quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ADORO TE DEVOTE: Meditações Eucaristicas

Creio que ao longo destas três semanas temos mergulhado humildemente e com fé no mistério Eucarístico, fazendo crescer nosso amor e a nossa esperança em Cristo, tornando fecundo em nós uma espiritualidade eucarística. Contemplemos hoje a terceira estrofe do Grande Hino Eucarístico: Adoro te devote que nos põe diante do mistério das duas naturezas (Divina e Humana) na única pessoa de Cristo.



In cruce latebat sola Deitas
at hic latet simul et humanitas
ambo tamem credens atque cónfitens
peto quod petivit latro poenitens



Na cruz estava oculta somente a tua divindade,
Mas aqui se esconde também a humanidade
Eu, porém, crendo e confessando ambas
Peço-te o que pediu o ladrão arrependido


De per si somos transportados ao Calvário, para contemplarmos no madeiro o Crucificado; aqui se estabelece uma relação subjetiva entre o que aconteceu com quem estava presente no calvário assistindo todo o drama, e o que acontece com quem está diante da Eucaristia, ou seja, quem viveu o evento e quem celebra o sacramento. Então, pela fé somos transportados ao momento crucial do escândalo da cruz, nos tornamos contemporâneos daquele evento.

Quantos personagens não estavam presentes na contemplação do drama: O discípulo amado, a Mãe de Jesus, as mulheres. Em nosso hino aparece um dos malfeitores que foram crucificados com Jesus, um pecador, aquele que a tradição chama de bom ladrão. Diante de Jesus Ele reconheceu o seu pecado, sua culpa, professou a sua fé confiante e humilde no Deus Justo e Santo , o único que era inocente, só Deus é que sofre injustamente, sem ter culpa. Este ladrão confessa humildemente a sua culpa ao dizer: “Jesus, lembra-te de mim quando estiveres em teu reino”, e disse ao outro ladrão que insultava a Jesus: “Tu nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena! Para nós, é justo: nós recebemos o que os nossos atos mereceram; mas ele não fez nada de mal” (Lc 23,40). Quão bela e profunda esta atitude do ladrão arrependido! É o primeiro ato penitencial da história, proclamado no próprio drama da Paixão e Morte de Cruz, ele reconhece que é indigno, sua atitude serve de exemplo para nós.

No madeiro da cruz, aquele ladrão via aparentemente um homem, mas que logo num ato de fé compreendeu que ali era Deus, por isso que pediu-lhe a entrada no Reino. Diante do mistério eucarístico nós somos chamados a proclamar um ato de fé mais difícil do que o do bom ladrão; entendamos, se na cruz estava oculta a divindade, na eucaristia está oculta também a humanidade de Cristo. Somos chamados a nos elevar em relação a profissão de fé do bom ladrão e a crer e confessar  ambas as naturezas escondidas na Eucaristia. A verdade de fé desta terceira estrofe é: Na Eucaristia Cristo está total e realmente presente em sua Divindade e sua Humanidade, em Corpo e Sangue, alma e divindade. Isto implica na seguinte afirmação: nas palavras Isto é o meu Corpo, se faz presente no altar o corpo, a carne de Cristo, e também pelo princípio de concomitância está presente a alma e o sangue.  Ou seja, com o Corpo vivo estão o sangue e a alma. Poderíamos nos perguntar: por que o sacerdote consagra o sangue, que necessidade tem? Vejamos, o sangue na Sagrada Escritura é sinal de vida, a sua efusão é sinal de morte, então, a consagração do sangue explica-se porque como os sacramentos são sinais sagrados, Jesus escolheu este sinal (sangue) para nos deixar um vivo memorial de sua paixão. Corpo, Sangue, alma e divindade está presente na Eucaristia.

Voltando ao ponto teológico principal do hino eucarístico: as duas naturezas de Cristo, deveremos entender que a presença da divindade quer no corpo, quer no sangue de Cristo é garantida pela união hipostática, realizada entre o Verbo Eterno e a humanidade, por meio da Encarnação, ou seja, quando falamos de união hipostática, é a união da natureza divina com a natureza humana na única pessoa do Verbo, esta união é indissolúvel, e sem mistura e nem confusão. Na Eucaristia podemos contemplar o mistério da Encarnação, e ver que o Menino nasceu para morrer. As mãos do sacerdote são como o útero da Virgem Maria, o sacerdote pede ao Pai que envie o seu Espírito Santo, e como foi ele quem tornou fecundo o seio da Virgem é ele que também torna fecundo os dons, e pelos lábios e nas mãos do sacerdote, o Verbo de Deus é gerado no tempo, podemos unir ao mistério da Eucaristia o mistério do Natal, assim como o menino foi envolto em faixas na manjedoura, também no altar, qual manjedoura, o Verbo está envolto aos sagrados panos, tendo nascido numa manjedoura lugar onde os animais se alimentavam era o sinal de que o Menino seria o alimento da humanidade.  A iconografia ao descrever o mistério do nascimento de Jesus, mostra o menino dentro de um pequeno caixão, já indicando que ele nasceu para morrer. a própria encarnação já é para Deus um morrer, só em ter assumido a condição mortal de pecador, a encarnação tende para a paixão, como diz o credo: “por nós homens desceu do céu... e por nós morreu”. A Cruz  de Cristo era a humanidade assumida na encarnação, prenuncio da cruz que ele teria que carregar nos ombros. Assim dizia o teólogo Von Balthasar: “tornar-se homem já significa, para Ele, num sentido muito velado, mas bastante real, rebaixamento, e na verdade, como dizem muitos, rebaixamento muito mais profundo do que o próprio caminho da cruz”.

A este mistério nós somos chamados a crer e confessar, confessar e crer, na Pessoa de Jesus, são duas realidades inseparáveis, damos a nossa adesão ao Senhor Jesus e o confessamos com os lábios, com o coração, com a vida, não cremos num desconhecido, em algo, mas em um Tu, uma pessoa, que é Deus e por isso não cabe em nossos esquemas intelectuais, por isso faz-se pequeno, simples, pobre, servo, nas espécies do pão e do vinho, assim como Deus escondeu sua divindade numa criança, ele escondeu também no pão e no vinho. Adoremos-te Senhor, e cremos realmente que tua divindade e humanidade, o teu corpo e sangue, alma e estão presentes na Eucaristia e vos pedimos um lugar na eterna mansão.

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