sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Santa Noite a todos vos amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo! vendo a necessidade de em nossos dias mostrar a essência da Verdadeira Igreja de Cristo, querida e amada por ele, frente a diversidade de "igrejas" e seitas que surgem a cada instante, buscando falsificar a mensagem do Evangelho e, por conseginte, cofundindo a fé do povo simples, busquei oferecer de forma resumida um estudo eclesiológico que fiz, baseado na ECLESIOLOGIA DE JOSEPH RATZINGER (BENTO XVI) mostrando em que consiste a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, em sua origem e identidade, como tendo origem Eterna, desde toda a eternidade no seio Trinitário. Espero que o presente texto vos ajude a amar a Santa Mãe Igreja de Cristo subsistente na Igreja católica. 



INTRODUÇÃO

É importante afirmar que a Eclesiologia desenvolvida por Ratzinger é de caráter sacramental, assim como outros grandes teólogos pensaram o mistério da Igreja dentro de uma perspectiva sacramental, ou seja, ver a Igreja a partir dos sacramentos como tesouros e meios eficazes de salvação, enquanto comunicam a graça santificante. Este é o caminho ideal para adentrar nos umbrais do mistério da Igreja. Assim dirá Ratzinger: “Igreja e Sacramento se condicionam mutuamente; sem os sacramentos, a Igreja não passaria de uma organização vazia, e sem a Igreja os sacramentos seriam ritos carentes de sentido e nexo interno”.[1]        Em relação a outros teólogos que estudam o mistério da Igreja a partir da sacramentaria geral, Ratzinger prefere estudá-lo à luz de um sacramento particular que é a Eucaristia. Esta opção feita por Ratzinger encontra o seu fundamento e ponto de partida no Novo Testamento; ele explica da seguinte maneira

“a primeira diversificação, quando a Igreja sai de Israel, consiste no fato de que ela celebra Jesus, agindo desta maneira, a Igreja se torna uma comunidade toda particular, uma comunidade que tem um contato direto com Deus, e está destinada a amar e a servir todo o gênero humano, disso procede o fato de que a Igreja é uma comunidade eucarística e esta é a sua forma específica constitucional”.[2]


A Igreja é esta comunidade eucarística que em todos os lugares celebra esta união com Cristo, e será esta união o fundamento da unidade interna e externa da própria Igreja. Com este seu pensamento teológico Ratzinger elabora uma ECLESIOLOGIA EUCARÍSTICA. Nosso estudo estará centrado na sua obra eclesiológica intitulada: “O Novo Povo de Deus” estudaremos dois capítulos da Segunda Parte, um primeiro versa sobre a origem e a natureza da Igreja, um outro aborda a definição de Igreja dada pelo autor.




I.ORIGEM E NATUREZA DA IGREJA

Igreja, sinal e mistério de fé
            Ratzinger começa mostrando a querela acontecida por volta do séc. XVI, quando Roberto Belarmino começou a publicar seus célebres e polêmicos escritos sobre alguns problemas da fé cristã, dando início a um tratado moderno sobre a Igreja. Roberto Belarmino buscou esclarecer as idéias da reforma que destacavam apenas o caráter invisível da Igreja; então, se procurou defender o aspecto visível da Igreja, só que acabou surgindo um grande perigo que era o de ver a igreja apenas como uma “instituição ou organização jurídica”. Assim o que era a Igreja: O papa, os bispos e os padres. Os fiéis cristãos não tinham consciência de que eles como batizados faziam parte do fluxo vital da Igreja.
            Com o passar do tempo surge uma nova primavera na esteira eclesiológica, isto aconteceu após a 1ª Guerra mundial, quando se começou a revalorizar a doutrina do Corpo místico de Cristo; a partir daí surge uma nova mentalidade na consciência dos cristãos que se sentem participantes da vida da Igreja, agora eles podiam afirmar: “A igreja somos nós”, os cristãos faziam parte do misterioso Corpo do Senhor.
            Após a 2ª guerra mundial um pensar cético perpassou a vida de alguns cristãos e se começou a lançar críticas à igreja, se via a igreja apenas como autoridade ou como uma organização, assim se pôs em detrimento a unidade da Igreja, houve o perigo de dividir a igreja em uma igreja jurídica e igreja do amor. Frente a estas idéias se viu a necessidade de afirmar que “existe uma só igreja indivisível que é ao mesmo tempo mistério de fé e sinal de fé, vida misteriosa e manifestação visível desta vida”.[3] A igreja é sinal de fé e mistério de fé.

  1. A origem da Igreja
a)      Jesus e a Igreja
Podemos nos perguntar a princípio, existe uma relação entre Cristo e a Igreja? A resposta é afirmativa, sim, existe uma relação estreita e profunda entre Cristo e a Igreja, esta relação está alicerçada também no conceito de Reino.
É bem verdade que na mensagem de Jesus, enquanto anúncio da Boa-Nova de Deus aos homens não se anunciou de imediato o advento da Igreja, mas primeiramente do Reino de Deus. Por conseguinte, dirá o teólogo Loisy, “Jesus anunciava o Reino e o que veio foi a Igreja”. Esta contraposição entre Reino e Igreja não existiu de forma nenhuma, pois a idéia de Reino traz em si a ação de reunir os homens; justamente se Jesus considerava que o fim estava próximo, ele devia ter tido a intenção de reunir o povo de Deus. O único sentido de toda a obra de Jesus consistia em congregar o povo escatológico de Deus.
Para iluminar a nossa compreensão Ratzinger faz referência a uma idéia exposta pelo teólogo protestante Kattenbusch, segundo ele: “a idéia de Igreja esta fundada na consciência que Jesus tinha de ser o Filho do homem”.[4] este título de filho do homem quer indicar aquele que representante de Deus que vai reunir todo o povo formando o novo e definitivo Israel. É bom recordar que este título que está expresso em Dn 7 é a designação mais verídica sobre quem é Jesus, é o título que sai da própria boca de Jesus. Ao se auto-definir como Filho do homem, Jesus revela que sua intenção é de levar a história ao seu fim e reunir o povo dos últimos tempos, formando assim o novo e definitivo Israel, ele congregará ao seu redor um novo povo.
Ratzinger faz ver que o Reino não significa uma idéia, coisa ou lugar, mas o agir de Deus que se identifica com sua própria pessoa. Em Mc 1,15 diz: “O Reino de Deus está perto” – assim se pode dizer “Deus está perto” – Jesus é a proximidade de Deus – onde ele está aí está o Reino. Por isso que Jesus disse: “se eu estou no meio de vós, então, o Reino de Deus já chegou”. Orígenes dirá que Jesus é a auto-basiléia. “O próprio Jesus é realmente em sua pessoa, o Reino de Deus”[5] .
Em toda a sua vida Jesus nunca se entendeu como um indivíduo isolado ele vive para reunir um novo povo, para congregar os que estavam dispersos, é aqui que surge um ponto de compreensão da futura Igreja, este novo povo terá como ponto central o próprio Cristo, “este povo só se tornará verdadeiramente povo enquanto for chamado por Cristo e responder à sua chamada, à sua pessoa”.[6]
             Aqui já fica claro que Jesus como sendo em sua pessoa o Reino de Deus quer reunir um novo povo, a partir de um chamado. Podemos nos perguntar: qual a idéia ou o objetivo central de Jesus ao fundar a sua Igreja?


b)      Instituição dos doze
À pergunta feita a cima é respondida justamente na intenção que Jesus tinha de formar uma nova comunidade um novo povo, esta sua atitude é clara quando nos voltamos para o evangelho de Marcos e vemos “chamou os que ele quis...designou doze dentre eles” (Mc 3,13). “Os doze” ou a “comunidade dos doze” é de suma importância na história salvífica, a primeira missão destes discípulos é antes de tudo serem “doze” (At 1,15-16). Este número 12 tem um simbolismo muito importante, se olharmos para a economia antiga veremos que “Israel era o povo das doze tribos (doze filhos de Jacó) que seriam reconstituídas nos tempos messiânicos. No círculo dos doze, Jesus surge como o patriarca de um novo povo, o Novo Israel, Jesus é o Novo Jacó”[7]. Cristo chama doze tendo sempre a intenção de instituir a Igreja. Os doze são a célula inicial da Igreja, agora se torna mais clara a idéia de Filho do homem que abordamos alhures, Jesus é o criador e Senhor deste novo povo.
Há momentos na vida de Jesus que se vê a sua intenção, seu desejo de instituir a Igreja. Ratzinger aponta dois: conferiu o poder a Pedro (Mt 16,18ss) e o momento alto, a última ceia. Eis que chegamos ao cerne da eclesiologia sacramental-eucarística de Ratzinger, a Ceia é o verdadeiro e próprio ato da instituição da Igreja, é nela que nasce a comunidade nova, e por meio dela que esta nova comunidade se distinguirá de todas as outras, porque no meio de seu povo estará sempre o próprio Senhor. Ratzinger destaca a existência de uma ligação estreita entre a última ceia e páscoa judaica, para fazer ver que a Igreja é o Novo Israel, o Novo povo de Deus.

c)      A última ceia e a páscoa judaica
Existe uma analogia entre estas duas celebrações, Cristo fez ver que sua ceia era a verdadeira páscoa; Cristo morreu na mesma hora em que no templo se imolavam os cordeiros (isto faz referência a Cristo como o novo e verdadeiro cordeiro pascal). Mas vamos adiante, Ratzinger faz ver que foi justamente na noite páscoa que Israel nasceu, foi a noite em que do Egito, Deus retirou os filhos dos hebreus das mãos dos egípcios, e concedeu a eles a liberdade. Por isso que quando o povo de Israel celebra a páscoa a cada ano eles fazem memória deste precioso evento, a noite em que o povo de Israel nasceu. Na festa da páscoa, todo o Israel se reunia no Templo, único lugar de culto, sinal de unidade do povo, era por meio do culto que o povo celebrava e revivia a redenção. No ínterim deste pensar teológico, Cristo se apresenta como o novo e verdadeiro cordeiro pascal; a ceia a qual sua carne e seu sangue são entregues como alimento convertendo aquela ceia no verdadeiro e definitivo banquete pascal, e será justamente este banquete o centro do novo povo de Israel.
O centro de sua unidade é o banquete, este banquete contará sempre com a presença do Senhor – o corpo do Senhor é o centro da ceia – e o Novo e único templo. Contudo, o sacrifício de Jesus estabelece um Novo Culto, um Novo Povo e um Novo Templo. Cristo instituiu uma Igreja como nova comunidade de salvação que tem na ceia o seu ápice. Este novo povo nasce da comunhão com o corpo e sangue do Senhor, aqui se estabelece uma Nova e eterna aliança sinal de comunhão que é expressa pela fusão de duas existências. Por conseguinte, “o povo da nova aliança ou o novo povo é um povo, em virtude do corpo de Cristo”. [8]

d)      Igreja como Corpo de Cristo
Ratzinger volve o seu olhar e faz uso da teologia paulina para mostrar esta realidade da Igreja como Corpo de Cristo, ele aponta para duas realidades primeiro a das núpcias, para dizer que a união de dois numa só carne faz ver a Igreja como esposa de Cristo. A segunda realidade é que esta união com Cristo se dá pela Eucaristia. Nesta perspectiva Ratzinger nos faz ver que é por meio da eucaristia que a Igreja é o verdadeiro Corpo de Cristo, e com isso a Igreja é “povo de Deus porque é Corpo de Cristo” [9]



[1] RATZINGER, Joseph. Introdução ao Cristianismo. p. 249.
[2] MONDIN, Battista. As Novas Eclesiologias. p.177-178
[3] RATZINGER, Joseph. O Novo povo de Deus. p. 76
[4] RATZINGER, CONGAR e SCHWEIZER. A Igreja em nossos dias. p. 9
[5] Ibid. p. 12
[6] RATZINGER, Joseph. Compreender a Igreja hoje. p. 14.
[7] RATZINGER, Joseph. O Novo povo de Deus. p. 77
[8] RATZINGER, Joseph. O Novo povo de Deus. p. 80
[9] ibid. p.84




 

“ A Igreja é Corpo de Cristo, isto indica que a Eucaristia, na qual o Senhor nos dá seu Corpo e nos transforma em seu Corpo, é o lugar em que surge permanentemente a Igreja, o lugar em que Ele a funda sempre de novo; é na Eucaristia que a Igreja se torna ela própria em sua forma mais densa, em todos os lugares e, no entanto, apenas uma, como Ele próprio
é apenas um”.
(Joseph Ratzinger. Compreender a Igreja Hoje. p. 21)



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