sexta-feira, 4 de novembro de 2011

PARA VIVER NO TEU AMOR, EIS-ME AQUI SENHOR!

Hoje lendo a história de Samuel me preparando para uma pregação que irei fazer em um encontro no próximo domingo, pude ver na vida de Samuel a nossa própria vida de cristãos e a missão para a qual fomos chamados no dia de nosso batismo. Convido-vos para juntos refletirmos sobre o nascimento e o chamado de Samuel.

Para compreendermos quem é Samuel, teremos que enxergar de que maneira ele foi gerado. Sua mãe Ana era casado com um homem piedoso chamado Elcana que por sinal tinha outra mulher que se chamava Fenena. Fenena tinha filhos e isto era um sinal de que Deus a havia agraciado, ao contrário, Ana não possuía filhos, pois era estéril, e isto para muitos naquela época indicava um castigo de Deus por alguma culpa que se tinha cometido. Pois bem, o ser estéril de Ana implicava ser motivo de chacotas e de zombarias por parte de Fenena, e isto entristecia a alma de Ana, que certo dia, coma alma amargurada adentrou no santuário de Silo, onde se encontrava a arca da aliança como sinal da presença de Deus no meio de seu povo e se colocou em humilde e confiante oração, diante da presença de Deus derramou muitas lágrimas, e com confiança rogou à Deus um suplicante e humilde pedido: “Senhor, se quiseres dar atenção à humilhação de tua serva e te lembrares de mim, e não te esqueceres da tua serva e lhe deres um Filho homem, então eu o consagrarei a Deus por todos os dias da sua vida” (1Sm 1,10-11). Esta humilde oração de Ana foi muito prolongada, era uma mulher que se sentia atribulada e diante do Senhor derramou o seu coração (1Sm 1,15), tão cheio de sofrimentos, humilhações, negações, mas também de sonhos, fervor espiritual e de fé confiante. A sua súplica o seu pedido a deus foi atendido, e Deus lhe concedeu um Filho que deu o nome de Samuel, que quer dizer: “o que é de Deus”.

O nome de Samuel revela o que ele será e de quem ele é, ou seja, ele não é de sua mãe, tanto é que ela só passou três anos com ele, pois era o tempo de amamenta-lo (1Sm 1,22), e depois ela cumpriria o seu voto a Deus, subiu ao Templo e foi oferece-lo ao Senhor Deus para que lá ele permanecesse para sempre (1Sm 1,22.28).  Este menino é de Deus, foi consagrado a ele, e isto implica em oferecer em sacrifício, ou seja, tornar santo, sagrado, separado somente para Deus. Samuel sendo só de Deus seria seu profeta, ou seja, aquele que não tem palavras, é pobre, pois o que tem não é seu, vive para anunciar à Palavra de Deus aos homens. Aqui toca a vida de cada um de nós, veja que nós também um dia fomos separados de um mundo para sermos entregues a Outro, a Deus. Cada um de nós mesmo não tendo propriamente o nome Samuel, o somos; pois no dia de nosso Batismo, nossos pais e padrinhos nos levaram à Igreja, ao templo, à casa de Deus, e nos apresentaram a Ele, nos ofertaram a Deus, fomos tirados do mundo de ser pagão, fomos separados e consagrados a Deus, nos tornamos cristãos, fomos libertos do mal, daí o óleo pelo qual somos ungidos, somos pertença de Deus, somos dele. Nossos pais ao nos gerarem foram instrumentos da vida que brota de Deus, somos dele, somos pais são canais da graça doadora de vida. Nunca esqueçamos disso, no dia de nosso batismo fomos consagrados a Deus, somos sua propriedade exclusiva.

Então, retomando a história de Samuel, ele foi ofertado a Deus, dedicado a Ele, e no santuário ficou servindo a Deus junto com o sacerdote Eli. Samuel era pequeno (1Sm 1,24), não só em estatura, mas pequeno ainda no conhecimento de Deus, ia sendo modelado e maturado por Deus, ia crescendo diante da presença de Deus. É isto que deve acontecer com cada um de nós, somos pequenos e precisamos crescer diante da presença de Deus, estando face a face com o Senhor, ele vai nos modelando, nos transformando vamos aprendendo as suas lições, os seus gestos, as suas palavras, vamos assimilando a vida dele na nossa vida, é no mistério de Deus que o mistério do homem se revela (GS 22). E Samuel diante da presença de Deus dia e noite no templo, servindo a sua face (1Sm 2,18), ou seja, vivendo com o coração, com toda a existência voltada para o Senhor,  ia sendo maturado pelo Senhor Deus, ia crescendo se tornando um jovem servindo a Deus sem cessar, “Samuel crescia com o Senhor” (1Sm 2,21).

Mas Samuel não veio ao mundo só por vir, ou porque sua mãe tinha rogado insistentemente a Deus, não, Deus tinha uma missão a realizar por intermédio de Samuel, não era a toa que Samuel ia sendo modelado diante do Senhor e que foi consagrado a Deus. Samuel nasce em meio a uma história marca por infidelidades a Deus, o povo sempre vai abandonando o Deus que os libertou e que cuida dele, um povo que vai abandonado a Palavra, os preceitos dados por Deus, vai vivendo a idolatria, a profanação, vai pecando contra Deus. E Deus sempre castiga o povo, faz com que ele experimente a dor, o sofrimento, para saberem que devem adorar e viver para o único Deus que os criou e libertou, o castigo de Deus foi não manifestar a sua Palavra ao povo, Deus se faz silêncio na vida daquele povo.

Nós fomos criados por Deus, viemos ao mundo, não por acaso, mas porque Deus tem uma missão para cada um de nós, assim como tinha para Samuel, mas só  a descobriremos se estivermos dispostos a abrir o coração e escutar a voz de Deus que nos chama. O mundo em que vivemos, é também marcado pela idolatria, pela falta de fé, pelo fechamento do homem a Deus, pela propagação enganosa e deturpada da Palavra de Deus entre outras coisas mais, que fazem o homem esquecer, tão facilmente abandonar o verdadeiro e único Deus. Qual será a nossa missão?, qual foi a missão de Samuel? Vamos ver.

“O Jovem Samuel servia ao Senhor na presença de Eli” (1Sm 3,1), era esta a vida de Samuel, sempre diante de Deus, era um servo de Deus. Um fato acontecia naqueles tempos, “a palavra de Deus era rara” (1Sm 3,1b), ou seja, Deus não estava mais se revelando ao povo, Deus que é a Palavra Eterna esta silencioso, até os que viviam para anunciá-la, os sacerdotes tinham  se deixado seduzir pela idolatria, pela profanação. No mundo de hoje hostil à Palavra de Deus, um mundo que adora tantos ídolos, já não escuta mas à Voz suave de Deus, o vento das doutrinas estranhas dispersam para longe de nossos ouvidos e de nosso coração à Palavra de vida verdadeira, por isso que ao vivermos tão longe de Deus muitas vezes temos que experimentar os silêncios dele, pensamos que ele nos abandonou, não, pelo contrário, estávamos tão fracos que o vento do mal nos levou para longe, estamos adormecidos pelas sonolências de uma vida mórbida. O sacerdote Eli que estava deitado dormindo como sinal do Israel adormecido diante da palavra de Deus, é também Sinal de cada um de nós que não conseguimos mas enxergar, nem escutar a Palavra de Deus. Mas, a esperança não termina aí, ainda existe uma solução, um último suspiro, é como a lâmpada de Deus que ainda não se tinha apagado (1Sm 3,3), é claro que esta lâmpada era a que ficava na porta da tenda da Reunião para assinalar que Deus estava ali presente(Lv 24,3), mas também é sinal da Palavra de Deus que ainda estava a ressoar. Samuel também estava deitado mas, o que chama a atenção é que ele estava diante da presença de Deus, pois “estava deitado no lugar onde se encontrava a Arca” (1Sm 3,3). Isto indica a sua pertença a Deus, a sua prontidão de coração em estar em todo o tempo e lugar diante de Deus, somos chamados a isso, a viver com o coração, com alma sempre em sintonia com Deus, não somos qualquer um, somos consagrados, pertencemos a Deus. 

Estando Samuel deitado, começa a escutar alguém que o chama: Samuel!, Samuel! (1Sm 3, 4.6.8), isto se deu por três vezes, e Samuel saiu ao encontro da voz, sempre com a expressão: “Eis-me aqui, aqui estou” (1Sm 3,4.6.8), o interessante e ao mesmo tempo é até cômico que Samuel se dirige a Eli, pensando que era ele quem o chamava, mas não era, Deus estava a chamar a Samuel, e Eli compreende que era Deus a chamar Samuel(1Sm 3,8); podemos nos perguntar: mas, se Samuel vivia dia e noite na presença de Deus servindo-o ele deveria ter esta intimidade de conhecer que era Deus quem o chamava? Mas o texto sagrado diz: “Samuel não conhecia ainda a Deus, e a Palavra de Deus não lhe tinha sido ainda revelada” (1Sm 3,7)  Muitas e quantas vezes certamente  Samuel não escutou Eli chamando-o!  Samuel precisava ainda entrar numa intimidade maior com o Senhor, escutar a sua voz a falar-lhe diretamente, face a face como um amigo, e isso aconteceu, “O Senhor veio e ficou ali presente. Chamou-o como das outras vezes: Samuel! Samuel!” (1Sm 3,10) e Samuel respondeu: “Fala Senhor que teu servo escuta” (1Sm 3,10).

Muitas vezes estamos na presença de Deus, mas precisamos conhece-lo mais, buscar ter uma intimidade maior com ele, Deus também vem a nós, o problema é que muitas vezes corremos o grande risco de não vermos estas vindas de Deus em nossas vidas. Mas Deus nos fala sempre, e escutando a sua voz, estejamos prontos a responder em disponibilidade total como Samuel: “fala Senhor que teu servo ouve! Eis-me aqui”. Deus iria constituir Samuel para sua missão, ia fazê-lo profeta, transmitindo as suas palavras, pois o profeta é alguém pobre não tem palavra própria, suas palavras são as palavras de Deus. e no batismo nós também fomos constituídos profetas de Deus, lembremo-nos da tríplice missão de Cristo que foi comunicada a nós; sacerdotal, real e profética. Deus fez de nós profetas, temos a missão de anuncia-lo. Assim Deus comunicou a sua missão a Samuel, algo novo estava para se dar ao povo, um tempo novo iria ser inaugurado, entendamos na atitude de Samuel depois de escutar o apelo de Deus “Samuel repousou até de manhã, e então abriu as portas da casa do Senhor” (1Sm 3,15).

Agora Samuel tinha a missão de anunciar a palavra de Deus ao seu povo. Ele foi crescendo, na força do Espírito do Senhor que estava com ele, escutando ainda mais as suas palavras, não deixando se perder nada, “e nenhuma das palavras que dissera deixou cair por terra” (1Sm 3,19). Deveremos estar com o coração pronto, os ouvidos abertos para escutarmos totalmente a Palavra de Deus. Samuel foi confirmado como profeta de Deus (1Sm 3,20), isto serve para lembrar que ninguém pode se constituir profeta, apóstolo por si mesmo, é Deus quem constitui e não o faz de brincadeira, mas a partir de um caminho de maturação diante de sua presença, ele vai modelando, vai tecendo o seu profeta, vai esvaziando-o de seus ideais e vai enchendo-o de sua Palavra. Lembremo-nos o profeta é um homem pobre porque não tem nada e o que tem não é seu é de Deus, mas eis que aqui está o seu tudo. Estejamos prontos a responder aos apelos de Deus: Para viver no teu amor, Eis-me aqui Senhor!      

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