terça-feira, 17 de abril de 2012

A QUENOSE DO FILHO REVELADA NO MISTÉRIO PASCAL - XIII

ESTA É A ÚLTIMA DE NOSSAS REFLEXÕES SOBRE A QUENOSE DO FILHO REVELADA NO MISTÉRIO PASCAL (Abordagem teológica da Teologia dos Três dias de Hans Urs Von Balthasar),espero que todo este conteúdo que foi partilhado e refletido, tenha vos ajudado é compreender melhor todo o drama da páscoa redentora do Filho Jesus, vivido por amor a nós e para a nossa salvação, que de fato tenhamos todos compreendido o quanto e até onde o Deus Vivo e verdadeiro é capaz de amar a sua criatura. Só um Deus que é em plenitude Amor pode amar de tal forma a se fazer nada, a se esvaziar de si, de tudo o que é, para elevar a criatura decaída, para restaurar a imagem ferida pelo pecado. Será sempre e de novo retornando e meditando sobre o mistério pascal que nós descobriremos em pequenas frestas quem é Deus e quem somos nós.


3.3. O Ressuscitado é elevado aos céus.



             Vimos a pouco a íntima relação entre o crucificado e o Ressuscitado, entre cruz e ressurreição, agora a estes dois acontecimentos uniremos o mistério da ascensão, relacionaremos a ascensão com a ressurreição numa unidade de mistérios, o próprio Von Balthasar acenou para este aspecto, “o acontecimento da ressurreição e da ascensão como um único fato: exaltação do Filho humilhado”[1], ou seja, é o coroamento da missão de Jesus como aquele que ora foi humilhado e agora foi exaltado, contemplamos o mistério da sua elevação aos céus de Deus.

 Antes de tudo, ao olharmos para Jesus Ressuscitado que sobe aos céus, não devemos entender como um acontecimento de cunho geográfico, vendo o céu como um lugar acima de nós, ou simplesmente uma viagem que Ele fez em direção às estrelas, a um espaço cósmico, pelo contrário, deveremos entender como o regresso ao ponto de partida no qual ele foi enviado, ou seja, ele volta ao seio do Pai, à pátria trinitária, que não é um “lugar”, mas uma pessoa, é de certa maneira um entrar no mistério de Deus. Podemos compreender esta entronização pela imagem da nuvem que aparece na elevação do Ressuscitado, “foi elevado à vista deles, e uma nuvem o ocultou a seus olhos”(At 1,9).

A nuvem desde o Antigo Testamento é sinal da presença de Deus, por isso quando Jesus é elevado aos céus, Ele adentra na condição que tinha desde sempre, na comunhão de vida e poder com o Deus Vivo e Verdadeiro, o seu estar junto do Pai indica a honra que lhe é dada por aquele que não o abandonou, mas, o amou e por isso entregou-lhe toda soberania sobre os céus e a terra. O desaparecimento do Filho Ressuscitado na nuvem “não significa um movimento para outro lugar cósmico, mas a sua assunção no próprio ser de Deus e, deste modo, a participação no seu poder de presença no mundo”[2]. Nesta soberania que Deus Pai concede ao seu Filho unigênito entronizando-o como o Rei do Universo, se revela outro aspecto importante que toca aos homens redimidos pelo sangue do cordeiro redivivo, é a elevação da natureza humana ao mistério de Deus.

Observemos este aspecto, o Filho sendo eterno, fez-se finito ao entrar no tempo da história humana assumindo a sua condição, ele nos seus dias na carne  é visto como um ser eterno temporalizado, o Pai o enviou qual pastor para ir ao encontro da ovelha perdida que se desgarrou, neste caso a humanidade ferida pelo pecado. O Filho, como o Bom Pastor, cumpre a sua missão, e cura pelo seu sangue derramado na cruz a ferida do pecado que maltratava a ovelha, e agora, não somente Ele faz o caminho de volta, mas a ovelha também, ou seja, no Cristo que assumiu a condição humana, padeceu, foi crucificado, morreu, Ressuscitou e que agora é elevado aos céus numa humanidade glorificada e vivificante porque cheia do Espírito, leva consigo esta humanidade para junto de Deus, em outras palavras, a humanidade encontrou um lugar em Deus.

 O Verbo se fez carne, e por isso, ao subir aos céus não deixou de ser homem, ele o é para todo sempre, simplesmente ele eleva a condição humana à sua verdadeira dignidade, criada para a comunhão com Deus.  Von Balthasar expressa esta verdade assim:



Cristo... não viveu uma vida abstrata de homem, mas, vivendo, incorporou e manifestou a historicidade policrônica e áspera da humanidade real e em sua obediência recapitulou ante ao Pai toda a historicidade (humanidade) concreta da criatura do Pai, para liberar seu verdadeiro sentido e honrar e justificar assim, ao Pai e Criador do mundo[3].





 Verdadeiramente na história pascal do Filho, como revelação do Deus Uno e Trino, a história humana encontrou de novo o seu lugar, a glorificação do Filho é a glorificação da humanidade, o Filho estabelece a nova aliança entre Deus e o Homem, porque Ele mesmo é a personificação desta aliança, e por isso ela é eterna, dura para sempre e conduz todos os homens para a eternidade, é o Novo Êxodo do povo rumo à Jerusalém Celeste.

Neste caminho que o Filho fez descendo do céu e assumindo a conditio humanae numa atitude quenótica, e palmilhando a história humana passando pela cruz, indo ao encontro dos mortos, vemos seu término numa elevação esplêndida até o seio da Trindade. O Crucificado e Ressuscitado ao reconciliar o mundo revela que Deus é Amor, e somente voltando sempre de novo o olhar para o Santo Tríduo Pascal é que poderemos contemplar este Deus que é Uno e Trino, Vivo e Verdadeiro, e nele encontramos o sentido pleno de nosso existir, porque a existência cristã é uma unidade entre cruz e ressurreição, por conseguinte, a Páscoa é o evento que nos revela a história profunda do amor eterno entre Deus e o homem, nela descobrimos quem é Deus e quem somos nós.



[1] BALTHASAR, Hans Urs Von. Mysterium Paschale in Mysterium Salutis III/6. p. 173.
[2] RATZINGER, Joseph ( BENTO XVI). Jesus de Nazaré – da entrada em Jerusalém até a Ressurreição. p. 232.
[3] BALTHASAR, Hans Urs Von. Teologia da História. p. 58.

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