesouros eternos, incorruptíveis”. Mateus deixou as meras riquezas, para ser Rico, para ter o bem maior. É isso que Deus quer nos conceder, seguir a Jesus é ter a certeza que “Ele não nos tira nada, mas nos dá tudo” (Bento XVI).
O belo exemplo de Mateus de deixar a vida velha de pecado e de engano, para seguir Jesus serviu de sinal para a conversão de muitos outros publicanos e pecadores, pois, “Jesus foi a casa de Mateus para uma refeição e lá estavam muitos publicanos e pecadores” (Mt 9,10). Mateus ao seguir Jesus, certamente se arrependeu da vida mesquinha de pecado na qual ele vivia, esta sua atitude de viver com Jesus uma vida nova foi um prenúncio para tantos quanto levavam a mesma vida. Aquela refeição foi também uma daquelas passagens de Jesus para trazer e fazer uma mudança radical na vida daqueles que o encontram.
A refeição na casa de Mateus foi muito pouca, em comparação da verdadeira refeição que foi feita, aquela em seu coração, Mateus permitiu que Jesus entrasse em sua vida, na casa de seu pobre coração de pecador, e o transformasse, a fé foi o sim para que Jesus realizasse um banquete de amor na alma de Mateus, é a revolução do amor que modificou a sede das decisões de Mateus, fazendo-o abraçar a vida de Jesus e imitá-lo, “eis que estou a porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20).
O desejo de Jesus era adentrar no coração de cada um daqueles pecadores, era convidá-los à conversão, a celebrar com eles a páscoa do amor, a saída dos vícios à virtude. Foi para os pecadores que ele veio, para recuperá-los, dar a sua de suas almas. É isso que Jesus deseja fazer conosco, ele bate na porta de nossos corações, desejando celebrar a sua páscoa conosco, nos conceder a riqueza imperecível, o tesouro maior, abramos, pois, nossos corações, desapeguemos nossa vida daquilo que é perecível, e agarremos o que é eterno. E sendo os eleitos de Deus caminhemos para o alto.
Que o exemplo de São Mateus nos encoraje a deixar as riquezas terrenas e a buscarmos as riquezas eternas de Deus, ao qual seja dada toda honra e toda glória. amém  

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