domingo, 6 de novembro de 2011

HOMILIA DA MISSA DE TODOS OS SANTOS: "A Jerusalém Celeste é nossa morada" por Sem. Danilo Santos

Hoje celebrando a Solenidade de Todos os Santos e Santas de Deus, somos chamados a dirigir os nossos olhares e corações para o céu, o alto, a Jerusalém Celeste, a nossa pátria verdadeira e definitiva, para onde caminhamos e onde muitos dos filhos e filhas da Igreja já se encontram e a quem rogamos a intercessão, assim reza o prefácio da missa de hoje: “festejamos hoje, a cidade do alto, nossa mãe, onde vossos irmãos, os santos, vos cercam e cantam eternamente vosso louvor, para essa cidade caminhamos pressurosos”. Todos aqueles que seguem a Cristo são chamados para habitar na celeste pátria, a terra dos eleitos, dos que foram alistados no exército do Senhor Deus.

Na segunda Leitura da missa de hoje, nos é revelado pelo menos duas grandes riquezas que tocam profundamente nossa vida: o dom maior que Deus nos deu e a  vocação para a qual fomos chamados, vejamos o que nos diz a leitura: Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” (1Jo 3,1). Então, pelo batismo recebemos o dom da filiação divina, fomos constituídos filhos adotivos de Deus no Filho Jesus Cristo, agora participamos da vida divina, que grande dom este que nosso amado Deus nos concedeu! Neste dom precioso de Deus a nós se revela a nossa vocação que é de ser um com Cristo, fomos chamados à santidade, por isso que o texto sagrado nos diz: “desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”(1Jo 3,2). Ou seja, o grande dom que Deus nos concedeu foi o de sermos capazes da vida eterna, erramos quando afirmamos que o maior dom que Deus nos concedeu foi esta nossa vida, não! Nós não fomos feitos para o que é terrestre e perecível, mas para o eterno, o céu que é imperecível. A Vida eterna é o maior dom, esta é a herança que recebemos do Filho Jesus, fomos chamados a ser santos semelhantes a Ele, fomos chamados à santidade, ao céu, que é mais do que um lugar, é uma pessoa Cristo.

Na primeira leitura esta realidade nos é revelada, na visão que João tem, ele vê “um anjo que subia do lado onde nasce o sol” (Ap 7,2). Atenção que lugar é este onde o sol nasce? É o oriente, e quem ele é? Cristo, é para ele que caminhamos com os olhos fixos, Cristo é o Sol nascente que refulge com todo esplendor os raios de sua santidade, que deixa a marca em nós, um caráter indelével, por isso o anjo vindo de Deus trazia a marca (Ap 7,2). O desejo de Deus que todos os seres humanos sejam marcados, sejam selados, tragam o sinal de sua pertença, “Não façais mal à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus” (Ap 7,3). Que marca é esta? É o selo do Espírito de Santidade, é ele que nos torna santos e nos faz pertencer ao exército dos eleitos, os escolhidos de Cristo, somos marcados para uma vida santa, já o fomos no batismo, trazemos em nós o sinal da santidade.

O texto ainda nos diz que muitos já haviam sido marcados, diz até o número de quantos: 144.000, de todas as tribos dos filhos de Israel. O que este número simboliza? Vamos entender, multipliquemos 12x12x1000= 144.000. aqui se alude as 12 tribos de Israel, o povo eleito de Deus, objeto de sua presciência e chamado a santidade; e também alude ao novo povo de Deus, a nova raça eleita, os 12 apóstolos; eis o Israel de Deus, a porção que o Senhor escolheu por sua herança. Mas o texto ainda fala de uma multidão imensa, “vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar” (Ap 7,9). Que é esta grande multidão, o próprio texto nos diz: “Quem são esses vestidos com roupas brancas? De onde vieram?”
Eu respondi: “Tu é que sabes, meu senhor”.
E então ele me disse: “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,13-14). Esta grande multidão são aqueles que nos precederam, os santos e santas, homens e mulheres que viveram com o coração disponíveis para servir o Senhor, estavam em prontidão para Ele, “encarnaram a Palavra de Deus em suas vidas” (Joseph Ratzinger), e por isso forma revestidos da veste da pureza, da santidade do Espírito de Cristo, venceram os tormentos e tribulações da vida, quantos santos não foram perseguidos, caluniados, injuriados por causa de Cristo, ofereceram a própria vida por causa de Cristo, derramaram o seu sangue por Ele, e por isso receberam a palma da vitória (Ap 7,9).

Chamo-vos a  atenção: para conseguir a palma da vitória, não há moleza, ou não se vive deitado eternamente em berço esplêndido, não! É preciso associar a vida a Cristo, fazer valer o nosso batismo, houve ali uma mudança de identidade, nos tornamos outros Cristos, deveremos, pois nos conformar em tudo à Cristo, e isto indica que deveremos estar prontos para suportar os sofrimentos, as tribulações, as perseguições por Cristo, não há outra escada para o céu, a Jerusalém Celeste senão a Cruz. Cristo para entrar na glória teve que passar pela cruz, pela dor, a ignomínia, ou melhor, a glória, o seu troféu, a sua palma de vitória foi a Cruz, ele é o Nosso Mestre, pois nos ensina o caminho da vida, e podemos ver isto claramente no Evangelho de hoje, o famoso Sermão da Montanha, as Bem-aventuranças. O texto evangélico de Mateus tem como intenção revelar Jesus como o Novo Moisés, e é isto que ele nos mostra no evangelho de hoje, reparemos,  “Jesus subiu ao monte e sentou-se e começou a ensinar a multidão” (Mt 5,1). Podemos nos reportar a Moisés quando do alto do monte Sinai instruía o povo, pois, bem Jesus sentado, na nova cátedra como o Mestre, o Novo Moisés, vai ensinar aos discípulos e à multidão o caminho da vida e da felicidade e diz: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!” (Mt 5,3-10).
No monte como lugar da sua oração, do seu diálogo de amor face a face com o seu Deus e Pai pronunciando todas “estas oito bem-aventuranças elas se realizaram em Jesus, são a sua biografia, o seu retrato” (Bento XVI). Elas são a nova Torá, a nova lei que guiará o Novo Povo de Deus à sua pátria verdadeira, a Jerusalém do Alto.

Jesus nos mostra a partir de si mesmo como deve ser a nossa vida, o modelo dos que encontraram a verdadeira felicidade, eis os meios de alcançarmos o céu, a pátria dos Bem-aventurados, devermos ter os mesmos sentimentos de Cristo, naquele monte o Senhor nos ensinava o caminho que conduz ao Monte do Senhor, a morada dos santos; mas como o alcançaremos? O salmista nos exortava: “Quem subirá até o monte do Senhor,/ quem ficará em sua santa habitação?”/ “Quem tem mãos puras e inocente coração,/ quem não dirige sua mente para o crime” (Sl 23). Deveras devemos encarnar as santas Palavras, deixando-nos moldar por ela, para sermos revestidos interiormente da pureza do Espírito de Deus. Jesus ainda disse: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,11-12a). Todo o sofrimento que passamos aqui nesta terra de exilados nem se compara com a alegria, a recompensa que nos espera, é o Céu, a morada dos justos, dos vitoriosos, é esta a nossa recompensa, só que deveremos sempre estar atentos que para alcançar o Céu é preciso passar por tribulações, é uma processo de purificação.

O que faremos no céu? O texto do Apocalipse de São João nos revela em penumbra o que os santos e os anjos fazem no céu, e o que nos espera na pátria feliz, “Todos proclamavam com voz forte: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro”.
Todos os anjos estavam de pé, em volta do trono e dos Anciãos, e dos quatro Seres vivos, e prostravam-se, com o rosto por terra, diante do trono. E adoravam a Deus, dizendo: “Amém. O louvor, a glória e a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus para sempre. Amém
. (Ap 7,11-12). Na Jerusalém Celeste viveremos somente para servir e adorar a Deus, contemplando-o face a face, vivendo a vida de Felicidade sem fim, pois este foi o dom maior que Deus nos concedeu, morar em seus átrios, provar de seu inesgotável amor. Enquanto este dia não chega o experimentemos de coração contrito e humilde em cada Eucaristia que celebramos, o alimento dos santos nos é concedido para que caminhemos pressurosos para nossa pátria definitiva, termino com a oração depois da comunhão da missa de hoje: “ao celebrarmos, ó Deus, todos os santos, nós vos adoramos e admiramos, porque só vós sois o Santo, e imploramos que a vossa graça nos santifique na plenitude de vosso amor, para que, desta mesa de peregrinos, passemos ao banquete do vosso reino”. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.


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