sexta-feira, 11 de novembro de 2011

"Silenciar é preciso, pois a vida não é um Circo"

Caros amigos e amigas em Cristo, Santo dia para vós! Que o amor de Deus esteja em vossos corações, amor que foi pregado na cruz e que hoje como dia penitencial, nos voltamos para o crucificado que se entregou por amor a nós e em obediência amorosa ao seu Deus e Pai.

Queria vos ofertar uma pequena reflexão sobre mais um pequeno trecho que li no livro Podeis Beber o Cálice? do Pe. Henri Nowen, dizia ele ao falar sobre a necessidade de beber o cálice da vida até o fim e de como bebê-lo enquanto cálice de nossa salvação: “O Silêncio... estar em silêncio se parece com não fazer nada, mas é exatamente em silêncio que confrontamos a nós mesmos” (p. 79).

Vejam queridos irmãos, em outra ocasião falando sobre a necessidade do silêncio em nossa vida, tinha me reportado a uma expressão do filósofo Blaise Pascal: “A Miséria do homem é que ele não consegue ficar um instante em silêncio”. Podemos nos perguntar: por que as pessoas têm medo do silêncio? a resposta é simples, eu a explico a partir do que Pe. Henri diz: “nos confrontamos com nós mesmos”, e nem sempre gostamos de  encarar quem de fato nós somos, o que estou quero dizer é que silenciando nós vamos adentrando em nosso interior, vamos nos conhecendo mais ainda, e por isso vamos experimentando, sobretudo, nossas próprias misérias, certamente as tristezas que ficam encarceradas em nós, nos vem à tona, nos deparamos com elas, e nem sempre temos a coragem de encará-las, uma vez que, preferimos esquecê-las. Nós muitas vezes sabemos quem somos, mas quando percebemos que somos cercados de fraquezas, preferimos escondê-las nas agitações da vida; reparem, é quando estamos silenciosos que começamos a escutar as vozes da escuridão que habita em nós, que vozes são essas? A voz do ciúme, do rancor, do ódio, da inveja, do ressentimento, da vaidade, da falta de fé, da ganância, do apego aos bens materiais, da dor pela perda de quem amamos, etc. Se silenciarmos, escutaremos todas estas vozes que de certa maneira são estridentes, ensurdecem nossa alma, por isso que nossa reação é logo de fuga.

Mas o ponto chave que nos ajuda a fugir destas vozes que perturbam nosso interior, é que nos refugiamos nos entretenimentos da vida. Vamos entender isso, explico: estamos em um mundo marcado pelo ativismo, pela correria do dia a dia, as famílias já não tem tempo de sentar juntos à mesa, os amigos não têm tempo de conversarem pessoalmente, os seres humanos não têm mais tempo de parar um segundo para conversar com Deus, de contar a ele os segredos de nosso coração, e aqui chamo-vos a atenção: Deus nos deu 24h e muitas vezes não tiramos ao longo do dia nem sequer 1 minuto para falar com Ele! Cuidado, nunca esqueçamos que Deus é o nosso amigo que não nos falta jamais! Pois, bem é um mundo da correria, do fast fodd, é um mundo barulhento, rádio, televisão, filmes, jornais, não que sejam coisas más, porém são formas de nos entreter, e por isso  são meios de fugirmos de nós, e como diz Pe. Henri: “transformar a vida em um longo entretenimento”.

O que quer dizer a palavra entretenimento? Significa “manter alguém entre”, ou seja, é tudo aquilo que nos mantém longe das coisas difíceis de ser encaradas, de certa maneira, nos mantém distraídos, e isso muitas vezes é bom. O problema é quando nós fazemos da vida um total entretenimento, ou seja, deixamos de ser atores da própria vida, e nos tornamos meros espectadores, vamos brincando também de viver, queremos somente gozar das alegrias da vida, num total hedonismo, fazendo da vida uma grande festa, só farra, é quase dizer assim: “deixo a vida me levar”, ou quando perguntamos a alguém como ele está, logo nos vem a resposta: “vou indo”. Quem é levado, quem está indo, esta de certa maneira se dirigindo a algum lugar. E aqui pergunto: para onde estamos conduzindo a nossa vida? Diz-nos o autor do livro Imitação de Cristo: “a saída alegre faz muitas vezes a volta triste, e a noite de prazeres prepara triste manhã” (Liv.1 Cap. XX).

  Veja, como o silêncio é importante, adentrar silenciosamente em nosso interior, é descobrir quem nós somos, e sobretudo, descobrirmos onde Deus habita, já nos dizia Sto. Agostinho: “No interior do homem habita a Verdade. Quem é a verdade? Deus. entendamos que se nos deixarmos levar pelo barulho da vida que nos entretém corremos o grande risco de não escutarmos a voz suave de Deus, nos mostrando o caminho da Verdade de nossa própria vida, ou seja, encontramos o caminho certo da felicidade, da alegria; então, quando silenciarmos e nos depararmos com a dor, a tristeza, as angústias da vida, não deve fazer com que tenhamos medo de encará-las, não! Deve ser uma forma de percebermos que posso vencê-las porque Deus me ajuda, Ele está comigo, eu sou propriedade dele, é uma forma de abrindo nossa tenda interior permitirmos que ele faça uma limpeza em nós, se estávamos sendo dirigidos por tantas coisas que não nos levam à Verdade, permitamos no silêncio de nosso coração que Deus faça uma verdadeira faxina, arrume nossa casa interior, ponha para fora o hóspede inoportuno, e que Ele passe a dirigir a nossa vida, e que nosso coração venha a estar: “Sob Nova direção”!

Silenciar é bom porque encontramos o tesouro que habita me nós, Deus habita em nosso coração, e Ele nãos e revela no barulho, nos grandes espetáculos do teatro da vida, não! Lembremo-nos de como Deus se revelou a Elias no monte Horeb: nem foi no terremoto, nem no vento forte, nem no fogo, mas sim numa simples e terna brisa leve (1Rs 19,11-12). É este sussurro suavíssimo de Deus que leva para longe o nosso medo, a nossa tristeza, angústia e nos faz perceber que temos que encarar a realidade, sabendo quem Deus está conosco, e se ele está conosco, ou melhor, em nós, nos exorta o salmista: “assim não tememos se a terra estreme, os montes desabam caindo nos mares... nosso auxílio está no nome do Senhor”. Termino com uma expressão do livro imitação de Cristo: “É no silêncio e sossego que a alma piedosa progride e penetra nos segredos da Escritura. Eles lhe farão derramar lágrimas que, todas as noites, se  levará e purificará, para que possa unir-se ao seu Criador tanto mais familiarmente, quanto mais longe viver do tumulto do mundo”. (Liv. 1. Cap. XX). Amados irmãos, bebamos o cálice da nossa vida por meio do silêncio e assim, entenderemos que ele é o cálice de nossa salvação.    


Nenhum comentário:

Postar um comentário